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História Who Killed?: Premonition - Listas e Sinais


Escrita por: Nil-Kiba

Capítulo 3 - Listas e Sinais


WK3EP03: Listas e Sinais

Eu tentava me distrair ouvindo músicas bastantes altas, estava jogando uma bola de tênis na parede e esperando ela voltar para a minha mão enquanto todos estavam na sala conversando sobre alguma coisa. Meu quarto havia alguns pôsteres de atores famosos, minha inspiração. Era legal pensar que agora temos um cineasta na casa, quem sabe rolaria um futuro filme comigo. As vezes me imaginei no cinema, mas sempre preferi o teatro. Analiz havia saído, ela sempre tem essas saideiras a tarde sem motivo aparente. Ela geralmente pega uma bolsa, e usa maquiagem leve demais para ela mesma. Então sai sozinha, uma vez tentei segui-la mas ela me viu, desisti, ela é estranha mas o pior, é que ela não se assume, entre forçar algo que eu não sou, eu prefiro nem ser.

Acidentes com mortes são uma bosta, e eu ainda estava pensativo sobre tudo o que aconteceu, Marco me socou tão forte que eu esperava não lembrar de nada. Talvez, até fosse melhor.

De repente, escuto alguém bater na minha porta com pressa, virei para ver e se tratava de Thomas e Marco, o primeiro estava nervoso e outro parecia assustado. Tirei os fones de ouvido para perguntar:

- Parece que vocês estão se afogando. O que houve?

- Marco, teve mais uma Premonição.

- Preciso do seu celular. – O loiro disse.

- Isso é sério? – Eu estava em dúvida. – Não estão querendo zoar comigo?

- Droga, só entrega o celular! – Foi Zlatan quem disse ao surgir na porta do meu quarto.

Cedi e tirei o celular do meu bolso e o entreguei para Marco. Seguimos para o corredor dos quartos, Victor saiu do seu quarto perguntando o que significava toda aquela gritaria. Eu fiz o sinal com a boca para ele fazer silêncio. Marco procurou algum contato e ligou.

- Alô! Rafa? – Ele falou ao atender. – Marco. Você tem que ficar longe de carros. Não chegue perto da estrada. Alô? RAFAEL? Droga!

- O que aconteceu? – Thomas perguntou.

- Ele desligou. – Marco respondeu.

Notamos Gracy se aproximando dos garotos, ela tem um olhar forte e ao mesmo tempo meigo, olhei para Victor, até que ela disse:

- Marco. Você vai nos contar tudo.

- Eu já disse. – Eu sabia quando alguém estava mentindo.

- Talvez, mas também vai nos contar o que está sentindo.

***

O que Marco nos contou foi super complexo e interessante na verdade, ele nos contou que o dia todo sentiu uma sensação de premonição que algo ruim iria acontecer com Rafael, principalmente, quando fomos pela Van, ele sentiu algo relacionado aos carros na estrada. Como sinais de morte. Mas o pior foi quando ele estava dormindo, ele teve um sonho com muitas imagens e sons, tudo indicava carros e uma cruz. Foi fácil ligar os fatores, ele nos disse. Isso me lembrou de uma peça de teatro dramática que eu fui convidado para fazer mas acabei sendo substituído, o irônico foi que o cara que me substituiu morreu naquela mesma noite. E...

***

Não demorou muito para recebermos a notícia que Rafael havia morrido em um terrível acidente na estrada. Não esperava que isso me atingisse tanto mas pelo contrário eu realmente fiquei triste quase inconformado com isso. Por quê Rafael? E por quê agora? Por quê as premonições? Por quê com nós? Por quê tudo isso?

Ele morreu cercado por quatro carros formando algo parecido com uma cruz. Tudo se confirmou. Nesse instante, Analiz entrou pela porta da pensão cabisbaixa, parece que ela já havia recebido a notícia triste. Até que ela recuperou sua postura de sempre e disse:

- O que aconteceu? Por quê essas caras tristes?

Gracy levantou do sofá para dizer:

- Rafael morreu.

Analiz deixou sua bolsa cair no chão, não estava acreditando, foi então que olhei para Victor ao meu lado, eu vi uma lágrima eu seu rosto, ele era de fato provavelmente o mais próximo de Rafael na pensão. Eu o confortei com um aperto no ombro. Ele me lançou um olhar curioso, eu gostava daquele seu cabelo loiro quase branco, lembrava minha namorada. Havia momentos que eu me sentia bastante confuso em relação a tudo que era de meu respeito, principalmente os meus relacionamentos, eu odeio quando me testam, eu odeio ser rotulado e taxado por meras aparências, acontece que hoje vivemos em um mundo onde uma simples mudança de cor de cabelo se torna uma enorme polêmica, eu não quero ser uma polêmica, eu sou quero amar quem deve ser amado, abraçar quem deve ser abraçado. E olhando para Victor foi que percebi, que Rafael era a minha responsabilidade de certa forma, eu fui “eleito” o representante dos garotos da pensão. Deveria manter a integridade mas não consegui. Senti a culpa subindo, eu tinha que falar algo.

- Gente. – Comecei. – Foi culpa minha, eu não sabia que ele estava na estrada, não conversei com Marco sobre isso e...

- Não Caleb. – Gracy me interrompeu. – A culpa não é sua. Mas de... Cristie!

- O quê? – Cristie rebateu. – Minha culpa? Como assim?

- Na verdade, Analiz também tem uma parcela de culpa. Afinal, ela não estava aqui para tentar ajudar. Saiu da pensão no momento que mais precisávamos.

Todos podíamos ver o ódio subindo em Analiz. Veríamos pela primeira vez, a rainha da perfeição, gritar com outra colega? Eu aposto que ela vai se conter como sempre. Gracy continuava a falar.

- Cristie foi tão... incompetente que eu aposto que nem lembrava que Rafael morava nessa pensão.

- Que ousadia, sua... – Ela foi interrompida por Analiz.

- Onde você quer chegar com tudo Gracy? – Analiz perguntou com os braços cruzados.

- Quero me candidatar a colíder  dessa pensão. Posso ser melhor que a Cristie.

- Analiz? Você não vai concordar com isso assim, não é? – A vice disse, eu poderia sentir o desespero.

Eu estava rindo por dentro. Analiz ficou em uma sinuca de bico nessa situação, se ela topasse além de assumir o risco de perder a confiança de sua melhor amiga na pensão, também estava sujeita a aceitar uma desafio de “qualquer uma”. Se ela negasse, se colocaria em uma posição autoritária e imprudente, afinal Gracy tinha razão de certa forma.

- Vamos ver no que vai dar. Vai a ver uma votação daqui amanhã. – Analiz falava pausadamente. – Alguém aqui é contra a candidatura da Gracy?

Somente Cristie se mostrou contra. O resto de nós não tinha nada contra, mas Marco fez uma cara confusa, eu podia ver o mesmo em Zlatan. Eu entendia, na verdade, Gracy estava aproveitando da situação para conseguir o poder. Ela estava usando a doutrina do filósofo Maquiavel, definitivamente, direito é a área certa de Gracy.

- Então tudo certo. – Analiz finalizou.

- Eu não acredito que você fez isso. – Cristie falou. – Vou te esperar na cozinha para conversarmos.

- Depois. Tenho que resolver algumas coisas em meu quarto. – Analiz falou e subiu as escadas.

- Que besteira. – Marina sussurrou em meus ouvidos quase rindo.

- É. – Eu disse.

Em seguida, Marco subiu apressadamente para o seu quarto, Z o seguiu logo depois, levantei e chamei Gracy para ir comigo atrás de Marco. Eu tinha algo a dizer.

Subimos a escada, dobramos para o corredor dos quartos dos meninos. A porta do quarto de Rafael estava aberto, então eu e Gracy entramos, Marco e Zlatan estavam conversando sobre algo, mas pararam aos nos notar, o loiro segurava uma caixa de papelão e o moreno colocava dentro algumas coisas que estavam no quarto, como roupas e livros. Gracy pegou um livro de Química do chão e jogou na caixa. O quarto do Rafa sempre foi só dele, toda a energia dele ainda estava ali, as suas músicas depressivas e melancólicas, suas roupas e seu pacote de bandagens novas, pôsteres de filmes. Tudo isso irá sumir. Eu nunca fui o mais chegado a ele.

Quando entrei na casa, Marina tinha cabelos castanhos, ela pintou de platinado quando começamos a namorar, ficou incrível, eu amei esse cabelo dela, era branco como a neve, me fazia sentir em paz. Eu sentia que ela e Rafael já tinham tido algo no passado, mas resolvi não perguntar, reviver o passado é algo inútil. Rafael sempre foi tranquilo e calmo, eu geralmente sou tranquilo mas também sei ser energético em vários momentos. Talvez fosse esse o meu diferencial, talvez tudo o que Marina quisesse na verdade fosse um agito, eu estava com medo de perde-la, mas ela não conseguiu resistir ao meu cabelo ruivo (risos). Então conheci Victor naquele mesmo período, nós só fomos nos dar “relativamente” bem no aniversário dele, quando a noite eu ouvi barulhos vindo do banheiro, descobri que ele se cortava com giletes, mas estava parando. Eu nunca entendi o que leva alguém a fazer isso. Mas eu o ajudei naquela noite, ele tinha sofrido muito no passado, eu o abracei forte, senti que ele precisava, e realmente ajudou. Ele parou com os cortes alguns dias depois, agora, só resta as cicatrizes. É bom saber que eu consegui ajudar alguém. Mas agora eu me pergunto, era para ele morrer com os cortes? Ou apenas ficar sofrendo ainda mais?

- Marco. Eu... quero falar com você.

- Fala. – Ele disse simplesmente.

- A sós. – Eu disse.

- Então espera em meu quarto eu acabar aqui. Já vou lá.

Assim eu fiz, Gracy também estava curiosa para me ouvir, entramos no quarto e Thomas assistia algum vídeo em seu celular, parecia ser algum YouTuber, não tinha problema ele estar ali. Eu confiava nele. Mas apenas sentei na cama. Marco, entrou e logo lançou o olhar para Thomas e em seguida para mim.

- Você quer ir para outro lugar? – Ele me perguntou.

- Não. Aqui está bom. – Eu disse.

- Mas Thomas... e você.

- Relaxa, Marco! Eu e Caleb nos damos super bem na verdade. Aquela nossa discussão que tivemos, foi praticamente combinada.

- Como assim? – Marco estava mais confuso.

- Eu faço artes cênicas. Essa semana estou assumindo um papel de impaciente, e Thomas me ajuda a interpretar, ele sabe que estou no personagem. – Eu expliquei.

- Por essa eu não esperava.

- Enfim. Eu ia dizer que... conheço alguém pode nos ajudar a entender o que está acontecendo com você e com os sobreviventes. – Eu disse de uma vez. – Chamei Gracy porquê sei que ela precisa de algo para conseguir os votos. Thomas vai servir para nos ajudar. Mas você é a peça principal Marco.

- E o que você ganharia com isso? – Marco perguntou.

- Como ator, estou aberto a todas as experiências. Mas não vou deixar ser taxado de louco sozinho. – Eu sorri.

- Uma aventura investigativa. Isso é bom para tirar o tédio. – Thomas disse.

- Não é melhor também chamarmos a Marina? – Marco sugeriu.

- Sim. Seria. Mas ela já está investigando coisas sobre isso. Seu senso já está em alerta a muito tempo. – Respondi.

- Então vamos nessa. Levantem essas bundas. – Gracy disse toda animada.

***

Fomos até o meu antigo Clube de Teatro, eu tenho lembranças boas desse lugar apesar de tudo. Havia um corredor apertado que estávamos nos quatro passando para chegar ao palco, podíamos ouvir o som de alguns diálogos vindo de lá. Enquanto estávamos naquele corredor eu ia dizendo:

- Eu fui cotado para fazer uma peça dramática com suspense aqui nesse teatro. Eu faria um dos personagens que após uma série de eventos começava a ser perseguido pela própria morte. O roteirista e diretor da peça nos disse uma vez que ele inspirou-se de uma teoria antiga para fazer essa peça.

Paramos em uma porta, antes de entrar eu devia terminar de contar para não fazer barulho lá dentro. Encostei-me na porta e virei a eles, atrás de Gracy havia uma placa de Proibido Fumar.

- Talvez esse roteirista saiba de algo que possa nos ajudar. Vamos conversar com ele.

- Entendi. – Marco falou e os outros acenaram positivamente com a cabeça.

Abri a porta lentamente para não fazer um barulho brusco, já dava para os bastidores do palco, havia uma mesa de comida e diversas cordas de cortina e afins. No meio do palco havia uma mesa com os atores fazendo o que parecia ser um ensaio.

Wagner é o diretor da peça. Ele estava ao redor dos atores com as falas nas mãos mas não as lia, apenas observava a ação dos personagens. Ele era alto, usava uma camisa cinza com uma gravata branca e uma calça azul. Apesar da idade, ele tinha uma presença jovem. Era um bom diretor.

Esperamos o ensaio terminar para ficarmos a sós com ele. Ele nos convidou a sentar nas poltronas do público. Gracy e Thomas sentaram mas eu e Marco ficamos em pé.

- Então vocês querem informação sobre a teoria que usei na minha peça Infinitos turbulentos.

- Isso. – Respondi.

- Posso perguntar o motivo?

- Bom... – Eu não sabia o que dizer.

- Nosso amigo. Marco, teve uma Premonição do acidente no Show de ontem. – Thomas resumiu.

Molhei a garganta, não sei ele deveria dizer isso dessa forma, lembro-me que na época, Wagner chegou a ficar quase que psicótico por essa teoria. Talvez seja um dos motivos que sua peça tenha fracassado.

- Todos vocês devem conhecer a banda Mamonas Assassinas, certo? – Ele disse e nós confirmamos. – Provavelmente, minha ideia para a peça veio deles. – Ele falava gesticulando. – Antes do avião da banda cair, um dos integrantes gravou um vídeo onde nele dizia que ele sonhou que o avião da banda iria cair. Ou seja, exatamente o que aconteceu. Uma Premonição de fato. Foi então que decidi pesquisar mais sobre tudo isso, aproveitei contatos com amigos no exterior. Achei um livro com uma teoria que dizia que se por acaso alguém interfere de maneira sobrenatural nos desígnios da morte. Ela está fadada. No caso de muitas pessoas, como no Show... é criado uma lista.

- Lista? – Marco perguntava enquanto observava uns refletores de luz em cima de nós. 

- Isso. Uma Lista da morte. Onde nela, estão as pessoas que foram salvas mas que morreram assim que possível exatamente na ordem que deveria ter morrido.

- Parecido com Another... – Thomas sussurrou mas todos nós ouvimos. – Ignorem.

- É bem interessante. – Gracy falava. – Mas há maneiras de sair ileso disso não é?!

- Eu não sei. Não li o livro todo, ele tem muitos pleonasmos. Na minha peça, todos morriam. – Wagner levantou-se, subiu ao palco estava guardando algumas coisas. O seguimos.

- Um amigo nosso morreu. Ele foi um dos sobreviventes. – Marco falou. – Eu tive uma visão antes de acontecer.

- Sinais. – O diretor disse.

- Como funciona? – Perguntei.

- Na verdade, todos podem ter sinais antes de morrer. Mas claro, no visionário, é sempre mais forte. Podem ser qualquer coisa incomum que lhes tragam algum desconforto. Com eles você pode salvar a pessoa se souber o que vai mata-la.

- Então há como escapar! – Thomas disse de uma vez.

- Não exatamente. Salvar alguém que já foi salvo, só faz ele pular para o último da lista. Significando que uma hora ou outra, a Morte iria muito bem chegar para esse alguém.

Todos ficamos em um silêncio instantâneo, pareceu até combinado. Marco estava nervoso, eu podia saber pelos seus olhos. Eles estavam muito atentos em todos os cantos, até que ele virou-se para Gracy e a encarou, ela não entendeu. Gracy apoiou-se uma parede mas não notou cortas, uma delas se soltou e um peso caiu  no chão. Felizmente, Gracy desviou dele.

- Opa. – Ela falou.

***

Nós estávamos andando na volta para a pensão, o sol estava a se por, Marco o olhava com um olhar admirável, eu não via nada demais. O sol era uma mera estrela do universo, e a milhares maiores que ele.

Thomas comprou dois sorvetes, ele dividia o dele com Gracy e eu tentava dividir o meu com Marco mas ele estava viajando demais nessa teoria para provar.

O geek ia na frente e a candidata a colíder ia ao seu lado, Marco a minha frente e eu atrás. De repente, olhei para o lado, havia um beco com latões de lixo. Eu sabia qual era esse beco. Não é qualquer beco. Foi nele, que o meu substituto morreu. Eu sei, porque eu vi tudo. Eu vi quando o bandido sacou a faca e meteu no estômago dele. Eu vi acontecendo, mas não fiz nada. Eu poderia ter feito, eu me sentia culpado de certa forma sempre que passava por aqui. Mas agora não, pois descobri que se eu o tivesse, ele iria morrer de uma forma ainda pior depois.

Tudo isso aconteceu a quase um ano atrás, eram nas férias de verão, eu estava parado em meus trabalhos como ator. Até que conheci Wagner pelo Facebook, nós conversamos e ele me apresentou o projeto, eu achei super interessante e desafiador, duas palavras que me atraem. Fui em alguns ensaios, a apresentação seria em Los Angeles, fizemos toda a viagem e tudo mais. Eram apenas algumas semanas, mas teve notícias de um serial killer que estava matando jovens aleatórios e eu tive que sair da peça por conta de segurança. Foi até que semanas depois, na apresentação da peça aqui no Brasil, eu nem assisti, mas soube que não foi um boa estreia. O meu substituto acabou morrendo, eu vi tudo. E se esse Serial Killer tivesse sido pego antes? Eu ainda apresentaria, eu seria o esfaqueado. Eu estaria morto. Então também eu escapei da morte, e provavelmente, vou fazer alguém escapar da morte e assim inicia-se mais uma lista a cada dia. Por isso, muitos acidentes acontecem sem explicação, a um paradoxo em aberto, um clico infinito que precisa ser fechado.

Ignorei o beco, quando percebi que o resto do grupo já estavam longe. Corri um pouco para alcança-los, foi quando ouvi a conversa que Thomas iniciou.

- Marco. Você lembra quem é o próximo? – Thomas perguntou, eu também queria saber. – Quem morre depois do Rafael?

Todos nós podíamos ver uma força que ele fazia para lembrar, forçava os olhos ao fechar. Até que os abriu depois de alguns segundo e apontou tremendo para Gracy e depois abaixou o dedo ao dizer:

- Gracy. E Cristie...

- O quê? As duas ao mesmo tempo? – Thomas perguntava.

- Tem certeza? – Perguntei.

- É o que eu lembro. Na confusão no Show, logo depois de Rafael ser esmagado. Eu vi as duas sendo pisoteadas até a morte. Impossível eu saber quem delas morre primeiro.

Nem percebemos mas Gracy estava querendo chorar. Estava em seu olhar mas ela se segurou embora tenha limpado o rosto. Estávamos em frente a vitrine de uma loja de roupas de banho. Marco tocou na mão dela.

- Eu sinto muito. Eu tenho uma mente um pouco exagerada, geralmente, eu me imaginaria em uma situação dessas como um diretor, captando os melhores diálogos e os melhores ângulos. Mas agora eu vejo, que nem tudo é técnico. Há emoções. Mas, eu vou fazer de tudo para te salvar mais uma vez.

- Obrigada. – Ela apenas disse.

- Vamos... fazer de tudo. – Thomas colocou a mão em cima das mãos deles.

Eu entrei na onda e também coloquei minha mão. Quem diria que um acidente e uma Premonição iria nos juntar tanto assim, Gracy e Marco são novatos mas já chegaram mudando tudo. Não que eu tivesse inveja de certa forma mas é curioso, eu não gostava de ficar para trás. Então prosseguimos por o caminho que estávamos indo.

- Na verdade, eu acho que não é a primeira vez que eu desafio a morte. – Gracy quebra novamente o silêncio. – Alguns meses atrás, eu estava em dúvida se comprava ou não um certo livro. Até enquanto passava por uma rua em fui vítima de uma bala perdida em um tiroteio inesperado entre polícia e bandidos. Mas eu tinha comprado o tal livro alguns minutos antes, se esse livro não tivesse em meu peito para me defender, a bala poderia ter atravessado mais em mim. E eu poderia estar morta.

- Nossa, que loucura. – Thomas disse.

- Foi essa e outras vezes. Acho que já conheço a morte de certa forma.

Essa última colocação de Gracy teve um tom diferente, senti tristeza, teria ela um passado ainda mais sombrio que um tiroteio? Não me parecia, mas quem sabe ela esconde alguma motivação a mais para esse confronto à Analiz.

De repente, começa a tocar uma música na rádio da rua, eu sorri, reconheci de fato essa música, era Trem Bala da Ana Vilela.

 

Não é sobre ter todas as pessoas do mundo para si...

 

Eu adorava como essa música é tão simples, e você tira mensagens dela de uma maneira tão simplória que chega a quase ser despercebida. Ela tocou em um encontro que tive com Marina, eu adorava ser romântico com ela. Como algo exclusivo de nós.

Estávamos perto de um posto de gasolina, havia uma lojinha no fundos, mas também havia um eletricista perto dos tanques, ele usava uma escada para consertar uma fiação de um poste de luz. Meus sentidos estavam aguçados de uma maneira estranha, conseguia ouvir sons de faíscas, sons da gasolina entrando em carros que abasteciam, e podia ver algo perigoso em qualquer coisinha. Talvez fosse assim os sinais que foram ditos.

Estávamos passando pelo poste de luz, quando um pombo atrapalhou o eletricista, que tropeçou da escada de aço, fazendo ela cair em cima da minha cabeça, os fios do poste também se soltaram e caíram em direção a Thomas, que não levou choque, então aproveitou para sair dali. Marco e o eletricista retiraram a escada pesada de cima de mim. Minha cabeça doía mas não estava ferida de fato.  Notei Gracy bem afastada de nós, Marco deve ter tirado ela quando teve chance. Eu não entendo como fiquei sem um arranhão grave na cabeça e também como Thomas saiu ileso da eletricidade.

- Não era a hora de vocês morrerem. – Uma voz feminina que atravessava a rua falou.

Olhei e vi que era Marina. Surpreendentemente, ela me abraçou, eu estava com saudades.

- Vamos. Temos que voltar para a pensão. Não podemos ficar separados. – Eu adorava quando Marina falava decididamente.

Eu e Thomas nos encaramos. Realmente, não era a nossa hora, não se pode morrer quando não é sua vez na lista da Morte. Isso significa que temporariamente, estamos imortais. Então uma opção já é descartável: Suicídio. Comecei a pensar no eletricista, tecnicamente, era para eu e Thomas estarmos mortos, se estivéssemos quem sabe o eletricista também era para estar morto agora. (AAAAAAH MERDA!) Isso é tão complexo.

***

Estávamos atravessando o gramado da Pensão. Marina nos contou no caminho como sabia que as pessoas da lista não poderiam morrer quando não fosse a sua hora. Ela havia conseguido baixar o livro da teoria online. Ela não conseguiu ler tudo ainda mas direto em alguns aspectos. Ele poderia ser a chave para uma saída, afinal, agora, isso não estava apenas na teoria. Estava acontecendo e mais mortes também vão acontecer se nada for feito.

Entramos na pensão. O curioso que falar da morte nunca tinha sido um tabu tão grande, mas agora temos que falar dela. O ser humano a teme tanto, é curioso, por quê será que a morte não é trata como um dos ciclos naturais do ser vivo. Afinal, ele nasce e morre. (Exclui o cresce e reproduz, por quê agora nem tudo é assim, nem todos crescem, e nem todos precisam gerar filhos para ser um ser vivo completo). Mas agora, todos nós estamos presos em uma rede paralela nesse nosso contato com tudo em nossa volta, como se tudo fosse de vidro frágil, tudo em qualquer momento pode quebrar e vai espalhar estilhaços ao redor, e eles vão ferir.

Não havia ninguém na sala, estava um silêncio estranho demais. Até que de repente, ouvimos um grito enorme vindo do interior da cozinha. Todos nos olhamos e corremos direto para cozinha, a porta do frigorífico estava aberta, Cristie estava parada na frente, quando virou o rosto para nós demonstrando seu olhar assustado. Fomos olhar do que se tratava e a cozinheira da pensão está ali no chão, com um buraco de bala na testa. Meu coração disparou. Alguém a matou.

 



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