Acordei depois de um pesadelo e vi que eram 5h30 da manhã. Eu havia sonhado com Pam e com John, ele estava a agredindo e eu não conseguia fazer nada a respeito, não conseguia me mover. Depois de refletir um pouco tentei voltar a dormir, mas algo me dizia que eu não iria conseguir. Eu precisava de Pam por perto.
- O que foi que eu fiz? – digo com uma pesada frustração na voz.
Levando-me lentamente e visto meu robe, calço chinelos e pego a chave da casa, desço as escadas e logo estou na porta do prédio de Pam, uso a cópia que tenho e abro lentamente a mesma e subo as escadas na ponta dos pés até chegar em seu apartamento, testo a maçaneta e a porta está aberta.
Entro devagar ao meio do breu e vejo apenas a luz vindo do quarto e do banheiro.
- Pam? – chamo baixo esperando uma resposta e tudo que recebo é um barulho do banheiro – Sou eu, Paul – digo.
Caminho na direção do banheiro e ao entrar na porta a encontro, tomando um susto enorme.
Suas mãos estavam ensanguentadas como o contorno de seus lábios, seu olhar estava assustado e arregalado como se não estivesse sabendo o que estava se passando.
- Pam... – falo com desespero na voz – Meu Deus.
- Eu... Eu não sei o que está acontecendo. Me ajude, Paul... – sinto a súplica em sua voz.
Antes que eu entrasse em desespero, peguei uma toalha velha que estava pendurada na banheira e a peguei no colo, a carreguei até o carro e voei para o hospital. No caminho, enquanto ela limpava as mãos e a boca, contou que teve uma tosse forte e que quando olhou sua mão estava tossindo sangue sem falar nas fortes dores no abdômen.
Chegamos ao hospital e logo a levaram para a observação.
O dia amanhecia lentamente enquanto eu andava de um lado para o outro na tentativa de disfarçar meu desespero, não conseguia me sentar e só bebia água. Comecei a roer a ponta dos dedos e quando meu dedão estava quase em carne viva um médico aparece.
- Acompanhante de Pamela Davies! – anuncia e eu não vejo meus passos até o doutor.
- Me diga por favor, o que está acontecendo – cuspo as palavras tentando parecer contido.
- Bem, senhor McCartney, nós apuramos a bateria de exames feitas em Pamela e os resultados não são muito bons... – seus lábios formam uma linha fina enquanto se franzem.
- O que ela tem, doutor? – pergunto quase implorando pela resposta.
- Câncer, senhor McCartney, Pamela está com um câncer no pulmão num estado não muito bom – suas palavras demoram a fazer sentido e quando fazem sinto-me como se houvessem me atirado no chão com uma força absurda.
- E... Tem como reverter? Por favor, doutor – sinto meu corpo anestesiado.
- Nós vamos fazer o possível, mas por enquanto ela vai ter que ficar aqui...
- E eu posso vê-la?
- Agora não, ela está passando por mais alguns exames e está adormecida, eu aviso o senhor quando puder – ele dá um breve sorriso sem mostrar os dentes – Com licença.
Ele se retira e eu fico no mesmo lugar por alguns minutos, sem lembrar como movimentar meus os músculos.
Quando crio confiança em meu corpo, me locomovo até uma das cadeiras e me sento. Fico ali, sem saber no que pensar além de o que eu podia ter feito para prevenir essa situação, coisas como cuidar dela vinte e quatro horas por dia, ter cuidado o cheiro de suas roupas, quem sabe tê-la conhecido antes. E pensando, pensando passei a manhã e uma parcela da tarde no mesmo lugar. Sem encontrar uma saída.
Perto das 15h, o médico me chama para o quarto onde encontro Pam ainda adormecida e ele explica que é devido aos medicamentos. Depois de verificar algumas coisas, ele se retira e nos deixa a sós.
Me aproximo de sua cama, está dormindo tranquilamente, perdida em sonhos que espero serem bons, seguro com força sua mão e com a outra acaricio seu rosto que parece mais pálido ainda por estar pegando tanta claridade.
- Me desculpe – sussurro com pesar – Eu sei que somos iguais, mas tudo que eu queria é que algo como isso não acontecesse... – deito-me em seu peito e o sinto subir e descer lentamente junto com as batidas de seu coração – Espero que me perdoe, sweetie.
E depois de alguns segundos, sinto sua mão apertar a minha. Levanto minha cabeça de seu peito e fico olhando-a se me mexer e abrir os olhos com um pouco de dificuldade.
- Me chamou? – ela fala com a voz rouca ainda um pouco sonolenta, mas com um pequeno sorriso nos lábios.
- Na verdade sim, para me desculpar – digo.
- Está tudo bem... Eu também lhe devo desculpas...
Abro um leve sorriso e em alguns minutos de conversa com ela esqueço do abismo que estou próximo. Até que tudo volta novamente.
- O doutor falou que disse a você o que aconteceu essa manhã... – ela fala tranquila e eu quero abraçá-la e protegê-la de tudo.
- Na verdade, é... o que vem acontecendo – falo num tom sério – Você está com o início de um câncer no pulmão – digo rapidamente – Mas o médico falou que fará de tudo para reverter, fique tranquila – falei ao sentir suas pérolas azuis crescerem sobre mim.
- Eu... – ela começa, inconsolável – Você estava certo o tempo todo – diz.
- Eu sempre quis o seu bem – volto a segurar sua mão – E ainda quero, tudo vai ficar bem.
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Uma semana se passou, avisei ao meu chefe que trabalharia apenas durante a manhã e passo os dias indo logo após o almoço vou para o hospital ver Pam que quase sempre está dormindo mas acorda sempre perto das 13h30. Sua nova terapeuta começou essa semana, então como ela cansa mais rápido, dorme até as 14h e bem, eu fico no quarto esperando ela acordar.
Sempre saio de lá perto das 22h que é o horário que termina o período de visita e vou para casa jantar e dormir.
Admito que não tenho me alimentado bem, mas almoçando e jantando já é o que vale, tudo que eu queria era passar o máximo de tempo possível com Pam.
Comprei uma máquina fotográfica também a qual eu sempre tiro fotos de Martha(que estava cada vez maior e peluda) para que ela veja o quanto nossa filha de pelos está crescida e ela adorava. Sem falar das flores que eu sempre “roubava” da floricultura para presentear ela.
E assim eu estava levando minha vida: trabalho, hospital, casa.
Mas apesar de Pam e eu estarmos cada vez melhores, os resultados da terapia não eram muito empolgantes, Pam não estava reagindo e estava triste com a perda dos cabelos.
Em uma tarde, quando Pam havia a recém acordado, eis que a enfermeira aparece no quarto.
- Pamela a senhora, tem uma visita – ela diz e Pam me olha.
- Você sabe de alguma coisa? – pergunta para mim.
- Não – ergo os ombros.
E então parado na porta, vestindo uma camisa branca e calças sociais está John Lennon com um belo buquê em mãos.
Olho para ele imediatamente com certa desconfiança. Ele estava aparentemente calmo, como o John que eu havia conhecido há alguns anos.
- Desculpa incomodar – fala num sussurro procurando pelo chão um ponto para olhar – Q-quando saí, - ele pigarreia meio sem jeito - Ringo me contou o que estava havendo e senti que aqui era o primeiro lugar que deveria vir – ele ergue o olhar e olha para Pamela pacificamente, o que me alivia dos pés à cabeça.
Esse era mesmo o John que eu havia conhecido.
Então ele se aproximou com certa cautela e entregou as flores à ela, que as alcançou e sorriu sentindo o aroma delas.
- São muito bonitas, John. Obrigada. – ela agradece entregando-me e eu coloco em um vaso perdido e aviso que vou encher de água. Senti que precisava deixá-los sozinhos.
Saí do quarto e fui ao bebedouro mais distante e enchi boa parte do vaso, voltei lentamente e quando abri a porta, John estava rindo junto de Pam. Coloquei as flores no vaso e ao guardá-lo no balcão, senti a mão de John em meu ombro.
- Eu te devo todas as desculpas do mundo – ele diz – Espero que me perdoe pelo que fiz, Paul.
- Está tudo bem, cara – sorrio e o puxo para um abraço – Fico feliz de vê-lo assim de paz com si mesmo.
- Não sabe o alívio que isso me traz – ele sorri – Agora tenho que ir, até mais – e deixa o quarto.
- Eu estou espantada com a melhora dele... – Pam fala ainda olhando para a porta que John a pouco tempo fechou.
- Você acha que foi a cadeia que o trouxe de volta ao normal? – pergunto.
- Não, ele me contou que estava usando drogas pesadas, mas não falou quais e que foi para a reabilitação depois de ficar algumas semanas na cadeia. Na verdade, ele ainda está indo, mas pediu para sair para vir nos ver – explica.
Fico surpreso e sinto um forte aperto no coração por John, ele sempre foi meu amigo e eu não notei sua mudança de comportamento se não poderia ter ajudado antes, mas me sinto feliz por vê-lo tentar ficar limpo.
Conversamos mais um pouco sobre John e logo depois uma dúvida pairou em minha cabeça.
- E Cecily, Sabe o que está havendo com você? – franzo o cenho – Já que ela é sua melhor amiga.
- Ela sabe – fala rapidamente.
- E não veio visitar você?
- Veio.
- Quando?
- Pela manhã...
Penso que pela manhã ela tem terapia mas decido deixar para lá.
Passamos o resto da tarde conversando e assistindo um pouco de televisão.
E as 22h, eu me despeço e volto novamente para a casa.
Acordo de madrugada, mais ou menos 3h com batidas apressadas na porta. Levanto com pressa e corro até a porta, quando a abro encontro um John esbaforido de cabelos bagunçados me olhando com desespero, fico estático.
- Paul, me ajude. Eu acho que estou tendo uma crise de abstinência – ele fala com a voz falhada – Me ajude, por favor.
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