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História Will you be there? - Não precisamos dele!


Escrita por: thilover

Capítulo 2 - Não precisamos dele!


~~Mariana~~

“Milla, cuidado com isso!” – ser mamãe não é nada fácil, ainda era de manhã e lá estava eu correndo pra tirar um porta retrato das mãos da minha pequena que gosta de brincar com qualquer coisa – “É a única foto que tenho com seu pai” – pensei alto, antes que Raquel reaparecesse na sala

“Você nunca me disse quem é esse garotinho da foto” – minha amiga tomou o porta retrato das minhas mãos

“Não é ninguém importante, só um colega de infância” – respondi, com uma pequena mentira, recolocando a fotografia em seu devido lugar

 Raquel nunca vai poder saber que esse garotinho na foto é Thiago e, muito menos, que ele é o pai da Camilla. Ninguém sabe sobre o que vivi com o jogador famosinho e minha amiga é uma das fãs enlouquecidas de futebol, ela ficaria histérica se soubesse que o conheço antes mesmo de toda sua fama. Nem sei por que ainda tenho essa foto num porta retrato, talvez porque ela me traz muitas lembranças boas, da infância feliz que tive apesar de tudo, me lembra de quando ‘Aguinho e Mia’ andavam juntos com essas bicicletas pela rua do Lar dos Anjos.

“Já terminou de arrumar suas coisas, dona Mariana?” – Raquel perguntou, indo pro quarto

“Sim, só falta arrumar umas coisinhas da Mi” – respondi, levando a sapequinha pro outro quarto – “Acha mesmo que vai dar certo?”

“Tem que dar, Mia” – ela retrucou, rindo

 Eu e Raquel estávamos planeando nossa viagem pra capital, uma amiga dela disse que sabia de um apartamento pequeno em que poderíamos ficar enquanto precisássemos – precisávamos urgentemente de um emprego, eu não consegui nenhum desde que Camilla nasceu e Raquel acabou de perder o seu, estamos vivendo com umas poucas economias e com a ajuda de alguns amigos. Preciso de qualquer emprego, estou aceitando qualquer coisa, eu tenho uma filha pequena pra sustentar sozinha e isso não é tão fácil quanto parece.

 Quando Thiago foi embora, eu guardei o segredo da gravidez até quando pude, mas assim que as diretoras do orfanato daqui descobriram elas me expulsaram. Eu não tinha pra onde ir, pra minha sorte, Raquel aceitou que eu ficasse no apartamento dela até conseguir algo melhor. A conheço da escola, já planejávamos morar juntas quando terminássemos o colégio, queríamos cursar alguma boa faculdade – mas tudo deu errado no meio do caminho. Ela, que já morava fora de casa por vontade própria, brigou com os pais e parou de receber a ‘pensão’ que recebia deles. Eu, grávida, tive que parar de estudar e arrumar um emprego pra que pudesse ajudar Raquel a pagar o apartamento e os meus custos e gastos.

 Consegui trabalhar até quase o fim da gestação, eu e Raquel éramos garçonetes numa lanchonete bem movimentada daqui. Mas, quando Camilla nasceu, eu tinha que cuidar dela e pedi demissão para os primeiros meses; quando ela já estava um pouco maior tentei arrumar outro emprego, só que eu não podia pagar uma babá, ela não tinha idade pras creches e ninguém queria uma empregada que ficasse com um bebê a tiracolo. Uns dias atrás o dono da lanchonete demitiu Raquel e agora somos duas desempregadas que vão pro Rio de Janeiro a procura de melhores oportunidades – e quantas lembranças essa cidade me traz.

 Ah, e não pensem que não procurei por Thiago...

 Quando resolvi contar a ele que estava grávida, eu estava apavorada e com medo, mas tinha uma ingênua certeza de que me ajudaria. Assim que recebeu a notícia, ele ficou branco, nervoso, irritado, me xingou, virou as costas e sumiu por meses. Chorei muito sem entender direito o que tinha acontecido, esperei a cada dia naquela estação pra ver se ele apareceria.

 Simplesmente não entendi por que Thiago sumiu daquele jeito, como se ele não tivesse responsabilidade nenhuma e irritado por uma gravidez que eu também não tinha planejado. Depois entendi, ele estava começando a ficar famoso, tinha acabado de conseguir uma vaga no Fluminense, era óbvio que um bebê só arruinaria toda vida e carreira dele. Mesmo assim, Thiago não tinha o direito de me abandonar daquele jeito, ele cresceu comigo e, no momento em que mais precisei, ele me deixou sem nem olhar pra trás e sem me dar explicações.

 Esperei alguma notícia por mais de dois meses, a única coisa que eu ouvia sobre ele era nos jornais que monitoravam seu sucesso crescente – eu me lembrava de todas as jogadas que ele tinha tentado me ensinar enquanto estávamos juntos. Quando minha situação apertou, decidi ir atrás dele na capital, “se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé”, não é?!

 Consegui pegar um ônibus, ir pro Rio e chegar até a casa da tia cara fechada, onde Thiago morava, agora também com a mãe. Nem precisei chegar perto, quando eu estava na esquina pude vê-lo chegando em casa com outra garota, uma moça loira que parecia simpática e bem mais bonita que eu. Ela sim lembrava as modelos que todos adoravam, ao contrário de mim, que nem nos melhores sonhos pareço com modelo famosa – nem nunca quis parecer. Tenho certeza de que ele me viu, mas me ignorou e entrou na casa, acompanhado da aparente nova namorada. Não tive coragem de me meter, de cobrá-lo, de passar aquela história a limpo; apenas sai correndo, chorando e com uma vontade imensa de me jogar na frente do primeiro ônibus que passasse. Thiago definitivamente não precisava mais de mim, tinha me esquecido.

 Se ele tinha me esquecido, coloquei em minha cabeça que eu iria esquecê-lo e iria cuidar do meu filho sozinha, daria um jeito. Claro, dizer que o esqueci é um pouco mentira, mas continuo tentando. Ainda tento entender como ele teve coragem de me abandonar sabendo que eu estava esperando um filho dele; mas de qualquer forma eu assumiria aquela criança – hoje vejo que tomei a decisão certa, não sei o que seria da minha vida sem minha princesa; que logo faz dois anos, aliás.

“Mia, escuta isso!” – Raquel me arrastou pra sala hiper-animada. Ela queria me mostrar o placar da vitória do Fluminense sobre um time qualquer. Eu tinha que ver Thiago ali, jogando e comemorando, e fingir que não o conhecia – “Ele não é incrível? Meu Deus, que defesa foi aquela?!”

“Ah, o jogadorzinho... Claro” – respondi, disfarçando meu ódio interno pelo seu principal atleta. Meus sentimentos atuais em relação a Thiago são misturados porque, ao mesmo tempo em que ainda tenho um saudades dele, fico com raiva só de ouvir seu nome e lembrar do que me fez

“Eles são lindos, mas o Thiago se supera. Fala sério, Mia, olha esse beiço...” – sim, eu tenho que aturar uma amiga que é apaixonada pelo cafajeste do meu ‘ex’ namorado – “Qual seu preferido, Mari?”

“Já me perguntou isso um milhão de vezes, Quel” – retruquei, levando Milla pro banho – “Vou responder pela trigésima vez que não curto nenhum deles, nem lembro os nomes” – na verdade eu quis me afastar de tudo que me lembrasse Thiago desde que nos separamos

“Você devia ver e torcer mais, não sabe o que está perdendo, Marianinha” – ela insistiu, enquanto eu dava de ombros

“Sei bem o que estou perdendo” – pensei alto

“O que?” – ela gritou do outro quarto

“Nada, só pensei alto” – respondi, tentando controlar a alegria da pequenina que adora bagunçar no banho – “A gente não precisa do seu pai, não é, Mi?! Vamos ser muito felizes juntas, só nós duas! Mas bem que você podia parecer menos com o papai, né...” – brinquei, ‘conversando’ com meu amor, ainda que ela não me entendesse muito

(...)

“Sabe, Mari, você nunca me contou porque decidiu escolher esse nome pra Milla” – Raquel começou o assunto, meio que sussurrando pra não acordar a bebê

“Ah, era o nome de uma das minhas cuidadoras no Lar” – respondi, ajeitando o pequeno cacho moreno da lindinha que dormia meio sem jeito em meu colo – “Ela me tratava como uma mãe, me ajudava em tudo, eu sempre falava que quando tivesse uma filha ia chamar de Camilla também... Mas ela faleceu num acidente depois que vim pra cá”

 A ‘tia’ Camilla é mais uma das pessoas de quem eu sinto muita falta, ela foi muito importante pra mim durante toda minha infância e adolescência – fiquei meio em dúvida quando fui escolher esse nome pra minha bebê porque ainda me doía ter que lembrar da partida da tia Milla; mas acabei optando por ele mesmo. Eu costumava brincar quando ainda estava no Lar dizendo que minha futura filha teria o nome dela, nada mais justo que optar por essa homenagem a alguém tão especial.

“Fica calma, Mariana, tá me deixando aflita assim” – Quel ria, provavelmente minha insegurança estava estampada em minha cara

“Não consigo ser tão calma como você” – retruquei, forçando um sorriso

 Estávamos dentro de um ônibus, indo pra capital sem nem saber ao certo como iríamos nos virar por lá. Uma chuvinha fina caia do lado de fora e eu tentava me distrair olhando pela janela, sem muito sucesso; minha cabeça estava cheia de preocupações e perguntas... Será que lá eu conseguiria alguma coisa, conseguiria dar o que minha filha precisa? A única certeza que eu queria ter, na verdade, era a de que Milla vai ficar bem, que ela vai conseguir ter uma vida melhor que a minha, que a falta do papai não vai afetá-la como me afetou; que ela vai ser feliz. Só isso!



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