História What Am I To You? - Capítulo Único

Meu peito dói, o sangue mancha minha roupa e meu cérebro fica se questionando o que eu fiz para acabar assim? Por que sou eu que estou no chão? Eu não a mereço como ele? Eu que a amei a vida toda sou obrigado a perdê-la pra um qualquer? Sou eu que mereço esse tiro?

O que eu fiz para isto acabar assim?

“Cuidado: O amor pode provocar dor, inveja, ciúmes, raiva, obsessão, medo, frustração e um forte sentimento de possessão.”

Vamos começar do inicio, eu sou um garoto normal, que estuda, perde tempo na internet e é viciado em vídeo games, e ultimamente se encontra cada vez mais apaixonado pela amiga de infância, e o que ela tem de mais? Sei lá, acho que deve ser os cabelos pretos, o sorriso, talvez os olhos, a personalidade. Eu a conheci com 6 anos, e agora 10 anos depois meu coração ainda bate forte quando a encontra.

- Olá Pamela.

- Oi Daniel, tudo bem? – Fomos caminhando para a aula.

A Pamela é aquele tipo de garota que ajuda qualquer pessoa, que chora se pisarem numa formiga, que reclama se chove demais, que sorri o tempo todo e encanta a todos a sua volta.

Seu sorriso é tão doce e me faz tão bem, eu já havia decidido que iria me declarar para ela no final desta semana. Já poderia imaginar tudo, eu lhe traria uma rosa mas a manteria escondida durante todo o período das aulas e no final do dia quando caminhássemos lado a lado, eu lhe diria tudo, lhe confessaria meus sentimentos e entregaria a rosa como prova de meu amor, como entrega de meu coração, e nada e nem ninguém poderia estragar isso.

- Você lembra do Leonardo?

- Sim.

- Me chamou pra sair.

- O quê?? Por quê? – Ou será que haveria alguém pra estragar tudo?

- Calma, eu disse que ele me chamou e não que eu aceitei.

Leonardo era aquele típico garoto valentão, batia em todos, zoava com todos e obviamente se achava o maioral. Nunca passou pela minha cabeça que ele gostaria de alguém como a Pamela, sei lá... Não consigo ver os dois juntos. Quer dizer, ela precisa de alguém bom, que vai cuidar dela e fazê-la sorrir, ela precisa de mim.

- Eu não consigo te ver com ele...

- Não estou com ele, só disse que me chamou pra sair.

- Mesmo assim... Por que de repente?

- Não perguntei... Mas achei engraçado... Ele se atrapalhou todo na hora de falar, até achei fofo.

Fechei a cara, fofo? Desde quando bater em pessoas é fofo? Ser um idiota é fofo? Eu deveria agir como um idiota? Ela gosta de idiotas? Eu...

- Você está fazendo de novo...

- O quê?

- Viajando nos seus pensamentos... Mas sabe, eu também não me imagino com ele, acho que me vejo com alguém mais alegre, mais amável, na verdade eu adoraria passar o resto da vida com alguém como você, por exemplo.

Meu peito explodiu. É isso, já ouço os sinos da igreja, cadê a rosa? Por que não a trouxe hoje? Por que esperar? Devo fazer o pedido agora? Não, faça amanhã.

- Pamela... Não faça nada amanhã... Terei uma surpresa – cocei a parte de trás da nuca.

- Tudo bem. – Ela sorriu.

O caminho pra casa foi um tanto animado demais, eu mal consegui segurar meus pulos. Eu e Pamela juntos... Eu a levaria as alturas, já podia sentir nosso amor crescendo e queimando dentro de nós. Já podia ver o quão longe iríamos.

Nossa vida seria como um conto de fadas, viveríamos felizes pra sempre, meu deus, por que eu já consigo ouvir os violinos tocando ao fundo? Meu peito bate tão forte que sinto que posso ter um ataque. Preciso descansar, amanhã é o grande dia, será o melhor dia.

Acordei na manhã seguinte, o sol brilhava forte, eu ouvi pássaros cantarem por todo o caminho, peguei a rosa e pude jurar que meu caminho foi cercado por borboletas e flores diversas que me desejavam boa sorte. A medida que eu me aproximava da escola meu estômago se revirava, o nervosismo tomava conta, a mão tremia, o coração saltava, decidi que seria melhor não encontrar a Pamela antes da aula, poderia acabar estragando tudo.

Subi os degraus animado, o sinal já havia soado, eu estava quase chegando a sala quando vi... Ele com os braços em volta dela e eles riam juntos, meus batimentos cardíacos, minha respiração, meus pensamentos todos pararam ao mesmo tempo, a única reação do meu corpo foi fechar o punho com raiva, mas raiva de quê? Ela não é minha. Deveria ser, não é... Mas por que ele? Eu estava confuso, ela disse que me queria ontem, e hoje... É um jogo? É só um jogo?

O que eu sou pra ela? Sou tão substituível assim que ela me trocou em um dia? O que ele tem de mais? Músculos? Os olhares... Aqueles olhares deveriam ser direcionados a mim. Não a segure desta forma, só eu poderia tocá-la, só eu poderia envolver os braços em volta dela.

Sai correndo, fui pra qualquer lugar menos pra aula... O que eu faço com essa rosa agora?

Eu a amasso, a espremo nas mãos, lhe deixo sem vida, a jogo no chão pra que sofra como eu estou sofrendo. Para que sinta a dor que eu sinto.

Dou socos e chutes no ar, perco a cabeça, grito, choramingo, converso sozinho tento de alguma forma entender toda esta situação, como cheguei aqui? O que deu errado? Estava tudo certo até ontem... Quando eu ainda ouvia os violinos tocarem uma música angelical e hoje... Tudo que ouço são sinos sombrios que anunciam a morte do meu coração, a morte do meu amor.

Fui pra casa mais cedo, me tranquei no quarto, me olhei no espelho, joguei tudo que estava na mesa no chão, chutei cadeiras, gritei, deixei o monstro interior se libertar.

- Por quê Deus? Eu não consigo respirar, eu só sei gritar, só sei sentir dor... Por que dói tanto? O que eu fiz pra merecer isto?

Depois de ter rasgado, quebrado e estragado metade das coisas no quarto, me joguei em minha cama, sentindo o peito rasgado ao meio, sentindo os demônios tomando conta de mim, me possuindo, e eu continuo me questionando, meu cérebro volta na mesma cena e eu só soco o travesseiro, arremesso coisas, e grito, eu a amei loucamente, por que eu mereço sentir isso? Eu mereço isso?

Não.

A noite resolvi ir atrás dela, talvez pudesse reverter a situação, eu ainda poderia me declarar lhe dizer como me sinto, lhe dar um beijo, um abraço... Ainda há 1% de chance que eu tenha entendido errado... Vai ver é isso, eu vi coisas, nada aconteceu, eu só estava sonhando, devo ter tomado muito sol não é mesmo? É foi isso, tenho certeza, a Pamela me quer, ela mesmo disse.

Mas esta mesma Pamela estava beijando o cara que vi mais cedo... Novamente a mesma dor voltou, eu devo ir embora... Não, eu preciso saber... Mas... Ela precisa se explicar. Não demorou muito e ele foi embora... Eu devo ir falar com ela? Não.

Mesmo assim fui.

- Pamela...

- Daniel? O que aconteceu hoje? Não te vi, ficou doente de novo? – Ela pôs a mão em minha testa.

A sua mão tão pequena descansando sobre minha pele, era como se ela me purificasse de cada pensamento ruim que eu tive.

- Pamela, eu não posso segurar mais, está doendo, eu preciso liberar.

- O que aconteceu?

- Eu te amo.

Ela sorriu – Eu também Daniel.

- Não brinque comigo por favor, eu falo sério, eu te amo, amor este de casar, de ter filhos, de morar junto, não é amor de amigo ou de irmão, é de esposa... Eu penso em ti o dia todo, não sei fazer outra coisa se não te imaginar ao meu lado, me perco imaginando como seria te beijar, como seria te abraçar... Eu te amo desde os meus 6 anos, porque você sempre cuidou de mim, sempre foi boa pra mim, sempre me ajudou, foi a única pessoa que se importou comigo, entende? Eu preciso que você entenda, porque se você compreende isso não perderia seu tempo com um qualquer, não ficaria com ele, me escolheria porque sabe que eu sou o certo, eu te amo loucamente, vivo por você e até mesmo morreria... Ontem... Você disse que queria alguém como eu não foi?

Peguei em sua mão e sorri.

- E fui sincera, você é adorável Daniel, tenho sorte de ter um amigo como você...

- Não Pamela, não sou seu amigo, você disse que... Disse que queria ficar comigo... Por que está com ele? Ele está te forçando não é? Eu sei, me diga, eu posso resolver isso e a ficaremos juntos, e ai seremos só os dois, o que acha?

-... Daniel... Não te amo desta forma... Eu... Não sei como te responder, eu... Olha, se você conhecesse o Leo veria que ele não é como você pensa e...

- Eu já o conheço bem, ele vive fazendo coisas erradas...

- Não, você está enganado.

- Você está cega.

- Daniel você está estranho... Deve estar cansado, vá pra casa descanse...

- Eu te amo.

- Eu também te-

- NÃO. Não quero ouvir uma mentira.

Sai andando. É um jogo? Ela está jogando comigo? Como pode amar dois garotos? Como pode mentir pra mim, ela não entendeu? Não? O que eu sou pra ela? Eu estou insano por ela, eu...

Voltei até ela e puxei a força pelo seu pulso.

- DANIEL, O QUE ESTÁ FAZENDO?

Não respondi, ele está aqui, ela não iria entender, nunca iria admitir que me ama, ele está aqui, ele esta ameaçando ela, eu sinto isso, ele não estava com uma cara boa, eu preciso protegê-la.

A trouxe pra um deposito velho e abandonado, ela estava com os olhos vermelhos, por que chorava?

- Ele não está aqui, pode ficar calma, agora me diz a verdade.

- Do que está falando?

- Dele, ele não vai te fazer mal, eu vou te proteger.

- Não sei do que você está falando Daniel, por que me trouxe aqui?

- Eu já sei de tudo, não precisa fingir, ele te ameaçou na escola não é? Ele quer algo não é? E você não tem como negar pois ele é mais forte, mas calma eu estou aqui, eu vou te proteger, eu sabia que isso poderia acontecer então vim preparado.

Mostrei a arma do meu pai que eu havia trazido em caso de emergências como esta.

- O q-que você pretende fazer com isto? – Ela parecia chocada.

- Te proteger, eu já sei, podemos fugir Pamela, seremos felizes, ele não nos achará... Não se preocupe com sua família ele não seria capaz de machucá-los.

- Daniel, você está bem?

- Eu não sei...

- Por que você acha que o Leonardo quer me machucar?

- PARE DE FINGIR. Eu sei que ele está. Eu vi o jeito como ele te olhou. E sei que você não seria capaz de ficar com ele, você mesma disse. Você disse que me queria. Vamos ficar juntos.

- Eu... Eu não disse aquilo neste sentido...

- O quê?

- Eu disse que não me imaginava com ele... Porque sei que o odeia e não sabia como lhe contar que estávamos juntos...

- N-não... Isso é mentira...

- Estamos saindo há 3 meses...

- Eu não quero ouvir mais...

- Queria que você o conhecesse... Daniel você é tão importante pra mim, não queria ficar escondendo coisas de você, me senti péssima por fazer isso, mas agora que você sabe, podemos ficar bem não podemos? – Ela sorriu fraco.

- NÃO. E O QUE VOCÊ ME DISSE? ERA TUDO MENTIRA?

- N-não... Você é realmente bom e amável e qualquer garota teria sorte de te ter...

- MENOS VOCÊ NÃO É MESMO?

- N-não quis dizer isso.

- PARE DE JOGAR COMIGO, O QUE EU SOU PRA VOCÊ GAROTA? EU TE AMEI LOUCAMENTE TODOS ESTES ANOS PRA NADA, EU FUI ATÉ O INFERNO POR VOCÊ, FIQUEI INSANO POR VOCÊ, ESPEREI TODO ESTE TEMPO POR VOCÊ, RESPEITEI SEU ESPAÇO, CUIDEI DE VOCÊ, TE PROTEGI, FUI SEU AMIGO, EU NÃO SOU SUFICIENTE PRA VOCÊ? O QUE FALTA EM MIM? ME DIGA, E AI EU IREI ATRÁS E CONSERTAREI, E ASSIM VOCÊ FICARÁ COMIGO.

- N-não é assim D-daniel... Eu n-não quis te machucar e-eu sinto muito. – Ela começou a chorar.

- SENTE MUITO? NÃO, VOCÊ NÃO SENTE, POIS NÃO É SEU PEITO QUE ESTÁ DILACERADO, NÃO É DO SEU CORPO QUE OS DEMÔNIOS ESTÃO TOMANDO CONTA, NÃO É VOCÊ QUE NÃO CONSEGUE RESPIRAR, NÃO É VOCÊ QUE ESTÁ COM MEDO E PERDIDO, SOU EU, SOMENTE EU. E POR SUA CULPA, O QUE ACHA QUE EU SOU? UM IDIOTA? E TODAS AS COISAS QUE ME DISSE? E TODAS AS JURAS E PROMESSAS?

- M-me desculpe.

- O QUE TE FAZ PENSAR QUE UM SIMPLES “ME DESCULPE” RESOLVE TUDO? VOCÊ ACHA QUE MEU CORAÇÃO VAI SE CONSERTAR COM ISSO? NÃO VAI.

- A deixe em paz. – Ouvi uma voz estranha vinda de trás, quando me virei meu queixo foi acertado em cheio por um punho, era ele.

- VÁ EMBORA, NINGUÉM TE CHAMOU, ISSO É ENTRE EU E ELA, O QUE FAZ AQUI? JÁ NÃO TIROU TUDO DE MIM? O QUE ELE TEM ME DIZ? POR QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE ENTENDER O MEU AMOR? ACHA QUE ELE TE AMA MAIS DO QUE EU?

- Você está a assustando Daniel, deixe-a ir embora e conversamos, só nós dois.

- Conversar? E quem disse que eu vou perder um pingo de saliva com você?

Fui pra cima dele e dei-lhe um soco no olho, seguido por um na barriga, ele segurou meu braço e me deu joelhadas no estômago, eu precisava acabar com isso logo, eu precisava acabar com ele, salva-la deste monstro, ela seria minha, não seria? Ela veria que sou mais forte, que sou o melhor, que precisa de mim. Que foi feita pra mim, minha mente estava área... Essa era a solução, ela correria aos meus braços como as donzelas fazem quando os príncipes derrotam os dragões. Eu o puxei para jogá-lo no chão mas fui impedido... Por uma dor maior... Algo atingiu meu peito, doía muito, mais do que hoje cedo, era insuportável, meus joelhos não aguentaram e foram ao chão, minha camisa estava manchada, seria possível? A arma não estava mais na minha cintura, me virei lentamente, me diga que não... Não foi ela... Foi outra coisa... Não pode ter sido a Pamela, a minha Pamela não faria isso... Não foi ela... Meus olhos encontraram os delas já tão vermelhos... Foi ela. Sua mão tremia segurando o objeto que acabara de por fim em tudo. Seu choro estava alto, eu o vi correr em sua direção e abraçá-la... Mas por quê? Não seria eu que deveria estar lá e ele aqui? Os papéis estão trocados... Por que o meu destino é escuro? Tudo que eu fiz foi amá-la e é isso que ganho no final? Os violinos nunca tocarão, ela nunca usará um vestido branco pra mim, nosso futuro nunca vai existir... E eu morri sem saber o que eu era pra ela.

Meu corpo quente se choca com o frio do chão, eu menti, te ver partir com outro dói muito mais do que qualquer bala no peito.

E eu me sinto como a rosa, jogado, despedaçado e deixado no chão frio. Sem amor. Sem ninguém. Só eu e meus demônios.