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História Will you be there? - Papai - Dia 1


Escrita por: thilover

Capítulo 10 - Papai - Dia 1


~~Thiago~~

 São três horas da manhã. Três!

 Eu estou morto de cansaço, passei o dia treinando e agora não consigo dormir. E sabem o que ela quer? Eu também não faço ideia. Raquel decidiu me deixar na mão hoje, fiquei sozinho com a peste. Elena nem sonha em olhar pra minha cara depois de ter descoberto tudo, ela nunca soube da gravidez da Mariana, eu não teria contado, óbvio. Meu agente jogou tudo nas minhas costas, meus queridos amigos não estão nada a fim de me ajudar nessa, estou ferrado sozinho mesmo. Eu nunca soube cuidar de criança, acho que ninguém pensou no risco que foi deixar essa menina comigo – não me responsabilizo por nada que venha a acontecer.

 Até agora só consegui descobrir que ela gosta de comer banana e acordar no meio da noite. Ontem, quando Márcio me obrigou a traze-la pra casa, Giovana ficou aqui e tomou conta de tudo. Hoje enquanto eu estava no treino (tentei ficar por lá o maior tempo possível pra não ter que aguentar a situação da minha casa), Raquel cuidou dela, mas assim que cheguei a noite ela foi embora. Pra minha sorte, quando cheguei depois de enrolar a tarde toda a toa na academia, Camilla já estava dormindo.

 Eu já disse que odiei o nome que Mariana escolheu pra ela?

 Achei que conseguiria dormir bem e meus planos eram de acordar antes dela amanhã, chamar uma das amiguinhas da Mariana e sumir mais uma vez. Acontece que não deu certo, Márcio e o treinador nos deram ‘dia de folga’ e nenhuma das meninas vai vir pra cá. Ah, e antes mesmo que o dia começasse, meu trabalho começou. Acordei agora, as três da manhã, com o berreiro dessa menina na minha cabeça – aliás, eu não tenho nada de criança então ela roubou a minha cama e eu tive que ficar com o chão. Acham que eu sei o que um bebê quer quando está chorando? Nunca tive essa experiência antes e estou aqui sentado, com o ouvido explodindo na frente dessa menininha que chora irritantemente e de maneira inesgotável.

 Pela primeira vez eu queria que Mia estivesse aqui pra resolver isso. Juro que o que aconteceu com ela foi só um acidente, nenhum de nós viu aquele carro vindo. Eu juro que não queria machuca-la, muito menos desse jeito. Posso até ter desejado que ela sumisse da minha vida, mas nunca desejaria que fosse parar num hospital em estado um tanto grave. Mesmo já passados quase dois dias desde o acidente, os médicos não deram nenhuma resposta sobre Mariana, disseram apenas que foi grave e que ainda não podem dizer se haverão sequelas. Não sabem nem quando ela vai acordar (ou se vai acordar). O que me deixa em desespero, já que isso me obrigaria a ficar cuidando da filha dela. Filha dela, minha, nossa, não sei ainda...

 Tá, eu sei que é minha porque tem o meu sangue e tudo isso, mas ainda não consigo pensar nela como minha filha. Eu não tenho filho nenhum, não consigo admitir uma criança assim do nada como se ela simplesmente tivesse surgido. Minha ficha ainda vai demorar pra cair, se ela cair. É bem estranho, posso dizer. Ela se parece comigo, mas acho que deve ter o temperamento da mãe dela (começando por ser irritante). Pode parecer que eu sou uma pessoa terrível, mas tentei dormir e ignorar o escândalo que a garotinha estava fazendo. Obviamente, não consegui dormir e, de alguma maneira, ela desceu daquela cama e começou a me seguir pela casa.

“O que você quer, coisinha?” – parei na cozinha e a encarei, mesmo sabendo que não teria resposta. E o choro continuava, assim como a perseguição

 Me esforcei pra lembrar onde Raquel tinha deixado tudo que eu precisava e a primeira coisa que pensei foi no bendito leite. Deve ser isso, fome – eu pelo menos fico muito irritado quando estou com fome, Mariana também ficava. Peguei a primeira mamadeira com leite que achei em minha frente e fiz o que Giovana tinha me instruído; esquentar, testar a temperatura e essa frescura toda. Já estou tão ferrado com todo mundo que se eu fizer algo errado com essa menina provavelmente vou ser expulso do time, da minha casa, do país...

 Pronto, agora acho que resolvi o problema. Agora essa criaturinha toma o bendito leite, dorme de novo e me deixa dormir em paz. Com a mamadeira pronta e na mão da dona, resolvi ficar um tempo na sala, me joguei no sofá e a coisinha veio me seguindo com seu lanchinho da noite. Liguei a TV, mas Camilla insistiu em ficar na minha frente me encarando como se esperasse alguma coisa – pra minha sorte ela tinha parado de chorar. Por que ela não simplesmente senta e toma o leite logo?

“O que foi dessa vez, coisinha?” – desisti de tentar enxergar a TV e a encarei. Ela não disse nada, como sempre, apenas estendeu os braços como se quisesse me alcançar de alguma forma. Ah, claro, deve estar querendo colo – “Nem pensar, mocinha. E pode parar de me olhar com essa cara”

 Não, eu não quero construir nenhuma relação próxima com essa garotinha. Mas ela é insistente e provavelmente começaria a chorar de novo se não tivesse seu pedido atendido. Eu consigo resistir a esse pedido, vou me concentrar na Tv e ela vai desistir.

 Ok, eu não consigo, é uma carinha muito fofa de uma criança muito insistente.

 Acontece que eu não sei nem pegar uma criança no colo. Fiquei com medo de derrubar a menina, sei lá. Ela deu risada de mim. Mas não achem que fiquei dando colo pra Camilla, eu só a ajudei a subir no sofá e ela se deitou ali do lado, finalmente tomando a mamadeira e ficando quieta. Aumentei o volume da televisão, mas eu estava com tanto sono que nem conseguia prestar atenção. Fiquei observando a garotinha, ela também se parece um pouco com a mãe. É uma criancinha bem mais comportada do que eu era, com certeza. E ela é fofa, tem um sorrisinho contagiante, gosta de ficar me encarando e sorrindo – quando não está chorando, claro. Agora ela parecia estar com sono, acho que estava decidindo entre se manter acordada tomando o leite ou dormir.

 No fim das contas Camilla terminou o leite e voltamos pro quarto. Levei a mamadeira dela pra cozinha (quase dormindo em pé), olhei no relógio... 03:30 da madrugada. Fui indo pro quarto e a coisinha foi me seguindo de novo, achei uma chupeta que Raquel tinha deixado por ali e dei pra ela – me disseram que elas previnem boas crises de choro – a coloquei na cama e me joguei no colchão que estava ali do lado. Eu não tinha animo nem pra esperar a menininha dormir, acho que eu dormiria antes dela. Mas não deu tempo. Milla começou a chorar. DE NOVO. Será que isso não cansa?

“E dessa vez o que é?” – resmunguei, sem muita disposição nem pra falar. Se não era a chupeta, não era o leite, não tinha nenhum cheirinho estranho no ar...

 Hm, era a falta da mãe dela. Acho que Mariana devia ser bem mais protetora e experiente que eu na hora de dar um boa noite por exemplo. Talvez elas dormissem juntas, ou talvez ela contasse alguma história antes da bebê dormir. Eu não sei fazer nada disso. Consegui entender que nas palavras meio erradas que ela tentava falar estava um pedido pela mamãe, pelos cuidados dela. Mas, pro azar dessa menininha, eu não sou como Mariana. Não chego nem perto, nem conseguiria me parecer com ela se eu quisesse. Mia é carinhosa, cuidadosa, atenciosa. Eu sou só um perdido.

“Ok, coisinha, sua mãe não pode estar aqui agora. Vai ter que se contentar comigo mesmo” – tentei conversar com ela, que estava toda manhosa choramingando. Olhei no relógio outra vez, 03:50 – “Acho que você não curte muito dormir cedo, né? Mas tá bem tarde, amiguinha, e o ser aqui precisa dormir pra conseguir acordar amanha”

 Eu nem sei porque fico falando com Camilla sabendo que ela não entende metade do que eu digo. Mas parecia estar surtindo efeito, ela estava se acalmando um pouco, estava prestando atenção. Só não demorou muito pra que os bracinhos se estendessem outra vez pra pedir o colo que eu não queria dar. Eu não sou insensível, só não consigo fazer isso. Pelo menos não ainda, ainda é estranho pra mim. Tentei insistir e convencê-la a dormir ali mesmo, sem a minha ajuda, mas não deu certo. Tive que ceder, mas só dessa vez!

 Eu não sei bem como descrever isso, mas a menininha parou de chorar quando veio pros meus braços, pude sentir como se acalmou. Ela encostou sua cabeça no meu ombro e, depois de me encarar por mais alguns minutos, foi fechando os olhos devagar até que pegou no sono. Já era quase 04:30 e eu estava morrendo, quase não mantinha mais os olhos abertos. Foi estranho porque passei a ter uma sensação que não consigo explicar, eu poderia ficar horas ali sem fazer nada com Camilla dormindo comigo no meu colo; eu sentia algo a mais por ela. Me vi numa situação que jamais imaginaria, tentando com todo cuidado não me mexer e não fazer barulho, cuidando de uma pestinha recém-chegada.

 Acho que por isso eu nunca quis me aproximar muito...



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