A presença de Alice animou o ambiente. Cada passo que ela dava, significava menos distância de todos e isso os deixava eufóricos. O tão esperado reencontro estava realmente acontecendo e tudo parecia perfeito, exceto por um detalhe, a menina não conseguia ignorar o fato de seu amigo não estava lá para recebê-la, pensava que tinha algo de errado.
É certo que devo seguir em frente, mas é aqui que eu deveria estar? - Resmungou a menina.
- Se não sabe para onde deveria ir, do que importa em qual lugar vai chegar? - essa voz - Não percebe que você sempre chega onde quer chegar e sempre encontra quem quer encontrar?- Um sorriso familiar foi surgindo à frente de Alice - Talvez tudo seja culpa do acaso, mas devo admitir, é fascinante!
Logo o sorriso apareceu completamente, junto com o resto do corpo dele, e ela pode reconhecer quem estava falando.
- Cheshire, que bom te ver!
- É bom te ver também, Alice- O gato a fitava sorridente - Sua demora para retornar é sempre incômoda.
- Lamento por isso - Alice suspirou profundamente, e antes que pudesse pensar em qualquer coisa, uma sensação de alívio tomou conta de seu corpo - Mas está tudo bem, eu estou aqui agora, com vocês.
- É bom que pense assim, afinal, somos o seu refúgio - disse a Rainha com um sorriso simpático.
- Eu reconheço isso, e desculpem-me pela minha ausência, estou trabalhando para isso não acontecer mais.
- Nós sabemos que não é culpa sua, e quando ouvimos que estava voltando, Arganaz e a Lebre de Março foram preparar essa mesa às pressas. - Disse a Rainha.
- Oh, eu não queria causar tanto estresse, realmente não precisava.
- Alice, você sabe que para eles, qualquer hora é hora do chá, foi um prazer para Arganaz e a Lebre fazer tudo e seria um desperdício não aproveitar. Não acha? - O gato falava sorridente.
- Seria um desperdício enorme mas… eu preciso ver o chapeleiro.
Ao ouvir as palavras de Alice, expressão da Rainha mudou subitamente, fazendo o coração da menina palpitar fortemente.
- Alice, antes de ir ver o chapeleiro - A Rainha dizia hesitante - Absolem precisa falar com você.
- Absolem? Onde ele está?
- Onde você precisar - uma voz se esvaiu pelos ouvidos de Alice, quase como um sussurro.
- Essa voz... - Ela olhou para todos os lados, intrigada com a sensação que lhe causava. Ela continuou a procurar até que se deparou com um ser pequeno e azul em cima de um galho. - Absolem!
- Quem é você?- Ele a questionou
- Quem sou eu? - ela estava surpresa com a reação do sábio - Sou Alice, é claro, quem mais eu poderia ser?
- Alguém que você não é- ele a fitava.
- O que você quer dizer com isso? Eu sei quem eu sou!
- Sabe mesmo menina burra? - Alice não foi capaz de responder, estaria mentindo para seus amigos e para ela mesma.
- Está perdendo sua essência, está cedendo para a normalidade, e quando menos perceber, vai cair em um mundo cinza, monótono e cansativo. E devo alertá-la que esse rumo, não tem volta.
- Absolem... eu não entendo o que está acontecendo comigo - Ela sentia lágrimas pesadas escorrerem pelo seu rosto.
- Ninguém nunca conquistou nada com lágrimas - ele a fitava, estava testando a menina - Quem você costumava ser? Quem você é agora? Qual a diferença entre seus “Eus”?
- Mas Absolem, quem sou eu além daquela que aqui está? Sou várias, menos esta. O que aqui estava, jamais está e jamais estará - Quanto mais ela falava, mais confusa com ela mesma parecia ficar - Mudo, caio, ergo, sumo, apareço, mas no momento seguinte será diferente. Sou o que você vê… Ou o que quero mostrar. Mas se olhar por mais de um segundo, verá vários “eus”, Eu o que fui, eu o que sou e eu o que serei.
- Sábias palavras - Absolem suspirou - Você ainda é você, mesmo que seja só um pouco.
- Como sabe, que eu ainda sou eu? Que eu não estou ficando maluca?
Absolem riu alto com as indagações da menina. Não percebia a ironia de suas próprias palavras
- Tola criança... você é doida, louquinha, mas é isso que faz você ser o que é. Nunca foi um defeito, qual o problema em viver em um mundo como esse? Qual o problema em acreditar no impossível? - Absolem deu um forte trago em seu narguilé - Nenhum, não há problema algum nisso. Aceite quem você é, e poderá ser feliz novamente.
Alice aceitou os conselhos do amigo, ela realmente precisava refletir mais sobre ela mesma, precisava se reencontrar.
- Você diz... quero dizer, o modo como você vê as coisas, me lembra meu pai.
A lagarta sorriu e antes que a menina percebesse, Absolem ia desaparecendo rapidamente em meio à uma tempestuosa e densa fumaça.
"Essa lagarta audaciosa, por que tem que soltar tanta fumaça? E fazer- me questionar sobre mim mesma? Ora, eu sei quem eu sou, pelo menos na maioria das vezes" - Pensava a menina.
- Alice? Está perdida nos seus perpendiculares pensamentos? - perguntou o gato a tirando do turbilhão de incertezas que estava surgindo na cabeça dela.
- Estou... Estava!
- Olhe para frente. - Ele continuou.
Alice o obedeceu, virou-se e viu a região extensa e delicada, uma estrada de chão, uma floresta, um castelo e as vilas, cada uma delas marcadas com as suas inúmeras peculiaridades, é o que as difere e as deixa tão singulares e perfeitas. Era de fato a coisa mais linda que ela já tinha visto, e ficou encantada.
- Apresento à você "O maravilhoso mundo excêntrico" - o gato proferia, invicto. - O país das maravilhas.
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