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História Wildfire - Papai.


Escrita por: MyLittlee

Capítulo 8 - Papai.


Arizona

São 6h da manhã quando eu saio do hospital. Minha mãe já tem o carro estacionado a me espera. Quando entro, ela está esfregando as mãos uma na outra para aquece-las.

—Bom dia, mamãe. -Eu digo forçando um sorriso.

—Bom dia, querida. - Ela fala e me olha por alguns segundos. - está tudo bem?

—Está, só estou um pouco cansada. -Me viro para que ela não me olhe enquanto eu falo, com medo que perceba a mentira. Quando olho pela janela, Callie está saindo do hospital. Ela vê que eu a estou olhando, e fica parada na entrada do hospital. Por alguns segundos, me permito olhá-la também. Nos encaramos de longe. Eu não a havia visto por toda noite desde a cena na sala, o que me deu certo alívio. Eu não saberia como olhá-la depois de tudo que disse. No entanto, estava fazendo ali.
Era reconfortante olhá-la, e ao mesmo tempo, um grande alívio ela estar tão longe. Isso me impedia de sentir fraca, ou de deixá-la me tocar como havia feito. Eu podia não amá-la mais - e isso soava estranho, embora eu tentasse me convencer que não o fazia depois de tantos anos- mas ela me afetava. Eu soube disso no momento que deixei ela me tocar daquela forma. 
E havia um medo indesmentível em mim, que eu fosse fraca o suficiente para deixar outras coisas acontecerem.

—Podemos ir? -Mamãe me pergunta, me tirando dos meus devaneios.

—Sim, por favor. - Eu respondo sem tirar os olhos de Callie. Ela, vendo o carro dar partido, acena e dá um sorriso fraco, que eu não respondo.

Eu e mamãe não forçamos nenhuma conversa no caminho. Ela parecia com sono e eu tinha minha cabeça longe. Teria que voltar ao hospital apenas duas horas depois, e ter que encarar tudo de novo. Parecia um ciclo interminável. Interminável e muito dolorido.

—A senhora não vai guardar o carro na garagem? -Eu pergunto quando mamãe para o carro na frente da garagem.

—Vou apenas buscar alguns pães, pode ir descansar.

—Não quer companhia? -Eu pergunto, mesmo que minha única vontade naquele momento fosse deitar na minha cama e descansar pelas míseras duas horas que eu tinha.

—Não querida, eu volto rápido. -Ela disse, dando um sorriso afetuoso. Eu o respondo com outro, e saio do carro, entrando dentro de casa.

Assim que entro ouço o som alto da televisão vindo da sala de estar. Deixo minha bolsa do lado da porta de entrada, e caminho em direção do som, confusa. Será que minha mãe havia deixado a televisão ligada? Bom, essa parecia ser a única explicação para o som alto. Mas por que ela estaria vendo televisão tão alto? Quem sempre fazia isso meu p...

Meu pai. Eu vejo sua cabeça repleta de cabelos brancos de costas para mim assim que entro na sala. Ele me ouve entrando e se vira, e é a primeira vez em dez anos que eu vejo seu rosto: é como se ele tivesse envelhecido 50 anos em 10. Seu rosto tem rugas mais severas que da última vez que o vi, e seu cabelo grisalho parece ainda mais braço agora. No entanto, continua com a mesma beleza jovial que eu me recordava. Seus olhos tão azuis quanto os meus me encaravam com curiosidade. Eu fico parada, estática, sem saber o que fazer. Em choque.
Quando foi a última vez que o vi? Deus, eu não conseguia me recordar. Ele estava tão magro, e parecia tão frágil. Na verdade, ele não tinha nada em comum com o homem que eu havia deixado para trás há 10 anos. Exceto seus olhos tão azuis quantos os meus, tudo havia mudado. E isso me afetava de uma forma inimaginável. Me sinto imediatamente mal por não ter subido desde o primeiro dia que cheguei, e ter-lê visto. Será que ele teria envelhecido tanto nos últimos dois dias? Nas últimas duas horas? Quando eu perdi.

—Olá, senhorita. - Ele fala algo para que eu possa ouvir sua voz mesmo com a tv alta. Ela continha aveludada, embora parecesse fraca. - Você pode abaixar um pouco a tv para mim, por favor? Eu a aumentei e esqueci como faz para abaixar o som.
Eu ainda não consigo me mexer no meu lugar. Ele falava com tanta tranquilidade, como se eu sempre estivesse estado ali. Como se não fizessem dez anos desde a última vez que nos vimos.
Como se não lembrasse de nada.

Eu me forço a andar até ele, mesmo que me sinta em choque. É inacreditável, inacreditável que ele esteja ali. Deus do céu, quanto tempo eu estive fora? Quanto da minha vida eu havia esquecido? Por que eu me sentia tão... Emocionada de estar ali, ao lado daquele homem que tanto havia me feito sofrer. Meu pai. Meu pai estava ali. Tão magro e frágil. Tão fraco. Tão velho.
Eu havia perdido tudo.
Eu abaixo a tv, e minhas mãos estão trêmulas.

—A senhorita está bem? -ele pergunta cordial.

—Estou. - respondo com a voz embargada. Ele olha para a tv, e esquece minha existência por alguns segundos. Eu espero que ele diga algo, mas o silêncio persiste, até que eu fale. - O senhor não lembra de mim?

—Hm, Qual seu nome? - Ele pergunta, agora me olhando confuso.

—Arizona.

—Oh, eu receio que não te conheça. - Ele diz, e sinto-me murchar por dentro.

O que você esperava afinal, Arizona? Ele tem Alzheimer e você sumiu por anos, como poderia lembrar de você?

—Mas... -Ele continua. - Arizona é um nome muito bonito.

—O senhor acha? - Eu falo com a voz embargada.

—Sim. -ele responde e olha para o nada, como se tentasse lembrar de algo. - Na verdade, eu tenho uma família chamada Arizona. Assim como você. Mas o nome dela veio de um navio.

—O meu também! -eu digo animada.

—Jura? -ele sorri pela primeira vez, e eu não consigo segurar meu próprio sorriso. - Quanta coincidência! Ela bem lembra você. - Ele me olha detalhadamente. - Tem olhos azuis, cabelo loiro, covinhas, parece uma princesa. Tão linda quanto você. - ele cora quando fala isso. - Mas ela tem apenas 7 anos.

Eu murcho novamente. Por alguns segundos, tive a ilusão que ele estava lembrando de mim. Lembrando quem era eu.

—oh, como ela é pequena. -Eu digo.

—Sim, e agora vamos ter outro filho. -Ele sorri orgulhoso. -Mas eu e Barbara decidimos contar apenas no aniversário dela, mês que vem, porque ela vem pedindo esse irmão há anos, e temos certeza que vai ser o melhor presente do mundo para ela!

Meus olhos se enchem de lágrimas.

—Pode ter certeza que vai. -Eu digo, e aperto minha mão na dele. Sinto seu toque quente, suas mãos familiares.

—Você tem filhos? -Ele pergunta, sem parecer incomodado com o toque.

—Não, ainda não. Mas eu sou pediatra, então gosto de pensar que tenho várias crianças, e todas que eu cuido são meus bebês.

—Isso é lindo. - Ele diz. - Sabe, dizem que mãe que tem impressão, mas eu sei que minha Arizona vai ser uma grande médica, assim como você.

—Eu não sou uma grande médica. -Dou de ombros. - Na verdade estive na África por 10 anos, nunca trabalhei muito em hospitais, a maioria das coisas que sei são técnicas que eu mesma criei. Não entendo métodos Ellis Grey e estou por fora dos livros pops de medicina.

—Pois minha intuição já dizia que você era uma grande médica, agora tenho certeza - Ele sorri. -Tenho certeza que seu pai deve ser muito orgulhoso de ter uma filha como você.

Eu perco a voz.

—Se você fosse minha filha, eu estaria. -Ele diz.

Eu estou pronta a começar a chorar, quando mamãe abre a porta de casa e entra. Em um segundo ela está na sala.

—Está tudo bem aqui? - Mamãe pergunta. Eu aproveito sua deixa para me levantar de cabeça baixa, e sair dali.

Mas antes que eu tenha sequer chance de pisar no primeiro degrau de escada, ouço a voz do meu pai:

—Arizona... -Eu me viro para encara-lo. - Tenha filhos. Eles são as melhores coisas que você pode deixar no mundo. Eles são o que você é.

Eu assento com a cabeça sem saber o que falar, e subo as escadas. Quando entro em meu quarto, me permito chorar.

FLASHBACK ONN

Se tinha uma coisa que eu odiava mais que ir ao colégio, era ir ao colégio e ter aula vaga. Parecia um jogo comigo, eu ter que refaz todo o caminho para casa duas horas depois de ter ido à escola. Na verdade, deveria haver uma lei que impedisse as escolas de fazerem isso. Claro que eu não queria ter aula, mas custava avisar que só teria UMA para nem me dar ao trabalho de fazer todo o caminho.

Abro a porta de casa. Essa hora minha mãe devia estar na casa de Rose papeando, e eu ia ter que fazer meu café sozinha. Não me parecia nem um pouco justo. Tudo por causa daquela escola de merda.

"se sua mãe ou meu pai soubessem que você pensa palavrões, ia levar um castigo de vários dias." Minha consciência diz. Eu a ignoro.

Merda. Merda. Merda. Digo quantas vezes quiser!.

Ouço um barulho vindo do quarto da minha mãe. Seria que ela havia chegado mais cedo? Papai estaria em casa? As duas opções me pareciam meio difíceis. Papai sempre estava trabalhando essa hora e minha mãe sempre estava em Rose. Mas eu podia ouvir o barulho de novo. Certo, só poderia ser um deles. Ou um fantasma.

Deus, que não seja nenhum fantasma. Por favor. Era apenas uma brincadeira quando eu disse bloody Mary. Apenas queria parecer descolada. Deveria morrer por isso?.

Quando subo as escadas e estou pronta à abrir a porta onde os barulhos são mais fortes, estou convencida que esse será meu fim. Mas se não for, garanto: nunca mais proferirei o nome de Bloody Mary. Nem mesmo uma vezinha. Nunca mais!.

Quando eu abro a porta, me deparo com algo muito pior que Bloody Mary, ou mesmo a Sarama de "O chamado". Me deparo com alguém bem mais real. E muito, muito, muito nojento.

Meu pai estava na cama de minha mãe. Com sua secretaria. Pelado e gemendo como um cachorro, enquanto ela estava em uma posição que os mesmos costumavam fazer.

—Meu Deus, meu Deus, meu Deus... - É só o que eu consigo dizer. Os dois ouvem minha voz e me olham imediatamente. Eu me viro e desço correndo as escadas, mas logo quando estou no primeiro degrau, caiu de rosto no chão.

—Argh! -Eu digo é sinto meus olhos encherem de lágrimas.

"Isso só pode ser um pesadelo, um pesadelo. Por favor Deus, faça com que eu acorde" eu suplico ainda caída no chão, sentindo meu nariz doer e meu joelho arder.

Mas quando meu pai me puxo do chão, agarrando-me forte pelo braço e me colocando em pé, e começa a gritar comigo ameaças horríveis. Eu sei que não é um pesadelo.

É real.

FLASHBACK OFF



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