História What's your dream? - - Introdução.

Introdução

Era um dia abafado e chuvoso de agosto. Nossas janelas estavam meio abertas, e Donghae jazia encaracolado no sofá, lendo e relendo uma carta que recebera pelo carteiro da manhã. Quanto a mim, meu período de serviço no exército coreano treinara-me para suportar melhor o calor do que o frio, porém a temperatura negativa não me incomodava. Mas o jornal não tinha interesse. Fim de ano, mesmo Seul, capital de nossa pátria, estava vazia. Toda a gente tinha saído da cidade, e eu sonhava com as montanhas e o mar de Connemara ou com os cascalhes de Southsea. Uma conta bancária a zero obrigou-me a adiar minhas férias, e, quanto a meu companheiro, nem o interior nem o mar o atraíam. Gostava de ficar mesmo no centro de cinco milhões de pessoas, estudando-lhes os caminhos e correndo no meio delas, atento a qualquer rumor ou suspeita de crime insolúvel. A apreciação da natureza não encontrava lugar entre seus muitos dons, era capaz de rir da minha cara se eu perguntasse se ele se interessaria a ir pra Europa comigo, preferia ficar sentado a uma mesinha perto da janela da frente e olhando lá embaixo o movimento intenso do centro da cidade. Mas para mim era diferente, não tendo relações nem parentes na Inglaterra, iria ficar tão livre como o ar... ou pelo menos tão livre quanto pode ser um homem cujo rendimento não passa de alguns poucos milhares de dólares por ano.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------      

Faziam apenas poucas semanas que Eunhyuk ingressara no serviço militar obrigatório, e ainda estava pela nossa casa a bagunça e suas coisas atiradas, eu gostava daquilo. Mesmo para mim, que não suporta sujeira, ver suas coisas me dava sensação que esses dois anos passariam depressa. Mesmo a empregada, insistindo em limpar suas coisas:

- Sr. Donghae, tens certeza que não queres que eu limpe o seu quarto? Se ficar mais e mais tempo, mais sujeira irá acumular – disse ela, com os braços cruzados e com um ar de preocupação em sua face.

- Não, não. Já disse que quando eu me sentir melhor eu mesmo irei limpar, não se preocupe com isso. Por enquanto pense em algo bem gostoso para nós dois jantarmos, pode ser? – Respondi logo com um sorriso. Ela apenas fez que sim com a cabeça e logo saiu da sala.

Eu não saíra de casa durante todo o dia, porque o tempo mudara de repente, chovia e soprava um vento forte; e a bala de chumbo que trazia comigo numa das pernas, como relíquia da minha época de serviço militar, latejava com persistência. Sentado numa poltrona com as pernas estendidas uma sobre a outra, rodeei-me de pilhas de jornais até que, finalmente, cansado das notícias do dia, sem ânimo, fui até as gavetas de meu companheiro e comecei a mexer em suas coisas, poucas semanas separados já eram como séculos para quem ficou durante 4 anos juntos. Embaixo de alguns livros em sua gaveta encontrei uma carta que nunca tinha visto antes, fiquei olhando o grande brasão e monograma impressos no envelope e imaginando, preguiçosamente, quem seria esse rico correspondente do meu namorado, que até mesmo sua carta era de grande luxuria. Porém, não abri. Deixei o envelope no mesmo lugar que encontrara. Se nem mesmo para mim ele me falou sobre essa correspondência, deveria ser algo muito intrigante, somos namorados, mas ele não pertence a mim, como eu não pertenço a ele, não tenho direito de mexer em suas coisas assim. Sempre confiei em meu namorado e nunca tive razões para desconfiar dele, pelo contrário, sempre me irritou o fato dele nunca me dar motivos para alguma briga, os motivos sempre partiram de mim. Não que eu me orgulhe disso, acho que isso está ligado com sua facilidade de compreender melhor os motivos do outro e ver do ponto de vista da outra pessoa. Era uma das coisas que me admiravam em sua personalidade e essa característica dele foi importante pra nosso relacionamento estar durando tantos anos.