Nos outros dias, meu treinador foi em todos, sem falta, muito menos descanso (para mim). E, depois disso, não tive nenhuma desculpa para falar com Jackson sem que parecesse estranho. Afinal, ele havia me ajudado, mas e daí? Isso não me dava passe livre para falar com ele sobre qualquer assunto a qualquer hora, ou coisa assim. Ele sempre me cumprimentava quando passava por mim na academia, mas não era grande coisa, já que ele fazia isso com todas as outras pessoas por quem ele passava também. Se "simpatia" tivesse uma definição ambulante, essa definição seria Jackson Wang.
Eu achei que estava me acostumando ao meu treino, e eu realmente estava. Mas, pelo jeito meu treinador também percebeu isso, e o que ele fez? Isso mesmo, mudou novamente a rotina de exercícios. Por isso, acabava chegando morta em casa as vezes. Até mesmo a um ponto onde uma de minhas amigas, Lin, me ligou para me convidar para uma festa, e até eu mesmo me surpreendi ao ver que da minha boca havia saído um “não, obrigada”.
- Oi? Estou ouvindo direito? – Ela falou – Espera, vou usar um cotonete e já volto.
- Engraçadinha – caçoei – Eu realmente estou morta de cansaço, não tenho condições de ir para um lugar abafado cheio de pessoas para ficar dançando.
- Tá brincando? – Lin riu - A palavra cansaço existe no seu vocabulário? Não foi você que conseguiu ir a duas festas na mesma noite, depois de ter passado o dia andando para lá e para cá em um emprego de meio período?
- Detalhes – fiz um gesto com a mão, mesmo sabendo que ela não poderia ver – Realmente, estou deitada na cama nesse exato momento, encarando o teto, enquanto nem sequer estou segurando o celular, ele está em cima da cama.
- Uau, parece que a academia realmente é dureza... - ela deu risada - Bem, vou ser obrigada a ir sozinha, então.
- Aproveite por mim – ri, sabendo que ela faria exatamente isso.
- Com certeza – ela também riu novamente, e em seguida desligou.
De fato, eu estava extremamente cansada. Mas, alguma coisa a mais me dizia para não ir naquela festa. Afinal, eu não estava com vontade de dançar, nem beber, muito menos de ficar com alguém aleatório. Minhas amigas sempre me chamavam para festas por um motivo além de ser divertido: eu sempre as ajudava a arranjarem alguém, em especial se essa pessoa tivesse um amigo o acompanhando. Mas, dessa vez, nada sobre essa idéia me agradava, embora nem eu mesma entendesse o motivo. No fim, não fui para a festa, e assisti a um filme qualquer que passava na televisão, até minha mãe chegar em casa. Ela geralmente demorava, já que passava o dia fazendo reuniões, e depois verificava papelada, entre outras coisas. Quando olhei no relógio, já eram sete da noite. A minha sorte era que eu não tinha dificuldades na cozinha, então fui logo preparar algo para mim e para ela, quando chegasse. Apesar de ela geralmente comer algo na rua, eu sempre fazia o suficiente para nós duas, para não ficar com peso na consciência caso ela chegue faminta em casa.
Mas, claro que quando ela chegou, ela foi direto para o próprio quarto, tendo comido alguma coisa na rua. Como eu já esperava, apenas guardei o recipiente com a comida na geladeira, e fui atrás dela, enquanto ela tirava o salto e se jogava na cama, ainda com a roupa do serviço, apenas para respirar alguns minutos em paz.
- Oi, mãe – cumprimentei ela, que sorriu e me cumprimentou de volta.
- Oi, filha. Como está?
- Bem – dei de ombros – E você? Parece exausta.
- Pareço, e estou – ela riu – E você? Não está cansada da academia?
- Ultimamente tenho me sentido mais disposta. Acho que estou começando a me acostumar.
- Que bom – ela sorriu, genuinamente contente – Na época em que eu era da sua idade e fazia academia, comecei a encher minha mãe para que ela comprasse coisas tipo granola, sementes, todo tipo de farelo e, claro, frutas.
- Eca – fiz uma careta, brincando – Quem come farelo é pássaro. Não troco minha comida decente por um monte de coisas feitas de trigo.
- Eu também não – Ela respondeu, e ambas rimos.
Depois disso, conversamos mais um pouco até ela se deixar render pelo sono. Afinal, agora eram dez horas, e ela acordava realmente cedo. Fui para o meu quarto, onde fiquei mexendo no celular até finalmente pegar no sono. Pelo menos, eu estava de férias. Ou seja, eu poderia dormir até a hora que bem entendesse, minha mãe já até havia desistido de se importar com isso.
No fim, acabei dormindo até as onze horas da manhã, e fui para a sala assistir televisão. Almocei algo que minha mãe havia deixado na geladeira, e fiquei alternando entre mexer no celular e assistir televisão até receber uma mensagem de minha mãe.
(Mãe): Não posso levar você na academia hoje, querida, desculpe.
Exatamente quando eu estava prestes a comemorar, sonhando em ficar em casa, outra mensagem chegou logo em seguida:
(Mãe): Mas você tem que ir de qualquer forma ^.^ ficarei fora o dia todo, mas pedi para que me avisassem caso você faltasse hoje. Bom treino ~
É claro que ela tinha pedido para que a avisassem. Revirei os olhos e fui para o quarto me trocar. Afinal de contas, não seria muito inteligente faltar à academia depois desse recado, também conhecido como uma ameaça sutil. Coloquei minha calça legging e uma blusa regata, com meu par de tênis favoritos (e mais confortáveis) e comecei a andar. Minha mãe obviamente havia se empolgado com a idéia de eu estar indo para a academia, visto que ela comprou uma ou outra blusa regata, ideal para fazer exercícios, uma garrafinha de água nova e algumas calças legging, lindas.
Enquanto andava, comecei a perceber que eu realmente não ficava mais tão cansada quanto antes. Depois que havia começado a academia, não era mais tão insuportável ir à pé para os lugares, e academia também nem era tão longe assim. Enquanto caminhava, até mesmo comecei a gostar. Não estava ventando, e o sol também não estava ardendo, então estava um dia agradável. Antes mesmo que pudesse perceber, já havia chegado lá.
Meu treinador me viu chegando, e assim que entrei ele me disse:
- Olá, senhorita. Não estou vendo nenhum carro hoje... Veio à pé? – Ele perguntou, parecendo estranhar.
- Sim, senhor – brinquei, já que eu nunca chamava ele de senhor – Resolvi tomar um ar puro por livre e espontânea pressão.
- Certo – ele riu – Bom saber que já está aquecida. Pena que isso não muda nada – ele fez o sorriso maligno dele – Pode ir para o supino inclinado.
E lá fui eu para o supino inclinado. Felizmente a maioria das máquinas tinha o nome escrito nelas, então fui lendo o nome de cada uma até achar o que estava procurando. Exercício para os braços, eba. Esse, infelizmente, era um dos exercícios mais cansativos de fazer, principalmente para começar. Mesmo assim, tomei coragem e o fiz sem problemas, surpreendendo até a mim mesma. Fui de aparelho em aparelho até acabar minha rotina, e até mesmo o treinador parecia surpreso com meu ritmo.
- Energético? Pressa? Ou só animação? O que deu em você hoje? – Ele deu risada, brincando. De fato, eu as vezes tentava escapar de um ou outro exercício, e ele também não dava mole para descansarmos por muito tempo, já nos passando o próximo exercício, mas isso não tinha problema, não hoje. Um dia em que eu estava me sentindo extremamente disposta. Na verdade, a academia começava a ficar mais fácil conforme eu continuava a frequentá-la, então começou a se tornar até mesmo divertido. Além disso, eu tinha uma visão privilegiada na maioria dos exercícios que eu realizava, já que Jackson estava quase sempre por perto de mim hoje. Eu olhava os músculos de seus braços em movimento enquanto ele pegava peso. Em um dado momento, quando o professor viu que eu estava empenhada, até mesmo ele brincou:
- Parece que temos uma competidora para você, Wang. Se ela continuar nesse ritmo, vai se tornar uma verdadeira atleta.
- Será? – eu ri – Olha que eu começo a acreditar, hein.
- Eu já acredito faz tempo em você – Jackson comentou, o que me deixou meio sem-graça, mas eu não havia nem tempo de demonstrar isso, já que estava realizando meus exercícios – Se bobear, você tem vindo mais vezes do que eu, na academia.
- Acho que isso só seria possível se eu morasse aqui – comentei, e ele riu. Aquela risada linda e contagiante dele.
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