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História Wildfire - Uma carta para Calliope


Escrita por: MyLittlee

Notas do Autor


O obrigada de sempre á todo o carinho, e uma ótima leitura. Um capítulo já com gostinho de despedida.... Ah...

Música: Sweet Jane - Garret Kato.

Capítulo 25 - Uma carta para Calliope


     A África é quente e seca exatamente como eu me lembrava. O som do amanhecer me acorda suando e trazendo o frescor de naturalidade. A risada das crianças enquanto brincam é a mesma, e até as feridas também são. O lugar inteiro é familiar, e eu me sinto em casa e acolhida. Eu finalmente sentia que estava no lugar certo após tantas perdas.

 

Estou sentada fitando o anoitecer, e pensando quando será a próxima vez que o veria ali de novo. Com minhas novas escolhas, possivelmente nunca mais. Isso fazia com que algumas lágrimas quentes e teimosas caissem dos meus olhos. Era extremamente difícil acabar algo, um ciclo, por mais doloroso ou afetuoso que ele tivesse sido com você. Com meu pai, haviam sido extremos, bons e ruins. Mesmo assim, havia doido de forma inexplicável dizer-lhe adeus. E agora, olhar para o lugar que me acolheu e me abraçou com todo o carinho do mundo, que sarou minhas feridas – ou a menos a suturou quando precisei – fazia-me sentir abandonada. Eu sabia que estava indo embora para uma aventura ainda melhor. Que minha missão ali, talvez, havia acabado. Que agora era hora de lutar pela minha vida, com a pessoa que amava, com as pessoas que amava, com tudo eu sempre precisava. Sem meu pai, sem Tim. Sem tudo que a vida havia me tirado, mas com todos os presentes que ela havia me dado. Agora era hora de ser a Arizona Robbins que havia amadurecido, sofrido, crescido. Um bom soldado na tempestade, que agora aprenderia a viver na calmaria do arco-iris.

 

 

Mas eu sempre lembraria da risada delas. Do tempo seco que dificultava a respiração. De dançar no sol com Alika, e operar Erick sem ter qualquer instrumento viavel. Lembraria das crianças magrinhas, que hoje tinham força e ganhariam uma nova vida. Lembraria todos os dias que ainda haviam crianças ali, que aquele lugar era enorme e precisava ser ajudado, por isso todos os meses continuaria com doações MSF, cuidaria das crianças a quem continuaria sendo madrinha, e sempre, sempre me lembraria de ajudar. Porque elas precisavam de mim, ali ou não, eu poderia ajudar. Todos podemos. 1 real por dia mudaria a vida dessas crianças, como mudou minha vida.

 

Ouço a voz de Charlotte atrás de mim:

 

-Grande dia – ela diz se sentando ao meu lado, eu sorrio a encarando.

 

-Sim, vou sentir saudade disso tudo. Você não vai?

 

-30 dias não são 10 anos e 30 dias, como para você. - ela ergue uma sobrancelha. - mas eu entendo tudo agora, tudo que te fez ficar. Por isso decidi continuar aqui.

 

-É sério?- eu pergunto, surpresa.

 

-Sim, eu finalmente sei que encontrei meu lugar. Eu consegui reeguer o hospital, meu trabalho lá acabou e eu já tenho uma agenda cheia para o próximo ano. Mas decidi deixar tudo para o próximo ano. Talvez para o próximo, próximo. Não sei. Acho que vou deixar tudo isso me guiar. Enquanto puder ajudar, estarei aqui. Não aqui, aqui, porque as crianças vão embora. Mas em outro acampamento. Enquanto puder ajudar, vou ficar.

 

-Então ficara para sempre, pois alguém sempre precisara de ajuda.

 

 

-Eu vou ser feliz ajudando alguém, sempre. - ela diz sorrindo.

 

O sorriso de bochechas rosadas e queimadas pelo sol, com as sardas claras não respeitando os anos de cremes claros. O cabelo antes brilhante, agora queimado, estava preso com uma bandana em um rabo de cavalo solto. Charlotte continuava belissima, mas agora de forma... natural. Ela ainda parecia uma pintura, agora ainda mais linda. Talvez após descobrir e me surpreender com toda a bondade e cuidados que ela tinha com as crianças ali, com como se adaptou ao seu novo estilo de vida – embora sua barraca ainda fosse a mais linda do acampamento – e como ficava feliz em estar ali, tenham tornado a ainda mais linda. Eu não sabia, mas de uma coisa eu tinha certeza:

 

Eu sentiria falta dela.

 

 

-X-

 

Calliope Torres

 

 

O cheiro de frango invade a casa e faz Sophia dar pulinhos em minha barriga. Fazia pouco mais de um mês que Arizona havia ido para África, e quase isso que Mark e Lexie haviam se reconciliado e ido morar juntos. Cristina também havia se resolvido com Owen, e eles já haviam até alugado uma casa juntos. Além de sofrer pela saudade de Arizona, eu ainda tinha que me acostumar a estar sozinha ali. Isso me fazia ficar ainda mais louca de ansiedade pela chegada de Sophia, eu simplesmente não aguentava o silêncio daquela casa. Só comia frituras pelo barulho que fazia ao entrar em contato com o óleo, e não suportava o silêncio da panela de pressão. Eu deixava retratos de Arizona por toda a casa, e durante os primeiros dias, todas as vezes que a campainha tocava eu acreditava ser ela voltando a mim. Hoje, no entanto, eu já havia entendido que não seria ela.

 

Me concentro no programa de culinário enquanto ouço o chiar do frango. Ambos altos quase não me permitem ouvir a campainha quando ela toca. Mas, graças ao chute assustado de Sophia em minha barriga, eu abaixo a TV e vou abrir a porta. Para minha surpresa, ninguém estava ali. No lugar de alguma pessoa, havia uma carta no chão. Eu me abaixo com dificuldade – não só pela redonda barriga de 5 meses e meio, mas pelos quilinhos a mais que as frituras me presentearam – e pego a carta.

 

Entro em casa e sento no sofá. Quem diabos, em pleno século XXI, envia cartas?.

 

Me ponho a ler as letras perfeitamente escritas a mão, em uma caligrafia que eu conhecia bem.

 

 

´´Minha querida, Calliope.

 

Imagino que esteja se perguntando agora, quem diabos envia carta em pleno século XXI, certo? Mas imagino que tenha reconhecido a caligrafia, também. Bom, agora que sabe quem sou, posso lhe afirmar que 10 anos na África causam extremo déficit em whatssapp e grande facilidade em papéis brancos cheio de linhas imaginárias a serem preenchidas. Mas não é sobre isso que escrevo. No entanto, se me permite, farei uma metáfora sobre o assunto:

 

Quando te conheci eramos jovens. Tinhamos um grande livro repleto de folhas brancas para preencher. Poderiamos fazer isso da melhor forma, mas escolhemos ignorar as linhas imaginarias e escrever de forma torta. Como pode imaginar, o resultado foi horrível. Ai, você resolvou arrancar uma página, e danou-se tudo, porque todas as folhas seguintes cairam. Nenhuma das duas imaginou que esse caderno poderia ser recuperado, restaurado. Mas, após muitas folhas cairam, outras simplesmente decidiram continuar firmes e fortes. Bom, talvez não tão firmes, mas ao menos fortes. Novamente nós tivemos dificuldades para escrever – muitas – mas dessa vez foi você quem resolveu não tirar nenhuma página. Você deixou a escolha para mim, e ao invés de tirar páginas, adicionou uma – rosa, pura, limpa e linda – e ai eu decidi fazer algo em troca: eu arranquei a próxima folha branca, a levei comigo, e agora estou voltando. No lugar da folha branca, trago um folha azul, para completar nossa história.

 

O que eu estou dizendo é que, quando fui a África, em nenhum momento pensava em ficar. Fui com Charlotte para trazermos ás crianças que, graças ao projeto de Alex, veem a Seattle se tratar e receber novas famílias, ou apenas novos lares com mais estruturas para suas famílias. No meio dessas crianças estava Erick. Um garotinho pequenino que eu coloquei no mundo. Sua mãe faleceu no parto e desde então eu o havia criado, até ter de voltar a Seattle e abandona-lo. Mas eu prometi voltar, e eu voltei. Charlotte usou toda sua influencia e conseguiu um processo de adoção rápido – claro que a guarda ainda é provisória – mas acredito que juntas podemos mostrar a qualquer juiz que temos condição de criar uma criança juntas, né? Ou melhor... Duas, pois nossa filha está a caminho.

 

Então, tudo que eu tenho a dizer a você é que disse sim a tudo. Sim a você, a nossa filha, a Erick e a nossa família. E você, diz sim também?.

 

Bom, amanhâ eu e Erick vamos tomar um sorvete na praça em frente ao hospital. Se sua resposta também for sim, nos encontre lá.

 

 

Te esperamos ansiosamente!!!.

 

 

Com todo o amor do mundo, sua Arizona Robbins.´´ 



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