História Wellust - Opening

Aberta. 

Selena Gomez's Point Of View
Terça-feira 07h22AM.

Gradativamente, uma terrível dor de cabeça ganha espaço entre minha nuca e os olhos afetados pela alteração que obtive na noite passada. Igual a todas às vezes que ultrapassei os limites. Sinto um grande arrependimento por atitudes vergonhosas que fiz outras pessoas presenciarem. Desta vez foi apenas uma única pessoa.

Sento-me no colchão, esperando que uma boa desculpa apareça. Qualquer uma que justifique tudo que fiz Justin ver e escutar.

 Meu corpo está vestido por um pijama confortável de tecido fino, ele me deu até  um banho, para que eu não caísse no sono cheirando a bebida. Outro homem em seu lugar teria ido embora, zombado ou feito alguma piada. Para meu azar Justin não é parecido com os outros homens que já me envolvi, ele não voltou para o próprio apartamento, me deixando aqui sozinha.

— Como se sente? — acompanho sua lenta caminhada até a cama que me encontro.

Percebo que ele não passou no apartamento enquanto eu dormia, pelo que me lembro. Suas roupas são as mesmas da madrugada anterior. Estamos perto um do outro agora, tão perto que provavelmente ele consiga sentir o tamanho da minha vergonha. 

Por que tenho que ser impulsiva nos momentos menos propícios?

Seria tudo mais fácil, se minhas atitudes mais radicais não fossem baseadas na emoção, nos sentimentos do momento, sensações que para mim são desconhecidas.

— Minha cabeça dói muito. — confesso fazendo uma careta.

— Eu imaginei que fosse dizer isso quando acordasse, então tomei a liberdade de preparar um café.— olho diretamente para ele pela primeira vez no dia.

 Engolindo o orgulho e a vergonha, aceito a caneca cheia de café.

A careta de insatisfação aumenta conforme o líquido forte passa por minha garganta. Quanto tempo faz desde que acordei pela última vez com ressaca?

— Sei que não é uma boa hora, mas precisamos conversar.

— Você tem razão. — passo a caneca, agora pela metade. — Não é uma boa hora.

A idéia de mandá-lo me deixar sozinha com meus pensamentos é convidativa, mas não quero parecer injusta, afinal ele ficou ontem, mesmo quando não tinha obrigação nenhuma.

— Selena, eu não vou conseguir me concentrar em nada, se não conversarmos sobre o que aconteceu nessa madrugada. Você me disse coisas que não saem da minha cabeça.

—  Eu estava fora de mim! Aquela não era eu.

— Era sim. Negue o quanto quiser, mas aquela era você confessando coisas que normalmente não confessaria.

— Não podemos só esquecer tudo, e agir como se nada tivesse acontecido? — questiono esperançosa.

— Não, nós não podemos.

Solto um suspiro longo, tomada pela frustração.

— Tenho tido problemas no trabalho já faz um tempo. Ontem eu fui até o seu apartamento decidida a ter uma noite prazerosa para conseguir relaxar. E você estava com outra. Aquilo realmente me deixou chateada, acabei fazendo uma besteira e me arrependendo no dia seguinte. A garrafa de champanhe ainda estava intacta, por hora foi a única maneira que encontrei para obter algum relaxamento.

Uso a primeira idéia que encontro, adaptando-a para uma mentira descarada.

— Não acredito que uma única garrafa de champanhe tenha sido a responsável. Encontrei outras duas garrafas de whisky vazias na cozinha. Você poderia ter tido intoxicação por conta do álcool, ou quem sabe até algo mais grave.— ele fala com reprovação.

— Não é como se isso nunca tivesse acontecido. Houve uma época em que eu estava acostumada, por isso me descontrolei. Posso ser impulsiva algumas vezes, me desculpe.

— Está se desculpando por ter ficado bêbada?

— Não. Por ter falado todas aquelas coisas. — passo a mão por meus cabelos desgrenhados, conseguindo coragem para soar verdadeira. - Entenda, nada aquilo é verdade.

— Não pareceu. O jeito que você falou… Eu poderia jurar que estava magoada, com ciúmes. E ninguém sente ciúmes do outro, se não existir mais sentimentos.

— Não existem outros sentimentos. — desvio o olhar para minhas mãos, isso impede que ele reconheça a mentira em minhas palavras.— A única coisa que sinto por você é atração física, mais nada. Um dia isso vai acabar, digo o mesmo dos nossos encontros.

— Você está certa, atração física um dia acaba. —  vejo ele levantar e ir rápido na direção da porta, levando a caneca consigo. — Se procurar bem encontrará mais café, fiz para o caso de você sentir muita dor de cabeça mais tarde.

— Justin...

— Eu tenho que ir.

Por mais que uma parte minha queira que ele fique, sigo os instintos daquela que implora por um pouco de espaço, e não digo nada quando ouço o estrondo da porta. O que está acontecendo? Como deixei que algo tão pequeno, se transformasse em um conjunto de sensações estranhas? As chances disso passar são muitas?

Um turbilhão de perguntas sem respostas rodeiam minha cabeça dolorida. Mas decido ignorar todas elas, não posso deixar que Justin se torne a minha fraqueza. Pois até agora, eu não tenho uma.
E pretendo continuar não tendo.

[...]

Toco a maçaneta entrando na sala que Ashley e eu dividimos. Tiro os óculos escuros que cobriam minhas olheiras, e a cena que presencio me provoca um total espanto.

— Ashley! O que pensa que está fazendo? — pergunto irritada. Imediatamente ela se afasta do homem com quem antes partilhava um beijo quente.— Essa sala é o nosso local de trabalho! — resmungo indignada.

— Selena. Hoje não é o seu dia de folga? — Interroga nervosa, abotoando os dois primeiros botões na blusa.

— Claro que não, nós duas sabemos que mudei ele para quinta-feira. — me volto para o desconhecido que a agarrava, notando que ele não é nenhum pouco desconhecido olhando de frente. —  Ryan? O que faz aqui?

— Selena...—seu rosto perde a cor. — Coincidência, não?

— Espera, vocês dois se conhecem?

— Sim… — me preparo para falar, mas sou cortada.

— Não, não mesmo. Ashley, eu já estava de saída, conversamos mais tarde.

Ryan passa correndo pelo meu corpo, fugindo como se estivesse devendo algo para alguém. De certa forma ele está: uma boa explicação.

— Então, você vai me falar como conheceu o meu namorado? — Ela cruza os braços de forma séria, fazendo-me revirar os olhos de forma discreta.

— Namorado?

— Ele me pediu em namoro hoje mais cedo. Estávamos comemorando até você interromper, mas não mude de assunto.

— Ele bateu na traseira do meu carro aquele dia saindo do estacionamento, te falei sobre ele, lembra? - uso um acontecimento antigo para tentar escapar das perguntas.

— Você está mentindo. Pode falar, eu não ligo se vocês já tiverem tido algo antes de nos conhecermos.

— Ryan e eu? — gargalho pela primeira vez essa manhã. — Pode ter certeza que isso jamais aconteceria, não fazemos o tipo um do outro.

— Ele te vendeu alguma jóia?

— Jóia?

— Sim, ele trabalha em uma joalheria no centro. - enrugo a testa. Que história maluca ele inventou para encobrir o verdadeiro trabalho que exerce?

— A Sauer? — ela confirma empolgada.

Antes que eu possa desmenti-lo meu celular vibra, tirando minha atenção da nossa conversa. É uma mensagem de Justin avisando que não nos encontraremos hoje. Típico dele, sempre foge quando algo acontece.

Por poucos minutos, eu havia me esquecido os acontecimentos de ontem e hoje pela manhã. Havia esquecido de Justin, e dos problemas que ele me trouxe. Charlie é um exemplo de problema que está ligado ao loiro. Dividimos o mesmo elevador hoje, agindo silenciosos como se nunca tivéssemos conversado.
 
É provável que ele tenha medo do meu "poder" dentro da revista, e não queira se encrencar mostrando pouco profissionalismo. Uma palavra sobre a nossa noite no Motel, e nós dois estaríamos envolvidos em um escândalo que não terminaria rápido. Embora eu saiba de tudo isso, não posso confiar em Charlie me dando ao luxo de ficar aliviada.

São tantos problemas, acontecimentos e uma possível notícia envolvendo a minha vida. Coisas que podem acabar me deixando louca se eu não conversar com alguém.

Encaro Ashley, decidida a agir como uma amiga verdadeira pela primeira vez.

— Você ainda quer saber coisas a respeito da minha vida fora da revista?