O meu despertador tocou. Levantei-me e tomei banho. Surpreendentemente a água estava quente. Costumamos ter problemas de canalização aqui em casa. O que vale é que o meu pai percebe de bricolagem. Enfim, vesti-me e fui acordar o meu pai e o meu irmão.
Todos fomos fazer o pequeno-almoço e comemos.
Lavei os dentes, fiz a mochila à pressa, e saímos. O meu pai levou-nos à escola.
- Até logo, pai! – Exclamamos eu e o Nathan em coro. – Hoje almoças em casa? – Perguntei esperançosa.
- Receio bem que não, filha. Mas eu deixei comida pronta, basta aquecer. – Nos fizemos uma expressão ligeiramente decepcionada. O meu pai reparou e sussurrou: É lasanha.
Nós sorrimos por simpatia. Até porque podia ser outra comida qualquer, não nos ia alegrar. Nós queríamos era o nosso pai em casa connosco mais tempo. E ele bem que tentava, mas tinha que trabalhar imensas horas para ganhar o salário mínimo.
O Nathan foi ter com um grupo de amigos e eu fui para a sala de aula, e não estava ninguém. Afastei um pouco a cortina e vi que todos estavam lá fora.
Sentei-me numa mesa ao fundo da sala. Comecei a pensar sobre o dia anterior. Lembrei-me de uma frase que a minha mãe dizia:
“ Se não queres esquecer algo, escreve.”
E fez-se luz. Peguei no meu bloco preto semelhante ao antigo da minha mãe, e comecei a escrever tudo o que me lembrava de ontem. Desde as dores até à “visão” se assim posso chamar.
No fim, tudo ficou mais organizado na minha cabeça. Resultou. Reli diversas vezes tudo, mas não cheguei a conclusão nenhuma.
Deu o toque de entrada, e permaneci sentada. Todos os alunos foram entrando e vi a Kath entre eles. Desta vez vinha com o cabelo num rabo-de-cavalo, argolas excessivamente grandes, um top muito curto e calças de cinta alta. Olhei para a sua cara, e ao seu lado apareceu um rapaz, o Jonathan. É um rapaz (tenho de admitir) giro. Tem cabelos castanhos e olhos igualmente castanhos. Mas o que o realmente embeleza são as suas feições.
A Kath já gostou dele no 3º ano do primário (quando tínhamos nove anos), mas tudo passou quando um novo aluno chegou, o Luke. A Kath apaixonou-se por ele só porque este lhe apanhou a borracha que tinha caído na sala de aula. Ele nunca retribuiu. Mas ela continuou a tentar, e a tentar. Porém um dia quando eu estava na biblioteca a escolher um livro para ler no fim-de-semana, o Luke aproximou-se de mim e disse-me que eu era muito bonita e inteligente. Os mais puros elogios. Eu fiquei tão feliz que me esqueci da Kath. Não lhe contei nada, porque ela continuava ainda acreditava que ia conquistar o Luke. Duas semanas depois o Luke no intervalo deu-me uma flor que tinha colhido. Ainda hoje a tenho guardada dentro do meu livro preferido. Mas dessa vez a Kath estava à minha beira, e viu. Ela começou a chorar após ele ter ido embora e eu disse-lhe que nada ia acontecer entre eu e ele. Abracei-a e ela acreditou em mim. Passaram-se dois anos, e o Luke foi ter comigo e deu-me um bilhete que dizia:
“Sakurai, gosto muito de ti. Só preciso de te dizer isso.”
Eu olhei para ele e imaginei a Kath ao seu lado. Escolhi a amizade.
- Eu não posso, Luke.
Dei-lhe um abraço de desculpa e fui embora.
Desde aí que não nos falamos muito. Só estritamente o necessário. Eu já o esqueci, acho.
O Jonathan beijou inesperadamente a Kath. A beijar um rapaz, quem diria.
…
O Luke passou por mim, e eu baixei os olhos, pois sabia que iria ser ignorada. Mas ele baixou-se e sorriu-me. Foi muito rápido, mas perfeitamente perceptível.
Eu que achava que já o tinha esquecido.
Eu sempre o amei.
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