POV ALICIA
Talvez eu esteja enganada, talvez eu não tenha escutado direito ou quem sabe é tudo fruto da minha imaginação, com certeza é isso, estou imaginando coisas.
-Alicia espera- Paulo havia me seguido, está claro sobre o que ele quer falar, só não sei se pretendo ouvir- Precisamos conversar.
-Conversar? Não temos o que conversar- pela primeira vez não conseguia encará-lo.
-Precisamos sim- Paulo puxou meu braço.
-Paulo você não precisa...
-Você não entende- pela primeira vez Paulo tinha o semblante triste.
-Tudo bem- concordei, seguimos então até a praça que tinha perto dali, sentando em um banco.
-Já faz algumas semanas que o clima está pesado, o real motivo ainda é um mistério, na verdade eles nunca falaram o que causou tudo, mas eu tenho uma grande suspeita, só que não vem ao caso agora- sorriu fraco- Eu ouvi uma das primeiras brigas deles e a palavra divorcio saiu bem nítida da boca da minha mãe, eles estão se separando.
-Paulo, eu... sinto muito- não tinha o que falar, como posso dizer alguma coisa, algo que o deixe melhor?!
-Eles sempre brigam, quase todos os dias e pensam que eu não sei de nada, com certeza estão desesperados porque eu os vi brigando.
-E a Marcelina, por que ela não me contou nada, eu poderia sei lá, dar o meu apoio, é muito difícil carregar isso sozinha, sem ninguém para desabafar...
-Ela não sabe- Paulo me interrompeu- Ela anda muito distraída para perceber alguma coisa.
-Você quer dizer que está segurando essa barra sozinho? - perguntei mesmo já sabendo a resposta- Por que não contou para ela?
-Eu não consigo tá legal- Paulo levou a mão até o pescoço, como se algo o estivesse incomodando- Sei que pode não parecer, mas eu me importo com a Marcelina, ela é minha irmã, não posso chegar nela e soltar essa bomba, não assim, ela vai sofrer.
-Então você não contou pra Marcelina porque não queria que ela sofresse?!- preciso confessar que o Paulo me surpreendeu, mas não é difícil acreditar, eles são irmãos, irmãos podem até brigar mas se amam.
-A Marcelina é uma garota sensível, eu já vi ela chorar porque uma flor que ela tinha murchou, imagina saber que nossos pais estão se divorciando e essa separação não está sendo nada amigável?!
-Eu entendo.
-Que bom que entende, porque eu preciso lhe pedir uma coisa- Paulo parecia desesperado- Não conte nada para a Marcelina, sei que você é a melhor amiga dela, mas acho que não será nada bom ela saber de alguém que não seja da família, eu que devo contar e é isso que farei.
-Está certo, mas por favor conte o mais rápido que conseguir, eu não vou aguentar esconder esse segredo por muito tempo- levantei do banco, mas antes de ir embora Paulo segurou em meu braço e por incrível que pareça ele sorriu.
-Obrigado, digo por isso- apenas assenti antes de ir embora para casa.
POV PAULO
É difícil admitir, mas desabafar com a Alicia foi uma das melhores coisas que eu poderia ter feito, sei que nos odiamos, mas percebo que ela tem caráter, não contaria nada do que viu e ouviu a ninguém, sei que ela não faz por mim e confesso que nunca esperei isso, mas por Marcelina, até porque elas são melhores amigas. Quando cheguei em casa fui direto ao meu quarto, não queria e muito menos precisava encontra-los, com certeza estariam com aquela cara de pena, tentariam fazer algum discurso idiota de como o divórcio era a melhor saída e confesso que não estou nenhum pouco afim de ouvir.
-Filho- no dia seguinte quando desci para ir à escola minha mãe estava sentada no sofá, meu pai na poltrona, claro que não se suportavam o suficiente para sentarem próximos- Precisamos conversar.
-Sobre o quê? - me fiz de desentendido.
-Filho por favor- minha mãe indicou um lugar ao seu lado no sofá, mas decidi ficar de pé- Como preferir.
-Então?!- esperei que continuasse.
-Não podemos fingir que você não escutou a nossa discussão, por isso decidimos contar logo à você, eu e o seu pai, nós...
-Estão se divorciando- completei- Eu já sei, até porque vocês não são nada discretos.
-Filho- minha mãe suspirou- Sei que nenhum filho espera algo assim, mas é o melhor a fazermos- e lá vem o velho discurso do “é melhor assim” ou “é o melhor para todos”.
-Eu vou me atrasar- tentei cortar aquele assunto- Eu já sei de tudo ok?!
-De tudo não filho.
-Bom dia família- Marcelina desceu e pareceu perceber que algo estava errado- Aconteceu alguma coisa? Vocês estão sérios.
-Nada demais filha- meu pai começou, que tal eu leva-la hoje e o Paulo vai com a sua mãe?
-Ah tudo bem- mesmo sem entender o que estava acontecendo Marcelina apenas concordou com a ideia.
-Eu acho melhor eu ir também- tentei me livrar da conversa.
-Ele quer nos separar.
-Como assim? - o que ela queria dizer com isso?
-Um filho para cada um- sorriu fraco- Ele quer a sua guarda.
-O-o quê? - não podia acreditar no que estava ouvindo, precisava tirar essa história a limpo.
-Eu preciso ir- peguei minha mochila e saí mesmo com seus protestos.
NARRADOR(A)
Paulo estava transtornado, saber do divórcio havia sido um grande baque, mas estava enganado em pensar que seria o único. Seu pai já havia trazido sofrimento demais para a família.
-Paulo o que está acontecendo? - Alicia percebeu o estado de Paulo, sabia que não estava nada bem.
-Me deixa Alicia- Paulo olhava ao redor, buscava por alguém, mas estava claro que no estado em que se encontrava não seria uma boa encontrar quem ele estava procurando.
-Não, eu não vou deixar- Alicia segurou em seu braço e o puxou para um lugar afastado.
-Eu já falei Alicia, me deixa- Paulo tentou se soltar.
-E eu já falei para você que não vou deixar- bateu de frente- Agora você vai me contar o que está acontecendo, porque está assim? - Paulo sabia que quando Alicia estava decidida, nada poderia detê-la, sabia também que a moça já estava envolvida o suficiente para saber de mais um segredo.
-Ele não quer apenas a separação- Paulo sentou-se no chão, encostando-se na parede- Ele quer separar toda a nossa família.
-Do que você está falando exatamente? - Alicia agachou-se a sua frente e percebeu que os olhos de Paulo estavam marejados- Paulo por favor, me conta.
-O meu pai quer a minha guarda, um filho para cada um dos pais- falou em tom sarcástico- Tudo o que eu queria agora.
-E a Marcelina? - Paulo soltou o ar pesadamente, pensando na possível reação da irmã.
-Eu não sei, agora tudo se tornou mais complicado, agora eu não vou apenas dizer que nossos pais estão se separando, mas nós dois também- Paulo não conseguiu conter as lágrimas e mesmo não se dando muito bem com um dos garotos mais complicados da escola, sentiu-se penalizada com a situação e não se deteve em abraçá-lo em um abraço reconfortante, que logo foi retribuído.
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