História What is the combination of red and blue? - Você é minha luz

Os dedos passeavam pelos fios ruivos em uma carícia suave, fazia alguns minutos que estavam naquilo. Deitados no extenso sofá, Akashi descansava a cabeça no peito do mais baixo que somente mimava o outro com afagos e beijinhos ternos. As respirações calmas eram as únicas coisas que se podiam ouvir, e com isto, a sonolência ameaçava vir. A xícara de porcelana vazia repousava na mesa de vidro, o chá havia sido tomado depois de certa insistência do azulado. Tetsuya inclinou-se encostando os lábios na testa alheia, afastando-se com uma feição preocupada ao sentir a temperatura do namorado.

- Está com febre, temos que dar um jeito de baixá-la. - Sentenciou, logo tomando uma feição pensativa. Não tinha certeza de como proceder. Deveria mandar o ruivo para um banho morno e depois do remédio, colocar uma toalhinha úmida em sua testa, certo?

Suspirou, seria melhor ligar para Midorima. O esverdeado era quem continha maior conhecimento nessa área, afinal queria segui-lá, Kuroko lembrava-se quando haviam conversado sobre o futuro e o amigo ter dito que era quase um sonho de infância. Apoiava-o completamente, era uma profissão maravilhosa, e se não fosse sua “aflição” com sangue, seria sua escolha também.

- Tetsuya…- O chamado veio em tom de repreensão, mas não no mesmo que era escutado em quadra, esse tinha certa manha e vinha acompanhado de um olhar extremamente meigo. Kuroko arqueou a sobrancelha, somente havia se esticado para pegar o celular na mesinha.

- Só irei ligar para o Midorima-kun.

Clicou no contato do dito cujo e colocou o aparelho na orelha, ouvindo o irritante barulho que simbolizava que a chamada estava sendo feita. Fechou as pálpebras, o sono ainda estava lhe acompanhando e o abraço do namorado estava aumentando a sonolência que sentia. Diferente de si, o ruivo parecia cada vez mais acordado, se mexendo vez ou outra, enquanto observava o outro com curiosidade. Ou talvez fosse birra? Bem, Akashi é uma pessoa difícil de se entender.    

- Kuroko?

A voz soou depois do terceiro toque, Midorima havia se surpreendido com a ligação, era raro o amigo ligar.

- Ah, Midorima-kun, desculpe ligar tão cedo.

- Não se preocupe com isso, Oha Asa teve uma programação especial para cancerianos agora cedo.

- Shintarou e Oha Asa, melhor couple que vocês respeitam. - O comentário de Akashi fez com que o namorado afastasse o celular para que pudesse rir, céus, onde o ruivo estava aprendendo essas gírias?

- Está com o Akashi?

- Sim, estou na casa dele. Akashi-kun está doente, então vim ajudá-lo a se cuidar. - Kuroko ainda pôde ouvir um “Por que não se inspira no seu amigo, Shin-chan?”, uma movimentação do outro lado da linha  e logo depois o barulho de uma porta se fechando, provavelmente o esverdeado havia ido para outro cômodo. Já nem ficava mais surpreso com a relação entre Midorima e Takao.

- Bem que sagitário ficou em último no ranking, recomendo que consigam achar orelhinhas de tigre, é o objeto da sorte de hoje.

- Entendo, quando for na farmácia, irei passar em alguma loja de acessórios. - Seria engraçado se realmente achasse, pensou consigo mesmo. O riso saiu dos seus lábios quando sentiu uma mordida no pescoço, certo, Akashi não havia gostado muito da ideia. - Midorima-kun, quais os melhores passos para se baixar uma febre?

- Akashi precisa de um banho morno, não pode ser frio ou quente. Depois disso dê o remédio antitérmico e então faça compressas na testa dele, não o deixe se esforçar. Ele precisa descansar por hoje, então deixem para fazer coisas de namorados outro dia, certo? Nada de sex-

- Sim, sim, entendi completamente. Muito obrigado, Midorima-kun. - Respondeu rapidamente interrompendo o amigo, o rosto pálido estava rubro e a risada do namorado ao pé do ouvido só piorava as coisas.

“Ah, obrigado, Midorima-kun” agradeceu irônico mentalmente quando percebeu o que o ruivo começaria a fazer. Os selares que recebia no pescoço só faziam com que corasse mais e tentasse se soltar do corpo alheio, ah, como odiava ser provocado.

- Akashi-kun, preciso ir comprar o remédio.

Era certeza que o mesmo remédio devia ter na casa, mas ela era tão grande que demoraria séculos para achar no meio de tantos outros medicamentos. Seria mais rápido e prático sair para comprá-lo.

- Não precisa não. - Contrariou, parando com as provocações e se enrolando ainda mais no corpo alheio.

- Está tentando ir contra a lei de Newton também? - Perguntou divertido notando que estava totalmente preso pelo namorado, os braços circulavam possessivamente sua cintura enquanto as pernas estavam entrelaçadas nas alheias.

- A única lei que sigo é que nossos corpos precisam se manter juntos.

            ~ Red or blue? ~

Já fazia alguns minutos que caminhava pelas ruas cheias do centro, conseguira escapar do abraço do ruivo por um descuido do mesmo e apesar dos choramingos, se despediu rapidamente antes de correr para comprar o remédio. Por mais que quisesse ficar no conforto dos braços de Akashi, precisava cuidar dele primeiro e o medicamento era mais do que necessário. Olhou no visor do celular e viu que havia demorado somente quinze minutos, quase um recorde!

Esperou o porteiro lhe ceder a passagem e andou a passos rápidos até a entrada da casa, estava sentindo o fôlego lhe abandonar. Não era para menos, havia corrido o caminho todo. Podia ter pedido aos seguranças, como sugerira Akashi, mas não queria atrapalhá-los.

- Akashi-kun?

Chamou ao ver que a sala estava vazia, havia pedido que o garoto ficasse ali para não se esforçar demais. Deixou a sacolinha branca que carregava no sofá caro e seguiu em passos calmos até as escadas, provavelmente ele estaria no quarto. Passando pelas diversas portas, parou em frente a uma feita de madeira avermelhada, logo dando algumas batidinhas antes de girar a maçaneta e entrar.  

Havia acertado, Akashi realmente estava ali, mesmo que totalmente escondido pelos vários cobertores. O montinho se mexia suavemente, quase não se conseguia notar. Aproximou-se devagar, observando com cuidado e se sentando na beirada da cama, queria saber se o ruivo estaria dormindo.

- Oh, está acordado. - Falou ao ver os olhos heterocromáticos fitando o lençol branco. - Vá tomar um banho morno para poder tomar o remédio.

Vendo que seu pedido fora ignorado, franziu o cenho, ok, o que estava acontecendo agora? Akashi virou, ficando de costas e continuou em puro silêncio.

- Você está me ignorando? - Confuso, continuou observando o corpo do ruivo subir e descer na velocidade da respiração. - Está bravo por eu ter saído? - Perguntou, agora tendo como resposta o namorado virando o corpo para si e mandado-lhe um rápido olhar, antes de ficar encarando o moletom que Kuroko vestia. - Sabe que fui comprar o remédio para você, certo?

E, novamente, o silêncio reinou. Kuroko suspirou, não entendia o porquê da chateação do ruivo, então teria que o fazer falar. Colocou-se de joelhos na cama, logo pondo-se sentado no colo alheio e apoiando as mãos dos dois lados da cabeça de Akashi.

- Não vai me dizer nada? - Murmurou a pergunta olhando-o fixamente, conhecia-o o bastante para saber que o mais alto não conseguia lhe ignorar ou mentir se estivessem mantendo contato visual.

- ...Não gosto quando parece que foge de mim. - O sussurro chateado fez com que uma faísca de culpa se instalasse no peito do azulado, sabia que o namorado ainda nutria remorso pela época em que mudara de personalidade, haviam sido tempos sombrios. Outra coisa que sabia é que por ora não adiantaria falar algo sobre o assunto, ficar muito tempo nele só traria mais sentimentos ruins ao ruivo.

Com um sorriso terno inclinou o tronco, capturando os lábios rosados em um selar carinhoso antes de se afastar e chamar o outro para um banho. Iria fazer o possível para tirar aqueles pensamentos negativos.

 ~Red and Blue~

Ajeitou a toalha felpuda em cima da pia e se virou para o grande armário de vidro que havia no cômodo, puxou um roupão de dentro do mesmo e pôs junto com a toalha. “Só falta a muda de roupa, certo? Como pude esquecê-la?” pensou internamente, soltando um muxoxo pela falta de atenção. Ia encaminhar-se até a porta quando sentiu algo puxar seu moletom, dirigiu a atenção para o ruivo que o segurava de dentro da banheira. Os olhos vermelhos brilhavam em um pedido mudo de que entrasse ali consigo, nenhuma palavra fora proferida e logo Kuroko já se encontrava despido e debaixo da água. Não foi preciso um pedido para que o dono das madeixas rubras se ajeitasse entre as pernas pálidas do mais baixo, não era a primeira vez que estavam naquela situação e tanto por isso, quanto pela intimidade que possuíam, não se sentiam nada desconfortáveis.

Akashi sorriu quando sentiu seu cabelo sendo acariciado pelas mãos delicadas do namorado, o aroma do shampoo infestava o cômodo, a febre havia lhe feito suar e mesmo que soubesse que precisaria lavá-lo, não estava com a mínima vontade de fazer o esforço, agradecia infinitamente à Tetsuya por fazer isso por ele. Depositou uma das mãos na coxa alheia, movimentando o polegar em carícias circulares, era uma espécie de retribuição. Ah, como amava aquele garoto de olhos mais azuis que o céu. Quando se imaginaria estar agindo assim com alguém? Kuroko era único e somente ele conseguia fazê-lo se sentir assim, com ele conseguia receber sentimentos que nunca nutrira por/com outro alguém. Calma, leveza, carinho, alegria, conforto e amor eram somente alguns. Admitia sofrer com o aquele monstrinho, hm, ciúmes o nome? Mas era algo comum em relacionamentos, contanto que em um nível saudável. Raiva e tristeza eram coisas que o menor nunca lhe trazia, quando lembrava-se do passado, ficava chateado consigo mesmo e sabia que aquilo deixava o outro pra baixo, mas não conseguia controlar. Sabia que aquele silêncio todo era por sua causa, e aquilo tinha que acabar. Céus, queria ouvir a voz doce do namorado! Deixou um sorrisinho escapar com a ideia que teve. Virou-se abruptamente, assustando o azulado que havia afastado as mãos dos fios vermelhos para pegar mais shampoo, e capturou um pouco de água com as mãos em concha antes de jogar no garoto à frente. Não era preciso mais nada para Kuroko concluir que era uma declaração de guerra, em poucos minutos o banheiro já se encontrava com o chão todo molhado e a risada dos dois jovens ecoando enquanto tentavam não ser acertados pelo ataque um do outro.  

- Céus, Seijuro, quantos anos tem? - Perguntou rindo, depois de pedir trégua e passar as mãos pelo rosto em uma tentativa de tirar a água que atrapalhava sua visão

- Quatro.

- Quatro? - Kuroko franziu o cenho, não esperava aquela resposta, na verdade, não esperava nenhuma.

- Faz quatro anos que te conheço e foi aí que minha vida começou.

Às vezes Tetsuya se perguntava como seu coração aguentava firme e forte, ah, qualquer dia ele surtaria tamanha a fofura do namorado. Até lá só iria deixar aquele sorriso bobo quebrar sua expressão neutra, sorriso esse que aparecia com qualquer coisa relacionada a Akashi, apertar ele todinho e encher de beijos. E, com toda certeza, o ruivo amava ver aquele sorriso, dava-lhe forças para superar o passado, e por mais que Kuroko fosse considerado uma sombra em quadra, ele é a luz do pequeno imperador.

Talvez depois de tudo isso Tetsuya tenha se desesperado por ver que o namorado havia se esforçado demais, além de ter ficado na água por muito tempo...talvez Akashi também tenha sido obrigado a ficar em completo repouso debaixo de lençóis confortáveis enquanto o azulado se controlava para não beliscar o namorado que ria de seu desespero.