Experiências.
- Inferno! - praguejo, soltando o celular em cima da mesa.
Passei boa parte da manhã tentando ligar para Justin, e ele, por sua vez, não atende.
Nas primeiras semanas do nosso sexo casual, falávamos por telefone com muita frequência.
Porém, percebo que ele tem andado estranho de alguns dias para cá.
Confesso que, quando combinamos de nos encontrarmos algumas vezes na semana, eu imaginei que tanta proximidade faria ele perder a graça para mim, que tudo se tornaria enjoativo e terminaríamos logo.
Ao contrário disto, sinto mais prazer com ele a cada momento.
Temos uma sintonia incrível e, principalmente, não cobramos nada um do outro.
Ele não me fala sobre as suas "outras" clientes, talvez temendo que o mesmo incidente com Victória se repita com elas.
E eu não pergunto, muito menos fico curiosa.
Na realidade, às vezes cogito a possibilidade deste assunto ter passado a me incomodar de leve.
É estranho e quase impossível, no entanto, se for uma possibilidade verdadeira, não faço ideia de como aconteceu.
Houveram dias que passamos horas juntos, testando novas posições, conversando sobre assuntos banais.
Eu não me importei em ajudar Justin a descobrir as suas preferências, ele não se importou com a minha fixação por deixar tudo perfeito em qualquer coisa que fazíamos, e, desse jeito, entendemo-nos aos poucos.
Isso antes das duas últimas semanas, é claro.
Eu sou orgulhosa o suficiente para não ligar muitas vezes.
Duas tentativas seguidas é o máximo que consigo, mas não o suficiente para o fazer atendê-las. Olhei tanto para a tela do celular hoje, que se não fosse o dia de folga da Ashley e ela estivesse aqui, com certeza zombaria ou ficaria desconfiada.
Não é algo controlável. Essa ausência de Justin, simplesmente, tem me deixado maluca.
Não tenho seu endereço, o que complica mais a nossa situação já complexa.
Esse descontentamento todo não é só por causa do sexo, também existe preocupação e curiosidade em saber o motivo de ele andar sumido, calado e estranho.
Algo aconteceu.
Quando, enfim, decido deixar o celular de lado e dar continuidade ao trabalho, o aparelho vibra em minha mão, anunciando uma mensagem de texto.
"Selena, sinto muito pelos últimos dias.
Acho que não poderemos passar esta noite juntos.
Estarei ocupado.
- Justin. "
- Ocupado? O que pode ser mais importante do que se encontrar comigo?
Uma voz irritante em minha cabeça murmurou um: "qualquer coisa, sua idiota."
E como era de se esperar, eu a ignorei.
[...]
- Vamos, Ryan! Isto não lhe custa nada. - sem outra solução boa ao meu alcance, precisei recorrer, ligando para um ser que consegue me tirar do sério até mais que o meu próprio chefe: Ryan.
Marcamos um café em uma cafeteria discreta pouco longe do centro, pois eu não queria que alguém nos fotografasse ou insinuasse coisas sem nexo.
Ryan nunca despertou interesse em mim. Além de ser extremamente atirado, ele faz o estilo metido e não parou de falar sobre si mesmo todas as vezes em que conversamos como pessoas normais.
Nem que ele fosse o último homem da terra, nós teríamos alguma coisa a mais do que temos.
Prefiro os tímidos e corados.
- Eu não posso lhe passar o endereço de Justin, não tenho este direito.
- Claro que tem, apenas me diga onde fica o apartamento dele.
- Não acha que, se ele quisesse você lá, já teria lhe levado? Não temos o direito de invadir a privacidade dos outros assim, nenhum de nós dois.
- Não banque o correto, Ryan. Quer que eu pegue a carteira? Precisarei pagar para você soltar um simples endereço?
- Sejamos sinceros, Selena, eu sei o que anda acontecendo entre vocês dois desde quando começaram a se encontrar. Justin não conhece ninguém aqui em Amsterdã, sou o único amigo que ele tem. Contudo, por outro lado, conheço você há quase seis anos. Conheço-a bem o bastante para saber que detesta se envolver.
Não acha falta de caráter tentar tirar proveito de um jovem que mal chegou à cidade?
- Quem você acha que é para questionar o meu caráter? Que tipo de amigo induz o outro a se prostituir?
- Pelo que eu sei de todos os defeitos que ele possa ter, o que menos tem significado para você é esse.
- Convenhamos que não este é o melhor trabalho do mundo. - mordo o lábio, procurando conter o nervosismo. - Eu só quero conversar com ele direito, não temos nos falado com muita frequência. Você tem uma imagem muito errada de mim.
- Talvez porque eu já tenha lhe visto fazendo coisas que não combinam nada com a personalidade do Justin?
- Eu era e ainda sou livre! Nós dois sabemos que o Justin não passa todas as madrugadas sozinho, já eu não beijo outra boca há quase trinta dias. - solto e percebo que agora ele me analisa de uma forma diferente.
- Está falando sério? - ele pisca, assumindo a posição de perplexo.
- Qual é o motivo da surpresa?
- Não, nada. Tudo bem, eu lhe passo o endereço, mas isto não significa que acabo de me tornar um garoto de recados entre vocês dois.
Franzo o cenho perdida. Há dois segundos atrás, ele estava irredutível e agora muda de ideia assim tão rápido?
O Butler não é normal.
[...]
Bato na porta insistentemente. Demora um pouco para ele vir me atender. Sete minutos, pelo que eu contei no relógio. Quando, finalmente, aparece é usando roupas largas, óculos de grau e segurando livros grossos.
- Você fica muito sexy neste figurino nerd! - murmuro boquiaberta, ansiosa para tocá-lo.
- Selena? Como conseguiu meu endereço?
- Ryan me passou. - revelo, entrando apressada no pequeno apartamento.
Isto aqui não tem nada a ver com a fama que os apartamentos de homens levam. É tudo organizado e no lugar, o cheiro dele está impregnado por toda parte.
Devo estar olhando para todos os lados como se procurasse algo, pois, quando tento encará-lo diretamente, noto que ele evita um grande contato visual.
- Decepcionada? Sei que não se compara ao lugar onde você mora.
- Seu apartamento é simples, mas bem aconchegante. - falo, sentando em uma cadeira.
- Olha... Nós não podemos demorar muito agora, tenho que sair.
- Justin, o que está acontecendo? - vou direto ao assunto. - Você tem andado estranho comigo, foi alguma coisa que eu fiz?
- Não, você não fez nada. - ele responde, olhando para as mãos.
- Então, você arrumou outra? Se apaixonou por alguma cliente e quer terminar o que temos? Se for isso, é melhor você falar logo. Porque... - interrompe-me.
- Selena, a última coisa que quero é terminar o que nós temos. E eu não me apaixonei por nenhuma cliente. - senta-se em uma outra cadeira e olha-me nos olhos pela primeira vez. - Eu consegui me matricular na faculdade.
- Faculdade?
- É pela faculdade que larguei tudo no interior. Desde mais novo, o meu sonho é entrar na universidade de Amsterdã. Eu lembro que via as propagandas pela TV e só tinha mais certeza de que aquele era o caminho que eu queria seguir. Não uso o dinheiro da prostituição só para pagar o aluguel deste apartamento, uma parte dele eu guardava esperando em breve ter o suficiente para ao menos três mensalidades.
- Eu não sei o que dizer. Imaginava você como um jovem que aos dezenove anos resolveu sair da "asa dos pais" pela primeira vez.
- Às vezes, eu tenho a sensação de que nunca estive completamente nas "asas deles". Eu abandonei a minha vida no interior da Holanda para buscar independência.
Eu não deveria simplesmente querer ouvir essas explicações e desejar saber mais e mais sobre ele.
Normalmente, quando homens começam a falar sobre suas conquistas comigo, arrumo uma desculpa para deixá-los se vangloriando sozinhos.
- Falando assim, você se parece comigo aos dezoito anos. - sorrio abertamente. - Qual é o curso?
- Museologia.
- Você é surpreendente - digo surpresa -, mas eu ainda não entendo. Faculdade é uma coisa boa, ótima, na verdade. A universidade de Amsterdã com certeza fará de você um profissional, caso conclua todos os anos. O que isso tem a ver com o seu afastamento? - persisto, ainda desconfiada.
Analiso ele desprender o olhar do meu e voltar a encarar os pés.
Provavelmente, tem uma lembrança desagradável, enquanto o faz.
- Há duas semanas atrás, eu ainda não tinha reunido dinheiro suficiente para três mensalidades, e... surgiu uma proposta diferente das que eu estou acostumado a aceitar.
- Que tipo de proposta?
- Eu... tive uma experiência com outro homem.
- Como? - toco a boca embasbacada.
- É isto mesmo que está pensando.
- Então, vocês foram até o... fim? - pergunto, temendo a resposta.
- Não, eu não conseguiria, mas, mesmo assim, isto não sai da minha cabeça, desde então. E ele pagou muito bem, não pude recusar, era o meu sonho em jogo...
- Calma! Se o seu medo é que isso mude algo entre nós, você pode ficar tranquilo. Continuaremos do mesmo jeito. - tranquilizo-o.
- Você está falando sério?
- Já dormi com mais homens do que posso contar nos dedos, com certeza boa parte deles teve experiências homossexuais, isso se não forem todos. Eu mesma sai da minha zona de conforto em algumas ocasiões, experiências diferentes fazem parte da vida.
Não posso mentir que algo assim vindo de você não me deixe pasma, porque deixa. Porém, é uma coisa muito boba e que não tem importância nenhuma.
Sorrio.
Arrasto minha cadeira para perto da dele e toco sua bochecha macia.
- Você chegou a sentir prazer com ele? - minha voz sai baixa.
Tenho certeza de que não insistiria, se ele não se sentisse confortável para responder.
- Nós não fizemos nada deste tipo, foi só um beijo.
- Ele alugou os seus lábios como eu fiz quando nos conhecemos?
- Sim. Aquilo foi muito diferente de tudo que eu já vivi. Eu estava com vergonha e medo de que você não me quisesse mais, depois daquilo. É como se minha dignidade tivesse sido tirada de mim. Não faço estas coisas por opção, é porque eu preciso fazer. Quero ser independente, ter o meu próprio dinheiro. No entanto, eu sou um ser humano. Quando me tocam, eu sinto...
- Justin. - levanto-lhe pelo queixo, admirando suas íris claras cobertas pelos óculos. - Eu não ligo, de verdade, quando resolvi lhe propor um relacionamento aberto, eu sabia que os clientes poderiam variar. Mesmo depois de começar a se relacionar com outras mulheres, você não parou de ser assim, tímido e puro por dentro. Estas pessoas não são importantes, porque,embora você fique com elas durante a noite, sempre volta para o meu apartamento no dia seguinte.
- Você tem razão.
- E também, eu não me sinto no direito questionar tanto a sua vida. Você sabe que nós temos um relacionamento aberto, o que significa que você pode ficar com outras pessoas. Nós podemos, aliás. - Talvez ele não estivesse esperando uma frase tão realista, percebo isso, no momento em que vejo sua expressão mudar para uma mais séria.
- Nós estamos resolvidos? - levantamo-nos das cadeiras. Entretanto, solto minha bolsa, indicando que não tenho vontade alguma de ir embora agora.
-Estamos tão resolvidos que...- retiro seus óculos, deixando-os em cima da mesa retangular de madeira. - se você quiser, eu posso ficar e atrasar-lhe mais um pouquinho. Sei que ia a algum lugar, quando toquei a campainha.
- Eu iria até o correio, minha mãe enviou os documentos que faltavam para fechar a matricula na universidade. Não são documentos importantes, porém não quero ficar devendo nada.
Se ele soubesse como fica desejável nessas roupas largas, provocante o suficiente para uma nuvem de malícia nublar o meu cérebro e ouvidos, impedindo-me de escutar direito qualquer coisa que fale.
- Sendo assim, precisamos ser rápidos.
Derrubo-o na cama de solteiro, sugando seus lábios em um beijo lascivo.
Ele me beija com devoção, sinto o toque frio de seus dedos nas laterais do meu rosto.
Consequentemente, empenho-me em retribuir o beijo do mesmo jeito, demonstrando o quão maravilhoso é tê-lo só para mim, mesmo que apenas por algumas horas.
Sentada em seu abdômen definido, desfaço-me depressa do vestido negro.
Quando o ar se faz necessário, meus lábios migram para seu pescoço, alternando entre lambidas e mordiscadas. Justin joga a cabeça para trás, deixando mais espaço para minha boca experimentar.
As peças íntimas são facilmente removidas, logo meu corpo está totalmente nu. Justin passeia seus olhos claros por ele. Talvez esteja procurando algum traço diferente, quem sabe uma marca a qual indique que estive com outro.
Ele não encontra nada, não há como achar.
De repente, cada parte deste quarto parece tão quente e minúscula para nós dois. Precisamos disto para nos refrescarmos.
Precisamos um do outro.
Preparo-me para retirar as sandálias de salto alto, mas Justin me barra.
- Eu quero você com elas hoje. - sibila, quando meus dentes largam sua pele salgada.
É uma pena ele ter se barbeado. Gosto da barba brevemente rala e clara roçando em meu queixo enquanto nos beijamos.
- Por quê?
- Acho que você fica linda usando saltos altos.
- Só linda?
- Atraente.
Sorrio, sabendo que pode demorar para ele assumir que me acha inteiramente gostosa e desejável.
O loiro inverte as posições, arrancando todas as roupas que o envolve, uma por uma. Surpreendo-me, quando ele tira um preservativo da carteira. A surpresa só não é maior porque seus dedos ainda se atrapalham na hora hora de colocá-lo.
- Achei melhor ter alguns para o caso de algum dia você não ter. - justifica, projetando uma careta à medida que o látex se desenrola.
Não seguro a risada encantada com o pensamento que tenho.
- Qual é a graça?
- Deve ter sido no mínimo divertido você em uma farmácia a comprar camisinhas.
Ele cora, afastando minhas pernas. Ergo as mãos, agarrando a cabeceira da cama de solteiro. Posiciono minhas pernas em seus ombros, e, nesta mesma posição, Justin me penetra.
Gememos em uníssono, aliviados, principalmente, eu, quem não estava acostumada a passar tantos dias sem sexo.
Ele dá início às estocadas rápidas, gemendo em meu ouvido.
- Vá mais forte, Justin... e selvagem. - ordeno, ansiando por adrenalina.
Ele nos desconectou, voltando com mais força, fazendo a cabeceira da cama ir de encontro à parede.
- Assim? - perguntou, cravando os dedos em minhas coxas, sem parar com as bombadas rápidas e duras.
Meus seios balançam em conjunto com a cama.
- Isso... - seus olhos carregados de luxúria e excitação seguem os movimentos dos meus mamilos. Desta maneira, ele não consegue disfarçar a tara que tem por eles.
Nossas bocas se prendem em mais um beijo. As pontas dos meus saltos roçam na pele próxima à elas.
As mãos grandes de Justin seguram minhas coxas firmemente, enquanto seu quadril vai e volta ao encontro do meu.
O apartamento todo é preenchido pelo barulho estridente da cama batendo na parede, o colchão de solteiro se movimentando e os gemidos mistos em suspiros os quais soltamos.
Tenho que admitir, fiz um trabalho ótimo nas nossas primeiras "aulas particulares". Justin está se saindo melhor do que eu imaginava, durante o sexo.
Uso meus saltos para marcá-lo, considerando que minhas mãos estão ocupadas, agarrando a grade da cama.
Gosto de saber que outras mulheres poderão encontrar o resultado das nossas atividades juntos, quando vasculharem seu corpo escultural.
Os espasmos do orgasmo me atingem em cheio, conseguindo que meu corpo perca toda a força. Justin permanece realizando os movimentos até chegar ao seu limite, sussurrando meu nome genuinamente.
[...]
- Você disse que quer ser museologista? - subo o zíper do vestido colado, terminando de me vestir.
- Sim, sou apaixonado por história e objetos antigos desde criança.
- Então, imagino que você já tenha conhecido o Rijksmuseum ou Hermitage.
- Claro! Foram os primeiros lugares em que visitei, quando cheguei à cidade.
- Acho museus muito chatos e silenciosos. Você foi ao Vondelpark? - inquiro, passando rapidamente as mãos pelos cabelos, os quais, por serem lisos, ajeitam-se rapidamente.
- Ainda não tive muito tempo. Além da correria com os papéis da faculdade, eu também dediquei os últimos dias à procura de um emprego mais normal.
- Espere aí, não visitou nenhum ponto turístico fora os museus?
- O pessoal da companhia aérea me deu um cartão postal com os pontos turísticos anotados, acho que acabei perdendo na mudança para o apartamento.
- Justin, você não existe. - constato estupefata. - É horrível ficar em uma cidade linda sem conhecer nada que não sejam museus e o bairro da prostituição. Precisamos mudar isso.
- Mudar de que jeito?
- Eu vou embora agora, mas amanhã é o meu dia de folga. Podemos nos encontrar bem cedo e ir até o Vondelpark, passamos metade do dia lá, e, no horário de almoço, libero-lhe para os seus afazeres. O que me diz?
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