Jessica-
O relógio marcava 15:30 da tarde. Eu estava sentada em uma confortável cadeira em frente a uma mesa de escritório repleta de livros grossos e porta retratos de Kim Hyoyeon e uma garota um pouco mais nova que ela, o que eu constatei ser sua irmã mais nova, Lisa que morava no exterior. Já fazia mais de meia hora que eu tinha chegado no hospital, mas como minha pequena visita não foi algo programado, Hyoyeon se encontrava um tanto ocupada atendendo aos seus pacientes e pediu que eu esperasse um pouco para que pudéssemos conversar.
Na verdade eu não sabia se deveria estar aqui, talvez meus pensamentos estejam errados mas eu precisava saber, precisava ter uma confirmação do que estava acontecendo. Na noite em que dormi com Taeyeon, algo parecia diferente, errado e eu sabia que não era só uma simples impressão minha. Eu conheço Taeyeon a minha vida toda, desde que me entendo por gente ela estava ao meu lado. Sei seus gostos, hábitos, as comidas que lhe agradam, o jeito como mexe no cabelo quando esta tímida ou com vergonha, conheço seus tocs por limpeza, enfim. Eu realmente a conheço de trás para frente e posso dizer com toda a certeza do mundo que a Taeyeon que dormiu comigo não foi a mesma que acordou ao meu lado de manhã.
Taeyeon era o tipo de garota que ia com calma. Antes de Tiffany aparecer em nossas vidas, Taeyeon e eu nos beijamos e faziamos caricias uma a outra frequentemente, ela sempre foi delicada e fofa. Seus toques me traziam carinho, proteção e tranquilidade mas naquela noite Taeyeon se portou de forma diferente, ela estava mais afoita e grossa. Primeiro eu pensei que fosse apenas pelo calor do momento mas o que aconteceu em seguida foi algo que me deixou assustada.
Naquela noite ela me beijou e eu nunca fui tão feliz, minha mente cheia de ilusões me deu uma faísca de esperança. Eu pensei; talvez agora Taeyeon me enxergue como mulher, talvez agora ela entenda finalmente que eu sou a única que pode faze-la feliz sem que ela se machuque. Porém, mais uma vez eu estava errada. Ela não estava me beijando porque sentia algo por mim, Taeyeon estava me beijando porque precisava descontar sua raiva em alguém e naquele momento eu era esse alguém.
Em um minuto estávamos nos beijando calmamente e de forma carinhosa, no outro eu estava sendo levada ao quarto dela com rapidez e jogada em sua cama de forma brusca como uma qualquer. Seu beijo ficou afoito me deixando sem ar, seus dentes mordiscavam os meus lábios com força, fazendo um pequeno rasgo e deixando escapar um fio de sangue pelo meu queixo. Seus braços me prendiam contra a sua cama e apertavam meus pulsos com força, fazendo minha pele alva ficar marcada por suas mãos e me deixando totalmente imóvel no lugar. Aquilo estava me incomodando e mais do que isso, estava me machucando. No começo eu realmente pensei não ser nada demais, mas quando pedi que ela fosse com mais calma, ela sorriu pra mim. Um sorriso doentio e malicioso que me fez arrepiar de súbito. Eu não conhecia aquela mulher, eu não sabia quem estava por trás dela, mas não era a Taeyeon.
“Cale essa boca, Tiffany.” Ela disse irritada, apertando suas mãos ainda mais em meus pulsos me fazendo gemer de dor. Eu estava assustada, confusa e preocupada. Meu coração batia tão rápido quanto o ar entrava nos meus pulmões. Taeyeon tinha me chamado de Tiffany e não se corrigiu em momento algum depois disso. O que se passava em sua cabeça? Porque seus olhos demonstravam tanta raiva? Pedi a ela que parasse mais uma vez, “Sou a Jessica. Tae, pare. Está me machucando” Gritei, mas ela continuou. Seus lábios quentes percorreram a pele do meu pescoço, descendo ao meu abdômen até finalmente terminar em minhas coxas. Seus dentes deixaram marcas roxas e rosadas por toda parte. Ela continuava dizendo “Você merece isso, Tiffany. Merece ser tratada como uma vadia de merda.”
Lagrimas caiam do meu rosto, mas ela continuava. Em uma hora me virava de bruços e desferia fortes tapas na minha bunda, deixando ela da mesma cor em que deixou os meus pulsos. Na outra, sussurrava palavras sujas ao meu ouvido sempre me chamando pelo mesmo nome. O nome da outra. Taeyeon estava com tamanha raiva e força que eu mal conseguia me debater e tentar me defender ou revidar de alguma forma. Eu estava tão decepcionada por estar na cama dela, prestes a me entregar, cheia de esperanças sobre nós duas enquanto ela só sabia me machucar, tanto física quanto psicologicamente.
Taeyeon me tocou aquela noite, me fez dela como eu já sabia que faria. Mesmo com minhas lagrimas, minhas súplicas e os meus gemidos de dor, ela não exitou em nenhum momento e eu já não tentava mais evitar seu contato, sei que não conseguiria diante da sua força. Aquela não era Taeyeon, eu não conheço essa mulher. A minha consciência continuava dizendo a mim mesma. Quando tudo finalmente terminou, eu estava exausta, sonolenta, fraca, dolorida e muito mais assustada que antes. Ela me mostrou um lado tão sombrio que eu mal pude me mexer com tamanho pavor. Eu já estava prestes a tentar sair da cama para ir embora, queria correr pra longe daquela mulher que não se parecia em nada com a Taeyeon que eu amo. Foi quando ela segurou o meu braço, dessa vez não de um jeito grosso e firme mas de uma maneira delicada e meiga como antes.
Eu a olhei nos olhos e ela estava confusa, Taeyeon olhava meu corpo de cima a baixo. Observava cada hematoma, cada tom de roxo que ela deixara em mim com pavor. Seus olhos se encheram de lágrimas e desespero, ela não sabia o que tinha acontecido, não sabia o que tinha feito. Sua mente perturbada achou que a resposta para aquilo era de que alguém mais tinha feito aqueles hematomas em mim, não ela. Eu achei que Taeyeon estava tentando me enganar, que estava fingindo ser como era antes só para depois disso me machucar outra vez e suprir suas necessidades doentias, mas quando a ouvi, sua voz doce e calma chamar por mim, eu sabia. Taeyeon, a minha doce Taeyeon voltara depois de quase uma hora fora da sua própria mente.
— Jessica, a que devo a honra da sua visita? Esta se sentindo bem? - Fui interrompida dos meus pensamentos por Hyoyeon que finalmente adentrava a sua sala para que pudéssemos conversar. Só quando ela me encarou de forma confusa que eu percebi que meus olhos estavam cheios de lagrimas. Aquela noite nunca sairia da minha cabeça.
— S-Sim, estou. Preciso perguntar algumas coisas, Hyoyeon. - Eu falei limpando as lágrimas rapidamente e ela assentiu interessada. — Depois de anos em coma, uma pessoa pode adquirir problemas psicológicos? - Ela pareceu surpresa com a pergunta e então sua feição mudou para preocupação.
— Está falando de Taeyeon? o que ela tem? - Ela disse rapidamente, parecia realmente preocupada.
— Taeyeon está bem, digo fisicamente. Eu só… estou preocupada com ela. - Eu não queria confessar a Hyoyeon sobre os meus pensamentos quanto a Taeyeon mas se não fosse assim a médica não poderia me ajudar.
— O que aconteceu, Jessica? - Hyoyeon adquiriu uma postura séria. Respirei fundo e tratei de contar.
— Acho que… Taeyeon pode estar com amnésia ou talvez, dupla personalidade... Ou até com o próprio Satã dentro dela, eu não sei mais. - Suspirei irritada. Eu não sabia o que Taeyeon tinha e não sabia como explicar o que aconteceu comigo para Hyoyeon. Era algo muito pessoal.
— Está me dizendo que Taeyeon teve comportamentos fora do comum? - Perguntou.
— Sim, acho que posso dizer que sim. Ela fez coisas que eu nunca pensei que ela pudesse fazer e logo depois parecia confusa e não sabia o que tinha acontecido. - Tentei explicar da melhor forma possível. Hyoyeon andou até uma estante de livros presa a parede da sala. Ela retirou um grande livro de lá e começou a folhear o mesmo em sua mesa. Balbuciava e sussurrava frases desconexas e sem relevância pra mim.
Me lembrei de quando acordei de manhã e me deparei com Tiffany nos olhando decepcionada. Não que eu me importasse com seus sentimentos mas aquilo me partiu o coração de uma forma inexplicável. Ela não fazia ideia do monstro que vivia dentro de sua amada. Se Tiffany soubesse, será que ainda lutaria por Taeyeon? Depois do que ela viu, acho que não as veria juntas por um longo tempo.
— Essa foi a primeira vez que você percebeu algo estranho nela? - Ela perguntou enquanto ainda folheava o grande livro.
— Sim… quero dizer, eu nunca a vi daquele jeito. Tão… transtornada.
— Jessica, você precisa me dizer como foi, o que aconteceu? - Mais uma vez aquela pergunta. Eu realmente não queria contar a Hyoyeon o quanto Taeyeon tinha me machucado. Pra mim aquilo não tinha sido de propósito mas se isso chegasse aos ouvidos de Choi Sooyoung, Taeyeon estaria em maus lençóis.
— Não posso dar detalhes, Hyoyeon. Foi algo muito íntimo pra mim. Só posso dizer que ela não parecia ser a Taeyeon que conhecemos. - Ela suspirou pesadamente derrotada.
— Não posso diagnosticar nada, primeiro porque ela não está aqui e segundo porque não sou especialista no assunto. Você precisa levá-la a uma psicóloga. - Ela parecia irritada por eu me recusar a dar detalhes sobre o episódio sombrio da menor. De qualquer forma Hyoyeon também não estava me ajudando com aquela resposta.
— Sabe que depois de dois anos presa em uma cama de hospital, Taeyeon não vai querer ver um médico por muito tempo. - Falei irritada.
— Se ela te fez algo sério como eu acho que fez. - Ela olhou fixamente para o meu pulso, ainda vermelho da noite anterior. Por mais que eu tentasse disfarçar com pulseiras e um casaco de mangas longas, aquele avermelhado não passou despercebido pela médica loira. Tratei de enterrar meus pulsos ainda mais por dentro das mangas grossas do casaco. — Ela vai querer descobrir o que tem, e como pode ser tratado. - Engoli em seco, Hyoyeon parecia saber de algo.
— Com os poucos detalhes que te dei, você pode me dar uma ideia do que acha que ela tem? - Perguntei receosa. Eu tinha medo da resposta, não queria que as minhas teorias se confirmassem.
— Não posso. Como você mesma disse, tenho poucos detalhes. Pode ser qualquer coisa, apenas um especialista pode te dar um diagnóstico preciso. - Suspirou. — Posso te indicar uma psicóloga amiga minha especialista em transtornos mentais, Kim Seolhyun. Se levar Taeyeon até ela, logo terá todas as respostas de que precisa. - Eu acenti. Eu não tiraria nada de Hyoyeon sem que eu tivesse que ceder e contar sobre aquela noite. O que no momento, não aconteceria. Agradeci a Hyoyeon pela ajuda com um aceno e estava me movendo até a porta de saída quando fui interrompida por sua voz.
— Jéssica… só tenha cuidado, está bem? Sei que você tem sentimentos por Taeyeon, mas se ela está agindo de forma diferente e… - Ela fez uma breve pausa. — Perigosa pra você. Precisa se afastar dela até saber o que ela tem. - Engoli em seco. Perigosa, ela disse. Nunca pensei que essa palavra caberia a Kim Taeyeon.
Eu acenei com um sorriso fraco, não fazia ideia de como traria Taeyeon até o hospital e morria de medo das minhas teorias estarem realmente certas. Se Taeyeon tivesse mesmo um transtorno psicológico eu me culparia por ele pelo resto da minha maldita vida. Eu precisava fazer com que ela fosse curada, precisava fazer algo sobre isso.
Foi assustador ver a face sombria de Taeyeon lutar contra ela mesma para assumir o controle. Eu a olhava e só podia sentir medo. Naquela noite, depois do seu episódio sombrio, eu tentei manter Taeyeon dentro e no controle de si mesma. Ficamos conversando pela madrugada toda, ela me perguntou o que tinha acontecido e eu menti dizendo que tínhamos tido uma noite maravilhosa. Como eu queria que as minhas mentiras se tornassem verdade. Taeyeon pareceu desconfiada mas eu era bastante persuasiva quando queria. Convenci ela do que tínhamos feito e em questão de minutos ela finalmente caiu no sono. Eu rezava para que de manhã ela não se lembrasse de muita coisa.
Eu podia aproveitar aquele momento para ir embora, para fugir dela como minha consciência me aconselhava a ir. Eu tinha uma Taeyeon calma ao meu lado, dormindo como uma criança mas sabia que o outro lado dela podia voltar em pouco tempo. Mesmo assim eu escondi meu medo e a minha preocupação e me deitei ao lado dela, agarrando o seu corpo com força como se ela pudesse ir embora a qualquer segundo. A abracei como se fosse o nosso último abraço e sussurrando ao seu ouvido prometi para ela e para mim que eu a protegeria de si mesma, mesmo que isso custasse destruir a mim.
Eu realmente esperava que Tiffany tivesse desistido de Taeyeon depois do que viu, se ela continuar insistindo nesse amor, ela não faz ideia do quanto irá sofrer nas mãos doentias da personalidade sombria da Tae. Eu vi naqueles olhos negros todo ódio que ela supria pela Hwang, sabia que o que ela fez comigo seria brincadeira de criança comparado ao que ela faria com a Tiffany verdadeira. Eu fui apenas uma substituta, um brinquedo para os seus joguinhos. Com Tiffany tudo seria bem pior do que foi comigo.
Eu me perguntava se deveria conversar com a Hwang sobre o que realmente aconteceu naquela noite mas também sabia que dificilmente ela me ouviria. A garota deve estar tão possessa de ódio e tristeza que se eu fosse a sua casa agora ela provavelmente me mataria com as próprias mãos, sem me dar chances para uma explicação. O que está acontecendo com você, Jessica? Porque se preocupa com o que a Hwang pensa ou deixa de pensar sobre você? Queria saber da onde surgiram esses sentimentos de “proteção” pela Hwang que volta e meia apareciam em mim. Bem, não importa agora, não vou contar a Tiffany o que aconteceu, não antes de levar Taeyeon a um medico e descobrir de uma vez o que ela tem.
Yuri-
Meus tiros eram precisos e acertavam o alvo com maestria. Eu era realmente boa naquilo que fazia, passava a maior parte do tempo dentro do estande de tiros do meu pai, atirando e descontando a minha raiva em algo produtivo para mim. O grande protetor de ouvidos abafava bem o som estridente da bala da arma explodindo em direção ao alvo mas eu ainda o conseguia ouvir perfeitamente. Eu adorava o som e me sentia satisfeita com os buracos de balas em todo o alvo.
Existiam exatamente três alvos com a silhueta de uma pessoa. O primeiro alvo estava totalmente rasgado, cheio de furos no que deveria ser sua cabeça ou a foto da cabeça de Kim Taeyeon. O segundo tinha vários tiros certeiros em seu peito, onde deveria ser seu coração, algo que me deu um pequeno sorriso nos lábios, parecido com um eye-smile igual ao da foto da Tiffany que estava pendurada nele. Mas existia uma coisa que me incomodava no terceiro alvo. Não conseguia acertar nenhum tiro nele, todos os tiros foram errados, era como se minha mão se inclinasse para lados opostos ao alvo, como se eu nunca tivesse aprendido a atirar corretamente. A bala nunca chegava ao seu destino como nos outros, afinal aquele alvo era diferente, existia a foto de Jessica, seu olhar frio e seu sorriso pequeno, deixavam o meu corpo rígido e pesado, meu coração batia mais forte e minha mente saia de sintonia. Pensamentos não me deixavam acertar nem uma bala sequer em seu corpo feito de papel. E eu me odiava por isso.
— Está treinando para me matar? - Ouvi uma voz tão familiar pra mim e senti meu coração bater mais rápido, até um pouco desesperado eu diria. Não precisei me virar para ela, eu sabia quem era.
— Mesmo se eu quisesse, não conseguiria atirar em você. - Falei firme, aquela frase parecia amarga na minha boca, era difícil admitir mas era a mais pura verdade. Jessica tinha total controle sobre mim, eu nunca poderia atingi-la nem se eu quisesse. Ela riu, um riso soprado e frio.
— Mas matar Tiffany ou Taeyeon está tudo bem, não é? - Perguntou e eu continuei de costas para ela, com a arma apontada para o seu alvo, mas não conseguia puxar o gatilho.
— Elas merecem. Taeyeon me culpou por algo que eu não fiz. - Disse entre dentes.
— Não fez naquela época, mas tentou fazer dois anos depois. Tem diferença? Você é uma assassina de qualquer jeito Kwon, não deveria estar tão ofendida. - Falou se aproximando, seus olhos sempre sobre mim.
— Não sou uma assassina, Jéssica. - Me virei bruscamente para ela, ainda com a arma em punho, mas ela não parecia ter medo. Eu odiava o jeito como ela tinha poder sobre mim, odiava o jeito como me julgava. Ela nem ao menos me conhecia o bastante para isso. Apesar de eu ter dado todas as chances disso acontecer anos atrás. — Eu queria que Taeyeon morresse sim, mas eu não a mataria diretamente.
— Ah, sim. Você usaria alguém ligado a ela para fazer o trabalho por você e não sujar suas limpas mãos. Isso não é ser assassina pra você? Pra mim é. - Seus olhos estavam em mim, me julgando por coisas que eu nem tinha feito, aquilo me irritava.
— Ainda não matei ninguém, portanto não sou uma assassina, por mais que você pense o contrário. - Abaixei meu tom de voz mas o que eu queria mesmo era gritar. Olhei para o seu rosto e corpo fixamente. Jessica tinha vindo até mim, o que ela realmente queria? Eu sabia que não era uma reconciliação. — O que você quer?
— Quero que as deixe em paz. Você já causou problemas demais, Yuri. Não percebe isso? - Suspirou, ela parecia cansada.
Jessica nunca entenderia que o motivo de eu fazer tanta coisa ruim com Taeyeon e Tiffany era pelo simples fato dela ter brincado comigo por tanto tempo. Eu estava obcecada por ela, admito. Jessica era tudo o que eu conseguia pensar durante o dia e imagina-la com outra me deixava a flor da pele. Eu quis matar Taeyeon, eu quis matar até a própria Tiffany só para atingir a Kim e faze-la pagar por ter me tirado quem eu tanto queria, mas algo sempre dava errado, eu era parada pela minha consciência e o meu medo de aquilo me afastar ainda mais de Jessica, que era quem eu mais queria.
Que Droga! Ela não percebia o quanto eu a amava? ela não conseguia ver quanta coisa eu já fiz e faria apenas para ter o meu amor retribuído de alguma forma? Eu odiava ser dependente de alguém que não dava a mínima pra mim, mas eu era. Se isso era uma doença, eu infelizmente ainda não encontrei a cura e talvez nunca a encontre. O meu único remédio é Jessica Jung e não tenho certeza de que ele possa um dia estar disponível para mim.
Eu a quero tanto que o meu corpo dói, minha mente entra em curto e só o que eu consigo sentir é raiva por não poder tê-la. Por isso faço as merdas que faço, para descontar a raiva, para me sentir viva de alguma forma, para me sentir vingada pelo o que ela me causou. Droga de amor, ou seja lá o que isso for. Eu odeio sentir tanto por ela e não receber um mísero sorriso. Pelo contrário, só recebo acusações e ódio. Nada mais que ódio.
Gostar de Jessica era como pagar por tudo o que fiz com outras garotas que já sentiram algo por mim um dia. Eu a amava e ela me esnobava e para ter sua atenção eu fazia aquilo que fazia. Causar confusão, esse era o meu dom. O que mais me irritava em tudo isso era que eu amava alguém que amava outro alguém que não a amava. Dá pra ser mais ferrada que isso? Se Taeyeon ao menos gostasse de Jessica e ela fosse feliz, talvez eu me sentisse no dever de deixa-la viver em paz, mas droga, Taeyeon não sentia merda nenhuma por Jessica. A castanha era apenas uma prima e nada mais que isso. Jessica continuava insistindo em uma coisa que nunca, eu disse NUNCA traria felicidade a ela. Se a vida toda sendo criadas juntas não fez Taeyeon se apaixonar pela prima, o que a faz pensar que agora depois de anos isso iria mudar?
Jessica era idiota, achava que poderia transformar Taeyeon e faze-la gostar dela como Taeyeon gosta de Tiffany, mas isso é impossível, ela nunca poderia fazer algo assim. Infelizmente Jessica não era a única idiota desse sombrio triângulo amoroso, oh não. Nós duas compartilhamos da mesma burrice. Em minha mente transtornada eu ainda achava que poderia mostrar a ela que a amava e que um dia quando ela finalmente desistisse de Taeyeon, poderia me amar. No fundo eu sabia que isso nunca aconteceria mas minha mente não chegava a um acordo com o meu coração, que batia desesperadamente toda vez que a via, toda vez que ouvia o som da sua voz. Eu só queria que ela fosse minha. Deus, isso é pedir muito?
Tiffany e Taeyeon, assim como Yoona e Seohyun devem achar que eu sou realmente louca, insana. E elas tem razão, mas eu não fui sempre assim. Antes de conhecer Jessica eu era a pessoa mais sã que poderia existir nesse país. Eu me divertia, uma festa diferente todos os dias da semana, baladas, bebidas e muitos amigos. Era uma vida boa, de que eu nunca reclamei. Eu nunca em minha vida tinha sofrido por gostar de alguém que não me queria, eu nem sabia que aquilo poderia acontecer comigo um dia. Era eu quem causava dor nas pessoas, era eu quem as rejeitava quando estava enjoada demais delas, mas isso tudo mudou quando eu a vi.
Em uma linda noite, eu fui ao seu restaurante, um dos melhores em Seul. Estava acompanhada por algumas garotas e alguns rapazes amigos meus. Jessica era a chef, trabalhava sempre atrás das grandes portas da cozinha, quase nunca era vista do lado de fora. Me lembro que estávamos degustando a incrível comida do restaurante quando me reconheceram como a filha do governador de Seul. Foi a maior confusão, odiava quando isso acontecia mas tinha lá as suas vantagens ser tão conhecida na cidade e essa vantagem era ter tantas garotas atrás de mim, mas naquela noite nenhuma delas pôde ofuscar a imensa beleza de Jessica Jung, que ao saber que eu estava em seu restaurante veio até mim para me comprimentar. No momento em que nossos olhos se cruzaram eu fiquei atônita à sua presença. Ela estava vestida com seu dolmã branco de chef, com pequenos detalhes nos botões em preto, uma calça jeans escura, e seu chapéu da mesma cor. Seu rosto tinha alguns vestígios do que me parecia ser farinha de pão, me lembro que aquilo me fez sorrir e me perguntar como uma mulher podia ser tão linda com o rosto sujo de farinha. Eu não conseguia me mexer, nem dizer uma palavra. Podia ouvir sua voz e ver sua mão estendida para mim, afim de me dar um aperto de mãos mas eu estava hipnotizada pelo seu sorriso. A partir daquele segundo em que nossas mãos se encontraram, eu sabia que nunca mais poderia deixa-la ir. Jessica tinha se tornado a minha vida e eu sabia que sem ela nada mais teria sentido.
— Sabe porque causei tudo isso, não sabe? - Falei, minha voz baixa, minha boca ainda estava amarga. Eu me sentia uma criança perto dela, me humilhando e suplicando por um pouco de atenção, por um pouco de amor.
— Ah, por favor! Não venha com essa de que a culpa é minha. Eu não te amo, Yuri. Entenda isso de uma vez. - Senti meu coração doer mais uma vez, ela dizia aquilo com tanta simplicidade e tamanha facilidade. Eu a invejava, queria ser capaz de dizer o mesmo mas não era. Aquilo ia além de mim.
— Ah sim, você ama a Taeyeon. Aquela que não sente absolutamente nada por você. - Ela suspirou irritada. — Queria ser assim como você, apenas não sentir e não pensar em você. Esse é o meu maior desejo, Jessica. Não te amar é o que eu mais quero, mas eu te amo droga! E eu não posso controlar isso, será que você não entende? - Senti meus olhos marejados, eu estava prestes a chorar na sua frente, não posso dizer que essa seria a primeira vez. Lágrimas não eram o tipo de coisa que amolecia o coração de uma Jung. Disso eu sabia.
— Porque me ama, Yuri? De todas as pessoas que você poderia ter se apaixonado, porque logo eu? - Ela perguntou não de um modo agressivo como das outras vezes mas em um tom baixo e suave.
— Em toda a minha vida eu nunca acreditei nessa coisa de amor e de estar apaixonada por alguém. Pra mim, isso era apenas um mito, uma história de conto de fadas, mas então você apareceu, surgiu do nada com esse sorriso, com esses olhos e meu Deus. Foi como se faltasse algo importante em mim e só você pudesse me preencher. Toda a felicidade que eu achei que tivesse antes de te encontrar não era nada comparada ao que eu senti quando te vi sorrir pela primeira vez. Eu viajei para todos os cantos desse país e do mundo, conheci tantas pessoas que mal lembro os nomes mas nunca conheci alguém como você… Alguém que fizesse minhas pernas tremerem, alguém que fizesse meu coração bater tão desesperado e depressa, alguém que me fizesse feliz com apenas um sorriso, alguém que me enchesse de amor com apenas um olhar. A partir daquele dia eu só enxergo você, Jessica. - Eu tentei me expressar da maneira mais clara possível. Jessica agora tomava uma postura surpresa com o que eu disse.
— Yuri, e-eu… - Ela começou mas não conseguiu terminar a frase. Seus olhos se fecharam e suas pernas fraquejaram e cederam, se eu não fosse rápida o suficiente o corpo de Jessica encontraria o chão. Segurei ela nos braços antes que ela caísse, ela parecia fraca e sonolenta o que me preocupou bastante.
— Jessica, você está bem? - Perguntei me sentando no chão e tendo ela sentada em meu colo. Observei todo o seu corpo procurando algo que me desse uma pista do que estava acontecendo. Ela abriu os olhos ainda um pouco perdida.
— Eu… E-Eu estou bem, só não dormi direito essa noite. Preciso descansar é só isso. - Falou rapidamente, senti ela se remexer um pouco em meus braços e seus olhos castanhos se fixaram nos meus. Só ai percebi que nossos lábios estavam a poucos centímetros um do outro e isso a deixou nervosa.
Eu poderia me afastar dela, eu sabia que não era o desejo de Jessica me beijar agora, mas meus instintos, meu desejo por ela foi maior. Seus lábios estavam perto demais para que eu desistisse, era tarde demais. Eu me aproximei dela, acabando com os centímetros que ainda faltavam e a beijei carinhosamente. Nossos lábios apenas encostaram um no outro, sem nenhum movimento, mas foi o suficiente para que eu sentisse o meu peito explodir em felicidade. Foram apenas minutos, talvez até segundos mas foram os segundos mais perfeitos da minha vida. Jessica deixou os meus lábios suavemente, voltando a me encarar, seu olhar era indecifrável. Quando a beijei achei que levaria uma bifa na cara e um empurrão logo em seguida, como acontecia quase todas as vezes em que eu tentava tocar seus lábios mas dessa vez ela só me olhava de forma curiosa e eu não tinha coragem de mexer nenhum músculo com medo de que aquela troca de olhares terminasse.
Jessica piscou seus olhos e fez menção de que queria se levantar, eu a ajudei e logo estávamos em pé novamente. Com seus olhos ainda me analisando, eu só queria saber o que ela estava pensando.
— Você devia deitar um pouco e descansar por algumas horas pelo menos, parece exausta. Pode ficar no meu quarto ou no quarto de hospedes se preferir. Prometo que não vou te incomodar. - Eu falei, quebrando o silêncio entre nós. Ela estava surpresa mais uma vez com o que eu disse. Será que Jessica realmente pensava que eu era um monstro que só pensava em matar Taeyeon e me vingar dela? Aquele pensamento me entristeceu um pouco. Eu estava realmente preocupada com Jessica, ela não parecia bem. Algo estava a incomodando.
— Yaah! O que pensa que eu sou? Você quer que eu fique no seu quarto para se aproveitar de mim. - Ela gritou me dando alguns tapas no braço e fazendo um bico nos lábios logo depois. É normal achar aquilo lindo? Eu achava. Sorri para ela e tratei de me explicar mas ela espalmou as mãos na minha frente fazendo sinal de que não queria saber. Suspirei. — Eu preciso ir, e você… Por favor pare de ir atrás de Taeyeon ou Tiffany, ok? Eu vou pensar em um jeito de fazer Taeyeon retirar o que disse sobre você. Só… confie em mim e não faça mal a elas. - Eu estava um pouco confusa, Jessica mudou seu comportamento em pouco tempo de conversa. Ela não estava mais me atacando, pelo contrário. Estava me tratando normalmente e sem acusações ou julgamentos. Essa é a verdadeira Jessica Jung? Ela realmente não estava bem.
— Não posso dizer que não vou mais atrás de Taeyeon ou de Tiffany. Elas me acusaram e eu não serei presa por causa delas. - Afirmei, eu não estava muito certa de que aquela Jessica nova à minha frente estava falando a verdade.
—Kwon, você não ouviu o que eu acabei de dizer? Eu vou consertar as coisas mas você precisa ficar quieta e não fazer mais merda, entendeu? - Ela disse entre dentes me fazendo pensar em sua proposta. Talvez eu deva confiar nela, se Jessica conseguir que Taeyeon volte atrás na sua acusação, acho que eu poderia deixar Hwang e Kim em paz por um tempo.
Eu apenas balancei lentamente a cabeça em afirmação, mostrando que eu tinha entendido e ficaria quieta pelos próximos dias, mas meus olhos estavam fixos em um determinado lugar de seu corpo. Seu pescoço. Jessica tinha uma mancha roxa no pescoço, apenas um pouco acima da sua clavícula que parecia estar incomodando já que ela massageava o local com a mão direita discretamente, como se eu não fosse perceber tal ato.
— O que é isso no seu pescoço? Parece um hematoma de tão roxo. - Falei curiosa tocando meus dedos no local. Ela me olhou assustada, seus olhos arregalados.
— N-Não é nada. Deve ser alguma alergia ou coisa do tipo. - Se virou de costas pra mim de forma que eu não pudesse ver o lugar roxo.
— Ei, você está mentindo. Acha que eu vou acreditar nisso? Quem fez isso em você, Jessica? - Eu já estava começando a ficar irritada, se algum bastardo tivesse a tocado de forma indevida ele pagaria pelo o que fez. — DIGA!
— Eu não lhe devo satisfações, Kwon. Ta maluca? - Eu estava prestes a dizer que ela me devia sim.
Se alguém tivesse feito mal a Jung, eu tinha que saber. Não importa se nós não tínhamos um relacionamento. Eu a protegeria. Olhei seu corpo cuidadosamente de cima a baixo e parei meus olhos em uma mancha que escapava de sua calça até sua barriga. Sem dar muito tempo para que ela percebesse o que eu faria a seguir, puxei sua blusa pra cima revelando seu abdômen totalmente roxo de hematomas iguais e até piores do que estava em seu pescoço. Jessica tinha tentando disfarça-los com o que eu achei ser maquiagem mas sua tentativa não funcionou comigo, eu sabia bem o que era aquilo.
— QUEM DIABOS LHE FEZ ISSO, JESSICA? - Gritei, eu estava possessa de ódio. Exigia uma resposta, e ela só sairia da minha casa quando eu tivesse um nome.
Jessica abaixou sua camisa bruscamente fazendo sua mão bater na minha. Seus olhos estavam marejados e eu não sabia se era por minha reação agressiva ou por eu ter descoberto algo que não devia. Ela se recusava a dizer uma palavra e o medo estava presente em seus olhos, tava na cara que ela não queria que eu soubesse quem foi o autor de tamanha crueldade, mas eu precisava saber, precisava de uma resposta, eu precisava acabar com essa pessoa. Foi então que eu percebi. Se Jessica não queria dizer o nome, então ela estava protegendo esse alguém. E Jessica Jung só protegeria uma pessoa… Kim Taeyeon.
— Eu não acredito, Jessica. Você dormiu com ela?! Meu deus… Foi aquela bastarda! Taeyeon te fez isso. - Meus olhos estavam cheios d’água. Eu não podia mais controlar minhas lágrimas, estava cheia de tristeza e ódio. Taeyeon a usou. De todas as coisas que eu esperava daquela garota, essa foi a pior de todas, eu realmente não esperava por isso. Taeyeon protegia tanto a sua prima, ela parecia a amar de verdade no quesito família. Taeyeon protegia Jessica de tudo e de todos. Nunca consegui imaginar que ela usaria a prima desse jeito.
— Esqueça isso, Yuri. Não é da sua conta. Se você machucar Taeyeon ou Tiffany, eu nunca, eu disse NUNCA, vou te perdoar. Escute bem. - Ela ameaçou sabendo que eu já estava pensando em um modo de explodir a cabeça de Taeyeon novamente.
Dos seus olhos escorriam lágrimas dolorosas tanto pra ela quanto pra mim. Jessica chorava na minha frente em defesa de uma pessoa que não merecia. Aquilo me deixou irritada, como ela podia se importar tanto com Taeyeon? Como ela podia amar tanto uma pessoa que tinha a machucado tão seriamente? Eu odiava tanto aquela garota, ela tinha o amor de Jessica em suas mãos, mas o jogava fora sempre que era necessário pra ela e agora também a machucava. Aquilo não seria perdoado, não por mim.
— Eu não tenho nada de você… não tenho amor, ou amizade, ou ao menos um olhar de carinho. Nada. Se eu machucar uma das duas, vou continuar sem nada de você, Jessica.
Dizer aquilo me doeu, eu estava admitindo para mim mesma que ela nunca me amaria do jeito que eu a amo mas aquela era a verdade. E mesmo que ela me odiasse no final, eu acabaria com Taeyeon pelo o que ela fez.
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