História More than Rebels - Hidden feelings

Pérola- Ven Bailar

Pra ser sincera eu nunca achei que fosse aproveitar uma noite dessas, num restaurante desses. Ver todos dançando animadamente me fez repensar tudo que julguei errado sobre os humanos e até mesmo sobre nós, gems. Olho para todos, que ainda estão rebolando e batendo palmas juntos e sorrindo. Garnet tomava alguma coisa enquanto nos observava. Vejo um sorriso em seus lábios grossos e imagino que está tão feliz quanto nós. Decido parar um pouco e me sentar na mesa, afinal minha forma física já exige descanso por dançar tanto. Me afasto de todos, mas logo sinto uma presença atrás de mim.

- Já cansou?- Amethyst se aproxima e se senta junto a mim na mesa.

- Preciso de um pouco de ar.- digo respirando fundo.

- Que tal irmos até a cobertura?- ela pondera.

- O que disse?- não consigo entender muito bem o que ela disse por causa da música alta.

- Poderíamos ir até a cobertura do restaurante.- ela se aproxima do meu ouvido rapidamente, me provocando arrepios.

- C-claro.- digo e me afasto logo em seguida me levantando. Ela vem logo atrás de mim e contornamos a pista de dança, onde era possível ver Garnet dançando no meio de um rodinha de pessoas que vibravam a cada passo que ela fazia. Devo admitir que o rebolada dela é um tanto exitante. Assim que chegamos numa escada em tons de prata com mármore em espiral, subimos até a cobertura. O lugar é muito calmo, com poucas mesas e apenas com algumas pessoas. Próximo a beirada era possível ver rosas que decoravam lindamente as bordas dando um ar agradável e tranquilo. A música parecia abafada aqui em cima, onde ficavam violoncelistas tocando algo extremamente romântico. Não posso deixar de pensar em Rose quando vejo algumas rosas voando com a brisa.

- Está tudo bem Pérola?- sinto a mão de Amy tocar a minha.

- Claro, eu estou ótima.- tentei disfarçar minha tristeza, mas não consegui.

- Acha mesmo que a essa altura você consegue mentir pra mim?- ela ri.

- Desculpe, você sabe que não sou muito de demonstrar meus sentimentos.- digo me apoiando no cercado decorado pelas rosas.

- Você demonstrava para Rose o que sentia.- ela diz olhando para as luzes da cidade.

- Você sabe que isso é diferente.- pego uma rosa perfeita e encaro-a.

- Diferente só por que ela mudou sua vida?- a pequena revira os olhos.

- Ela mudou tudo Amethyst, e não foi só comigo, foi com você, com Garnet...

- Eu sei de tudo isso...- ela me interrompe.-... mas já está na hora de nós mesmas mudarmos tudo por si só.

- O que quer dizer com isso?- questiono-a.

- Rose foi e sempre será amada por todas nós, mas o passado não vai ajudar em nosso futuro...- ela se vira pra mim.-... temos que olhar para frente e parar de sofrer pelo o que aconteceu.

- Nossa Amethyst, nunca pensei que você um dia diria isso.- rimos.

- Eu sou uma caixinha de surpresas.- ela se gaba.

- Admito que adoro suas surpresas...- ela ri e vejo tons mais escuros de roxo em sua face.-... queria poder dizer isso sobre as "surpresas" que Rose fez até hoje.- faço aspas com as mãos no ar.

- Eu também estou chateada por ela ter escondido tantas coisas...- ela acaricia minha mão delicadamente.-... mas ela conseguiu nos ensinar mais uma vez que nossa união é mais importante.

- De que maneira? Nós enganando pela milésima vez?!- me viro rapidamente, andando até umas das mesas e me sentando.

- Ela mostrou que escondendo coisas nos protegeria e que além dela, todas nós poderíamos apoiar umas as outras.- ela está em pé ao meu lado, ficando da minha altura.

- Eu só queria entender tudo o que ela fez.- digo, sem esconder meus olhos marejando.

- Só ela poderia nos dizer isso.- ela acaricia meu rosto com delicadeza.

- Você acha que se acontecer alguma coisa, nós vamos sobreviver?- pergunto olhando-a nos olhos.

- Se estivermos juntas, conseguiremos qualquer coisa!- ela sorri.

- Qualquer coisa?- sorrio de volta, enxugando meu rosto.

- Qualquer Coisa!- ela enfatiza e jogas os braços pra cima, girando.

- Obrigada Amethyst.- falo com um pouco de vergonha.

- Pelo o que?- ela ri em dúvida.

- Por estar em minha vida.- ela me encara e a puxo contra mim, despertando um abraço profundo entre nós. Ela permanece intacta por alguns instantes, mas logo sinto seus braços a minha volta. Ela me aperta com carinho e eu retribuo. Eu nunca se quer pensei que estaria tão próxima dela assim, nós não nos entediamos muito bem, mas com o tempo eu vi e senti que a presença dela mudou e muda minha vida sempre de uma forma encantadora e misteriosa.

- Pérola, Amy!...- escutamos uma voz familiar nos chamando, era Lapis.-... Garnet pediu que descessem, está ficando tarde e nós vamos embora.

- Okay, já estamos descendo.- digo. Me levanto e começamos a voltar pelo caminho que viemos até a cobertura, até que Amy me para, segurando meu braço ela me impulsiona para baixo, assim eu fico de joelhos, na sua altura.

- Nunca se esqueça que pode contar comigo.- ela beija minha pedra.

- Não esquecerei.- sorrio e sinto minhas bochechas esquentarem. Retomamos nossa caminhada, descemos as escadas e encontramos todos na saída. Sadie segurava Lars nos ombros, ele parecia ter exagerado na bebida. Os outros conversavam animadamente enquanto Greg vinha dirigindo a van até a entrada para pegar todos nós. Entramos na van e seguimos até o deposito para deixar Cuprita e Citrine, após isso Greg deixa Lars e Sadie na casa da moça, nos deixa no Templo e leva Connie para a casa dela. Garnet pega Steven no colo, que por acaso já estava dormindo e o coloca na cama. Lapis, Peridot, Azurite e Emerald vão para o celeiro pelo teletransportador e eu vou diretamente para a sala das bolhas, mudando minha roupa para a original que sempre uso. 

- Tenho certeza que você irá descobrir as técnicas de Pink.- Garnet se senta ao meu lado.

- Eu darei o meu melhor.- pego todos os objetos e analisando-os, penso em como será maravilhoso descobrir tudo sobre as pesquisas. Isso vai mudar tudo.

Citrine- Deposito

Após o humano cabeludo nos deixar no deposito, sento-me numa cadeira que eu mesma pintei de laranja e pego alguns tecidos, costurando-os eu tento fazer uma boneca de pano. Desde de que saímos daquela montanha eu realmente não sei o que eu irei fazer. Sempre fui leal há HomeWorld, mas quando as Crystal Gems me ajudaram eu me vi numa batalha interna que não consigo descrever. Uma parte minha quer voltar a ser fiel a Autoridade Diamante, porém o meu outro lado quer ficar aqui e descobrir o que as Crystal Gems viram neste planeta. No restaurante eu pude sentir algo novo, como se eu estivesse acendendo minhas chamas, mas não para fora e sim para dentro, no meio do meu peito. Eu nunca senti isso antes.

- Hey esquentadinha...- me assusto com a voz grave de Cuprita.-... poderia iluminar aqui?- ela aponta para um canto da parede onde ela parecia pintar algo.

- Tenho cara de lâmpada?!- digo com indiferença.

- Tem sim.- ela retruca no mesmo tom. Reviro os olhos e pego uma lamparina, estalo os dedos fazendo uma faísca que acende o objeto, entregando-o a Cuprita.

- Não vai agradecer?!- cruzo os braços.

- Isso é o mínimo que você poderia fazer, afinal eu quis dividir o deposito com você.- ela fala com tédio.

- Como é?! Mas é muito folgada mesmo!- sento-me na cadeira novamente.

- Se está achando ruim a saída é bem ali.- ela sorri ironicamente.

- Seu truque não vai funcionar Rosinha, eu não vou sair daqui mesmo com você tentando me irritar.- ela para de pintar a parede e se aproxima de mim com a cara fechada.

- Você me chamou de que?- ela fala entre os dentes.

- Hm, parece que eu despertei o monstro de novo...- esbanjo um sorriso sarcástico.-... eu te chamei de Rosinha.

- Se me chamar assim de novo, eu...

- Chamar de que? Rosinha!- abro um sorriso maior com sua carranca.

- Ora, sua...petulante!- antes que eu risse mais de sua feição brava ela pula em cima de mim com selvageria. Tentando me acertar tapas e socos, vejo sua raiva aumentar ao perceber que não paro de rir dela. Antes que me acertasse , aproveito um momento de deslize dela e começo a lhe fazer cócegas. Seu rosto é preenchido por um enorme sorriso que ela tenta esconder, mas ele é seguido por risadas sem fim. Troco nossas posições, ficando por cima dela e lhe arrancando gargalhadas altas. Seu rosto estava mais escuro por conta das risadas e seus cabelos totalmente bagunçados. Paro de lhe fazer cócegas por alguns segundos e observo seu rosto. A gem irônica que todos olham como sem graça e antissocial parecia ter sumido. Aos poucos ela para de rir e me encara. Seria um mal sinal achar ela tão linda? É, eu acho que sim.

- M-e desculpe...- saio de cima dela rapidamente.

- Por que está se desculpando?- ela me olha em dúvida.

- Eu não quis fazer cócegas em você.- digo com certo reluto.

- Até você acha que eu sou agressiva o tempo inteiro?- ela me olha com tristeza.

- Como assim?- ela se levanta e vai para a entrada do deposito, sigo-a.

- Você pede desculpas como se eu fosse te matar por ter tocado em mim.- ela fala, e sinto um pouco de culpa, afinal ela está certa.

- É que... eu achei que fosse bruta o tempo inteiro.- admito.

- Talvez seja melhor eu ser, assim não irão me tratar estranhamente quando eu estiver sorrindo.- ela me encara com ignorância.

- Eu não quis te tratar com indiferença por causa disso, eu só...

- Achou que eu fosse um monstro que quebra gems o tempo inteiro por diversão?!- ela me interrompe.

- Achei que não queria ter alguém próxima de você.- digo quase sussurrando.

- Eu não sou tão ruim quanto pareço.- ela suspira.

- Eu entendo você...- toco seu ombro.-... eu mostrei um lado meu que todos enxergaram como único.- agora é minha vez de se entristecer.

- Ninguém olha pra você como olham pra mim.- ela volta para dentro do deposito rapidamente. 

- Na verdade olham sim.- sento-me na cadeira novamente.

- Como sabe disso?! nem se quer está no meu lugar para saber!- ela chuta uma lata de tinta vazia amassando-a.

- Não preciso ser você para sentir o mesmo.- retruco e sinto seus olhos sobre mim.

- Acho que o nosso lado mal é a única coisa que temos em comum.- ela fala baixo.

- Nosso lado mal parece até ser do bem quando fala assim.- rimos. Ainda sinto seus olhos sobre mim e levanto a cabeça fazendo nossos olhares se encontrarem. Ela ainda me olhava, observando cada detalhe do meu rosto. Uma brisa invade o deposito fazendo voar alguns papeis que estavam no chão para evitar que a tinta manchasse tudo. Me levanto rapidamente e vou na direção de cada um tentando pega-los, Cuprita faz o mesmo.

- Eu acho melhor fechamos essa porta.- ela diz e eu aceno com a cabeça em confirmação. Nós duas puxamos a porta de metal para baixo, deixando o ambiente ser iluminado pela lamparina no chão. Pego meus tecidos novamente e me sento próxima a luz, costurando um pequeno vestido para a boneca de pano. Cuprita se senta a minha frente segurando uma tela, parecia estar fazendo uma pintura. A única coisa entre nós é a apenas a lamparina e um silêncio angustiante.

- Acha que um dia seremos boas?- minha pergunta corta o ar. A luz da lamparina começa a enfraquecer.

- Se ser boa significa sempre fazer o bem, acho que eu não vou conseguir fazer isso.- rimos.

- Eu gostaria de tentar...- paro de costurar.-... acho que todos gostariam mais de mim se eu fosse do bem.- suspiro.

- Pois eu acho que apenas as melhores pessoas podem gostar do seu lado mal.- Cuprita me encara e eu cruzo nossos olhares.

- Quem seria o louco?- rio ironicamente. Ela toca minha mão me surpreendendo.

- Eu.- ela se aproxima de mim devagar, sinto nossas respirações se misturando e seu rosto cada vez mais próximo, antes da luz da lamparina se apagar de vez.