História What You Gonna Do? - Treinador

- Aaah, só mais um pouco – eu pedi, mas minha mãe não deu o braço a torcer. Eu estava acabando um episódio de um novo drama, mas ela simplesmente desligou a televisão e ordenou que eu me trocasse. Estava na hora de ir para a academia, afinal, e ela sabia que se ela não me levasse agora, eu iria acabar enrolando e não indo.

- Vá se trocar logo. Eu tenho uma reunião daqui a pouco. É só o tempo de te levar na academia e chegar ao local certo – ela bateu o pé, impaciente. Mesmo estando com preguiça, eu sabia que a melhor opção seria não contrariar ela. Ela era insistente, e facilmente irritável, especialmente quando estava com pressa para chegar a algum lugar, então me troquei e fui direto para o carro.

No caminho, tentei convencer a mim mesma que não seria tão ruim assim ir à academia, e começou a funcionar. Afinal, realmente tinham pessoas legais, músicas também, e um ou outro aparelho eram até mesmo divertidos de fazer, às vezes. Eu tinha que me prender a isso, ao invés de pensar que eu teria que fazer exercícios. E suar. E meu corpo ficaria certamente dolorido depois. Argh.

Mas, em seguida, minha mente também voou para o garoto, Jackson. Ele ia todos os dias, sem faltar, porque gostava de malhar. Eu entendia, e ao mesmo tempo não entendia ele. Afinal, existiam realmente pessoas que gostavam de suar e fazer exercícios? Eu duvidava disso, mas ele era a prova viva. Ele ficava sério enquanto realizava os exercícios, mas simplesmente sorria e ria quando andava pelos corredores da academia, mesmo quando estava ensopado de suor, ou parecia estar exausto. Bom, se ele consegue, eu teria que tentar chegar a um nível no mínimo próximo do dele, não? Resolvi me inspirar nele, e me esforçaria para não me cansar à toa agora. Claro, era bem mais fácil falar do que fazer, mas mesmo assim, eu poderia tentar.

Quando cheguei à academia, cumprimentei quem passava por mim, e procurei diretamente o treinador. Ele mudava de vez em quando minha rotina de exercícios, então eu sempre confirmava com ele o que precisava fazer assim que chegava. Olhei em todos os cantos, mas não tinha nem sinal dele. Então, vi uma menina passando e resolvi pará-la. Afinal, ela era simpática, e já havia conversado comigo outras vezes, embora eu não soubesse bem como chamar ela:

- Oi – eu sorri, me esforçando para não mencionar nome e nem apelidos. Afinal, eu não lembrava o nome da garota de jeito nenhum – Desculpe, mas...

- Me deixa adivinhar – ela ergueu uma mão, me fazendo sinal para parar, enquanto sorria simpaticamente – Você está procurando o treinador? – Quando confirmei com a cabeça, ela continuou a sorrir, mas apenas me olhou e avisou o que ninguém havia me dito até agora – Ele não vem. Ele avisou ainda agora que não vai poder vir, mas não sei o motivo.

- Espera. Mas, eu ainda preciso dele para dizer o que eu devo fazer – disse, sentido minha voz diminuir o volume cada vez mais.

- Ah, é verdade, ainda é início de treinamento, e ele fica mudando, não é? – Ela riu, provavelmente lembrando-se dela mesma. Agora, ela era obviamente experiente na academia, vendo a forma como ela se vestia, com aquelas roupas de academia que você pensa que só vê na vitrine, e seu corpo também era ótimo – Sei como é. Mas, infelizmente, eu não posso ajudar – ela fez um biquinho, sentindo muito – Ele personaliza o treino de acordo com a pessoa, e eu não teria como te ajudar, acho. Nunca presto muita atenção ao meu redor quando estou me exercitando - ela riu brevemente.

- Obrigada, mesmo assim – eu sorri, mesmo sem muita vontade. Então, ela foi fazer os seus próprios exercícios, enquanto eu ficava parada ali no corredor. De qualquer forma, se eu ligasse para minha mãe agora, ela iria querer me xingar. Ela ainda devia estar em reunião, e eu não estava há tanto tempo assim aqui, então ela estranharia e saberia que eu não fiz nada. Além disso, mesmo que eu dissesse que meu treinador não veio, ela não acreditaria de primeira, e com certeza diria para me virar de qualquer forma. Na verdade, eu mesma não estava com vontade de ficar aqui apenas parada por sabe-se lá quanto tempo.

Dei uma volta na academia, observando as outras pessoas se exercitando. Quando fui beber água, esperei um pouco, já que outras duas pessoas já estavam ali. Depois de me hidratar, fiquei ali próxima ao bebedouro, sentada no chão, mas distante o suficiente para os outros não se sentirem desconfortáveis quando fossem beber água. Fiquei um ou dois minutos ali, até que ele foi beber água. Jackson ainda não estava suando, mas com certeza começaria a suar daqui a pouco. Comecei a pensar que talvez academia não fosse para mim, mesmo. Afinal, eu havia acabado de decidir me espelhar no garoto que estava próximo a mim, e meu treinador falta. Talvez fosse uma simples conspiração do destino contra mim, ou até mesmo contra a minha mãe.

- Você está bem? – Ouvi uma voz grave dizer. Levantei a cabeça para ver quem estava falando, e se era dirigido a mim, e quase perdi o ar. Jackson estava na minha frente, meio agachado em minha direção, perguntando se eu estava bem. Sua expressão era séria, mesmo por debaixo do boné preto, já que ele prestava atenção em mim, talvez estivesse até preocupado. Percebi então que eu estava simplesmente o encarando, então rapidamente respondi:

- Ah, sim, estou – eu ri fracamente – É só que o treinador faltou, e eu não sei muito bem o que fazer – fiz uma careta, no que ele deve ter achado graça, porque ele sorriu para mim, com seu lindo sorriso, que era extremamente contagiante.

- Entendo – ele concordou, mas continuou – Você não está aqui a muito tempo, não é? – Quando concordei, ele disse – Se quiser, eu posso ajudar.

- Pode? – Indaguei, esperançosa. De fato, eu com certeza não reclamaria se ele quisesse me ajudar.

- Acho que sim – ele riu. Sua forma de rir também era diferente: ele jogava a cabeça para frente e então para trás novamente, de forma rápida. Achei graça naquilo, afinal, era até mesmo fofo. Ele esticou a mão em minha direção, então eu aceitei e ele me ajudou a levantar de um salto. Ele realmente era forte, já que me puxou sem dificuldade nenhuma, e foi um movimento bem ágil.

Em seguida, fomos na direção dos aparelhos. Ele deu uma olhada ao redor, parecendo analisar todos os aparelhos, enquanto pensava. Na mesma hora, falei:

- Olha, se for atrapalhar seus exercícios, você realmente não precisa se preocupar comig... – Mas antes que eu pudesse completar minha frase, ele me interrompeu.

- Ei, você tem o direito de estar aqui fazendo exercícios, como todo mundo. Não é justo com você, também. Além disso, eu recupero mais tarde - ele piscou e deu um meio sorriso, logo depois voltando sua atenção para os aparelhos novamente. Finalmente, ele disse – Você já fez aquele ali alguma vez? – Ele apontou para um que estava ao meu lado.

- Já, sim – confirmei – Algumas vezes, mas nunca sei o que preciso fazer realmente, já que o treinador acaba mudando tudo.

- Então, comece por aquele. Já faz três séries de quinze? – Ele me olhou, atento, ao que eu acenei com a cabeça em afirmativa – Ótimo. Eu vou fazer aquele ali, e quando acabar te digo o que você fará a seguir. Certo?

- Certo – eu disse, com determinação. Afinal, era uma dos aparelhos que menos me cansava, e era ótimo para começar, realmente. Quando me dirigi ao aparelho, dei uma olhada no aparelho para qual Jackson se dirigia agora: ele parecia um monstro de enorme. Talvez não fosse tão difícil assim, mas a aparência dele não era nada simpática. Mesmo assim, Jackson fazia os exercícios com maestria, sem nem mesmo fazer careta. Bem, talvez só um pouco de careta.

Concentrei-me nos meus exercícios, e acabei na mesma hora que ele acabou o dele. Depois disso, ele me guiava para as máquinas certas, e eu fazia tudo o que ele mandava. Abdominal? Certo. Pegar peso? Ok. Sem nem mesmo perceber, já havia feito minha rotina de exercícios completa. Eu nem sequer estava tão cansada quanto havia ficado nos outros dias, o que era um bom sinal: de que meu corpo estava se acostumando com os exercícios destinados à mim. Além disso, havia sido um dia interessante, já que ele me explicou o motivo de eu fazer cada exercício: que músculo ia ser trabalhado, e porque ele iria fortalecer.

- E, por hoje, acabou – ele sorriu, assim que sai do último aparelho, e ele também – Está com algum músculo dolorido?

- Por enquanto, não – ri, movendo os ombros. No primeiro dia também não havia doído enquanto eu estava na academia. Mas, ao chegar em casa, nem sequer conseguia sentir meus braços.

- Bem, as chances de começarem a doer muito são mínimas.

- Mas existentes – fiz biquinho - E como assim “doer muito”? – fiz aspas no ar para repetir o que ele havia dito, mas ele apenas riu, e fomos beber água. Afinal, depois de tanto exercício, um pouco de água era essencial.

De fato, ele estava certo. Quando cheguei em casa e relaxei o corpo, não senti doer praticamente nada. Além do mais, ele mandou que eu fizesse aquecimento depois do treino, também, para evitar qualquer tipo de desconforto pós-treino. “É essencial se aquecer, assim você se manterá saudável e forte sempre, ok?”.

Além de simpático, Jackson também era um ótimo treinador. Talvez não fosse tão ruim assim que o meu treinador de verdade faltasse de vez em quando.