História Why You? - Um pai para a Babalu

Um pai para a Babalu

  Ás vezes eu me pergunto até que nível o ser humano pode chegar por culpa de um etnocentrismo maluco, ou um preconceito besta e sem fundamento, a humanidade não consegue entender que ser diferente um dos outros é normal, ser diferente não é o problema, o problema é ser tratado diferente, ninguém nasce odiando outra pessoa por suas diferentes escolhas. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar um aos outros sem se importarem com suas diferenças.

 A representação do pior lado de um ser humano, na minha opinião, é quando se ofende um completo desconhecido somente por ele ser diferente de você, pensar diferente, agir diferente, ter escolhas diferentes, uma monstruosidade sem tamanho.

- Aberrações como vocês deveriam ser exterminadas do mundo – Estávamos todos juntos saindo da universidade quando essa ridícula frase me incomodou os ouvidos.

- O que você disse? – Perguntei me virando e encontrei um cara qualquer nos encarando com uma expressão nojenta no rosto.

- Tae vamos, não ligue pra isso – Jimin disse baixinho segurando meu braço.

- Me solta, eu não engulo mais esse tipo de atitude idiota – Me soltei dele e encarei o desconhecido que tinha nos ofendido.

- Vocês são uma vergonha para seus pais e para toda a sociedade – Me encarou de volta.

- Por que você acha isso? – Perguntei irônico – Não venha falar da minha vida sexual se você não tiver uma, não sou obrigado a ouvir as merdas que sai desse lixo que você chama de boca.

- Olha, a bichinha está ficando bravinha – Riu em escárnio – Vocês todos vão queimar no inferno aberra... – Não deixei ele terminar essa ridícula frase, pois minha mão fez o favor de calá-lo – Está louco? – Cuspiu sangue no chão.

- Se sua mãe não te ensinou que você tem que ter respeito pelas pessoas que estão ao seu redor, então eu vou te ensinar de outro jeito seu imbecil – Parti para cima dele ouvindo os gritos de Jimin me pedindo para parar.

 O primeiro soco foi dado por minha parte, mas ele logo revidou e pude sentir sangue em minha boca se misturando com minha saliva, depois disso não me lembro de mais nada, descontei tudo o que estava sentindo em um completo desconhecido.

- Já chega Tae, para, por favor – Jin implorou me segurando junto com os outros meninos e eu acabei me soltando do outro que estava caído no chão.

- Eu nasci para ser incrível e único, não pra ser um lixo ambulante como você, tenho nojo de gente tapada e preconceituosa, e se eu queimar no inferno, faço questão de te levar junto comigo – Dei um chute em seu estomago ouvindo mais um gemido de dor e fui embora sendo o centro de olhares assustados.

***

- O que aconteceu com você Taehyung? – Yoongi berrou em meu ouvido assim que cheguei em casa sendo carregado pelos outros meninos.

- Vai me deixar surdo porra – Reclamei me jogando no chão e encostando as costas na parede mais próxima da porta.

- Por que você está todo machucado Taehyung ? – Questionou mais uma vez, mas não recebeu resposta nenhuma, eu e os meninos apenas ficamos com a cabeça abaixada – Alguém pode pelo menos me dar alguma explicação!? – Gritou assustando todos nós.

- Você não tem o direito de pedir explicação nenhuma Yoongi, você não tem nada a ver com a minha vida, nada! – Me levantei e comecei a subir as escadas – Obrigado por me carregarem até aqui, mas não precisam se preocupar mais, eu sei cuidar de mim mesmo, fiz isso a vida inteira, vou ficar bem, podem ir para suas casas.

-Tae... – Jungkook disse com pesar.

- Obrigado mais uma vez – Terminei de subir as escadas e caminhei até meu quarto e me joguei na cama do jeito que eu estava mesmo.

***

 Acordei com dores espalhadas por todo o meu corpo, me levantei sentindo algumas pontadas e caminhei até o banheiro do quarto, eu estava horrível e tinha alguns curativos em meu rosto e corpo. Ouvi alguém bater na porta e murmurei um “entra”.

- Vim saber se você está bem Tae – Yoongi entrou no quarto com a cabeça abaixada e brincando com os próprios dedos das mãos.

- Melhor impossível – Disse irônico me examinando em frente ao espelho, o reflexo de Yoongi aparecia logo atrás de mim.

- O Jin me disse o que aconteceu.

- Jin é um fofoqueiro, não precisava de nada disso, foi apenas uma pequena discussão.

- Pequena? Olha o seu estado Taehyung, Jin estava apenas preocupado com você – Disse com um tom que mostrava sua indignação.

- Está reclamando do meu estado, mas o outro com certeza ficou muito pior do que eu Yoongi – Ri sarcástico – Você que fez os curativos? – Perguntei e ele levantou a cabeça me encarando pelo espelho.

- Sim, acho que deve trocá-los, na pressa eu não consegui colocar direito, achei que você tinha desmaiado – Soltou um suspiro.

- Obrigado mesmo assim – Tirei a camisa para tomar banho e tirei alguns curativos.

- O que está fazendo? – Perguntou com os olhos arregalados.

- Vou tomar um banho, não precisa ficar assustado, até parece que nunca me viu assim – Tirei a calça depois de um tempo – Só não olha muito porque tudo isso aqui pode ferir sua heterossexualidade ou sei lá o que você seja – Entrei no box e liguei o chuveiro, deixei escapar um gemido de dor quando a água quente entrou em contato com alguns de meus ferimentos.

- Sobre o que aquele cara disse...

- Não comece a jugá-lo Yoongi, seria muito hipocrisia de sua parte – Ri em escárnio.

- Tae, eu...

- Me deixa em paz Yoongi, quero ficar sozinho.

- Me deixa pelo menos terminar de falar – Sua voz já estava começando a ficar cortada.

- Você pode até falar, mas não vou fazer muita questão de ouvir, suas palavras perderam o valor pra mim, pena que isso aconteceu tarde demais, não é? – Alguns instantes de silêncio e em resposta eu apenas ouvi a porta se fechar devagar.

 Terminei meu banho e resolvi não ir a aula hoje, ficaria e tentaria algum arranjo para a música, não estava com fome, então não desci para tomar café, apenas pus meus pés para fora do quarto algumas horas depois para ir ao único lugar de que eu me lembrava nesta casa, a sala do piano.

 Foram horas tentando encontrar alguma melodia que se encaixasse em minha música, mas eu não conseguia nada, absolutamente nada.

- Você tem que comer alguma coisa Tae – Ouvi a voz de Yoongi, mas não fiz questão de me virar já que ele mesmo veio se sentar ao meu lado no pequeno banco em que eu estava.

- Por que você não segue meu exemplo de fingir que o outro não existe? – Perguntei retoricamente.

- Me preocupo com você, o que tanto tenta ai sentado a horas?

- Trabalho – Respondi simples.

- Me deixe ver isso – Pegou a letra e começou a lê-la – Acho que tenho alguma coisa que combine – Começou a passar os dedos rapidamente pelas teclas e o som que estava saindo seria o encaixe perfeito para finalizar a música.

- É perfeito Yoongi – O parabenizei.

- É o meu trabalho Tae, sou produtor.

- Sério? – me levantei em um pulo surpreso com o que ele me disse, assentiu rindo pela minha reação – Posso usar? – Assentiu mais uma vez.

- Fique a vontade, depois eu posso ensiná-lo melhor, tenho que fazer algumas coisas agora – Se levantou e saiu da sala e eu me sentei novamente.

- Como era mesmo? – Me perguntei olhando para o piano e ouvi a campainha tocar, que estranho, ninguém usa essa coisa made in Hell, ignorei e continuei com meus pensamentos.

- Taehyung, você tem visita – Olhei para trás e Yoongi estava com aquela sua pose típica de irritação – Um pé no saco acompanhado de outro pé no saco só que esse é gótico – Ri do que disse e logo atrás dele apareceram Jungkook e Hoseok que vieram correndo até mim.

- Você está bem?? Com dor em algum lugar? Está muito machucado? Quer algum rémedio? Vá comprar remédio para dor Jungkook! – Gritou Hoseok me amassando em um forte abraço.

- Não estava doendo tanto, mas agora que você está me amassando tudo voltou a doer – Disse com um grande bico já que eu estava sendo todo esmagado.

- Onde está o seu cachorrinho Tae? – Sou um pai desnaturado! Esqueci da existência do meu próprio filho!

- Meu deus cadê a Babalu!? – Gritei me soltando do abraço de Hobi – Yoongi se eu não encontrar ela eu vou estripar o seu corpo!

- A culpa não é minha se você não cuida do que é seu, a essa hora o bichinho já deve ter morrido de fome – Riu Yoongi de meu desespero, dei um tapa em seu braço e sai correndo gritando pela casa.

- Que doença você tem garoto? Para de gritar, faça as coisas como uma pessoa normal.

- Não tenho tempo para as suas ofensas agora Jungkook, me ajuda a procurar nossa filha Hobi!

- Nossa filha? – Hoseok perguntou confuso – Não sou pai de ninguém não.

- Então me ajuda a procurar nossa filha Jungkook!

- Não vem pro meu lado com essas suas ideias estranhas Taehyung – Disse Jungkook.

- Então eu sou pai solteiro, seus ingratos!

- Cala a boca que só está saindo merda e vai procurar esse cachorro – Jungkook disse cortando todo o meu drama, corri escada a cima e percebi Yoongi correndo atrás de mim.

- Eu posso ser pai do seu pulguento Tae.

- Ela tem nome Yoongi e você nem gosta de cachorros, vai maltratar minha pequena – Respondi abrindo todas as portas do corredor.

- Prometo que cuido dela também Tae, me deixa ser o pai dela, por favor – Me virei o encarando.

- Promete cuidar dela e dar muito amor pra ela durante todo o seu crescimento?

- Sabe que estamos falando apenas de um cachorro, não é?

- Leve á sério, ou não será pai de mais nada.

- Ok, prometo cuidar dela – Disse por fim, e senti algo passar por minhas pernas, olhei para baixo e ela estava lá.

- Olá meu amor, me desculpa por te esquecer –A peguei no colo e Yoongi me olhou estranho.

- Achei que ela fosse fêmea – Disse confuso.

- Ela pode ser o que ela quiser ser, seu preconceituoso – Mostrei a língua para ele – Vamos comer alguma coisa Babalu – Comecei a andar pelo corredor.

- Vamos ser que nem aquelas famílias felizes que passeiam com seus cachorros? – Perguntou Yoongi sorridente.

- Pobre Yoongi, não seja tão iludido.