Um ano se passou desde que Jareth havia declarado guerra contra Donna e muita coisa mudou por aqui: arranjei um estágio de meio período em um jornal local; eu e Iman abandonamos o grupo de teatro em definitivo depois da última apresentação de “Moulin Rouge”; Toby agora freqüentava uma escolinha e Irene pôde voltar a dar as aulas de francês e a gravidez da mãe da Iman se confirmou e agora ela cuida do irmão mais novo.
Fazer o estágio à tarde me ajudou a ocupar a mente e pensar menos em Jareth, aliviando a minha dor, mas tudo voltava à tona quando eu chegava em casa e via o cristal sob o criado mudo. Os momentos de raiva aconteciam de vez em quando, me fazendo lançar o cristal contra a parede para quebrá-lo, mas ele sempre aparecia intacto horas depois.
Minha angústia aumentava ainda mais quando eu chamava por Hoggle, Ludo e os outros, mas assim como Jareth, nenhum deles aparecia ao meu chamado, e logo conclui que Jareth também deve ter dado ordens de não me visitarem. Talvez fosse melhor assim, para a segurança deles e minha.
Outro momento que ainda me causava dor foi quando dei a noticia do nosso “fim” de namoro aos meus pais, com a desculpa esfarrapada de que Jareth iria voltar para o interior, para cuidar da mãe que estava em estado terminal. Irene compreendia e não perdia as esperanças, sempre me perguntando se eu tinha noticias dele, já o meu pai disse que o expulsaria de casa se ele tivesse a ousadia de pisar ali novamente.
Eu continuava sem vontade de sair e me divertir, queria passar as minhas noites curtindo a minha saudade, relembrando todos os momentos que passei ao lado de Jareth, mas de vez em quando eu saia apenas para satisfazer os meus pais e a vontade de Rick, que agora tinha a função de me animar e também animar a Iman, que estava tão triste quanto eu.
Acho que era a primeira vez em que eu via a minha melhor amiga tão deprimida, e o fato de cuidar de um bebê só a irritava mais ainda.
- Se pelo menos a mãe do Mark me falasse para onde ele foi fazer o intercambio, eu largaria tudo e iria atrás dele, só para não ter que cuidar mais desse piralho! – ela resmungava inúmeras vezes e isso aumentava nas épocas de provas.
Meu coração apertava ainda mais por não poder dizer a verdade a ela, que Mark nunca foi para nenhum intercambio, mas que está enfeitiçado por uma louca que quer destruir todo um Reino e, se possível, a mim e a Jareth.
Passei noites em claro pensando em contar toda a história para a Iman, mas ela só me acharia louca e talvez ainda contaria aos meus pais, que logo questionariam a minha saúde mental.
Rick incentivou Iman a se inscrever em uma agência de modelos e logo ela estava fotografando e desfilando para várias revistas, o que a deixou alegre por um curto espaço de tempo, engatando até alguns namoricos nos bastidores dos desfiles, mas nada a fazia parar de pensar em Mark, e ela dizia que esse era apenas um meio de ganhar alguns trocados para que, assim que descobrisse onde Mark estava, ir em busca dele.
Era o começo das nossas férias, a transição do segundo para o terceiro ano da faculdade, e Rick e eu acompanhávamos mais um desfile de Iman, dessa vez ao ar livre, no parque em que eu levava o Merlin para passear e que me trazia tantas lembranças do Jareth.
Estávamos na primeira fila e um rapaz magro, de cabelos negros e olhos verdes sentou-se ao meu lado, um bloco de anotações e uma caneta na mão, o crachá de imprensa pendurado na camiseta gola pólo verde justa, realçando os músculos do rapaz.
- Olá! – ele sorriu pra mim ao sentar. – Sou Julian e você? – ele estendeu a mão educadamente.
- Sarah. – ele tinha o aperto de mão firme.
Tentei voltar a atenção para a passarela a minha frente, as cadeiras do lugar quase todas lotadas, mas o rapaz insistia em conversar.
- Você é de algum jornal? – ele continuou. – Desculpe a pergunta, geralmente a primeira fileira é sempre da imprensa e eu nunca conheço rostos familiares nesses eventos.
- Teoricamente sou. – Julian sorriu e achei que eu devia ter ficado quieta. – Sou estagiária no jornal local, mas hoje estou aqui para prestigiar a minha amiga que vai desfilar.
- Que interessante! – ele sorriu ainda mais e pude identificar alguns dentes manchados, provavelmente de café ou cigarro. – Mas você também poderia desfilar, você é muito linda para estagiar em um jornal.
Sorri sem graça e Rick, que estava sentado ao meu lado, me deu um leve cutucão, como se me incentivasse a conversar mais com o repórter, mas eu simplesmente queria ficar quieta.
- Eu prefiro a escrita, não sei lidar com o público. – respondi.
- Mentira! – Rick estendeu a mão para Julian e se apresentou. – Ela é uma ótima atriz, sempre cativou muito o público, pena que abandonou os palcos.
- Sério? – Julian arregalou os olhos. – Por que fez isso, ainda tão jovem?
Algo branco passou voando sobre nós, dando um leve rasante e fazendo o bloco e caneta do Julian voarem para longe.
Olhei para cima e uma coruja branca sobrevoava baixo todo o local do desfile, meu coração acelerou e por impulso me levantei, mas logo senti o braço do Rick me puxando para sentar de novo.
- Sarah, senta! Vai começar!
Sentei mas as minhas pernas não queriam me obedecer, queria correr e seguir a coruja, o som alto do apresentador agradecendo a presença de todos seguido de uma música eletrônica alta me assustaram, me fazendo voltar os olhos para a passarela, Iman entrando deslumbrante em um vestido de festa, mas assim que voltei os olhos para o céu, nenhum sinal da coruja.
“Jareth, por favor, me diga que você voltou!”, eu pedia mentalmente, minha mente viajando para as lembranças de sempre, enquanto aplausos me traziam de volta a realidade.
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