História Who is the yandere now? - Taro Yamada.

‘’Quem vai querer essa criança?’’

Essas são as palavras que eu mais ouvi em toda minha vida. Desprezo, nojo, eram as palavras para descrever a tonalidade que essa frase saía da boca. Quem as disse? Inúmeras pessoas, de grandes advogados a donas de casa, mas, me lembro bem da primeira vez eu as ouvi.

Era noite, a quantidade de luz que tinha na cidade poluída me impedia de ver as estrelas, isso não era ruim, na verdade, na primeira vez foi, mas depois de ver tantas noites assim, eu me acostumei. Assim como me acostumei de ficar sem aquela pessoa, assim como me acostumei com ela chegando bêbada em casa, assim como me acostumei a ser xingado e odiado. Mais uma vez ela chegara bêbada, com roupas mal colocadas, cabelos bagunçados, olheiras enormes, e o olhar que sempre tinha a me ver, desgosto. Naquela noite, fiquei acordado até tarde esperando-a, queria que ela dissesse parabéns para mim, já que meu aniversário foi um dia antes daquele, já fazia 3 dias que não voltava para casa, nunca passara tanto tempo fora. Como sempre, pegou dois pães dentro de sua bolsa, e os jogou para mim, eu os comi desesperadamente, fazia dias que não comia, me sustentava de água e algumas vezes pegava alguma pomba morta, e a comia. Com o toda a coragem que havia em mim, cheguei perto dela, mãos tremulas, suor escorrendo pelo o meu rosto, o medo estava no meu corpo, quase fazendo parte de mim, e então, eu falei. Antes eu me arrependia de ter dito aquilo, mas hoje sei que não fiz nada de ruim. ‘’Mãe, você... pode me dar um abraço? Ontem... Foi meu aniversário... ’’ foram as palavras que eu disse.

  ‘’Seu aniversário não é algo a ser comemorado, criança. ’’

  ‘’Você só trouxe desgraça a minha vida. ’’

‘’Afinal... Quem iria querer uma criança como você?’’

...

 No dia seguinte, acordei com olhos inchados, havia chorado a noite toda. Ela não estava em casa, já devia ter saído de casa, minha barriga roncava, fui até a pia, mas, a pia havia sido arrancada, desespero em meus olhos, não acreditava naquilo. O mais rápido possível corri em direção a porta, tropeçando nos meus próprios pés, ainda não sabia andar direito. Trancada, a porta estava trancada, eu estava preso, sem nada pra comer. “Calma’’, foi o que pensei ‘’Ela deve voltar logo’’, era o que pensava, mas ela não voltou. Nunca.

 Depois de 5 ou 6 dias, eu já havia desistido, estava sem voz de tanto gritar por ajuda, sem força por ficar sem comer. Havia acabado para mim. Eu ia morrer. Aquela seria toda a minha minha vida. Deitado em  frente a porta, meus olhos se fechando lentamente, meu corpo desnutrido não se movia mais, mas, um clique veio da porta. Era o sindico, ele não batia mais na porta, sabia que ela nunca iria atender. A porta se abriu, e no mesmo instante, meus olhos se fecharam.

Acordei em um hospital, meu corpo não estava mais daquela maneira, havia pessoas discutindo em minha frente. ‘’Eu não vou ficar com essa criança imunda!’’,  ‘’Minha família não merece tal desgraça vinda daquela estúpida’’,‘’Não vou sujar o sangue da minha nobre família com esse sangue sujo de prostituta!’’. Todos apontavam para mim, todos me odiavam, todos odiavam minha mãe. ‘’O eu acontece com as crianças que não tem pais?’’, pensei, ''Elas são jogadas fora?'', ''Eles..vão me matar?''. E então, ela chegou, com um simples gesto, me salvou, um sorriso leve em seu rosto, a mão delicadamente passando pelo meu rosto, minha tia, a única que nunca foi ruim comigo. Ela me aceitou e cuidou de mim, todos esses anos, eu sei o que é gentileza por causa dela, mas, eu não podia deixar ela me odiar, então criei um personagem. ‘’O garoto perfeito’’, sempre tirava as melhores notas, era uma ótima pessoa,  e a única coisa que eu agradeço à aquela pessoa, meu rosto. Graças ao rosto da minha mãe, eu era bonito, inteligente e gentil. Minha tia tinha orgulho de mim, e resto da família, inveja. Era todo o que eu queria, tudo o que sonhava. Eu fingia que me divertia com  os meus amigos, mas não estava realmente. Eu fingia que adorava meus amigos, mas não era real. Era tudo uma farsa, uma máscara, e ninguém nunca iria descobrir meu verdadeiro eu.

 O resto da minha vida foi assim, sempre fingindo. Pessoas se apaixonavam pela minha máscara, mas eu não me importava, eu não precisava disso, ''amor'' era apenas um adicional na minha vida, não precisava fazer ninguém feliz, alem da minha querida tia. Até que uma garota estranha se apaixonou por mim, achei que era apenas outra garota, mas, ela... Era uma assassina. Ela matava pessoas que a ‘’impediam’’ de ficar comigo.

Ela era apenas uma doente.

Na minha cabeça, aquilo significava que, se ela era doente, eu não gostaria dela. Então passei a fingir ter nojo. Até o dia em que ela me salvou, ela me levou para a enfermaria depois de eu ter brigado com um amigo. Acordei com ela encima de mim, seu rosto corado, seus olhos brilhando numa intensidade anormal, eu... Nunca tinha visto aquele tipo e pessoa. Pensando em algo como abuso, eu a expulsei. Várias coisas aconteceram, coisas que, se eu quisesse explicar, nem eu mesmo entenderia. E então veio aquilo, eu nunca imaginei que era possível, como? Até hoje não entendo mas.. Ela disse que nunca amou minha máscara, que sempre soube como eu era, e que me amava pelo o que eu escondia. Como... Eu deveria lidar com isso?

 Eu a amo.

Eu a amo.

Eu a amo.

Já é tarde.

Na segunda vez que cheguei perto da morte, foi a última vez que vi alguém me amar de verdade.

Ou era pra ser.