História Wild - Capítulo Único

No começo eu era só um garoto de 7 anos que ajudava a entregar jornais e ganhava uns trocados para comprar doces. Meus pais não eram ricos, mas também não éramos pobres a ponto de não poderem comprar algo que eu quisesse. Os dois trabalhavam para dar a nossa família tudo o que precisávamos.

Em um dia de verão conheci você. Fui entregar jornais como em qualquer outro dia e sem querer joguei bem na sua cabeça. A garotinha que sentava na grama e ficava olhando os girassóis que sua mãe tanto adora cultivar. Me perdoe amor, eu era um moleque que só queria saber de brigar e arrumar confusão naquela época.

Lembro de você me olhar com seus belos olhos e eu vê-los cheio d'água por conta da minha burrice. Acho que foi ali que me apaixonei por você. Fui te pedir desculpas totalmente envergonhado você lembra? Hoje em dia lembro o quanto era desastrado quando você estava perto de mim acho que era o amor florescendo.

Depois daquele dia eu ia na sua casa todos os dias e nós trocávamos algumas palavras até que num belo dia você me convidou para o seu aniversário e foi ali que nossa conexão de verdade começou. Ficamos amigos e fizemos uma promessa em meio aos girassóis

- Naruto nós vamos ficar juntos para sempre, não é? - Você me perguntou totalmente vermelha.

- Ora, é claro que sim sua boboca. - Eu disse com a cara amarrada e totalmente vermelha também. Ali selamos nossa promessa e por muitos anos ficamos junto.

Quando fiz 13 anos acabei por me separar mais de você. Conheci Sakura e Sasuke que viraram meus amigos e você conheceu Kiba e Shino que viviam grudados com você. Ali eu conheci o ciúme e foi a primeira vez que eu a fiz sofrer pois acabei me afastando de você pensando que tinha sido trocado.

Eu e você passávamos por mudanças naquela época. Me vi gostando de Sakura e você se afastando cada vez mais de mim. Às vezes passávamos pelo corredor da escola e só trocávamos um olhar. Você sempre baixava a cabeça e ficava vermelha com a minha presença. Ah se eu soubesse o porque daquilo acontecer acho que teria me agarrado a você com todas as minhas forças e não te soltava nunca mais.

Eu queria falar com você, mas, o medo de ser rejeitado era grande. Foi no dia que estávamos fazendo prova que nós aproximamos novamente. Eu não tinha estudado nada e estava desesperado. Você, por uma coincidência do destino, foi posta do meu lado para fazer sua prova. Enquanto eu pensava no que fazer, você chamou a minha atenção e empurrou sua prova para o meu lado. Eu olhei para você e pude lê-la com um olhar, você dizia ' Pode pegar'. Ali eu vi a sua saudade estampada e seu pedido de aproximação. Claro que eu acabei não pegando suas respostas, eu não tinha estudado e era minha responsabilidade tirar zero por aquilo. Nesse dia voltamos a nos falar e eu voltava a ser parte de sua vida.

Quando entramos no ensino médio as coisas começaram a mudar. Mesmo sendo muito amigos, você se fechava como uma lagarta em um casulo. Eu não entendia o porque e isso me frustrava. Foi ali que eu mudei da água para o vinho e passei a ser um dos garotos 'populares' da escola. Já você, vivia sobre pressão de seus pais para ser uma boa aluna e conseguir entrar na faculdade de direito como toda a sua família. Foi ali que nos afastamos pela segunda vez em nossas vidas.

Eu te via passando pelo corredor e as vezes sendo motivo de chacota pelo pessoal que andava comigo. Eu nunca falava nada, acho que tinha raiva porque você nos afastou e deixava tudo na mesma. Naquela segunda vez, eu que fui atrás de você. Lembro que você sempre ia na biblioteca no intervalo e voltava com um monte de livros pra levar para casa. Um dia, você passava no corredor e uma das garotas populares colocou o pé em sua frente a fazendo cair. Meu sangue ferveu naquele momento. Enquanto todos riam, fui até você e ajeitei seus óculos no rosto. Você olhou para mim e vi novamente aquele brilho de quando éramos crianças. Acho que me dei conta de que eu gostava de você e era reciproco o sentimento ali.

- O-obrigado. - Você falou totalmente vermelha.

Quando você disse aquilo e levantou os olhos pra mim não aguentei e a beijei no meio do corredor fazendo todos ficarem chocados, inclusive você que desmaiou poucos segundo depois de nos separarmos.

Te levei para a enfermaria com a ajuda de Sasuke e Sakura. Todos ficamos preocupados com você pensando que estava doente ou algo do tipo, depois eu percebi que você desmaiava só de nervoso mesmo e o melhor, era que você só ficava assim comigo.

Daquele dia em diante você ficou conhecida como minha namorada por toda a escola. Ai de quem se metesse a besta com você, iam provar os punhos do garoto raposa, como eu era conhecido por lá.

Mas as nossas provações só estavam começando. A primeira foi a distancia que conseguimos superar. A segunda foi seu primo, Neji, que não aprovava nosso namoro e ameaçava contar para os seu pais.

Você lembra o quão difícil foi pra ele deixar e manter segredo sobre nós? Tive que enfrentá-lo numa luta para mostrar que era digno de você. Foi ali que ele viu o quanto eu era louco e apaixonado e faria de tudo para ficarmos juntos. Depois da aprovação dele conseguimos ficar juntos sem mais problemas.

Foi ai que chegou nosso 3° ano. Todos estavam loucos por conta do vestibular e com isso não conseguíamos passar tanto tempo juntos. Você me ajudava a estudar e me dizia que eu ia conseguir realizar meu sonho de abrir um restaurante de lámen. Eu achava engraçado na época, mas depois percebi que você realmente colocava fé no meu sonho. Dizia que eu ia cozinhar todas as noites para você o meu prato favorito ate cansar. Como eu queria que você pudesse ver isso acontecer... Sabe, você estava certa. Consegui abrir o nosso restaurante, sim nosso porque você foi parte fundamental nesse processo, e ele alcançou todo o sucesso que você disse que ele iria ter.

Desculpe, desculpe... Acabei divagando, vamos voltar a história.

Você estudava muito, queria dar orgulho ao seu pai e eu, bom, ficava tentando te ajudar mas acabava atrapalhando. Você vinha com um sorriso enquanto eu pedia desculpas e dizia

- Não precisa disso, você me faz ter certeza que tudo vai dar certo no final. - E depois voltava a ler os textos enormes dos livros de história.

Foi num final de tarde, de um fim de semana qualquer, que fui a sua casa para a gente sair escondido e dar uma volta. Quando cheguei, vi sua casa totalmente fechada como se não houvesse ninguém lá. Senti um arrepio e sabia que havia algo de errado. Tentei ligar para você, mas só ia para a caixa postal para o meu total desespero.

Na segunda procurei você pelos corredores, mas não te encontrava em lugar nenhum, foi que vi Neji aparecendo no fim do corredor. Corri desesperado como se minha vida dependesse daquilo e o puxei pela blusa o empurrando para os armários

- Onde ela está? - Gritei com seu primo querendo alguma informação.

Neji só me olhou e vi tristeza em seus olhos. Ele os desviou e respirou fundo virando com coragem para mim

- Meu tio descobriu sobre o namoro de vocês. Ele disse que não quer a filha dele namorando com o cara como você. Ele vai mandá-la para um colégio interno no fim de semana para acabar a escola e ir para a faculdade.

Acho que foi ali que meu mundo começou a ruir e tentei de todas as formas falar com você. Naquela semana você não foi para a escola. As pessoas já começavam a perguntar e a querer saber o que havia ocorrido com você, se havíamos brigado ou algo do gênero. Descobri depois que, tudo aquilo havia sido culpa de uma garota que gostava de mim e que havia contado para seu pai que você estava namorando o garoto que entregava jornais.

Fiquei para baixo com tudo o que aconteceu. Falei com meus pais, eles amavam você como uma filha e eles me aconselharam a dar tempo ao tempo mas, eu sentia que ia acontecer algo... Aquele arrepio na minha nuca havia voltado e me deixava desesperado para vê-la.

Tentei mais uma vez ir na sua casa te ver e dei-me novamente com os portões de sua casa fechados. Foi, novamente, no fim de tarde daquele sábado que você me ligou chorando. Me pedia desculpas por tudo e eu, sem entender, dizia que ia ficar tudo bem. Acabei repetindo a sua frase para mim

- Você sabe, somos nós contra o mundo. Você só precisa esperar um pouco mais, vou dar um jeito. Não precisa disso, você me faz ter certeza que tudo vai dar certo no final. Eu te amo.

Nesse momento você chorou ainda mais e me disse

- Eu te amo também, durma com os anjos. - E desligou o celular na minha cara.

Acho que foi ali que senti algo romper entre nós. Acabei me contentando com aquilo e adormeci pensando em ir atrás de você na manhã seguinte.

Eram 22:00 horas quando minha mãe acordou com os olhos vermelhos de tanto chorar. Você havia se enforcado em seu quarto alguns minutos depois de me ligar. Entrei em desespero e sai de casa descalço e com roupas de dormir atrás de você. Não queria acreditar que aquilo havia acontecido. Eu havia falado com você naquele mesmo dia, eu tinha certeza de que ia encontrá-la no mesmo lugar de sempre. No jardim de girassóis de sua mãe me esperando para pularmos o portão e darmos uma volta na minha bicicleta.

Infelizmente eu só encontrei o seu corpo sendo retirado de casa totalmente coberto. Joguei tudo no chão e corri ao seu encontro. Puxei aquele lençol que a cobria e gritei com todos ao redor que você estava viva e só estava dormindo. Você estava só dormindo eu falava e tentava acreditar no que dizia. Foi Neji que me tirou de cima de você aos gritos e alguém, provavelmente um dos enfermeiros que te levavam, me deu um sedativo tirando de orbita por algum tempo.

Quando acordei no outro dia, minha mãe me fez usar um terno e me levou ao seu enterro. Meu pai ficou ao meu lado enquanto todos me davam os pêsames pelo que aconteceu. Não percebi o tempo passar e quando vi, seu caixão já estava sendo abaixado a sete palmos do chão.

Pedi um tempo aos meus pais e vi todos indo embora e me deixando sozinho com você. Acho que não conseguia descrever o que estava sentido e só fiquei observando em silencio o lugar em que estávamos. Havia trazido girassóis, já que, você gostava. Lembra quando falávamos que se tivéssemos uma filha ela se chamaria Himawari?

Ali foi que tive a certeza que você não ia mais voltar e chorei tudo o que havia guardado naquele dia. Chutei e gritei o quanto meus pulmões aguentaram e por fim, só me abaixei e fiquei olhando para sua cova ainda aberta.

- Espero que nos encontremos algum dia ai em cima amor. - Eu disse pegando um punhado de terra. - Eu te amo e sempre vou te amar para o resto da minha vida, durma com os anjos. - Disse por fim jogando aquele pouco de terra, junto com um dos girassóis do buquê que eu havia feito para você.

Quando me virei para ir embora, seu pai estava a poucos passos atrás de mim e olhou-me. Naquele olhar vi toda mágoa e arrependimento estampados. Sempre vou visita-lo na sua casa. Aos domingos almoçamos juntos e falamos sobre a vida. Nos tornamos amigos e vimos que temos muitas coisas em comum, como você sempre dizia.

Naquele dia ele me entregou uma carta que você havia escrito para mim. E eu a peguei com todo o cuidado do mundo já que aquelas palavras deviam ser especiais para você tanto quanto foram pra mim quando as li. Quando ia saindo ele chamou-me

- Naruto - virei para olhá-lo - Minha filha amava muito você, nunca duvide disso. - Ele disse por fim.

Eu só o olhei por mais uma vez naquele dia e disse

- Eu sei. - E fui embora daquele lugar mórbido.

Hoje, 70 anos depois de sua morte, eu ainda venho todo fim de semana deixar seus tão queridos girassóis e venho te dizer que finalmente consegui fazer tudo o que me pediu na sua carta. Sinto que minha hora está chegando, meus pulmões não são mais os mesmos, só consigo respirar por aparelhos e acho que a hora da nossa promessa se cumprir esta perto de se concluir.

Atenciosamente,
Do seu e somente seu
Naruto.

Leave this blue neighbourhood
Never knew loving could hurt this good
And it drives me wild
'Cause when you look like that
I've never ever wanted to be so bad
And it drives me wild
Wild – Troye Sivan