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História Wildfire - Uma surpresa


Escrita por: MyLittlee

Capítulo 9 - Uma surpresa


” Eu penso que quando você tem uma conexão com alguém, isso nunca realmente acaba, entende?” – Alex

 

Arizona

Uma semana se passam desde que eu havia falado com meu pai. A minha rotina se torna tão apertada, que é difícil vê-lo outras vezes. Na verdade, eu o tinha visto uma vez antes de ir trabalhar após nossa conversa, mas ele não falou muito comigo. Na verdade, eu o desejei bom dia e ele apenas me olhou, mau humorado. Mamãe estava junto na ocasião, e deu de ombros. Entendi que aquele era um dos dias ruins que ela tanto falava.
Mais tarde, no entanto, ela me confidenciou que os dias ruins eram os dias que ele esquecia como andar ou falar. Os piores eram quando ele esquecia como mastigar, e que deveria comer para continuar vivo. Às vezes ela tinha que levá-lo ao hospital para se alimentar, porque ele simplesmente não entendia o que uma mulher desconhecida queria enfiar em sua boca. Era horrível sequer imaginar naquilo, então deixei minhas emoções mais uma vez de lado, e tentei encobrir tudo que estava acontecendo com trabalho. Eu sabia, no entanto, que havia voltado pois meu pai estava fraco demais, e para passar um tempo com ele. Então, não teria como fugir para sempre. Mas o tento que desse, seria o suficiente.

No hospital as coisas corriam estranhamente bens. Havia trocado poucas palavras com Calliope desde aquele dia, e embora a visse todos os dias de longe, aprendia dia após dias a me manter longe de seus olhares. Onde ela chegava, eu sai. Quando ela falava, eu me calava. Era a Arizona sorrindo da África com todos que se tornaram rápido meus amigos, mas com ela continuava mantendo a pose durona e a armadura de ferro. Não importava que por vezes eu desejasse falar com ela, ouvir sua voz. Quando a via sorrindo, querida perguntar o motivo do riso. Ou quando a encontrava no hospital, sentia uma tremenda vontade de chegar nela e puxar conversa. Uma parte de mim dizia que não era nada demais. Que eu podia responder seus "Bom dias" com mais de um "oi" seco. Que eu podia continuar o assunto que ela sempre puxava quando eu estava sozinha. Ou continuar falando quando ela entrava na rodinha de amigos, no almoço. Mas tudo parecia estranho, e eu tinha que insistir que aquela distância era necessária. Desde que eu me deixei levar pelo toque de Calliope, eu soube: ela era perigosa para mim. Ela era tóxica. Eu deveria me manter longe para não ser infectada. Para não me machucar novamente.

Mas embora eu insistisse em manter distância, Calliope gostava de se aproximar. Sorrir. Me olhar. Ela não disfarçava ou sequer tentava se manter longe. Às vezes ria das minhas tentativas de me manter afastada, ou ficava só parada me vendo corar enquanto ela me olhava. Não sabia se queria me irritar ou se aproximar, mas de qualquer forma era irritante.

Na segunda, logo quando eu chego no hospital Richard me chama em sua sala. Havia passado a noite toda de plantão e quando finalmente deitará em minha cama, senti fortes dores onde agora eu tinha uma prótese. Isso acontecia uma vez o outra, mesmo depois de anos. Não era mais tão frequente quanto antes, mas quando acontecia era extremamente torturante. 
O fato é: eu havia visto Richard poucas vezes e de longe, o que de certa forma é incomum já que ele me contratou sem apenas uma entrevista e eu trabalha no hospital que ele é chefe a dias sem que ele sequer tenha vindo falar comigo. Além disso, eu tinha uma séria suspeita que ele fosse o responsável pelas constantes saídas a noite da minha mãe, e por ela sempre estar acordada muito cedo. Então, conhecê-lo me deixava tão ansiosa quanto ir a um parque de diversões. E a insônia só piorava tudo. 

—Pode entrar. - A voz grossa soa quando eu bato na porta. A obedecendo eu entro, e dou de cara com o rosto já familiar de Richard. Ele sorri. - Bom dia.

—Bom dia, chefe. -Eu digo retribuindo o sorriso. Ele aponta para a cadeira a sua frente e eu vou até ela, sentando. A sala é grande e espaçosa, o que não me permite sentir reprimida, embora seus olhos me analisassem como se estivesse relembrando alguém. Certamente estava caçando as semelhanças entre mim e mamãe.

—Sou Richard Webber, é um prazer te conhecer.

—Eu sou Arizona Robbins, é um prazer também. - Sorrio.

—Você é parecida com sua mãe. - Ele diz sorrindo.

—Ah, é bom que você toque no assunto. -Richard me faz sentir confortável suficiente para falar. - Pois já que ela não me responde, você poderia me esclarecer o que rola entre vocês?

Richard parece corar e se mexe desconfortável em sua cadeira.

—Hm, ela não te disse nada? -Ele parece realmente envergonhado. Sorriu internamente, mas por fora faço uma cara a séria.

—Não. Vocês estão juntos? - sou direta.

—O que? -Ele pergunta com os olhos arregalados - Não estamos... Quer dizer... Estamos... É... estamos mais ou menos.

—Mais ou menos? -Abro minha boca em um "o" fingindo estar perplexa. - Richard Webber, você está dizendo que minha mãe é sua peguete?

—Não, por Deus, não! - Ele parece desesperado e dessa vez eu não aguento, caio em uma sonora risada. Richard fica apenas me encarando enquanto eu riu da cara dela, enquanto tomo fôlego suficiente para continuar.

—Eu só estou brincando. -Digo, ainda sem ar pelas risadas. - Vocês não me devem explicação alguma e eu sou bem grandinha para saber o que está rolando. Só não queria correr o risco de você falar para ela que eu sou séria demais. Ela leva sua opinião a sério.

Ele parece muito aliviado depois que eu me explico, e volta a sorrir.

—Ufa, pensei que estava falando sério. - Richard solta o ar e coloca a mão no peito, em um gesto teatral.

Um silêncio se instala na sala por alguns segundos.

—Mas então, para que o senhor me chamou? -Pergunto curiosa.

—Ah, sim. - Ele parece se recordar do motivo de eu estar ali.

Richard abre a gaveta de sua mesa.

—Aqui está o seu convite para a festa beneficente do hospital, daqui a duas semanas.

—Festa beneficente? -Eu pergunto, confusa, enquanto ele me entrega o convite.

—Sim, na verdade vai ser um baile. Mas estou cuidando mais da parte financeira que dele em si, então não posso te dar muitas explicações. Mas pelo que li no meu convite, o traje é fino. - a última parte parece ser uma piada, já que ele sorri. Eu faço o mesmo por educação, embora continuasse confusa. Não sabia que havia bailes no hospital, e nem conseguia me imaginar após tantos anos em um.

—Bom, se é só isso... -Eu digo me levantando.

—Espere. -Richard fala. Eu paro e o observo pegar outro convite. Ele me entrega. - Deixe com Callie, por gentileza. Ela está na sala de pesquisa dela, e eu tenho muitas coisas a resolver.

Sinto-me de repente com medo. Ter de encontrar Callie logo cedo, e pior, não ter como fugir de algum tipo de conversa me deixava estressada. Mas não podia negar aquilo. Richard podia ser namorado ou ficante de minha mãe, mas continuava sendo apenas meu chef.

—Claro, chefe. -Eu respondo já saindo da sala.

X-x

Demoro um pouco para encontrar a sala de Callie (que eu descobri agora ser sua sala de pesquisas) mas quando a encontro, paro imediatamente em frente à ela, tomando ar. Eu deveria apenas lhe entregar o convite. Talvez nem precisasse entrar. Ia ser rápido e fácil. Não tinha porque ter medo. Não tinha porque não entrar também, ou não falar com ela. Ou continuar fugindo de algum tipo de contato físico e visual com ela, como o Diabo fugia da Cruz. Anos tinha se passado. As coisas haviam mudado. Eu não deveria ter medo.

É com esses pensamentos que eu bato na porta dela. Uma, duas, três vezes. Ninguém respondo. Decido então entrar e deixar o convite em cima de sua mesa. Assim, quando ela entrasse o veria e não teríamos ao menos que nos falar.

música

Eu abro a porta com esse instinto, mas assim que estou dentro vejo a silhueta de Calliope. Ela estava encostada em sua mesa, como se soubesse que eu ia entrar.

—Bom dia. -Ela diz dando seu melhor sorriso. Sinto meu coração perder uma batida, e um frio na barriga.

—Bom dia. -Eu respondo no mesmo tom leve que ela. - Richard me pediu para deixar seu convite da festa beneficente do hospital. Eu bati mas ninguém respondeu, então pensei em deixar em cima de sua mesa...

—Não precisa se explicar. -Callie ri e caminha até mim, entrego o convite em suas mãos, evitando contato. - Obrigada.

—Por nada.

Me viro pronta para sair da sala e fugir de toda aquela atmosfera estranha que eu só sinto quando estou em algum lugar com ela. Mas sua voz soa de longe, me fazendo parar.

—Espera.

Me viro.

—Eu tenho uma coisa para você também. - Ela diz sorrindo. -Só espera um segundo aqui.

Callie entra em um anexo de sua sala, me deixando sozinha e confusa. O que ela teria para mim?

—VOCÊ PODE SE SENTAR NA CADEIRA NO MEIO DA SALA? - Ela grita de dentro do anexo, eu olho em volta e pela primeira vez percebo a cadeira ali.

—PARA QUE? - respondo tão alto quanto ela, para ter certeza que ela está me ouvindo.

—NÃO SEJA TEIMOSA, SÓ SENTE! - Ela fala e eu não penso muito. Dou de ombros e sento na cadeira que ela havia indicado.

Callie demora poucos segundos para voltar, e quando ela sai do anexo carrega uma caixa grande.

—Certo... - Ela fala, a voz carregada de uma excitação inebriante. Como no outro dia, ela se ajoelha na minha frente, mas dessa vez deita a caixa a sua frente. Eu continua olhando seus atos sem entender nada.

Callie abre a caixa na minha frente, ajoelhada no chão. O seu sorriso não são do rosto, e eu me sinto cada vez mais ansiosa para saber o que tem ali. Alguns segundos depois, Callie coloca a mão dentro da caixa e sente o que tem ali, sorrindo ainda mais.

—Você está preparada? - Ela pergunta.

—Estou! - eu digo sem ao menos entender o que está acontecendo.

E nesse momento que Callie tira o que havia dentro da caixa, e minha boca se abre em um "o" imediato assim que vejo o que tem ali dentro. 

—Calliope... -Eu digo, quase sem voz, sem saber o que fazer.

Era uma prótese! O que havia dentro da caixa, era uma prótese novinha para minha perna. Ela era linda, e muito, muito parecida com minha antiga perna. Tinha a mesma cor que minha pele, e muito parecida com uma perna de verdade. Ela tinha vários detalhes, coisas pequenas que eu nunca imaginei conter em uma prótese. E era linda! Eu poderia facilmente me acostumar com ela. Eu a queria! A única coisa que eu conseguia pensar era em como todas as coisas mudariam se ela fosse minha. Mas, no meio desses pensamentos vinham mais mil:

Ela é minha?

É mesmo uma prótese, ou alguma coisa teste relacionada a pesquisa de Callie?

Porque Callie estava fazendo aquilo?

Ela era minha?

Eu poderia dançar novamente?

Ou correr?

Ou, Deus... Eram tantas coisas e tanta felicidade de ver algo assim e imaginar que poderia ser meu, estar sendo oferecida a mim. Tantos zilhões de sentimentos que eu não conseguia falar nada. Apenas permanecer em choque.

—Ela é o que tem de mais novo no mercado. -Callie falou, vendo meu choque. - É mais leve que essa sua, no entanto é mais confortável e tem muita flexibilidade. Com ela você não vai ter mais dificuldade de se sentar, levantar, ou andar. Ela também permite que você use saltos e sapatos abertos, porque é toda revestida para parecer uma pele humana mesmo. - Callie continua - Ela não machuca tanto, então você vai poder trabalhar com mais conforto. Ainda não pode tomar banho com ela. - Callie ri. - Mas bem, não existem limites. Você pode até correr se quiser, mas só após algumas sessões de fisioterapia.

Eu continuo em silêncio.

CALLIE

Eu tagarelava nervosa enquanto a observava. Ela permanecia chocada, encarando a prótese.

—Callie, eu... Eu... -É a primeira vez que ela fala, e meu coração dispara. - Eu não posso pagar por isso.

—Você a quer? -É a única coisa que eu pergunto.

—Eu quero, claro! - Ela responde rápido.

—Então, apenas aceite. - Sorrio. - Além disso, ela tem um preço que eu acho que você pode pagar!

—Quando? - Arizona pergunta sem tirar os olhos da prótese.

—Eu e Derek estamos trabalhando pesado para criarmos próteses que se movimentem com estímulos cerebrais, como você sabe. Eu conversei com Richard e ele concordou com que o hospital lhe oferecesse a prótese, desde que você fosse o primeiro paciente a participar dos testes com as pernas mecânicas. - Eu digo, mentindo. - Claro que você vai ter que trabalhar mais, além da fisioterapia rigorosa para se acostumar a perna nova, teriam os testes... Mas eu falei com Richard sobre isso, e ele disse para eu te ajudar com a fisioterapia, assim logo depois começaríamos os testes. E teremos duas horas por dia, uma para fisioterapia e outra para a pesquisa. Isso, claro, se você aceitar.

—Eu... - Ela não responde. E eu sinto um medo enorme dela negar. - Não sei o que falar.

—Só diga se aceita ou não.

—Se eu aceitar, vou poder ficar com a perna? - Seus olhos se enchem de lágrimas, e aquilo me toca profundamente.

—Sim, ela será sua. - eu respondo, esperançosa.

—Então sim, é claro que eu aceito!

Sorrio e sem me conter, me levanto dos meus pés e a abraço. Seu cheiro de repente se instala em minhas narinas. É o mesmo de anos atrás. Eu poderia jurar que seus cabelos tinham a mesma textura, e eu gostaria de toca-los e descobrir. Mas eu não podia. Eu podia apenas aproveitar aquele pouco de aproximação que ela me dava, e me aproveitar daquele momento.

Eu havia mentido para Arizona, e nem eu mesma entendia porque. Claro que não poderia dizer que sua mãe havia pago, já que isso ia levantar questões que eu mesma não sabia responder. Mas eu e Richard poderíamos dizer que o hospital a havia dado e ia descontar de seu salário mensal. Ou mesmo que havia sido uma doação. Eu poderia inventar qualquer coisa e a entregar um encaminhamento para o fisioterapeuta. Mas ao invés disso, eu escolhi uma desculpa que implicava Arizona estar comigo todos os dias, por duas horas. Só nós duas. Uma desculpa que significava ela não poder fugir de mim ou se manter longe. Eu havia optado por me aproximar de Arizona, e obriga-la a se aproximar de mim, sem ao menos entender por que.


—Eu posso colocá-la em você, se você quiser. -Eu digo saindo de meus devaneios. Arizona sorri, e assenti que sim, ainda em choque.

Arizona se levanta e deixa a calça deslizar por suas pernas. É segunda vez que eu faço aquilo, e a vejo daquele jeito desde que ela voltará, e me sinto quase íntima agora. O momento agora era muito emocionante para que eu pudesse me sentir atraída ou sentir qualquer coisa, mas ainda sim não podia deixar de reparar quão linda ela era. E quando toquei em sua prótese antiga, para tirá-la, não consegui não deixar minha mão esbarrar em sua perna, e afaga-lá rápido, em um movimento imperceptível. Esse ato foi incontrolável para mim, e rápido para que ela não percebesse. Logo eu estava desenganchando sua prótese antiga, e com cuidado, encaixei a nova, arrumando suas proporções reguláveis para que ficasse perfeita.

Quando tudo estava em seu lugar, parei um segundo para olhá-la. Ela encarava encantada a nova perna, levantou-a uma vez.

—Ela é mais leve mesmo, é estranho... - riu.

—Você vai se acostumar e aprender a lidar com ela. - eu digo. - Vou te ajudar.

—Então comece por agora e me ajude a levantar! - Ela diz sorrindo.

—Hm, você não está se achando um pouco folgada? Me coloca de joelhos, agora quer que a ajude...

—Você não quer que eu levante sozinha, cai e espatife a perna nova, não é? - ela fala em tom de brincadeira.

—Decididamente não. - respondo com uma careta. - Embora fosse ser bem engraçado. - Eu continuo, e recebo um tapinha fraco no braço, que me faz rir alto.

Dou a mão para Arizona, ela se apoia e eu a a ajudo a se levantar. Ela para alguns segundos, apenas se encarando daquele jeito. Eu viro o rosto para o espelho atrás de nós, e a ajuda a virar para que possa se ver.

—Opa... -Ela diz sorrindo ao se desequilibrar. E depois fica em silêncio alguns segundos, parada, apenas se observando no espelho. O olhos, embora indecifráveis, carregavam uma emoção tocante.

—Não se preocupe, vai demorar para você se acostumar, mas com a fisioterapia você vai conseguir fazer tudo e muito mais que fazia antes.

Ela não responde, apenas me encara. Um sorriso brotando em seus lábios, e seus olhos estão cheio de lágrimas, e eu sei que são de felicidade. E aquilo me deixa estranhamente feliz. Sua felicidade enche meu coração de algo familiar, mas que eu não sentia a tanto tempo que já se tornará um sentimento desconhecido. Eu nem ao menos sabia o que era. Eu só sei sentia, naquela hora, que sua felicidade era a minha. E todos os telefonemas e todos os dias de ansiedade daquela semana, tinham válido a pena. Ela estava feliz.

—Obrigada, Calliop... - Arizona começa a falar e se aproxima para me abraçar, mas no momento que o faz se desequilibra de novo para frente, quase caindo em minha direção. Eu, no entanto, consigo segura-lá pela cintura, a puxando para mim.

Nossos corpos se colam.
Nossos rostos ficam a centímetros um do outro.
Nossas bocas estão tão perto, que sua respiração parece a minha, e eu quase consigo sentir a textura de seus lábios nos meus. Quase consegui lembrar o gosto de sua boca. Como era seu beijo, sua língua se enroscando na minha, seu corpo.

Seus lábios e o seu corpo tão perto. Tão colado ao meu.

E de repente, eu quero senti-los.



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