História What You Gonna Do? - Empório Natural

As semanas se passaram, e confesso que comecei a ver alguns resultados. Minha cintura estava ficando mais bem definida, e os músculos começando a enrijecer. Então, várias coisas estavam se tornando mais fáceis para mim. Por exemplo, eu agora caminhava por diversão. Já que eu praticamente ficava o dia inteiro sozinha em casa, salvo pela academia, de vez em quando eu saia para dar uma volta, respirar um ar puro, observar o movimento. Minha cidade não era nem de perto tão violenta quanto as que eu costumava ver no jornal, então eu não tinha medo, e minha mãe também não, pelo menos não no geral. Mas ela com certeza não via problemas em me ver saindo de casa, muito pelo contrário. Eu estava até mesmo esperando a hora em que ela iria me empurrar pela porta e me trancar para fora de casa até eu dar certo número de passos ou algo do tipo. Além disso, eu também não usava nada que pudesse chamar a atenção, como pulseiras, brincos, entre outros, quando ia andar na rua sozinha. As únicas coisas que eu carregava, e muito bem escondidas, eram meu celular, caso precisasse ligar para alguém por alguma emergência, e alguns trocados. Afinal, nunca se sabe quando você vai sentir vontade de tomar sorvete, ou algo assim.

Eu continuava indo para a academia, por isso saia só de domingo, que era o dia em que ela estava fechada. No entanto, houve um dia de semana em que a academia não abriu. Motivo? Uma pequena reforma. Estavam precisando pintar a academia, assim como trocar alguns aparelhos, então eles avisaram que em dois ou três dias ela ficaria fechada. Assim, sai para andar na rua, apenas para não ficar parada. Acabei andando bastante, sem nem mesmo me dar conta, já que estava distraída pelo movimento. Eu via senhoras caminhando, crianças brincando, e também observava algumas vitrines por aí. No entanto, quando já estava voltando para casa, reconheci uma figura do lado oposto da rua. Jackson Wang e seu inconfundível boné preto andando por ai. Ao contrário de como eu sempre o via, dessa vez ele estava com um moletom preto cobrindo seus braços. Exatamente quando o vi, ele estava se preparando para atravessar a rua, prestando atenção nos carros. Se ele atravessasse ali, iria acabar vindo de encontro a mim. Então, antes de sair, enrolei um pouco para ver se ele me reconheceria fácil fora do ambiente da academia, que era o único lugar onde nos víamos. Mas assim que ele chegou ao outro lado da rua, me cumprimentou de imediato.

- Oi – ele sorriu – Caminhando um pouco, já que a academia não abre hoje?

- Pois é – comentei, sorrindo em seguida. Ótimo, belo comentário, parabéns mesmo. Pensei em algo a mais para dizer, mas nada realmente bom vinha em minha mente, então optei pelo óbvio – Você também?

- Vim comprar umas coisas, já que tinha tempo de sobra hoje, mesmo. Estou indo no Empório Natural.

Assim que ele disse isso, me lembrei onde, e o que, era o Empório Natural. Uma loja que não era muito longe de onde estávamos, onde vendiam diversos tipos de produtos naturais. Garrafas de sucos detox, mix de grãos e farinhas, produtos orgânicos, além de bolachas, pães, e tudo o que você puder imaginar que possa ser integral. Na mesma hora me arrependi de minha decisão, mas simplesmente não consegui me manter quieta:

- Que coincidência – Eu sorri, mesmo que o arrependimento imediato estivesse me consumindo por dentro - Eu estava indo para lá, também. Mas é a primeira vez que vou, então não sei muito bem onde fica.

- Que ótimo – ele comentou, sorrindo. Em seguida, desfez o sorriso e disse – Digo, não é ótimo que você não saiba onde fica. Mas é ótimo porque eu sei – Assim que ele disse isso, o sorriso voltou ao seu rosto - Vamos juntos, pode ser?

- Claro – Sorri de forma simpática, e começamos a andar.

Durante o caminho, conversamos sobre coisas aleatórias. Ele me perguntou o motivo de eu ter começado a ir para a academia, e eu disse que eu estava muito parada em casa. Afinal, estava de férias, então não tinha muito o que fazer durante o dia. Bem, eu não estava exatamente mentindo. Só havia omitido a parte em que minha mãe quase me obrigou a ir, mas isso era apenas um pequeno detalhe. Quando fiz a mesma pergunta a ele, me surpreendi um pouco com a resposta:

- Eu entrei na academia para fortalecer o corpo. Eu pratico esgrima, então os reflexos precisam ficar ágeis, mas também queria conseguir pegar algum peso, se fosse necessário – ele admitiu, rindo em seguida.

- Esgrima? – Repeti – Legal. E, digamos, diferente. Não é todo mundo por aí que diz que pratica esgrima.

- É, tipo isso – Ele riu – Eu comecei a treinar por conta do meu pai. Ele é meu treinador. Acabei seguindo a mesma coisa que ele – ele disse, dando de ombros, enquanto suas mãos estavam dentro do bolso do moletom.

- Já eu, pretendo ficar bem longe da carreira da minha mãe – Brinquei. Quando ele perguntou o porquê, expliquei – Ela é advogada. Mas eu vejo que é cansativo demais.

Então, conversamos um pouco mais sobre essas coisas até chegarmos ao nosso destino. Quando chegamos à loja, ele foi direto na direção das prateleiras favoritas dele, e eu o segui. De fato, era a primeira vez que eu estava ali, então não sabia nada sobre produtos naturais, ou orgânicos, ou qualquer coisa do gênero. Percebendo isso, Jackson me indicou algo, que acabei comprando. Enquanto ele levava uma sacola cheia, acabei levando um pacote que continha uma mistura de granola, aveia e açúcar mascavo, e também um mix de castanhas, que não era tão caro. Afinal, eu não sabia que ia passar em alguma loja realmente, então não era como se eu estivesse com muito dinheiro. E também era o que parecia mais saboroso dali, sem parecer que estou comendo papelão. A única vez que eu havia comido algo integral foi quando minha mãe há muito tempo decidiu ser uma pessoa mais saudável. Não sei mais dizer se eu odiei a marca, se eu odiei porque ainda era pequena, ou se simplesmente odiei o pão integral como um todo. Tudo o que eu sabia era que nunca mais havia me atrevido a comer algo do tipo... Até agora. Mesmo assim, a granola e as castanhas pareciam “inofensivas”.

No caminho de volta, Jackson me acompanhou até o ponto onde nos encontramos.

- Obrigada, Jackson - Eu agradeci, contente por ter ido com ele. Assim, pelo menos pudemos conversar um pouco.

- Eu que agradeço você – Devo ter feito uma expressão de confusão, porque ele sorriu e disse – Foi divertido fazer esse caminho até lá, com você. Geralmente eu vou sozinho, então não consigo conversar com ninguém até chegar lá.

De fato, isso parecia difícil para ele. Afinal, uma das coisas que ele mais parecia gostar de fazer, além de malhar, era conversar. Comece qualquer tipo de assunto com ele, e ele irá manter a conversa por bastante tempo, mesmo que não seja tão interessante assim. O que, claro, acaba deixando a conversa interessante.

Nos despedimos, e ele mudou de direção para ir de volta para sua própria casa, enquanto eu ia para a minha também. Assim que cheguei no meu lar, doce lar, coloquei a sacola do Empório Natural em cima da mesa e me troquei, colocando uma roupa mais confortável. Depois, enquanto ia para o sofá, olhei de novo para a sacola que deixei em cima da mesa.

Porque não experimentar, não é? Afinal, eu já havia comprado, e seria um desperdício de dinheiro se eu não comesse. Li a embalagem da granola, que recomendava comer com frutas ou com iogurte. Peguei um iogurte da geladeira e misturei um pouco. Na primeira colherada, hesitei um pouco. Depois, percebi que tinha um sabor doce. Não só pelo açúcar mascavo que havia misturado, mas a granola e a aveia eram realmente gostosas. Comi o restante do iogurte, não deixando para trás nada. Talvez eu estivesse errada em relação à produtos orgânicos, afinal. Quem sabe, eu não descobriria um novo mundo, graças à Jackson Wang?