História Which Of Us? - A outra face de May.

Pov May

- May, abra a porra dessa porta agora! Estou mandando!- As frequentes pancadas não cessavam, só aumentavam. Eu sabia que ele estava bêbado, sabia que me machucaria, caso abrisse a porta.

- Não, pai! Eu não vou abrir. Vai embora, me deixe em paz!- Falei abraçada com meu travesseiro.

- Como ousa me desobedecer? Eu sou seu pai! Você tem que fazer o que eu mando!- Não respondi, optei por ficar calada e deixar que ele batesse na porta o quanto quisesse. Foram inúmeros minutos de agonia, escutando as pancadas na porta e palavrões horríveis vindos de sua parte. Mas fui forte, não a abri de jeito nenhum, não deixaria ele entrar em meu quarto. - Tudo bem, eu desisto. Mas você sabe que sua desobediência lhe trará consequência, certo?...

Ouvi seus passos ficando distantes e fui devagar até a porta, abrindo-a lentamente para conferir se ele ainda estava lá. Por sorte, ele tinha ido embora. Apenas respirei aliviada e me escorei na porta de meu quarto, deixando que meu corpo deslizasse devagar pela mesma. Logo, eu me encontrava sentada no chão, com os braços em volta do joelho e o rosto repleto de lágrimas. Minha vida resume-se nisso, um verdadeiro inferno!

Desde pequena, vivo nesse tormento. Nunca fui uma criança alegre e mimada, como todas as outras. Nunca tive um carinho ou recebi sequer um "eu te amo" vindo da parte de meus pais. Talvez, por isso eu tenha me tornado essa pessoa tão chata e grossa. Espantei todos ao meu redor, menos a Dawn, minha melhor amiga.

Meu pai sempre foi alcoólatra. Sai todo dia pra beber e chega extremamente violento. Minha mãe, resolveu abandonar o navio. Largou-nos logo após o nascimento de meu irmão caçula e nunca mais deu noticias. Portanto, coube a mim cuidar de Max, meu irmãozinho.

- May!- Ouvi novamente as batidas na porta, dessa vez calmas e cuidadosas. Abri e vi Max, que sorriu minimamente pra mim. - É que eu estou com fome...

- Vem, vamos almoçar.- Estendi minha mão para o garotinho de sete anos e o guiei até a cozinha. Chegando lá, coloquei seu almoço que já estava pronto. Nada demais, apenas feijão, arroz e bife, acompanhados de um suco de maracujá.

- Hummm... Está um delicia! Eu tenho a melhor irmã do mundo!- Sorri para o pequeno que comia de forma gulosa. Ele era a razão do meu sorriso. Posso não ter tido a infância merecida, mas meu irmão terá! Passo por cima de tudo e de todos, para ver Max feliz. (...)

Pov Ash

- Arroz, feijão, ovos, manteiga... Ah meu Deus, onde fica a sessão de comida congelada?- Minha mãe perguntou para si mesma e saiu apressadamente, me deixando sozinho com o carrinho de compras. Sim, estamos no mercado fazendo as compras mensais. Eu detesto vir, mas minha mãe quer que eu empurre o carrinho, então, não tive outra escolha.

- Oi manézão, tá fazendo comprinhas pra mamãe?- Paul e Garry se aproximaram. Droga! O que eles estão fazendo aqui?

- Me deixem em paz!- Falei calmamente tentando empurrar o carrinho e sair dali, mas Paul não deixou.

- Hey, calminha aí! O que tem Ashzinho? Está com medo da gente?- Paul perguntou.

- Eu com medo de vocês? Vão sonhando! Só não quero arrumar confusão aqui no mercado.- Tá, eu sei que encará-los assim é perigoso, mas também não posso abaixar minha cabeça e mostrar que tenho medo.

- Você tem muita coragem, moleque!- Garry pronunciou-se. Foi quando minha mãe voltou.

- Finalmente encontrei a sessão de comida congelada. Esse mercado é enorme!- Falou colocando as compras no carrinhos. - São seus amiguinhos filho?- Perguntou sorridente.

- É... Bom...- Gaguejei. - Sim, eles são meus amigos.- Vocês devem estar se perguntando o porque de eu mentir, certo? Bom, digamos que se eu contasse a verdade para minha mãe, ela faria um escândalo daqueles. Provavelmente me tiraria da escola e me levaria de volta pra Sinoh.

- Que ótimo! Já está se enturmando! É um prazer conhecê-los, meninos!- Exclamou alegremente.

- O prazer é nosso. A senhora tem um filho de ouro viu? Ash é um ótimo aluno.- Paul disse. Percebi que Garry ouvia tudo segurando o riso. - A propósito, eu não vi você na segunda aula hoje amigão? Aonde estava?- Perguntou sorrindo de forma sombria. Putz, ele sabe de alguma coisa! Tenho certeza...

- Como assim não viu o Ash?- Minha mãe perguntou. - Onde você estava?- Me olhou ameaçadora.

- Eu... O professor de português pediu pra mim ir para a biblioteca da escola e treinar minha leitura. Então eu fiquei lá!- Aquelas palavras saíram da minha boca numa velocidade incrível. Foi a primeira coisa que veio a minha cabeça naquele momento...

- Ah, entendo filho! Bom, estou perdendo meu tempo aqui e ainda há muita coisa para comprar. Com licença meninos...- Minha mãe saiu novamente.

- Primeiro foge da escola, depois mente pra mamãe, que feio hein?- Paul balançou a cabeça negativamente. - Nós sabemos dos seus podres Ash, e se você vacilar, não somente sua mãe descobrirá o que ocorreu hoje, como a escola inteira. Cuidado com o que apronta, amigo!- Riram e saíram juntos. Droga! Como eles descobriram? (...)

- Tudo bem galerinha, sem moleza no treino de hoje! Vou dividir vocês em dois times, os titulares serão misturados com os reservas, para não haver favorecimento! Para diferenciá-los, um time jogará de camisa e o outro sem, agora, vamos aos nomes...- O treinador pegou sua lista e começou a divisão de jogadores. Era quinta-feira, e depois de um dia extremamente tedioso na escola, o treinador chamou-nos para um treino imediato.

Eles dividiu-nos em dois times com onze em cada, titulares e reservas misturaram-se, assim como ele havia dito. Para minha sorte, Brock, Clemont e Jimmy ficaram no mesmo time que eu Para o meu azar, Paul e sua gangue ficaram no time rival. É, já sei que ele vai fazer de tudo pra me prejudicar. Nós estávamos no time que joga com camisas. Ufa! Me livrei de ter que tirar a camisa! Tenho um certo desconforto em relação ao meu corpo.

- Todos em seus lugares? Comecem!- O treinador apitou no centro do gramado e a partida começou com a bola nos pés de nossos adversários. Mas esse "domínio" deles durou poucos segundos, já que Tracey fez questão de tomar a bola e contra-atacar, mas infelizmente, não conseguiu chegar ao gol.

E assim foi o primeiro tempo da partida. Os dois times atacavam, mas nenhum fez gol. Clemont, que era o goleiro da nossa equipe, não levou muitos sustos. Depois dos quarenta e cinco minutos, fizemos o famoso intervalo.

- Até que foi bem tranquilo!- Clemont comentou bebendo água gelada e jogando-a no rosto logo em seguida. - Espero que continuem assim no segundo tempo.- Sorriu.

- Melhor não confiar, já sabe que Paul e Garry podem fazer de tudo pra vencer, nem que seja do próprio time.- Brock disse.

- Sobre eles... Eu tenho que contar uma coisa.- Comentei sentando-me ao lado de Brock. - Eles sabem da nossa fuga ontem!

- O quê!?- Os dois exclamaram espantados.

- Como eles descobriram?- Brock perguntou.

- Eu não sei! Só sei que ontem eles quase me entregaram pra minha mãe! Falaram um monte de bobagens e disseram que se eu vacilasse nosso segredo seria revelado para a escola inteira.- Disse.

- Se o diretor descobrir, seremos expulsos na certa...- Clemont disse.

- Chega de descanso! Hora do segundo tempo!- O treinador comentou e todos começaram a se levantar.

- Ok, procurem não pensar nisso! Não vou vacilar, ninguém vai descobrir! Vamos focar no jogo!- Falei decidido e os dois concordaram.

E assim, começou o segundo tempo, dessa vez, com o domínio do nosso time. Foram várias as tentativas sem sucesso de ambos os lados, e isso durou até os vinte e sete minutos, foi quando Paul marcou um gol, dando vantagem ao time adversário.

- Droga!- Clemont gritou irritado. - Eu poderia ter pego essa!

- Relaxa! Nós vamos conseguir empatar rapidinho!- Jimmy pegou em seu ombro.

Dito e feito. Aos trinta e dois minutos, Brock fez um gol, igualando o placar.

- Yes! Eu sou muito foda!- Gritou o mulato e eu ri.

E assim, o jogo seguiu, mas intensificou-se bem mais. Eram muitas faltas, muitas jogadas erradas e até algumas discussões entre jogadores. Todos queriam impressionar o treinador.

Já estávamos aos quarenta e dois minutos, restavam apenas três para a partida acabar. Foi quando Jimmy conseguiu uma tomada de bola perfeita. O moreno correu todo o campo com o domínio total da bola, mas começou a ser cercado por jogadores da outra equipe. Percebi que estava sozinho no campo de ataque e ninguém me marcava. É Ash, sua hora chegou!

- Jimmy!- Chamei sua atenção. - Eu tô livre! Passa pra mim!- E foi isso que ele fez. Dominei a bola e a guie até o gol, driblando os adversários que encontrava pelo caminho. Logo, éramos só eu e o goleiro, frente a frente. Sorri debochado e preparei-me para chutar a bola, já esperando o tão esperado gol... Que acabou por não vir. Pois quando eu ia chutar, senti uma forte rasteira me acertar, derrubando-me na mesma hora. Um dor imensa tomou conta da minha perna e eu apenas me retorcia. Aquilo era terrível!

- Ele foi derrubado na área! É pênalti!- O treinador apitou. Eu poderia ficar feliz, se aquela dor imensa não estivesse acabando comigo.

- Ash! Você está bem?- Clemont aproximou-se, junto aos outros.

- A minha perna... Ai!- Gritei quando tentei mexê-la. Percebi que a parte exposta da minha coxa sangrava um pouco.

- Você fez de propósito!- Jimmy empurrou Paul. Ah, então foi ele o autor da tentativa de homicídio?

- Claro que eu não fiz de propósito! Eu não machucaria um colega que joga no mesmo time que eu! Além do mais, porque eu procuraria fazer um pênalti, sabendo que isso só vai prejudicar a minha equipe?- Sua desculpa foi boa. Mas para me machucar, Paul era capaz de tudo.

- Sem discussões meninos, esse tipo de acidente é comum no futebol. Ash, você vai para a enfermaria da escola. Jimmy, você cobra o pênalti!- O treinador falou e a equipe me levou até a enfermaria.

Chegando lá, me colocaram numa maca e saíram, me deixando sozinho na imensa sala branca. Esperei alguns minutos e ninguém apareceu. Aff! Será que ninguém compreende que eu tô quase morrendo? Pensei comigo mesmo. Foi quando a porta abriu-se devagar, revelando ninguém mais ninguém menos que Misty.

- Misty? O que está fazendo aqui?- Perguntei, mas a ruivinha nada respondeu. Apenas aproximou-se com um pano molhado nas mãos e passou-o em meu ferimento. Parando o sangramento da minha coxa de imediato.

- Eu estava vendo você treinar... Quer dizer... Vocês treinarem...- Se auto corrigiu e corou em seguida. Seu rosto ficava muito fofo naquele tom de vermelho. - Quando vi o Paul te machucar. Fiquei preocupada e vim te dar uma ajudinha.- Sorriu tímida.

- Muito obrigada pela preocupação e pela ajuda!- Sorri de volta. Foi quando ela, acidentalmente, repousou a mão em minha coxa, fazendo um arrepio instantâneo tomar conta do meu corpo. Ela percebeu o que fez e corou novamente.

- Bem, eu... Eu tenho que ir agora!- Saiu imediatamente, não me dando chances de falar algo.

- Desculpe pelo atraso, uma menina passou mau na sala de Biologia e eu estava atendendo-a!- A bonita jovem de cabelos rosados sorriu. - Então mocinho, vamos ver o que temos aqui. (...)

Depois de longos e doloridos minutos na enfermaria, Joy, a enfermeira, disse que felizmente eu não tinha nada grave. Apesar da dor imensa, eu não tinha deslocado osso nenhum. Eu precisaria apenas de um pouco de descanso e logo poderia voltar aos treinos.

Quando saí da enfermaria, Brock e Clemont me esperavam. Os dois falaram que Jimmy fez o gol de pênalti e nós acabamos vencendo. Comentaram também que ele mandou me avisar que a tal festa dele acontecerá na casa da Marina, já que os pais dela estão viajando.

Quando cheguei em casa, contei o acontecido para minha mãe. Obviamente, não disse que foram meus "amiguinhos" de ontem que cometeram a falta. Para uma mãe extremamente cautelosa, até que ela entendeu a situação e até comentou que é normal no futebol. Aconselhou-se apenas a tomar mais cuidado.

Quando a noite chegou, deitei-me em minha cama e mexi em meu notebook. Minha perna estava um pouquinho inchada, mas Joy disse que era normal isso acontecer. Acabei adormecendo pensando numa certa ruiva e no que ela havia feito por mim hoje.