História What You Gonna Do? - Chamada de Vídeo

Pelo caminho Lin foi me distraindo para que eu não pensasse mais no que aconteceu, mas apesar disso continuei olhando para os lados, me certificando de que ninguém estava atrás de nós. Quando chegamos, Lin entrou comigo já que não queria me deixar sozinha em casa, então ela disse que ficaria comigo até minha mãe chegar, mesmo que demorasse. Ficamos então conversando.

- Ele sabe seu nome, pelo menos? Será que está te rastreando de algum jeito? – ela disse, quando contei para ela que senti que estava sendo seguida ultimamente.

- Não, acho que ele nem sabe meu nome. Mas eu sei o dele, acho. Ele mencionou algo do tipo “Kang está aqui” – Quando lembrei da forma como ele disse isso, estremeci.

- Espera, Kang? – Lin repetiu, enquanto quase deu um salto, parecendo chocada.

- Sim – confirmei – Você o conhece?

- Na verdade, não. Não faço a mínima idéia de quem seja – ela respondeu, e desatou a rir.

- Porque você pareceu tão chocada, então?  - eu ri junto.

- Não sei, é o que geralmente fazem nos filmes – ela deu de ombros, mas ainda rindo. Ficamos em silêncio alguns instantes, até que Lin continuou a falar - Quem ele pensa que é, afinal? – ela disse, claramente ainda revoltada.

- O amigo do Aladdin talvez – dei de ombros, lembrando da brincadeira que Lin havia feito na festa. “Venha cá, vou te mostrar um novo mundo. Quase perguntei se ele estudava astronomia, ou se ele só achava que era o Aladdin”. Ela olhou para mim, confusa, por alguns instantes até cair sua ficha.

- O babaca da festa? – ela indagou, e eu confirmei com a cabeça – Certo. Agora eu realmente sei quem é. Mas não sabia que ele era tão babaca assim. Nós devíamos ter dado um jeito nele naquele dia – ela apertou os olhos e fez um gesto, como quem iria bater nele, e eu ri.

- Ah, sim, daríamos um jeito mesmo – revirei os olhos – Se Jackson e Jun não estivessem lá, talvez ele tivesse feito alguma coisa.

- Acho que não... Você estava sozinha, não é? – Confirmei, e ela continuou a falar – Ele não deve ser muito esperto, já que obviamente foge quando alguém aparece.

Depois disso, Lin desatou a falar sobre Jun. Falou sobre como ele era e tudo o mais, e eu revirava os olhos ao ver em quão apaixonada minha amiga parecia estar. Há tempos eu não via ela daquele jeito.

- Ei, você já avisou pro Jun que você não vive sem mim? – Eu perguntei, brincando.

- Avisei pra ele que você quem não vive sem mim, é claro – ela rebateu.

- Avise então para o teu namorado que você fica me seguindo por aí, então é bom ele não se iludir muito em achar que seu tempo é só dele.

- Ah, tá – ela riu – Eu continuo seguindo você, o tempo todo, e ainda tenho tempo para ficar com ele. O twitter existe pra que?

- Ei, chega de seguidores na minha vida, acho – eu brinquei. Agora que não estava mais apavorada, conseguia até mesmo tirar sarro da situação.

Quando minha mãe chegou, Lin não comentou nada com ela, a meu pedido. Seria uma preocupação desnecessária, já que ela já estava com esse tipo de coisa na cabeça esses tempos, então não ajudaria em nada contar isso para ela. Decidi que não contaria para ninguém além de Lin e, claro, Hong, já que ele havia me ajudado. Não seria justo preocupar minha mãe, ou mesmo Jackson, com uma bobagem dessas. Minha amiga então foi embora, mas minha mãe em nada estranhou, já que isso realmente costumava acontecer.

Assim que ela chegou, fui deitar, abraçada com o urso que Jackson havia me dado, e lembrando também da festa onde ele me ajudou. Recebi então uma mensagem dele.

(Jackson): Como vai a namorada mais linda desse mundo? <3 <3

(Eu): Não sei, não. Vou ver se acho online quem é... Será que é a namorada daquele ator?

(Jackson): Ei! Hahahaha, é claro que é você.

(Eu): Hahahaha, estou bem. E você?

(Jackson): Melhor quando falo com você <3

(Eu): Para de ser fofo, haha <3

Ok. Jackson Wang era impossível, e isso eu já sabia. Mesmo assim não conseguia evitar ficar toda boba quando ele fazia esse tipo de coisa. Ao invés de mandar outra mensagem para responder, ele fez convite para uma chamada de vídeo. Verifiquei o cabelo rapidamente no espelho e sentei novamente na cama, como estava antes de levantar: sentada, abraçada com o urso de pelúcia que ele havia me dado, e ajustei o ângulo da câmera, para ficar com uma imagem favorável à mim e finalmente aceitei o convite da chamada de vídeo.

- Oi – ele disse, sorrindo.

- Oi – eu ri – Porque a chamada de vídeo, de repente?

- Eu só queria ver você – ele respondeu, mandando beijos logo em seguida.

- Assim você vai me acostumar mal – eu ri – Eu também queria ver você.

- Queria sair com você amanhã, de novo – ele disse, fazendo biquinho – Mas você tem que trabalhar, e eu tenho que treinar.

- É! Você disse que ia ter uma competição de esgrima em algumas semanas – disse, como quem dava uma bronca, mas brincando – Você tem que treinar. E se alimentar direito.

- Você também – ele rebateu.

- Eu não tenho uma competição de esgrima.

- Mas tem que comer bem, sempre.

- Não se preocupe – eu ri – Se preocupe mais com você.

- Quem sabe? Você podia vir na competição – ele parecia até mesmo um cachorrinho animado ao falar isso.

- Eu amaria. Então é bom que você treine bastante, assim eu verei você ganhando.

- Ok, eu prometo que vou treinar direito – ele fez uma continência e piscou, rindo logo em seguida – Promesse?

- Ahm... Sim? – hesitei, rindo em seguida.

- Ah, promete? Foi o que eu disse – ele riu.

- E você é fluente em... Espera, em que idioma foi isso?

- Francês

- Ok. E você é fluente em francês desde quando?

- Não sou – ele deu de ombros – Mas eu aprendi algumas coisas, por conta da esgrima. Além disso, parece com o inglês.

- Inglês, também? – Dei risada.

- Tá, inglês eu sei – ele riu, jogando sua cabeça como costumava fazer quando ria – Eu estudei em uma escola onde meio que era exigido o inglês.

- Onde?

- American International School – e ambos rimos. Digo, é claro que o inglês seria exigido lá.

Conversamos mais um pouco, e então descobri algo que me impressionou. Não era só o francês, ou o inglês e o chinês, mas Jackson era fluente também em mais alguns idiomas. Só paramos de conversar porque ele tinha treino no dia seguinte, e seria cedo, então ele precisava dormir. Nos despedimos e eu deitei em minha cama, sorrindo sem nem mesmo perceber, abraçando o urso de pelúcia. Tentei ficar pensando apenas em Jackson e nas coisas boas do dia, mas quando fui dormir percebi que não era tão simples assim.

A noite toda fui perseguida por pesadelos, e acordava de vez em quando por conta disso. Quando acordava, pensava em alguma outra coisa até pegar no sono, mas era difícil. Em todos os pesadelos Kang aparecia, rindo de forma sádica e me prendendo, até que eu pedisse para ele me soltar, e ele ria mais ainda. Por isso, acordei me sentindo cansada.

Foi assim durante a semana toda. Jackson e eu só nos víamos por chamada de vídeo e selfies que trocávamos durante o dia, e eu fui trabalhar normalmente. Eu estava morrendo de medo, é claro, por isso sempre olhava para os lados, mas Kang não apareceu. Ou ele não estava mais me seguindo, o que era estranho, ou ele estava começando a se esconder melhor. Ele já havia se mostrado para mim, então poderia querer se esconder agora que eu sei que é realmente ele, ou eu acabaria ligando para a polícia, o que não traria um bom resultado para ele. Suspirava, meio aliviada em pensar nisso. Talvez ele desistisse, afinal.

No sábado seguinte ainda tinha pesadelos desse tipo, então ainda me sentia meio sonolenta as vezes, e queria dormir até mais tarde, mais ainda do que eu costumava dormir durante os finais de semana, mas eu tinha que levantar, não podia simplesmente ficar deitada o dia todo, embora esse fosse meu desejo, com certeza. Como sempre, a primeira coisa que eu fiz foi pegar o celular para verificar o horário, mas acabei me distraindo com algumas mensagens aleatórias. Quando peguei o celular e fiquei online, Jackson mandou uma mensagem:

(Jackson): Socorro!

A primeira coisa que passou em minha mente era como Kang era um stalker de primeira. Ele sabia, afinal, meus horários, endereços dos lugares que eu ia, e tudo o mais. Além do mais, ele obviamente conhecia Jackson. Ele quem havia me ajudado naquele dia da festa, fingindo que era meu namorado já naquela época, para afastar Kang e seu amigo. E se ele estivesse com raiva de nós dois? Comecei a cogitar ligar para a polícia, extremamente preocupada, quando ele mandou outra mensagem:

(Jackson): Você é boa em lidar com crianças?