"Esse lugar é muito mais do que eu já sonhei em ter." pensou a garota, ainda vislumbrada com tal beleza. Até a escuridão era bonita naquele lugar, cada centímetro parecia perfeito. E o cenário ficava ainda mais bonito quando preenchido pelos seus amigos. Era o paraíso particular da menina.
- Alice - o gato risonho chamou sua atenção - Desculpe interromper seu momento, mas já que não participaremos da hora do chá, temos que partir.
- Partir? Mas para onde? - Alice, ficou confusa. - De fato, não tenho intenções de tomar chá, mas quero sentar lá e conversar com meus amigos.
- Entendo. - Disse o gato, ainda aquele sorriso do rosto - Você terá muito tempo para conversar com eles futuramente, mas agora temos que voltar para sua outra realidade. Estamos com pressa, e eu te garanto eles vão entender.
- Não, mas eu não quero voltar - Alice sentia seu peito doer. - Eu acabei de chegar, não posso voltar agora. Eu nem sequer vi o chapeleiro ainda.
- Não se desespere, menina - o gato falou de forma serena - Você não vai ficar lá por muito tempo, e muito menos irá sozinha.
- Não?.
- Não! - O gato brincava com sua própria cabeça, a fazendo girar e girar no ar. - Eu vou com você, e vou te tirar daquele lugar.
- Mas lá não são permitidos animais. - A menina o encarava - Principalmente os que falam.
- Então temos um problema - o gato sorria abertamente - Acho que terei de me tornar um semelhante.
- Por que toda essa vontade de me ajudar agora? Nunca demonstrou tanto interesse em mim.
O gato não respondeu de imediato, ficou em silêncio como quem precisasse de um tempo para pensar na resposta, o que não era o comum dele, sempre tinha respostas prontas na ponta da língua.
- Porque nós sentimos sua falta Alice, porque não queremos que fique longe novamente. - Disse a Rainha, que respondeu pelo gato. - Cheshire pensa assim também, você é importante para ele.
Apesar de acreditar nas palavras da Rainha, Alice sentiu medo naquele momento, era como se ela estivesse sendo impedida de ficar. “Eu demorei anos para conseguir voltar e agora querem me mandar embora. Com Cheshire. Eu não sei como isso vai acontecer e eu espero de coração que eles saibam o que estão fazendo.”
- Você não confia em mim? - Os olhos do gato estavam brilhando, e seu sorriso estava mais largo que o comum.
- Eu confio em você ... só não confio em mim mesma nesse momento. E essa situação é desfavorável para mim, vocês não fazem ideia do que tenho passado. Todo dia me parece um inferno.
- Você pode ter passado por muita coisa. Reconhecemos isso, mas algo está diferente, a nossa Alice nunca agiria dessa forma.- O gato estava muito próximo da menina, ele a olhava fundo nos olhos. - Mas você disse que confia em mim, isso já é suficiente. E eu não pretendo te decepcionar. - Alice sentia a respiração do gato em seu rosto.
- Cheshire, comporte-se por favor. - disse a Rainha.
Alice não se assustou com a repentina aproximação de Cheshire, achou que era só mais uma atitude excêntrica dele. Ela estava mais concentrada em ter que voltar para o sanatório, com um gato falante e risonho ao seu lado. Obviamente ela confiava nos seus amigos, porém, levar mais gente louca para um sanatório era uma ideia absurda aos olhos da menina.
- Mas como você vai se tornar um semelhante? Isso não é um pouco impossível?
- Só se você acreditar que é.
- Alice, nossa intenção é te ajudar a sair daquele lugar. Os remédios que te obrigam tomar estão dificultando a sua volta e está desestabilizando algumas coisas por aqui.- disse a Rainha
- Desestabilizando? Como assim? Isso tem haver com o fato de estarem me impedindo de ver o Chapeleiro?
O silêncio dos dois afirmava que a sua desconfiança não era fruto da sua imaginação. Naquele momento ficou claro para ela, tinha acontecido algo com seu amigo. Algo ruim. E foi quando o desejo de vê-lo aumentou, se algo realmente aconteceu com ele, Alice iria ajudar no que fosse preciso.
- Me levem até o Chapeleiro!
- Alice, não acho que seja uma boa ideia. - Disse a Rainha.
- Ideias ruins às vezes são necessárias, e meu amigo está precisando de mim.
- Se está tão certa disso, então tudo bem, eu te levo até o Chapeleiro - Disse o gato. - Mas vou adiantar pra você, que a situação dele não é das melhores.
- Cheshire, não foi o que combinamos - A Rainha disse, repreendendo o gato. - Alice, você precisa se concentrar na sua outra realidade agora, é isso que o Chapeleiro precisa.
- Desculpe Rainha, mas essa é a minha vontade e eu estou decidida a vê-lo.
- Essa é a Alice que conhecemos, e se ela está tão decidida, eu vou levar ela até ele.
A Rainha cedeu ao desejo da menina e resolveu acompanhá-los. E então lá foram eles, andando entre a floresta, no silêncio que pairava a preocupação ia surgindo, e até o gato, que nunca parecia se intrigar, naquele momento, andava calado, só esperando o fim daquele caminho. Caminho esse que ele já conhecia, o percorria normalmente, e agora o segue com cautela e silencioso. E coitada de Alice, não sabia o que esperar, seu coração apertava a cada passo que dava naquele caminho escuro dentro da floresta.
"Talvez, e só talvez, eu não esteja preparada para ver o Chapeleiro" ela pensou " Talvez eu não esteja preparada para o que vou ver"
- Alice, não sofra antecipadamente - Disse a Rainha.
- Essa dúvida me tortura, porém é a única coisa concreta que tenho agora, a incerteza.
- Que ironia, não? - O gato debochou.
Após andarem por um tempo, eles chegaram em um jardim, cheio de plantas altas e de ervas daninhas. Parecia ter sido abandonado, e não tinha nenhuma semelhança com o jardim do Chapeleiro, mal dava para ver a casa. "Está diferente" ela afirmou para si mesma, abrindo o pequeno portão do jardim.
- Alice, nós não queremos interromper esse momento entre vocês dois, vamos voltar para o Castelo e te esperaremos lá - Disse a Rainha.
- O caminho de volta vai ser complicado - O gato disse. - Quando você não sabe para onde ir o caminho não importa, você sempre vai errar, então escute meu conselho, se não quiser se perder, pense somente no Castelo, mantenha seu foco nele.
Alice não entendeu nada do que o gato queria dizer, mas ela não podia esperar outra coisa vindo de Cheshire, ele sempre gostou de enigmas e de fazer a garota pensar. “Não deve ser tão complicado, basta eu seguir no caminho que vim, não tem erro”. Ela concordou com a cabeça, afim de mostrar a eles que tinha entendido e logo se virou para ir em direção a porta.
Então ela respirou fundo, tomou coragem, e bateu.
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