História Wildest Dreams - Prólogo

Andando por aquelas ruas cinzentas e sujas, senti o sentimento de nostalgia me atingindo: aquele pequeno povoado era meu lar. Eu deveria me sentir aliviada por estar em casa depois de tantos problemas. Mas não me sentia assim. Só conseguia pensar que o croissant francês era mil vezes melhor do que aquele que o mercado local vendia. Sempre que olhava para cima e via as nuvens cinzentas naquele céu, me lembrava de como foi incrível sentir o sol quente de Marrocos na minha pele. Quando via as flores artificiais nos vasos de planta, lembrei da beleza surreal da flores japonesas. Todo lugar que olhava me lembrava a viagem. Todo lugar que olhava me lembrava ele.

 Senti minhas pernas cansarem enquanto percorria o centro da cidade e entrei na biblioteca, procurando algum consolo nos livros, como fazia quando era mais jovem. O lugar ainda era o mesmo. Mesas enormes de madeira com luminárias estavam aos montes pelo lugar, rodeadas por infinitas estantes e algumas pessoas solitárias ao seu redor. Consegui sentir os olhares se voltando para mim. “Ela está de volta”, deviam estar pensando. Era algo raro alguém ir embora de Overland. Era algo quase inédito alguém fugir. Era impossível alguém voltar. Eu fugi e voltei em três meses. Nunca mais iriam me olhar da mesma forma.

 A Sra. Carter, dona da padaria e mãe de uma ex-colega de escola minha; Joe, um mecânico que costumava consertar o velho Ford do meu pai; Heather, uma menina que tinha aulas de piano comigo; o Sr. Jensen, meu antigo vizinho. Todos ali, lançando seus olhares de reprovação para mim. Mas eles não sabiam o que eu estava sentindo. Eles não sabem de como eu passei de euforia para decepção em frações de segundos. Eles não sabem como foi experimentar em três meses o que eu deveria ter experimentado a vida toda. Eles não sabem nada. Ninguém sabe. Só eu e ele.

 Meu celular vibrou no bolso e não pude evitar pensar que poderia ser Harry. Quem sabe ele não queria voltar? Não saía da minha cabeça a possibilidade dele estar com saudades. Cogitava o tempo inteiro a chance dele mudar de ideia, pedindo perdão, dizendo que me ama, dizendo que faço falta. Que o céu é menos estrelado sem mim. Porque o meu céu não existe sem ele. Só não quero ficar sem acreditar em nada. Quero acreditar pelo menos no amor que juramos. Respirei fundo e olhei para a tela do celular, rezando para quem quer que me escutasse tivesse tornado minhas preces em realidade. Mas como das outras vezes, eu estava errada. Era apenas minha mãe me perguntando onde eu estava. O silêncio dele quebrava ainda mais o meu coração já despedaçado.

Bloqueei o celular e me sentei em uma mesa vazia, onde só havia um globo terrestre grande e antigo. Toquei sua superfície, me deixando levar pela imensidão que ele representava, pelas lembranças que ele guardava, pelas mágoas que ele escondia. Quase que automaticamente, o sorriso dele estava de volta na minha mente, e parte de mim amava aquilo. As memórias mantinham o amor vivo. Foi tudo o que me restou.