História What Makes You Smile? EM REVISÃO - No Anymore

Eu acho que estou ficando louco.

Desde o episódio com Jimin, eu me sinto extremamente culpado. As coisas que ele me disse ficam rebobinando na minha mente, como uma fita cassete arruinada.

Eu só queria ter as verdades mentirosas, não as mentiras verdadeiras. Eu me recuso a crer, eu me nego a acreditar nas palavras rudes que saem de seus lábios bonitos. Eu não quero mais ouvir a sua voz, que era tão doce, mas que agora me atormenta, e, não vai embora.

Por que fez isso comigo?

Fazem exatos sessenta dias que eu briguei com o Park, e esses sessenta dias têm sido difíceis. Eu só tomo banho, como uma fruta, e me deito na cama, rezando pra que sua voz pare de me atrapalhar.

Por que tudo tem que ser tão sofrido, ‘hm? Não sei o que houve contigo. Você havia me prometido, você estaria comigo pela eternidade, você não soltaria a minha mão, e se eu caísse, você me ajudaria a levantar.

Agora, por que não está aqui? Eu estou no chão, me salve, me ajude a levantar.

Mantenho o meu celular desligado. Não quero saber se tenho ligações perdidas, ou se tenho mensagens pra responder. Eu quero só um tempo para processar tudo isso.

Eu quero cair no leito eterno. Que a fina e leve cortina da vida se abaixe, e, me deixe explorar outros mundos. Quero contemplar novos lugares, conhecer novos alguéns, voar para longe dessa podridão e viajar através dos planetas.

Mas para isso acontecer, por favor, pode parar de deixar sua voz ecoar em minha mente? Eu já não aguento mais a sua voz dizendo as mesmas coisas. O tempo inteiro.

Desligo a música e o silêncio vem, como um tapa dolorido em meu rosto. As lágrimas mornas continuam a sua sigilosa caminhada pela minha face. O sal já faz parte da minha dieta diária, então já estou acostumado com o gosto do meu pranto. Eu me sinto tão sozinho agora, eu já não sinto o imenso prazer em ouvir música. Elas só se tornaram mais algumas palavras confusas e embaralhadas com uma melodia de fundo.

Viu o que fez? Nem as melodias mais relaxantes me fazem bem agora. Não com a sua voz irritando-me o tempo inteiro.

Deve ser só a porra de um estresse.

Sinto a água morna cair em minha cabeça. Fico parado, estático debaixo do chuveiro. Sinto a água percorrer a minha pele, sinto o cabelo grudar na minha testa, sinto uma falta de ar por estar prendendo a respiração, para não entrar água no meu nariz.

O coração continua a bater. Ele acelera, se torna feliz. Ar, sangue e oxigênio, eles clamam, eles suplicam por isso. Respire, não custa nada. Viva.

Me movo e saio debaixo do chuveiro, para finalmente começar o meu banho.

Sentir a água escorrer pela sua pele, sentir as bolinhas de sabão nas minha mãos, sentir seu coração bater, ouvir a sua respiração.

Tic tac, eu não tenho tempo.

Ao sair do banho, noto que todos os pelos do meu corpo se arrepiam de frio. Roupas quentes, eu preciso de roupas quentes agora mesmo.

Após me vestir, resolvo finalmente sair de casa. Vou comprar os calmantes de que preciso, já faz um bom tempo que preciso comprar. Vou ficar mais louco do que já estou se eu não conseguí-los.

Mesmo fazendo o maior Sol nas avenidas, e, por mais que todos usem roupas frescas, eu ainda sinto um frio do caralho. Estou ao ponto me encolher no chão, pra me esquentar, mas me contento apenas com a minha roupa de frio.

"Amigo? Você se acha meu amigo Yoongi? Por que acha isso mesmo? Por causa das minhas promessas falsas? Por causa da minha ótima atuação? Agora, me diga: por quais motivos alguém se tornaria seu amigo?"

Por favor mente, eu te imploro, agora não. Logo agora, na rua? Eu não quero chorar, eu não quero pensar nisso.

"Tudo é mentira; eu, os garotos… Tudo. Não entende? Você só foi mais uma vítima nossa."

Que merda isso acontecer. Caralho, eu não queria dizer, mas é uma coisa do caralho, eu conseguir andar com a visão embaçada e com a garganta doendo, suplicando pra que eu chorasse, gritasse ‘pra que todos vissem.

Levanto a minha cabeça, que estava abaixada até o momento e vejo o que não queria ver. Todos me olhavam com desdém e soltavam risadinhas. E, aos poucos, elas foram se transformando em outras pessoas. Em Jeongguk, Taehyung, Hoseok, Namjoon e Jin.

Ah, não podemos esquecer da cereja do bolo, Park Jimin.

“É tudo a sua culpa meu bem”. Eles diziam com crueldade. “Por que está aqui, seu merdinha. Lixo, inútil. Fraco também, vê as lágrimas nos olhos do pobre coitado? Não pode aguentar um pouco de verdades que já começa a chorar!”

“É a mais completa verdade garotos”. Os rostos do Jimin falam, me mirando de um jeito de quem sente desgosto. “Você só foi mais um, Yoongi. Só mais um nome na minha enorme lista. Sempre será.

Não sei quando isso acabou, mas sei que estou correndo para a farmácia, chorando e esbarrando em todos a minha volta.

Parei de correr e limpei as minhas lágrimas quando estava a um quarteirão de distância da farmácia. Como eu tenho cor clara, meu rosto fica vermelho e meus olhos e nariz ficam meio inchados depois de chorar.

Assim que cheguei na farmácia, peguei um pote de calmantes, do qual eu tanto precisava. Minhas mãos tremiam ao colocar o remédio no caixa. Não olhava para o rosto do atendente, não quero começar a chorar de novo.

Paguei pelo calmante e saí apressado do local. Estava indo tudo bem, eu respirava devagar, tentando regular as batidas do meu coração.

Mas, a felicidade dura pouco, e vi o que não queria ver.

Do outro lado da rua, vi a cafeteria que eu e Jimin costumávamos tomar café. E eu o vi lá, juntamente com Jeongguk, eles pareciam conversar alegremente. Pareciam felizes.

Jimin olhou pra fora do local, na calçada em que eu estou, rapidamente virei as costas para o estabelecimento e coloquei o capuz do meu moletom. Entrei em uma loja de conveniências.

“Verdades e mentiras, relatividade e realidade. Um véu tão fino separa as duas. Você sabe a diferença, Yoongi? Você acredita no que quer? Nas verdades? Nas mentiras? Na opção menos dolorosa? No que você crê afinal?”

Por que acha isso mesmo? Por causa das minhas promessas falsas?

As gotas chegam a pingar pelo meu queixo quando entrego o dinheiro pra a atendente. A pequena garrafa de vodka parecia tão firme em minhas mãos trêmulas. Saio da loja, com os calmantes e com a bebida em meus bolsos.

Pela milésima vez, corro até a minha casa. Minhas pernas já não aguentam mais tanto esforço e clamam com todas as forças por descanso.

Assim que chego em casa, a porta é batida com força e eu me apoio nos móveis para chegar até a cozinha. Tremendo, pego um copo d’água e destampo o pote dos meus remédios.

Derramo pelo menos umas sete pílulas em minha mão e engulo tudo com água. Talvez eu consiga dormir bem depois disso. Pego a minha vodka e desenrosco a tampinha.

Isso, Yoongi. Beba tudo, tudo de vez. Beba para esquecer, seu desgraçado fraco. Beba e esqueça. Beba e não se lembre mais.

Bebo tudo em dois goles. Desce queimando na garganta, mais lágrimas no olhos.

Me apoio no balcão, coloco a cabeça entre as mãos e começo a chorar. Começo a gritar para o nada, a dar socos nas paredes, até as mãos serem machucadas.

Fico nessa por um bom tempo.

De repente, minha visão fica turva. Meus pensamentos embaralhados. Sinto as minhas pernas bambas e fracas, noto o suor frio escorrendo pela minha nuca. Mesmo contra a minha vontade, a minha própria respiração começa a ficar mais lenta que o comum.

Acabou, Yoongi. Desligue-se.

Eu obedeci. Mas antes de apagar por completo, ouço meu nome ser chamado desesperadamente por uma voz feminina.

Mas nada posso fazer, já entrei no estado de torpor total.

Eu me desliguei.