Harriet POV
Eu havia parado no Colorado.
Estacionei o carro que eu havia roubado (super normal) em frente a um restaurante velho da região e desci, andando até o balcão, sentando-me em uma das banquetas.
- Um café forte sem açúcar - pedi e suspirei, olhando para a prateleira na parede contendo vários sachês e adoçantes. Olhei para a televisão e vi que estava passando o noticiário. Havia um repórter e percebi que ele gravava em frente à uma floresta. Foram mostradas as fotos de três rapazes - pode aumentar o volume? - falei e o cara que estava preparando meu café pegou o controle que estava embaixo da televisão, aumentando o volume.
- “Os três jovens saíram para acampar uma semana atrás e não deram mais notícias. As autoridades locais presumem que eles foram vítimas de ursos, mas ainda assim, o guarda florestal responsável pela área acredita que eles estejam bem e que tudo não passe de um mal entendido. Como eu disse no começo desta reportagem, essa história está bem mal contada. Voltamos em breve com mais notícias.”
- Mais alguma coisa? - o cara perguntou, deixando o café em frente à mim.
- Não, valeu - respondi - sabe alguma coisa sobre esses desaparecidos? - perguntei e tomei um gole do meu café, tentando parecer desinteressada no assunto.
- Não mais do que qualquer um - ele respondeu e jogou a toalha que estava no balcão em seu ombro - eles eram amigos e sempre saíam para acampar nessa floresta. Pelo o que eu entendi, a irmã de um deles disse que eles pararam de dar notícias e não voltaram para casa no tempo estimado.
- E você acha que pode ter sido ursos?
- Sinceramente, já houveram casos de ataques por ursos nesta floresta, mas isso era na época em que eles estavam em reprodução, entende? - ele disse e eu assenti - mas essa não é a época de reprodução.
- Entendo - falei - acha que pode ter sido outra coisa?
- Não sei - ele disse e eu peguei meu notebook, começando a pesquisar.
Levantamento de dados é sempre minha parte favorita.
Eu sabia que provavelmente, seja lá o que for que possa estar envolvido nos desaparecimentos, vivia na floresta. E se alimentava de carne humana? É uma boa pergunta. Se sim, sem deixar nenhum vestígio? Olhei para a tela do meu notebook e comecei a pesquisar sobre os desaparecimentos locais ao longo dos anos e vi que em abril deste ano dois homens desapareceram e que, em 1982, 8 pessoas diferentes desapareceram e as autoridades acharam que foi ataque de urso. Haviam mais desaparecimentos que aconteciam coincidentemente a cada 23 anos.
Opa, já podemos dizer que a tal criatura tem um ciclo bem definido de caça. Continuei pesquisando e vi que em 1959, houve um ataque e um sobrevivente, já é um bom começo.
Anotei o nome e o endereço do sobrevivente em uma folha e coloquei-a em meu bolso, voltando a procurar por lendas, que é o que normalmente se encontra em lugares como esse, com florestas em parte desconhecidas.
Eu havia lido inúmeras lendas e nada parecia bater. Foi quando eu achei uma lenda que falava sobre o Wendigo e ela se encaixava perfeitamente. Precipitado? Acredito veemente, mas como eu disse, já é um começo e todas as possibilidades precisam ser consideradas. Fechei meu notebook e suspirei, internamente animada por ter uma nova investigação no caminho.
Paguei pelo meu café e coloquei minha mochila nas costas, colocando meu notebook debaixo do braço. Puxei a maçaneta da porta e a abri, pegando meu celular enquanto a deixava bater atrás de mim, indo na direção do meu carro, que estava estacionado ao lado do restaurante. Eu estava colocando o endereço da vítima no GPS quando virei a esquina, batendo em alguém.
Levantei meus olhos e encontrei dois olhos extremamente verdes me olhando de volta, causando um frio em meu estômago.
De terno. Dean estava de terno. Meu Deus.
- Oi, estranha - ele disse e sorriu - acho que o destino quer que a gente fique juntos - ele continuou e eu fiz uma careta, afastando-me.
- Engraçadinho - respondi e olhei para Sam, voltando a olhar para Dean em seguida.
- Olá - Sam disse e eu sorri sem jeito.
- O que vocês estão fazendo aqui? - perguntei, estreitando meus olhos por conta da claridade do sol.
- O que você está fazendo aqui? - Dean devolveu a pergunta e eu suspirei.
- Talvez eu tenha achado um caso - respondi e eles se entreolharam.
- Dos rapazes que sumiram? - Sam perguntou e eu assenti - o que você conseguiu?
- Não muita coisa - respondi - eu vou falar com um sobrevivente agora.
- A gente acabou de fazer isso. E falamos com a irmã de um dos desaparecidos também. Acho que fomos mais rápidos que você - Dean respondeu e eu suspirei novamente, vencida.
- Eu estava só começando a investigar - respondi e arrumei minha mochila nas costas - o que conseguiram?
- Isso você só vai saber se entrar e tomar um café com a gente - Dean respondeu e andou na direção da porta do restaurante, deixando-me claramente sem alternativa.
Olhei para Sam e sorri, seguindo-o para dentro do restaurante.
Dean estava andando na direção de uma mesa mais isolada no fundo do restaurante e eu não pude deixar de notar como ele ficava bem de terno. Ele se sentou e fez sinal para que eu sentasse em sua frente. Sam se juntou à nós e eu coloquei minha mochila na cadeira ao meu lado, segurando o notebook em meu colo. Sam pediu dois cafés e eu neguei, afirmando que eu havia acabado de tomar o meu.
- E então? - perguntei assim que os cafés chegaram - o que descobriram?
- O sobrevivente disse que a criatura era muito rápida e se escondia muito bem. E que a criatura entrou sem quebrar janelas ou portas. Além disso, ele ficou com uma cicatriz feia no peito - Dean pontuou.
- E porque ele sobreviveu?
- Não sabemos.
- E ele estava sozinho?
- As pessoas que estavam com ele foram mortas, mas não teve vestígio.
- Papai já caçou algo assim - Sam disse - acho que é um…
- Wendigo! - falei um pouco empolgada demais e eles me olharam - eu andei pesquisando.
- É cedo pra dizer - Dean rebateu - e Wendigos não vivem nessa área do país.
- Que seja - falei dando de ombros - e a gente entra naquela floresta quando?
- A gente? - Dean disse - acha que consegue correr mais rápido que o Wendigo?
- Você não disse isso - falei e ele sorriu.
- A irmã de um dos desaparecidos vai entrar na mata em busca do irmão, é só a gente ir com ela. Sabendo o que tem lá, ela não está preparada para enfrentar se algo der errado - Sam disse e eu assenti.
- Beleza - concordei.
- Vou pagar a conta - Sam informou e se levantou.
Eu fitei a janela e percebi o olhar de Dean em mim. Olhei-o de volta e ele desviou, olhando para a mesa e novamente para mim.
- O que foi? - perguntei e ele estreitou os olhos.
- Tem olhos hipnotizantes, estranha - ele respondeu e eu não pude distinguir se era uma confissão ou uma provocação.
- É Harriet - corrigi e ele desviou de mim novamente, sorrindo de canto.
- Tá bom, estranha - ele disse por fim e se levantou - agora vamos.
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Na manhã seguinte, Dean estacionou na frente da trilha e a irmã do desaparecido já estava lá, Haley. Desci do carro e amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, seguindo Dean com os olhos.
- Tem lugar pra mais três? - ele disse à Haley e ela sorriu.
- Querem vir conosco? - ela perguntou e eu notei outro garoto com ela.
- Quem são eles? - um cara segurando um rifle perguntou e eu encarei-o. Ele era o guia.
- São a única ajuda que a guarda florestal conseguiu reunir - ela respondeu e eu coloquei a mochila em minhas costas.
- São guardas florestais? - o cara perguntou, incrédulo.
- Sim - ela concordou e me olhou.
- Ah, claro - Dean logo disse - indelicadeza minha. Está é Harriet. Minha estagiária.
Eu olhei para Dean e ele sorriu brevemente.
- Oi - falei e Haley acenou.
- São guardas florestais e vão para a floresta de botas e calça jeans?
No mesmo instante, eu olhei para minha roupa e definitivamente não era a mais adequada para uma saga na floresta.
- Não gosto de bermudas - Dean respondeu e eu avancei atrás de Sam no começo da trilha.
- Acha isso engraçado? - o guia perguntou para Dean e ele semicerrou os olhos - é um terreno perigoso. O irmão dela pode estar ferido.
- Confie em mim - Dean respondeu com uma ponta de ironia - sei como é perigoso. Queremos ajudá-la a encontrar o irmão, só isso.
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- Roy, você disse que caça - Dean falou ao guia depois de um longo silêncio enquanto entrávamos cada vez mais na floresta.
- Sim - ele respondeu e eu tropecei em uma raiz, sendo vista nesse deslize apenas por Sam, que riu disfarçadamente.
- Que tipos de animais você caça?
- Veados. Às vezes, ursos.
- Bambi ou Zé Colméia já tentaram caçar você? - Dean zombou e Roy agarrou a camisa dele, fazendo-o parar. Eu parei de andar e olhei-os, assim como Sam e os outros - o que está fazendo, Roy?
Roy se abaixou e pegou um galho, batendo-o no chão, onde uma armadilha para ursos estava.
- Devia olhar por onde anda, guarda - Roy provocou e continuou andando.
- Era uma armadilha para urso - Dean disse, tentando consertar a situação.
- Bela jogada, chefe - falei ironicamente - seus ensinamentos sempre me surpreendem.
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- Chegamos - o guia informou depois de mais um tempo de caminhada - aqui é Blackwater Ridge.
- Quais são as coordenadas? - Sam perguntou.
- Trinta e cinco menos onze.
- Ouviu isso? - perguntei à Sam e Dean se aproximou de nós.
- Sim - ele assentiu - nem mesmo barulho de grilos.
- Vou dar uma olhada por aí - Roy anunciou.
- Não devia ir sozinho - falei, rapidamente.
- É muita gentileza, docinho - ele respondeu rindo e eu o olhei, cheia de desprezo - não se preocupe comigo. A não ser que você queira vir dar uma volta.
- É, mas ela não quer - Dean respondeu e Roy riu ainda mais, saindo floresta afora.
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Mais à frente, Ben, irmão de Haley que havia ido conosco, encontrou as barracas em que os rapazes estavam acampados, todas completamente destruídas.
- Meu Deus - Haley murmurou, paralisada.
- Parece que foi um urso - Ben comentou e eu olhei as manchas de sangue na barraca.
- Tommy! - Haley começou a chamar pelo irmão e Sam foi até ela, pedindo para que ela não fizesse barulho.
Eu segui pelas imediações do acampamento e notei marcas de algo que foi arrastado pelo chão. Senti alguém agarrar meu braço e eu me virei, vendo Dean.
- E aí - ele disse.
- Os corpos foram arrastados para longe do acampamento - falei - aqui os rastros desaparecem.
- É estranho - ele concordou e me olhou - posso lhe dizer uma coisa, não é um pajé ou um cão negro.
- Eu disse - insisti - Wendigo.
Dean semicerrou os olhos e sorriu, deixando-me momentaneamente desconcertada com o brilho de seus olhos sob a luz dourada dos míseros raios de sol que atravessavam as copas das árvores e chegavam até nós.
- Socorro! - um grito ecoou da mata e eu me virei, olhando em volta.
Roy foi o primeiro a sair correndo assim que o grito se repetiu, seguido de Haley e Ben. Seguimos eles enquanto os gritos ecoavam e, quando chegamos onde parecia ser a origem o pedido de socorro, não encontramos nada além das folhas das árvores balançando com o vento.
- O som não parecia vir daqui? - Roy perguntou.
- Vamos voltar para o acampamento. Agora - Sam ordenou e nós recuamos, voltando.
Quando chegamos, nossas mochilas haviam desaparecido.
- As mochilas - Haley disse.
- Lá se foi meu GPS e meu telefone via satélite - Roy reclamou.
- O que está havendo? - Haley perguntou.
- Ele é esperto - respondi - quer no isolar para não pedirmos ajuda.
- Acha que algum maluco roubou nosso equipamento? - Roy indagou e eu olhei-o.
- Preciso falar com você em particular - Sam disse para Dean e eles se afastaram.
Fiquei olhando fixamente na direção dos dois e esperei até que eles finalmente retornaram.
- Está bem - Dean disse ao voltar - precisamos ir embora. Vamos. As coisas ficaram mais complicadas.
- O que foi? - Haley perguntou.
- Não se preocupe - Roy advertiu - eu posso cuidar desse animal.
- Não estou preocupado comigo - Sam respondeu - atirar nele vai só irritá-lo. Vamos embora, agora.
- Está falando besteira. E não pode me dar ordens.
- Relaxe - Dean pediu.
- Não devíamos ter deixado vocês virem conosco - Roy resmungou.
- Só quero protegê-los - Sam explicou.
- Quer me proteger? Eu vinha caçar aqui quando sua mãe ainda ninhava você.
- Este é um caçador perfeito. E é mais esperto que você. E ele vai caçar você, a não ser que você saia daqui agora.
- Você é maluco, sabia? - Roy disse, irritado.
- É? Já caçou um Wen… - Sam começou a dizer e Dean interrompeu-o.
- Calma - Dean pediu e empurrou Sam para longe de Roy.
- Pare - Haley pediu - parem com isso. Tommy pode ainda estar vivo. E eu não vou sair daqui sem ele.
- Ótimo, sensacional - falei - isso só fica melhor.
- Está ficando tarde - Dean disse em um suspiro - essa criatura é ótima caçadora durante o dia, mas é uma caçadora incrível durante a noite. Não vamos derrotá-la no escuro.
- Precisamos nos preparar para nos proteger - avisei.
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A noite estava se aproximando e nós resolvemos acampar em uma clareira ali perto. Dean havia desenhado símbolos no chão que serviriam como proteção e eu ajudei Haley a armar uma das barracas enquanto eu via Dean e Sam se afastarem. Eu me sentei embaixo de uma árvore e Dean veio até mim depois de falar com Sam.
- Você tinha razão - ele disse e se sentou ao meu lado, encostando-se em mim - Wendigo.
- Eu sei - falei e olhei-o - eu sempre tive razão. Mas é difícil aceitar que eu sou melhor que você, eu entendo. Não te julgo. O ego masculino é muito frágil - provoquei e ele sorriu, olhando-me de volta.
- De onde você veio, estranha? - ele perguntou mais baixo e eu sabia que era uma pergunta retórica.
Eu não pude deixar de desviar meus olhos para sua boca, que parecia tão convidativa, causando um formigamento em meu estômago, e ele prontamente percebeu isso, pois sorriu brevemente, deixando um baita clima entre nós. Olhá-lo ali me fez perguntar-me há quanto tempo eu não beijava alguém. Há quanto tempo eu não sentia vontade de beijar alguém. E, vendo Dean ali, beijá-lo parecia ser algo tão comum quanto respirar.
- Socorro! - outro grito ecoou na mata e eu olhei em volta, assim como ele - por favor! - eu me levantei e peguei minha lanterna, reunindo-me com o restante do grupo, iluminando a mata ao meu redor - socorro! Por favor!
- Ele está tentando nos atrair. Fiquem calmos - Sam orientou e eu olhei ao meu redor mais uma vez.
- Dentro do círculo mágico? - Roy perguntou e eu revirei os olhos.
- Socorro! - o grito continuava - por favor, socorro!
- Está bem, não é um urso - Roy elencou.
Algo pareceu se mover na floresta e eu recuei, ouvindo Roy atirar no mesmo instante. Ele atirou novamente e nos olhou.
- Eu acertei! - Roy comemorou e saiu mata adentro.
- Roy, não! - Dean gritou e eu avancei para seguir Roy, mas Dean me segurou, puxando-me para trás - fique aqui. É mais seguro. Eu e Sam vamos - eu fui protestar e ele negou - eu vou, cuide deles - e eles saíram.
- Merda - resmunguei, apertando a lanterna em minhas mãos.
⚚
- Temos uma chance mínima durante o dia - Sam disse assim que amanheceu - e eu pelo menos, quero matar essa criatura.
Sam explicou para Haley e Ben o que era o Wendigo e eu aproveitei para deixar o sol bater em meu rosto, tentando esquecer a dor no corpo derivada de uma noite mal dormida.
- Vamos, estranha - Dean chamou e eu olhei-o - temos um Wendigo pra queimar.
- Conseguem ver isso? - Sam perguntou para mim e para Dean depois de mais um trecho de caminhada, indicando as marcas de garra nas árvores - acho que as marcas são claras e distintas, quase fáceis demais de seguir.
As folhas e os arbustos em volta de nós começaram a se mover e eu pude ver o vulto da criatura. Recuei e parei próxima à Sam, tentando seguir o Wendigo com meus olhos, sem sucesso. Ouvi Haley gritar e o corpo de Roy caiu de cima de uma árvore.
- Você tá bem? - Sam foi até ela e eu me abaixei, tentando sentir os batimentos cardíacos de Roy.
- Ele quebrou o pescoço - avisei e me levantei, olhando em volta.
- Ok, corram! - Dean gritou - vamos!
Ele me empurrou em sua frente e nós corremos mata adentro. Vi Ben cair e eu parei, assim como Sam.
- Vem - falei, erguendo o garoto - te peguei, vamos.
Sam pegou meu braço e me puxou com ele, fazendo com que eu passasse em sua frente. Ouvi o grito de Haley e obriguei meu corpo a ir mais rápido, procurando por Dean. Parei, ofegante, e percebi que eles não estavam em lugar nenhum.
- Haley! - Ben gritou e eu levei a mão até minha cabeça, suspirando.
- Dean! - Sam gritou, mas o irmão não estava em lugar nenhum.
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- Se ele mantém as vítimas vivas, por que matou Roy? - perguntei.
- Acho que foi porque Roy atirou nele - Sam respondeu - ficou irritado.
- Eles passaram por aqui - Ben disse e eu olhei-o, vendo-o apontar um M&M colorido no chão que eu lembro vagamente de ter visto com Dean.
- É melhor que migalhas de pão - Sam concluiu e eu sorri, levemente aliviada.
A trilha de chocolate deixada por Dean nos levou até uma mina abandonada.
Eu liguei a lanterna e nós entramos na mina, com Sam seguindo mais a frente.
- Não saia de perto da gente - falei para Ben e ele assentiu.
Era um lugar completamente escuro e todo lugar que eu iluminava, havia uma teia de aranha, fazendo-me ficar cada vez mais nervosa. Haviam vários corredores, o que fazia daquilo um perfeito labirinto. A sombra do Wendigo andando pelos corredores surgiu e nós precisamos nos esconder, vendo a criatura horrenda andando distraidamente. Ben fez menção de gritar e, em um impulso, eu levei minha mão até a boca dele, pedindo para que ele ficasse calado.
Voltamos a seguir pelos corredores e, em um passo, eu ouvi o chão sob meus pés ranger. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele cedeu, derrubando-nos no andar debaixo. Senti meu corpo bater contra o chão e eu fechei meus olhos, virando-me segundos depois, tentando recuperar o ar que parecia ter desaparecido de meus pulmões com o impacto, percebendo que estávamos em um lugar repleto de ossos humanos.
- Tudo bem - Sam disse à Ben - está tudo bem.
Olhei em volta e, mais ao fundo, vi Dean e Haley pendurados, amarrados pelas mãos, desacordados. Levantei-me e fui até Dean, batendo em seu rosto.
- Dean - chamei-o - Dean. Acorde - segurei sua jaqueta e chacoalhei-o, percebendo Sam se aproximar assim como Ben, que tentava acordar a irmã - Dean.
Ele respirou fundo e abriu os olhos, parecendo perdido.
- Dean - repeti - você está bem?
- Não - ele respondeu.
- O que foi? - perguntei e ele gemeu - tá sentindo alguma coisa?
- Eu preciso que você me beije pra que eu possa sobreviver - ele respondeu e eu bati em seu peito.
- Idiota - falei e Sam riu, desamarrando o irmão.
Dean foi solto e eu o segurei, ajudando Sam a levá-lo.
- Achei que ele tinha matado você - Sam comentou e nós colocamos Dean no chão próximo a algumas mochilas, o qual gemeu de dor.
- Tem certeza que está bem? - perguntei e ele assentiu com uma careta.
- Sim - Dean respondeu - onde ele está?
- Não está aqui - falei e nós o ajudamos a desamarrar os pés.
Vi Haley se aproximar de outro cara que estava amarrado.
- Tommy? - ela disse e foi até ele com Ben, sendo seguida por Sam enquanto eu continuava abaixada ao lado de Dean. Haley gritou assim que Tommy acordou - cortem as cordas!
Eu olhei para as mochilas e Dean seguiu meu olhar, percebendo pistolas de sinalização. Ele ficou em pé, com dificuldade, e eu olhei-o para me certificar de que ele estava realmente bem.
- Vejam isso - Dean anunciou - pistolas de sinalização. Pode funcionar.
⚚
Seguimos pelos corredores em busca da saída e ouvimos um barulho, o que indicava que o Wendigo estava ali.
- Acho que alguém veio jantar - Dean disse.
- A gente não pode correr - Haley alertou, meneando com a cabeça para Tommy.
Dean me olhou e eu olhei-o de volta.
- Está pensando o mesmo que eu?
- Acho que sim - respondi.
- Escutem bem - Dean começou - sigam Sam, ele vai tirá-los daqui.
- O que vocês vão fazer? - Haley perguntou e Dean me olhou.
- Está na hora da janta, seu desgraçado! - Dean gritou e eu o segui - sim, isso mesmo! Pode vir, eu sou delicioso!
- Sem dúvida - deixei escapar esse comentário que deveria ter sido mental, o que fez com que Dean me olhasse, deixando-me vermelha.
Eu desviei de seu olhar e ele sorriu de canto, continuando a chamar pelo Wendigo.
⚚
Depois de um longo tempo atraindo o Wendigo, nós finalmente o encontramos e ele estava encurralando Sam e os outros.
Sem pensar, eu disparei para o final do corredor, temendo não chegar antes que o Wendigo pegasse eles.
- Harriet! - ouvi Dean gritar assim que eu corri, parando próximo a criatura monstruosa.
- Ei! - eu gritei e o Wendigo me olhou. Foi aí que eu atirei, acertando-o.
O Wendigo soltou um grito horrendo e seu corpo foi tomado por uma forte luz laranja que logo se tornou faíscas de fogo, queimando-o ali mesmo. Eu olhei para Dean e ele suspirou.
- Belo trabalho, admita - provoquei.
- Eu ia conseguir - ele respondeu e nós voltamos a caminhar para fora da mina.
- Aham.
- Tô falando sério.
- Não estou duvidando da sua capacidade, só estou dizendo que - eu falei e parei na frente dele, que continuou andando, parando próximo à mim, deixando-me sem ar enquanto eu iluminava seu rosto com a lanterna. Apesar de ele estar completamente sujo, ele ainda conseguia ser estonteante - só estou dizendo que… A vitória foi minha desde o início.
Ele me olhou com um olhar intenso e eu sustentei seu olhar por mais algum tempo antes de voltar a caminhar para fora da mina.
⚚
Nós estávamos na frente da casa de Haley, que contava para as autoridades que tudo não passava realmente de ataques de ursos.
- O que vai fazer agora? - Dean perguntou, olhando-me.
- Dormir - respondi.
- Não, você sabe - ele disse - vai embora?
- Vou.
- Por que não vem com a gente? - Sam perguntou.
- Por que?
- Nós vamos acabar nos encontrando de novo - Dean concluiu.
- A probabilidade é bem baixa.
- Nós temos um caso - Dean continuou - venha com a gente. Se você quiser, pode ir embora depois disso.
Eu não respondi e cruzei meus braços, olhando-os.
- Acredito que não seja uma oferta para ser recusada - Dean disse e eu suspirei.
- Tá - respondi - eu vou.
Dean sorriu, olhando para o nada, e entrou no carro, assim como eu e Sam. E nós seguimos para nosso novo destino.
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