História What You Gonna Do? - Festival Qi Xi

Jackson vinha no Empório Natural dia sim, dia não. Ele realmente consumia bastante daquele chá verde orgânico, mas também pegava outras coisas. O mais engraçado era que ele sempre me dizia um fato legal sobre o produto que estava pegando, coisa que eu memorizava para dizer aos outros clientes. Então, já que não nos víamos mais na academia por conta do meu horário ter mudado, continuávamos a nos ver sempre. Aos fins de semana, eu não trabalhava nem ia à academia, mas ainda conversávamos pelo WeChat. A todo momento conversávamos, não importava onde, nem sobre o que. Era uma sensação engraçada, mas também gostosa. Eu me sentia feliz em falar com ele, e ele parecia gostar de conversar comigo, também.

No entanto, em um dia de semana, não haveria academia, nem trabalho. Era, afinal, dia de festival nacional. O festival de Qi Xi. Nesse dia, haviam barracas pela rua, onde as pessoas brincavam, comiam e compravam coisas que gostavam. Mas o feriado possuía um significado bonito. A história de Niu Lang e Zhi Nu. Depois de muito tempo, a história começou a se perder, tendo várias versões por aí. Mesmo assim, eu acreditava na versão que minha mãe me contou desde que eu era pequena. Sua voz ecoava em minha mente toda vez em que eu pensava nessa história.

Niu Lang cuidava de seu pasto, e seu melhor amigo era um de seus bois. Um dia, o boi simplesmente começou a falar, e disse a ele que haviam sete moças, bonitas, que se banhavam ali por perto. Disse a ele que deveria falar com elas, e então ele teria felicidade. A curiosidade de Niu Lang falou mais alto, e ele foi até o rio para ver. Ao ver que as sete moças estavam na água, decidiu esconder as roupas cor de rosa, que eram as mais próximas dele. Quando as moças, que eram todas irmãs, saíram das águas e se vestiram, foram indo embora. No entanto, uma ficou. A moça cuja roupa havia sido roubada por Niu Lang, enquanto este estava se divertindo ao assistir a moça procurar por suas roupas, totalmente confusa. Então, ele finalmente se mostrou para ela, saindo de seu esconderijo, mostrando as roupas em sua mão. Quando ele decidiu devolver as roupas à ela, pediu algo em troca: saber seu nome. Ela, para recuperar suas roupas, lhe disse que seu nome era Zhi Nu. 

Eles conversaram, e aos poucos se apaixonaram. No entanto, Zhi Nu era uma das sete filhas da Deusa do Céu, e seu pai, o Imperador do Céu, não quis que ela se juntasse a um homem humano, tão comum. Ela estava destinada a coisas grandiosas, mesmo que não fosse esse o desejo dela. Quando o Imperador do Céu descobriu sobre o amor deles, Niu Lang e Zhi Nu já haviam até mesmo filhos, duas lindas crianças, mas o casal foi forçado a se separar. Tristes por não poderem mais se ver, Niu Lang e Zhi Nu choravam todas as noites, sentindo saudades um do outro. 

Por isso, algumas fadas, percebendo isso e ficando com dó do casal, se juntaram e formaram uma ponte no céu, para que eles pudessem se encontrar na sétima noite, e na sétima lua do ano. A Deusa do Céu não impediu o feito, e decidiu que não teria problemas se eles se vissem uma vez por ano, sempre nessa data. Ela viu que sua filha estava feliz, e então não disse nada à seu marido, para que ele não os separasse novamente, e ela sempre o distrai para que ele não descobrisse dos encontros dos dois. Por isso, Zhi Nu e Niu Lang conseguiam se ver nessa data, deixando esse dia marcado por esse festival, também conhecido como dia dos namorados, comemorando essa bela história de amor.

Eu sempre havia achado essa história linda. Além disso, me remetia à coisas boas. Sempre que me lembrava dessa história, lembrava de como eu e minha mãe estávamos quando ela contava: eu ficava deitada em seu colo, enquanto ela acariciava meus cabelos e contava cada trecho daquela história que eu já havia ouvido tantas vezes, mas que parecia nunca cansar de ouvir.

Mesmo assim, eu não tinha nada planejado para esse dia. Já que havia um dia de folga de tudo, talvez eu desse uma olhada nas barracas que montavam nas ruas, afinal. Ou apenas ficaria em casa. Quando estava quase decidindo que ficar em casa, assistindo um filme, seria a melhor opção, meu celular vibrou.

(Jackson): Ei, o que está fazendo?

(Eu): Absolutamente nada :D haha, e você?

(Jackson): Te imitando, aparentemente. Tbm nada, XD

(Eu): Entendo. Sem academia, sem esgrima, nem mesmo comprar produtos integrais hoje você pode. Você deve estar ficando doido.

(Jackson): Um pouco, talvez, haha.

(Jackson): O que acha de irmos dar uma olhada no festival, então?

Nessa hora, meu coração parou. Ele estava me convidando para um encontro? Eu não tinha certeza se ele estaria pensando dessa forma, mas foi a forma como eu entendi. Na mesma hora olhei para meu estado: de pantufas, pijama e cabelo totalmente bagunçado. Levaria no mínimo uma hora e meia para que eu ficasse pronta.

(Eu): Parece divertido. Ouvi dizer que terá barracas com alguns jogos novos esse ano.

(Jackson): VAMOS BRINCAR!

(Eu): Certo XD nos encontramos onde?

(Jackson): A rua vai estar muito cheia.

(Jackson): Talvez seja difícil nos encontrarmos.

(Jackson): Eu posso te buscar na sua casa?

E, nesse exato momento, eu comecei a dar pulinhos até meu quarto. Eu tinha que me trocar, afinal. Mas eu não podia negar que eu era a pessoa mais feliz do mundo naquele momento.

(Eu): Ok c:

Depois de passar o endereço para ele e combinarmos um horário, fui me trocar. Nos festivais de antigamente, as pessoas acabavam usando roupas tradicionais. No entanto, nos tempos atuais todos usavam o que queria usar. Por isso, escolhi um vestido fofo, com estampas florais, que ia até os joelhos. Deixei meu cabelo solto e coloquei uma sandália aberta, simples porém bonita, e que combinava com o restante do visual. Por fim, escolhi uma bolsa discreta e coloquei um anel também.

Quando fiquei pronta, esperei ainda por alguns minutos antes de ouvir a campainha tocar. Quando abri, não pude evitar o sorriso que brotou em meus lábios.

Ao contrário da maioria das vezes em que o vi, Jackson estava usando roupas claras. Uma jaqueta clara, por cima de uma blusa de um tom de cinza bem claro também, e uma corrente para dar um toque final, além de calças jeans. Eu tinha que admitir que aquele visual combinava (e muito) com ele.

- Vamos? – ele ofereceu seu braço à mim, o que me deixou sem-graça, mas aceitei mesmo assim, e fomos andando.

Andamos um pouco até chegar ao início de uma fileira enorme de barracas. Haviam barracas com comidas variadas, doces, salgados, todos os tipos, para todos os gostos. Também haviam barracas com roupas, com acessórios, ou até mesmo máscaras, lanternas e amuletos para dar sorte. Muitas senhoras podiam ser vistas nesses tipos de barracas, trocando informações de como espantar a má sorte, espíritos, entre outras coisas. Enquanto isso, as crianças se aglomeravam em barracas com brincadeiras, como tiro ao alvo, e se divertiam ao máximo que podiam. Em determinado momento, eu desafiei Jackson, de brincadeira, para acertar as pilhas de latinhas que estava na barraca onde algumas crianças tentavam, e se divertiam.

- Parece difícil – comentei, primeiramente.

- Parece, um pouco. Mas acho que eu conseguiria.

- Você já venceu alguma vez nisso? – perguntei, curiosa.

- Não – ele riu, uma risada alta e sincera, que também me fez rir.

- Então, como pode ser tão convencido assim?

- Ei, eu poderia ganhar.

- Duvido – eu ri – Quer apostar?

- Então, ok – ele aceitou o desafio, e pegou a bola em seguida. O objetivo era acertar as latinhas, e derrubar o máximo que você conseguisse.

Assim que ele jogou a primeira, acertou uma das pilhas de latinhas, e virou sorridente para mim, que estava torcendo por ele. Quando jogou a segunda, acertou outra pilha, e pareceu se empolgar. Mas quando jogou a terceira, errou por pouco. Ele fez cara de quem estava desolado, e me entregou a bola. Quando o dono da barraca ajeitou as latinhas novamente, eu joguei a primeira e errei. Sinceramente, só acertei a segunda chance que tinha. Mesmo assim, ganhei uma pulseirinha que brilhava, e Jackson também, como prêmio de consolação.

- Mais uma vez, por favor – Jackson disse ao dono, e a bola lhe foi entregue novamente.

- Admita a derrota, Jackson – comentei, rindo.

- Nunca – ele me respondeu, também rindo – Eu vou conseguir.

Ele então jogou a bola, as três vezes à que tinha direito, e novamente errou na terceira vez. Como a pessoa insistente que ele é, jogou novamente, e dessa vez acertou as três pilhas de latinhas que ficavam ali. Até mesmo o dono o elogiou, e ele foi aplaudido por uma ou duas pessoas que esperavam na fila. Ele fez uma reverência, como se tivesse sido um grande feito, e riu. Quando devolveu a bola, ele estava indo embora quando o dono da barraca disse:

- Espere, garoto. O prêmio!

Sinceramente, Jackson Wang era a primeira pessoa que eu conhecia que jogava tantas vezes e nem sequer pegava o prêmio que havia ganho. Ele claramente foi apenas pelo desafio, e pareceu satisfeito consigo ao vencer, finalmente. Mas, já que ele tinha direito ao prêmio, voltou para a barraca enquanto eu esperava perto do corredor de pessoas, que andavam para lá e para cá no festival. Quando voltei minha atenção à Jackson novamente, ele apareceu com um urso de pelúcia grande, que dava para ser abraçado com facilidade.

- Ele disse que eu poderia escolher esse urso, ou um gorila de pelúcia – ele deu de ombros, rindo – E eu achei que esse combinava mais com você.

- Comigo? – repeti.

- É – ele sorriu, um sorriso caloroso que fazia com que eu me sentisse bem apenas de olhar para ele – Não sei se ficaria muito bom no meu quarto.

- Ah – eu ri – É – Como a ótima comentarista que eu era, fiquei apenas nisso, enquanto ele me entregava o urso. Não era tão grande a ponto de eu não conseguir andar, nem nada assim, ele só era um pouco maior que a maioria dos ursos de pelúcia que eu havia visto por aí, mas também era bem mais fofo. Assim que eu o recebi, abracei-o, sentindo sua fofura – Obrigada – disse, sorrindo.

- Não sei dizer quem é mais fofo, ele ou você – ele comentou, e depois se virou para frente, enquanto começava a caminhar de novo, naturalmente. Sinceramente, eu não sabia mais lidar com Jackson Wang. Tudo o que eu sabia era que eu estava a ponto de morrer, enquanto minhas bochechas e orelhas pegavam fogo.