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História Where The Rumors Begin - O Enterro


Escrita por: BlueMoonInTheSk

Capítulo 1 - O Enterro


Fanfic / Fanfiction Where The Rumors Begin - O Enterro

  -"Passageiros do vôo 242, com destino a Ryewood, por favor se apresentem ao portão 7. Passageiros do vôo 242, com destino a Ryewood, por favor se apresentem ao portão 7."
  O aeroporto estava lotado, pessoas corriam para lá e para cá, algumas indo para uma viajem inesquecível, outras voltando para suas casas, cheias de saudade, algumas correndo para encontar seus amor, outras o esperando voltar, algumas chegando pra ficar, outras indo embora para sempre. Mylunna Moonligth era uma dessas últimas, sentada na última cadeira, com a cabeça apoiada na parede, a música estourando seus ouvidos. Ela não queria estar ali, mas não tinha escolha. Seus pais tinham morrido dois dias antes em um incêndio que tinha destruído sua casa completamente, não sobrando nenhuma memória dos rostos deles. Seus corpos estavam queimados de um jeito os legistas demoraram algum tempo para decidir quem era quem, antes de os colocarem em caixões fechados para o funeral. Eles iriam ser enterrados em Ryewood, uma cidade pequena que ficava em um estado que sempre era esquecido nas provas de geografia, a qual Lunna, como Mylunna Moonligth era chamada, tinha ido pela última vez aos 6 anos, já que sua avó materna Mirian, a única parente que morava lá, sempre ia para a casa da filha e da neta, em New York, de modo que os Moonligth nunca precisaram ir até a casa dela. Mirian era a única parente viva de Lunna, de modo que a sua guarda foi transferida para ela, então, depois de ir ao enterro dos pais em Ryewood, Lunna moraria lá até que tivesse idade o suficiente para ir embora, que Mirian morresse e ela fosse para um orfanato, ou que ela própria morresse.
  -"Última chamada. Passageiros do vôo 242, com destino a Ryewood, por favor se apresentem ao portão 7."
  Lunna tirou os fones de ouvido e suspirou antes de se levantar e andar calmamente até o portão 7, apenas desejando que ela acordasse de um pesadelo muito ruim assim que passasse por ele. Não aconteceu, e ela teve que entrar no avião e se sentar no seu assento, torcendo para que ninguém se sentasse ao seu lado. Outra coisa que não aconteceu, pois logo depois um garoto estranho se sentou ao seu lado. Ele tinha cabelos e olhos marrons e vestia uma jaqueta de couro preta, com uma camiseta de uma banda que deveria ser de rock, mas que Lunna não conhecia.
  O avião estava quase decolando e Lunna não tinha tirado os olhos da janela, até ouvir uma voz feminina atrás dela.
  -Com licença, senhor, o senhor não pode se sentar desse jeito. -uma aeromoça disse, olhando para o garoto ao seu lado.
  Lunna se virou e viu que o garoto estava sentado de uma forma bem peculiar, a cabeça estava quase completamente no corredor e seus pés estavam apoiados no assento da frente, de forma que ele ficasse completamente torto.
  -Mas é a única posição confortável -ele argumentou
  -Se o senhor quiser eu posso trazer um travesseiro para aumentar seu conforto, mas devo insistir paro que o senhor se sente normalmente.
  Ele bufou e se sentou normalmente, com os braços cruzados e raiva no olhar. A aeromoça foi embora e o avião decolou. Lunna apoiou novamente sua cabeça no vidro e dormiu, uma das únicas vezes desde o acidente. Quando ela acordou a aeromoça estava passando novamente, distribuindo comidas e bebidas. Ela estava com um carrinho cheio de coisas quando passou pelo assento dos dois.
  -Desejam alguma coisa? -a aeromoça perguntou.
  Lunna negou com a cabeça.
  -Uma água, por favor. -o garoto pediu.
  A aeromoça entregou para ele um copo descartável cheio de água e continuou seu percurso. Ele já tinha bebido metade do copo quando o avião deu um solavanco, de modo que tudo tremeu, inclusive a mão do garoto. Por um segundo Lunna viu a água caindo do copo pra cima dela, mas no segundo seguinte ela não estava lá e o garoto estava com a mão tampando o copo.
  -Você viu isso? -perguntou Lunna.
  -Vi o que? -o garoto a olhou.
  -A água, ela tinha caído em mim. -respondeu Lunna.
  -Impossível. -o garoto retrucou, balançando a cabeça em negação. -Eu tampei o copo. Viu?
  E ele a mostrou o copo tampado por sua mão.
  Lunna se virou para a janela e tentou convencer a si mesma de que ela tinha imaginado aquilo pelo estresse e sono, ela já tinha preocupações demais.


  Quando Lunna chegou no aeroporto de Ryewood ela estava completamente perdida, como se nada estivesse fazendo sentido. Ela pegou sua mala e foi até o lugar onde deveria encontrar a avó, mas de todos os rostos que ela viu, nenhum era conhecido. Bem, apenas o do garoto que se sentou ao seu lado, que ela viu desaparecer em meio ao mar de gente quando Mirian apareceu atrás dela, com um vestido azul de manga comprida que ia até o chão, uma faixa prendendo o cabelo longo e mil amuletos e pulseiras. Lunna adorava se vestir com as coisas da avó quando criança, mas seus pais ficavam estranhamente irritados. 
  -Mylunna. -chamou Mirian, fazendo a neta se virar para ela.
  -Vovó! -exclamou Lunna, a abraçando.
  As duas estavam destruídas, mas eram orgulhosas demais pra mostrar, então seguraram todas as lágrimas e começaram a andar até a saída do aeroporto.
  -Eu tirei as coisas do quarto de hóspedes e arrumei tudo para que você se sinta confortável. -disse Mirian, enquanto elas andavam. -Você já está matrículas na Ryewood High School, suas aulas começam semana que vem. 
  -Tudo bem. -Lunna concordou.
  Elas entram no carro e Lunna apoiou a cabeça no vidro. Estava chovendo, chovia desde o acidente. Quando Lunna tinha 3 anos ela perguntou para sua mãe, Amélia, porque chovia.
  -Quando chove é porque os anjos estão chorando. -respondeu ela.
  -Isso é tão triste! -Lunna exclamou.
  -Porquê? Você não sabe se é de tristeza, eles podem estar muito felizes! -respondeu Amélia.
  Naquele dia a chuva era de tristeza, Lunna tinha certeza. Tudo estava frio e triste, como se o mundo estivesse de luto. E para Lunna era reconfortante pensar que ele estava, pensar que seus pais eram importantes a esse ponto, a ponto do Sol e da Lua chorarem. Se ela não podia te-los de volta, queria pelo menos que eles não fossem esquecidos.


  O dia seguinte tinha tudo pra começar normal, mas ele foi arruinado assim que Lunna abriu seus olhos, que estavam inchados e vermelhos por ter chorado na noite anterior. 
  Ela não queria parecer fraca, então colocou uma quantidade maior que o normal de maquiagem no rosto, penteou seus cabelos, colocou os sapatos mais chiques que tinha e seu melhor vestido preto, pulando algumas caixas de papelão cheias de coisas que estavam espalhadas pelo quarto para chegar até o corredor. A casa de Mirian era pequena, mas grande o suficiente para que as duas morassem. Ela tinha dois andares, no primeiro ficava a cozinha, sala, sala de jantar e um banheiro, enquanto no segundo ficavam duas suítes e um escritório, além de uma pequena biblioteca e uma sala que Lunna era proibida de entrar. Todos os cômodos estavam cheios de amuletos e coisas místicas, a maior parte envolvendo a Lua, e, de vez em quando, Mirian fazia coisas parecidas com rituais, principalmente na Lua Cheia.
  Lunna desceu as escadas para chegar até a cozinha, onde Mirian estava sentada na cadeira da bancada, olhando para a perede com lágrimas ameaçando sair de seus olhos. 
  -Vovó. -chamou Lunna.
  Mirian coçou os olhos antes de se virar para a neta, com um sorriso forçado no rosto.
  -Você já está pronta? -ela perguntou. Lunna assentiu. -Bem, então vamos indo, não quero que chegar atrasada.
  Elas saíram de casa e o caminho até o cemitério foi silencioso, como se as duas estivessem enfrentando seus próprios infernos particulares que tentavam as preparar para o que viria a seguir. Lunna, como tinha feito durante o dia seguinte, ficou olhando a janela. Ela viu a cidade que agora ela seria obrigada a chamar de lar, viu as ruas tortas e estranhas, as casas onde moravam vizinhos que ela não queira ter, a escola onde ela não queria estudar, as pessoas que ela não queria conhecer e percebeu que, de todos os lugares do mundo, aquele era o que ela menos queria estar.
  O carro cacoalhou quando elas saíram da rua asfaltada para uma pequena estrada de terra, aberta em meio ao que parecia uma floresta muito medonha. O cemitério ficava no meio do nada, como se ele estivesse lá desde sempre e as árvores que cresceram ao redor. Tudo era frio, úmido e triste.
  Choveu durante toda a cerimônia, obrigando todos a usarem guarda-chuva. Lunna conheceu pessoas que ela nunca tinha visto, ou que era não pequena quando viu que nem se lembrava deles. Tinha a Tia Tessie, que não era sua tia de verdade, mas era tão amiga de sua mãe que ela chamava assim, Gerard, um ex colega de escola de seu pai, Juliet, Amber e Christie, 3 irmãs que Lunna se lembrava de terem ido visitar sua mãe quando ela ainda era pequena e mais uma porção de gente. Não tinham parentes de sangue, na verdade Lunna não conhecia ninguém além de Mirian e Nora, a irmã mais nova de seu pai, Richard, que tinha morrido anos antes em uma explosão causada por um vazamento de gás.
  Lunna não prestou atenção em nada, não tinha como quando os corpos incinerados de seus pais estavam em um caixas apenas a alguns passos de distância. Ela só parou com seus devaneios para ouvir quando a Tia Tessie foi para a frente, com seus vestido preto arrastando no chão.
  -A Amy era a minha melhor amiga. Ela sempre me ouviu e me ajudou. Ela não se importava com o "quando" ou "onde" quando era pra ajudar alguém. Sempre foi gentil, bondosa, feliz. Amy irradiava uma energia positiva. Eu não conheci muito o Richard, mas sei que eles se amavam muito, assim como amavam a filha. Eles morreram de uma forma trágica, uma forma que eles não mereceram. -suas poucas lágrimas, que até então eram de tristeza, viraram de raiva. -Essa noite a Lua chora por eles, e ela sempre vinga suas lágrimas. 
  Lunna percebeu que Mirian ficou tensa ao seu lado, assim como as 3 irmãs. Todas pareciam ter súbito acesso de raiva, que parecia inexplicável. Se fosse um dia normal Lunna tentaria entender o que tinha acontecido, mas ela não estava com paciência pra nada em sua atual situação. 
  O enterro terminou e Lunna teve que ouvir desabafos e lamentações de pessoas que ela sabia que não se importavam com seus pais quando eles estavam vivos, ver flores que ela sabia que os pais não ganhariam das pessoas que as colocaram se não estivessem mortos e ouvir histórias que sempre eram ditas como momentos em que seus pais foram incríveis pra quem estava contando, mas na verdade era mentira, era só uma história com sentimentos falsos e que metade foi modificada, já que a pessoa tinha se esquecido dela. E o pior era que o resto acreditava. Ninguém se perguntava porque a bendita pessoa que estava contando nunca tinha ido visitar Amélia e Richard, se eles eram TÃO importantes assim. 
  O resto do dia foi triste e deprimente, Mirian se trancou em seu escritório, sem dizer uma palavra, pelo resto da tarde, deixando apenas uma panela de sopa de legumes para  o almoço e jantar. Embora Lunna não se atrevesse a bater na porta para perguntar o que a avó estava fazendo ela encostou a orelha na porta uma porção de vezes, sempre ouvindo sussurros tão baixos, mas que não pareciam ser na língua delas. Pelo buraco da fechadura ela só via uma fraca luz, provavelmente de uma vela, iluminando o cômodo, que estava com as janelas fechadas.
  Em seu quarto, apenas com a fraca luz de uma tarde nublada como iluminação, Lunna pegou seu caderno de desenhos, uma das poucas coisas que ela realmente se importou em colocar na mala, e tentou colocar todos os seus sentimentos no papel. Quando ela tinha 8 anos ganhou uma caixa de lápis de presente de aniversário da Tia Tessie e foi amor a primeira vista. Ela sempre morou na mesma casa, e ela ainda tinha as paredes do escritório, quarto e cozinha riscadas com desenhos quando foi vendida pra uma família que decidiu repintar tudo. Com 10 Lunna fez um curso de desenho e pintura, ela sempre achou sossego no lápis e no papel, as paredes do seu antigo quarto eram cheias de desenhos, a casa toda era colorida. Olhando para as paredes vazias de seu novo espaço tudo ficava cinza. Ela não tinha vontade de sair colorindo toda a casa da avó, não fazia sentido quando ela sabia que a cor da casa de New York não era dos desenhos, mas sim da luz que seus pais emitiam, deixando tudo tão lindo.
  O papel ficou enrugado e borrado nos lugares onde as lágrimas de Lunna caíram, mas não fazia diferença, quando o desenho era uma bagunça de traços feitos com giz carvão, esfumados por seus dedos, que estavam pretos. Era sombrio e triste, como tudo a sua volta, com uma garota chorando, mas que estava tão borrada, apagada e consumida pelas sombras que também podia ser comparada com um monstro.
  A noite chegou e a casa estava silenciosa. Mirian se escondia em seu escritório e Lunna em seu quarto, as duas com seus próprios problemas, demônios e infernos particulares. No quarto Lunna estava sentada na poltrona em frente a janela, enrolada com um cobertor. Ela olhava a rua deserta e as gotas de chuva que escorriam pelo vidro quando alguém apareceu, andando despreocupadamente. Era um garoto e estava usando fones de ouvido, foram as únicas coisas que Lunna pode identificar. Ele seria completamente normal, se não estivesse andando sem um guarda-chuva em meio a pequena tempestade que o céu fazia. Mas o estranho não era o fato dele estar desprotegido, mas sim dele estar seco. Olhando mais atentamente dava para perceber que as gotas de chuva paravam segundos antes de tocar nele, e sempre que sua mão se mexia, provavelmente junto com a música, a água próxima mexia também.
  Ele percebeu que Lunna o estava olhando e parou, a encarando. Envergonhada e amedrontada ela se abaixou na poltrona, de um jeito que ficasse escondida. Quando ela se levantou novamente ele já tinha ido, e da janela só dava para ver a rua deserta, o céu chuvoso, e a lua, que brilhava mais do que o normal.
  Lunna foi dormir pensando em todas as esquisitices que tinham acontecido desde que ela saiu de New York, pensando em como séria morar naquela estranha cidade. E naquela noite, pela primeira vez em dias, ela dormiu bem.


Notas Finais


~BlueMoon


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