História What's the meaning of love? - Capítulo 2

     "There's a hole in our soul that we feel with dope

       And we're feeling fine"

          Marilyn Mason

Shawn

"Às vezes me olho no espelho e penso se devo desistir de tudo. Se devo fugir de casa e ir para milhares de quilômetros daqui. Para começar uma vida 100% nova. Novas pessoas, novo lugar, nova casa... 

 A única pessoa que me prende aqui é minha irmã, Alice. Ela tem apenas 7 anos e vive com uma família completamente imperfeita. Terrível, melhor dizendo. "Por que odeia tanto sua família?" Deve estar se perguntando. Fácil. Pelo o simples fato de que meu pai traiu minha mãe com uma aluna de negócios. E minha mãe fez o mesmo, só que com nosso vizinho. Então, eles nem olham mais na cara um do outro. 

 Nosso pai pode ser um homem incrível. Educado, bem suciedido, confiante... Porém, se importa demais com o trabalho. Ele está sempre viajando. Fica pouquíssimo tempo em casa. Ele não para um único segundo. Está grande parte do tempo cansado, e geralmente arruma uma desculpa para não falar com Alice via Skype. E isso é assim desde que me conheço por gente. Para terem uma ideia, ele nem compareceu no nascimento de minha irmã! Ele nunca foi presente, mas sempre que vem para cá, ele trás várias surpresas, para tentar substituir o tempo que esteve fora. Ou seja, eu e Alice temos muitas coisas que nunca precisamos, só por causa de nosso pai.

 E minha mãe, é simplesmente a pessoa mais arrogante e materialista que já conheci. Trata todos como se fossem inferiores a ela. Quando ela ganha algo caro de meu pai, ela fica esfregando na cara dos outros. Muitas vezes inventa mentiras para as pessoas, apenas para parecer que tem o que na verdade, nunca teve. Há pouco tempo, estávamos com várias dívidas, por causa de minha mãe, que sempre pedia empréstimos o tempo todo para comprar coisas caras. E ela gosta de atormentar os outros, também. Ela ameaça, e magoa as pessoas. Ainda não entendo como meu pai se apaixonou por uma mulher assim. Ela nunca ouve o que temos a falar. E quando escuta, antes mesmo de terminarmos a frase, ela começa a criticar. Caralho, ela nem mesmo escuta o que Alice tem a dizer! Minha irmã é apenas uma criança, precisa de muito mais atenção e carinho! 

 Então, sou o melhor dessa casa para cuidar de minha irmãzinha. Mesmo não sendo "o melhor". Ela não merece nada disso. Ela é a única pessoa honesta e pura dessa família.

 E para fugir disso, o que faço? Afogo todo o meu ódio em álcool, drogas e sexo. Passo mais ou menos três noites por semana na casa de uma garota diferente, dizendo que no dia seguinte eu ligaria para elas. Bem, sempre é mentira. E quando estou em casa, bebo muito. Geralmente meia garrafa de vodka por noite, nem me lembro mais como é acordar na manhã seguinte sem ressaca. E não costumo usar drogas caras, como heroína, maconha, cocaína... Uso analgésicos mesmo. Não tenho dinheiro pra essas coisas. Viciei em analgésicos dois anos atrás, quando um cara inventou de tretar comigo, porque eu "tinha ficado" com a ex dele. O que não era verdade. Então ele me bateu. Mas não foi um simples soco. Aquele cara participava artes marciais desde pequeno!" 

 Durante esse devaneio, eu estava na sala de aula da faculdade, sem prestar a mínima atenção no que o professor estava dizendo. 

 -Shawn. - Disse meu amigo Nash, cutucando meu braço, chamando minha atenção. - O que acha de depois da aula irmos à uma cafeteria e livraria que conheço? Lá tem uma garçonete ruiva muito gostosa. Eu queria ir lá para vê-la. O que acha? - Suspirei. 

 -Tu quer ir lá só por causa daquela ruiva? - Ele parou, e pensou. 

-É. - Sorriu. 

 -Certo, só porque preciso de café. Ontem a noite foi foda.

 -Na casa de quem? - Ele disse sem mostrar o mínimo interesse. 

-Na minha mesmo... 

-Senhor Mendes e Grier, qual é o assunto que está tão interessante? Por favor, podem demonstrar um pouco de respeito? - Disse o professor, chamando nossa atenção. 

-Depois falamos sobre isso. - Nash sussurrou. Assenti com a cabeça.

Quando chegamos lá, escolhemos uma mesa. Imediatamente, apareceu uma linda moça de longos cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo. Seus olhos eram enormes, de um tom avelã. E seus lábios cheios junto ao seu nariz pequeno deixavam seu rosto perfeito, e delicado 

-Em que posso ajudá-los? - Perguntou ela olhando para seu bloco de papel. 

-Por favor, um café expresso. - Pediu Nash.

-E para você, senhor? - Ela olhou para mim. 

 -O mesmo que ele. Por favor. - Sorri. E ela anotou. 

 -Me desculpe se a pergunta parecer incômoda, mas... não vi outras pessoas atendendo. - Perguntou meu amigo.

 -Minha amiga, quer dizer, colega teve um problema pessoal e não pode comparecer hoje. Então, infelizmente sou só eu. - Ela sorriu sem graça. Meu Deus, que sorriso encantador! - Bem, trarei seus pedidos o mais rápido possível. Ela saiu, e logo falei para Nash quando ela já estava longe. 

-Atirado. - Ele riu. 

-Tenho que perguntar por minha garota, cara. 

 -Você nem mesmo sabe o nome dela! 

-Mas um dia saberei... - Ele sorriu maliciosamente. - Notei o jeito que olhou para a moça. 

-Fazer o que. Ela é gostosa! Puta que pariu!

Depois que chegaram nossos cafés, conversamos sobre diversos assuntos. Até que na hora de pagar, me levantei sem prestar atenção no que estava a minha volta, e acabei me esbarrando em alguém, e caí. Olhei quem era: a garota. 

 -Droga! - Ela disse. Olhou para mim, e notei suas bochechas corarem. Me levantei e a ajudei, me desculpando. Ofereci ajuda para limpar, mas ela recusou. Fui até Nash, que estava no caixa pagando sua parte.

 -O que acabou de acontecer? - Ele perguntou. 

 -Acabei esbarrando nela. 

 -Atirado. - Ele disse rindo. Ri também. 

-Foi sem querer, ok? 

 -Tudo bem, tudo bem. - Ele riu de novo. 

 Meu Deus, então aquela garota não saiu mais da minha cabeça. Pelo o resto do dia. 

         "Tem um buraco em nossa alma, que nós enchemos de drogas

          E estamos nos sentindo bem" 

               Merilyn Mason