Harriet POV
Dean estacionou em frente à um hospital para começarmos a investigar um novo caso. Sam dormia no banco da frente e eu vi Dean bater no ombro dele, fazendo-o acordar em um pulo. Sam olhou para os lados e eu levantei meus olhos para olhá-lo.
- Outro pesadelo? - Dean perguntou.
- Eu acho que é porque não tenho dormido muito - ele respondeu.
- Você sabe - Dean disse - cedo ou tarde teremos que conversar sobre isso.
- Nós chegamos? - ele perguntou, visivelmente para mudar de assunto.
- É - respondi e me inclinando para frente, ficando entre eles - estamos em Toledo, Ohio - mostrei o jornal para Sam e ele olhou a reportagem circulada.
- O que vocês acham que realmente aconteceu com esse cara? - ele perguntou e eu fiz uma careta.
- É o que vamos descobrir - Dean respondeu.
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Nós descemos do carro e andamos na direção do necrotério.
- Olá - Dean disse amigavelmente para quem deveria ser o responsável pelo local - somos estudantes de medicina e gostaríamos de ver o corpo do Shoemaker - o cara fez um expressão estranha e eu tentei consertar as coisas.
- O Dr. Harris não te disse? - perguntei lendo o nome de um jaleco que estava pendurado ali - ele disse que deixaria avisado e nós poderíamos entrar.
- Sinto muito - ele respondeu - não posso. O Dr. volta em uma hora, se quiserem, podem esperar por ele.
- Uma hora? - Dean disse e eu percebi que o cara não tirava os olhos de mim - é quando temos que voltar para a faculdade. Esse trabalho vale metade da nossa nota.
- Como eu disse - ele continuou e me olhou de cima a baixo - não posso - ele respondeu e olhou para Dean.
- Eu vou arrebentar ele - Dean sussurrou, virando-se.
Eu suspirei e peguei minha carteira, tirando uma nota de cinquenta dólares e me inclinando levemente sobre a mesa, o que deixava o decote da camisa que eu usava bem visível.
- Por favor - sussurrei e sorri, empurrando a nota sobre a mesa até ele.
Ele desceu os olhos até meu decote e eu precisei usar todas as minhas forças para não enfiar a mão na cara dele.
- Venham comigo - ele disse e se levantou, andando na direção de um corredor.
Eu me virei e percebi que Dean me olhava com uma expressão estranha. Sorri e bati no ombro dele, seguindo o cara.
- O jornal disse que a filha dele o encontrou - Sam comentou assim que eu e Dean entramos na sala - ela disse que os olhos dele estavam sangrando.
- Mas claro - o cara respondeu - os olhos praticamente se liquefizeram - ele puxou o pano de cima do corpo e, onde deveriam estar os olhos, havia dois buracos.
Vi Sam e Dean desviarem o olhar, enjoados, enquanto eu procurava olhar bem para ver se não notava algo suspeito.
- Há sinais de luta? - perguntei - talvez alguém tenha feito isso com ele.
- Não - ele respondeu - além das filhas e umas amigas, ele estava sozinho.
- Qual é a causa oficial da morte? - Sam perguntou.
- O doutor ainda não sabe. Ele acha que pode ter sido um derrame ou algum aneurisma. Algo assim. Tipo hemorragia intensa. Havia mais sangue no crânio do que no corpo todo.
- E os olhos? - Dean perguntou - o que causaria algo assim?
- Vasos rompidos, já vi coisas assim.
- E globos oculares explodindo, já viu? - perguntei.
- Essa é a primeira vez.
- Você acha que poderíamos olhar o relatório da polícia? - Sam perguntou - sabe, para o nosso trabalho.
- Não se você pedir, se é que me entende - ele disse e me olhou com um sorriso malicioso - mas dessa vez, eu quero algo físico.
- Ninguém precisa de relatório nenhum - Dean disse, irritado - e vê se fica esperto ou você vai ser o próximo a deitar nessa maca - ele esbravejou, apontando para o cara antes de sair de lá.
Eu olhei para Sam e ele me olhou de volta, com os olhos arregalados.
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Nós seguimos Dean para fora.
- Eu não sei - Sam comentou depois de um longo silêncio enquanto seguíamos para o lado de fora, descendo as escadas da entrada - pode ser uma criatura ou algum problema médico mesmo.
- Quantas vezes na nossa carreira houveram problemas médicos? - Dean perguntou parando em frente ao Impala.
- Quase nunca - respondi.
- Exato.
- Então - Sam disse - vamos falar com a filha.
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Seguimos até a casa e vimos que havia uma grande movimentação lá. Olhamos em volta e andamos até o jardim.
- Você deve ser Donna - Sam disse ao se aproximar de uma jovem.
- Sim - ela respondeu.
- Sentimos muito - falei e ela assentiu.
- Obrigada.
- Eu sou Dean - Dean disse começando a se apresentar - esse é o Sam e essa é Harriet. Nós trabalhávamos com seu pai.
- Sério?
- É, tudo isso - ele disse tentando parecer normal - quer dizer, o derrame…
- Acho que ela não quer falar sobre isso agora - a amiga de Donna interviu.
- Está bem - Donna respondeu - estou bem.
- Ele tinha sintomas que indicasse que ele iria ter um derrame? - tentei perguntar o mais sutilmente possível.
- Não.
- É porque não foi um derrame - uma garotinha disse.
- Lilly - Donna repreendeu a menina - não diga isso.
- Como assim? - Sam perguntou.
- Eu sinto muito - Donna disse - ela só está triste.
- Não! - a garotinha insistiu - foi por minha causa.
- Não, não foi - Donna disse e se abaixou perto da garota - por que diz isso?
- Porque ele morreu logo depois que eu disse…
- Disse o quê? - perguntei.
- Bloody Mary - ela respondeu - três vezes no espelho do banheiro - eu olhei para Dean e ele me olhou também - ela arrancou os olhos dele. É o que ela faz.
- Não foi isso - Donna disse - não foi assim que ele morreu.
- Sua irmã tem razão - falei - Bloody Mary ataca quem a chamou, e seu pai não chamou, certo?
A menina concordou e eu olhei para Sam.
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Entramos na casa e subimos para o andar de cima, parando em frente ao banheiro onde o pai de Donna havia morrido.
Abri a porta do banheiro e percebi que ainda havia manchas de sangue pelo chão.
- A lenda de Bloody Mary - Sam disse para Dean - papai já achou alguma prova de que é real?
- Não que eu saiba - Dean respondeu.
- Toda criança já brincou de Bloody Mary - Sam comentou - mas nunca ninguém morreu disso.
- Pode ser que nos outros lugares seja só uma história - falei e olhei para eles - mas aqui aconteceu mesmo.
- O lugar onde a lenda começou? - Dean perguntou e eu fiz uma careta.
- Não acho que seja isso, mesmo assim - continuei - quando você diz Bloody Mary ela vem e mata quem a chamou, o que deixa fora de sentido a vítima ter sido o pai.
- Isso - Sam concordou.
- Nunca ouvi nada assim antes - Dean comentou - mas o homem morreu bem em frente ao espelho e sabemos que “você sabe quem” arranca seus olhos.
- Assim como o pai delas - Sam completou.
- O que vocês estão fazendo aqui? - ouvi alguém perguntar e eu olhei na direção da voz, percebendo que era a amiga de Donna.
- Nós precisávamos usar o banheiro - Dean respondeu e eu olhei para ele. “Ela super vai acreditar nisso, não é?”
- Quem são vocês? - ela perguntou.
- Nós já dissemos - Dean respondeu.
- O pai de Donna trabalhava sozinho - ela disse e eu olhei para o chão.
- Eu sei - Dean tentou consertar - quer dizer…
- E todas aquelas perguntas estranhas lá embaixo? - ela continuou - o que foi aquilo? Acho bom vocês explicarem isso ou eu vou gritar - ela disse e eu encarei-a.
- Okay, docinho - falei - achamos que algo aconteceu com o pai de Donna e não, não foi um derrame.
- O que acham que foi?
- É o que a gente tá tentando descobrir - continuei - vai gritar ainda?
- O que vocês são? Tiras?
- Quase isso - Dean respondeu.
- Tudo bem - Sam disse ao perceber que a garota não sabia o que responder - aqui - ele escreveu seu telefone em um papel e entregou para ela - se vir algo estranho, ligue pra nós.
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Depois que deixamos a casa de Donna, seguimos até a biblioteca da cidade e procuramos por qualquer Mary que morreu em frente à um espelho. Passamos a tarde lá e, no final, decidimos terminar a pesquisa em um quarto de hotel.
Sam estava dormindo em uma das camas e eu estava sentada em uma cadeira, abraçada aos meus joelhos, com o notebook sobre a mesa. Dean estava sentado em frente à mim, intercalando entre suspirar e procurar por algo útil no caso. Eu estava preparada para mandar ele parar de suspirar quando nós vimos Sam acordando abruptamente na cama.
- Outro pesadelo? - Dean perguntou e Sam não respondeu - com o que sonhou?
- Pirulitos e balinhas - Sam respondeu.
- Que meigo - Dean respondeu, irritado.
- Acharam alguma coisa? - Sam perguntou, desviando de Dean.
- Não - falei - nada de útil.
O celular de Sam começou a tocar e ele atendeu.
- Alô? - ele disse e esperou, desligando o telefone - temos que ir.
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Encontramos aquela amiga de Donna em um parque. Ela quem havia ligado para Sam. Outra amiga havia morrido. Segundo ela, a vítima também disse Bloody Mary em frente ao espelho e foi encontrada morta, sem os olhos.
Nós contamos sobre nossa suspeita à ela e pedimos que ela nos ajudasse a entrar no quarto da vítima para ver se conseguíamos encontrar alguma pista que nos ajudasse.
Assim que nós entramos pela janela, Sam perguntou à ela:
- O que disse à mãe dela? - ele perguntou referindo-se à mãe da vítima.
- Eu disse que queria ficar um tempo com as coisas dela - ela respondeu - odeio mentir para ela.
- Acredite - Sam disse - é para um bem maior.
- Certo - falei e fechei a cortina - apaguem as luzes.
Ela apagou a luz e Sam pegou uma câmera na mochila. Ele apontou na direção de Dean e colocou no modo visão noturna.
- Pareço a Paris Hilton? - Dean perguntou e eu sorri.
Sam ignorou o irmão e começou a filmar o espelho.
- Eu não consigo entender - comentei e Dean me olhou - essa vítima chamou ela, mas o pai de Donna não.
- Não faz sentido mesmo - Dean respondeu e pegou seu aparelho que media frequências eletromagnéticas.
- Pra começar - falei - por que ela disse Bloody Mary em frente ao espelho?
- Ela só estava brincando - a garota respondeu.
Sam pediu para que Dean fosse buscar a luz negra e trouxe o espelho para cima da cama, rasgando o forro de trás. Assim que Dean voltou, Sam ligou a luz e nós conseguimos ler o nome Cary Bryman escrito.
Havia, também, uma marca de mão embaixo do nome.
- Sabe quem é? - perguntei e ela negou.
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No outro dia, nós pesquisamos sobre quem era Cary Bryman e encontramos com a amiga de Donna novamente no parque.
- Cary Bryman era uma garotinho de oito anos - falei assim que me aproximei com Sam de Dean e da garota, fazendo com que ela me olhasse - há dois anos ele morreu atropelado. O carro foi descrito como um Toyota preto. Ninguém anotou a placa ou viu o motorista.
- Meu Deus. Foi Jill - ela disse referindo-se à vítima - era o carro dela.
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Voltamos até a casa de Donna e descobrimos que no espelho no qual o pai dela morreu em frente estava escrito Linda Shoemaker. Conversamos com Donna e esse era o nome da mãe dela, o que obviamente deixava claro que o pai dela foi responsável pela morte de Linda.
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Agora, nós estávamos no hotel, como sempre, pesquisando.
- Espera - Sam disse - você tá pesquisando no país?
- Sim - Dean respondeu - mas até agora nenhuma Mary se encaixa no padrão.
- Mas se ela está assombrando a cidade, provavelmente morreu aqui - comentei.
- Eu procurei e não tem nada nos arquivos da cidade - Dean respondeu e me encarou com um olhar desafiador - a menos que tenha uma ideia melhor.
- Mary escolhe suas vítimas - falei - talvez exista um padrão.
- Eu pensei a mesma coisa - Sam concordou.
- Ambas as vítimas tinham segredos pesados - analisei - elas carregavam mortes em segredo.
- Talvez haja um segredo em que Mary viu alguém morrer e se puniu por isso - Dean concluiu.
- Arrancando os próprios olhos? - perguntei.
Dean bufou e virou o notebook para mim e Sam.
- Vejam isso - ele mostrou a foto e nela haviam marcas de mãos ensanguentadas em um espelho, iguais às que vimos antes.
- As marcas de mão parecem iguais - Sam notou.
- O nome dela era Mary Worthington - Dean disse virando o notebook para si - uma garota morta em Fort Wayne, Indiana.
- Vamos pra lá então - Sam disse e eu suspirei.
- Vocês dois vão e eu fico investigando por aqui - falei.
- Por que? - Dean perguntou e eu olhei-o.
- Sabemos que pode haver outra vítima em breve. E eu posso impedir.
- Vai impedir… - Dean começou a dizer e eu levantei minha mão.
- Nada de piadinhas sobre correr - falei e ele sorriu.
Os rapazes saíram do quarto e eu fiquei pesquisando mais um tempo.
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Eu havia caído no sono em uma das camas quando ouvi meu celular tocando. Levantei assustada e perdida, tentando localizar a fonte do barulho. Tropecei na minha mochila que estava no chão e me apoiei na mesa, equilibrando-me e pegando meu celular que estava em cima dela.
Era Dean.
- Oi - falei, ofegante.
- Que demora foi essa? - ele disse e eu me sentei na cadeira.
- Eu tava ocupada com o cara do necrotério - respondi.
- Você o quê? - ele disse e eu sorri.
- Eu dormi - falei e fechei meus olhos, recostando-me na cadeira - descobriram alguma coisa?
- Provavelmente Mary foi morta por Travis, seu amante, quando ele descobriu que ela ia contar para a esposa dele. Ela tentou escrever o nome dele com seu sangue no espelho antes de morrer, mas não conseguiu terminar.
- Nossa - falei e ouvi o celular de Sam tocando ao fundo.
- Harriet - Dean disse depois que Sam resmungou alguma coisa - precisamos que você faça uma coisa.
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Eu fui até a casa da amiga de Donna, que agora via a imagem de Mary em tudo que produzisse reflexo. Eu estava no quarto dela cobrindo espelhos, televisão e qualquer coisa que causasse reflexo enquanto ela estava chorando, abraçada aos joelhos em cima da cama.
- Você disse? - perguntei para ela e ela negou.
- Donna disse - ela respondeu.
- Certo - falei cobrindo o último espelho - agora você vai ficar aqui nessa cama e não vai olhar para nada que produza algum reflexo nada de espelhos, vidros ou qualquer coisa assim. Se você não fizer isso, ela não pode te pegar.
- Mas eu não posso fazer isso pra sempre - ela disse e Sam e Dean entraram no quarto.
- Tudo bem? - Dean perguntou e eu assenti.
Sam foi até ela e Dean me olhou.
- Nós tentamos achar o espelho original - ele disse.
- Conseguiram?
- Sim.
- Eu vou morrer, não vou? - ela perguntou e nós olhamos para ela.
- Não - Sam respondeu - não tão cedo. Nós precisamos saber o que aconteceu.
- Eu e Donna estávamos no banheiro e ela disse.
- Não - falei - a outra coisa.
Ela abriu a boca e ficou em silêncio antes de continuar.
- Eu tinha um namorado - ela começou a dizer - eu o amava. Mas ele meio que me assustava, sabe? Uma vez nós brigamos em casa. Ele ficou bastante aborrecido e disse que me amava e precisava de mim. Ele disse que se eu saísse por aquela porta ele iria botar um fim na vida dele - ela dizia enquanto chorava - e eu disse para ele ir em frente. Quem diz uma coisa dessas?
⚚
Nós saímos da casa dela e pegamos a estrada novamente.
- Se o namorado se suicidou, não foi culpa dela - Dean comentou.
- Acha que os espíritos ligam pra isso? - comentei - ela se sentia culpada. É o suficiente.
- Talvez quebrar o espelho não seja o suficiente - Sam disse.
- Como assim? - Dean perguntou.
- Ela passa de espelho para espelho. Não acho que vá bastar quebrar o original. Temos que chamá-la e quebrá-lo.
- E quem vai chamá-la? - Dean perguntou.
- Eu mesmo - Sam disse.
- Não, nem pensar - Dean disse e estacionou na beira da rua - é sobre Jéssica, não é? Você tem um segredo? Acha que a matou? Isso tem que parar, cara. Os pesadelos e chamar o nome dela de noite. Isso vai acabar te matando. Agora me escute. Isso tem que parar. Não foi sua culpa - Sam não respondeu e ele continuou - se quiser culpar alguém, culpe a coisa que a matou. Ou culpe a mim, eu te tirei de lá.
- Eu não o culpo - Sam disse.
- Então não devia se culpar - Dean resmungou - não tinha como você saber.
- Eu poderia ter avisado ela.
- Sobre o quê? Você não sabia que isso ia acontecer. E além do mais, eu sei sobre isso, não iria funcionar com a Mary.
- Eu não te contei tudo.
- Como é?
- Você não sabe de tudo.
- Então me conte!
- Se eu te contar não será mais um segredo.
- Vamos parar com essa briguinha? - eu interrompi - eu vou chamá-la. E ninguém vai me impedir.
- E você matou uma pessoa por acaso? - Dean perguntou, irritado.
- Não - respondi - eu matei três.
- O quê? - Dean perguntou, surpreso - como assim?
- Se eu te contar, não será mais um segredo - falei imitando Sam - eu vou chamá-la. Com certeza ela virá.
Dean fez uma cara feia e eu continuei.
- Aquela garota vai morrer - falei - temos que fazer alguma coisa.
Ele não respondeu e começou a dirigir, seguindo até a loja de antiguidades, onde estava o espelho. Dean me entregou um pé de cabra para que eu pudesse quebrar o espelho e nós três entramos preparados para acabar com qualquer espelho ali dentro. Depois de um tempo procurando, encontramos o espelho original e paramos em frente à ele.
- Tem certeza que vai fazer isso? - Dean perguntou e eu olhei-o, voltando a olhar para o espelho - você não…
- Bloody Mary, Bloody Mary, Bloody Mary - eu falei antes que ele começasse com o discurso de “não faça isso”.
- Caralho - ele resmungou e eu arrumei o pé de cabra em minhas mãos, mas nada aconteceu.
Nós vimos reflexos de faróis atrás de nós e Dean foi verificar o que era.
- Como você pôde? - eu vi meu reflexo dizer e eu fiquei paralisada, sentindo uma onda de medo me consumindo. Sam quebrou o espelho, mas o reflexo apareceu em outro - você deixou que eles morressem. Você os matou. Como você dorme à noite? - eu vi meu reflexo deixando uma lágrima de sangue escorrer pelo olho, o que fez com que eu levasse a mão até meu rosto, notando que realmente havia sangue lá. Eu dei um passo para trás e Sam quebrou o outro espelho, mas o reflexo ainda assim apareceu em outro espelho - você matou-os. Você sabia disso - eu senti uma dor imensa começando lentamente e eu me curvei, derrubando o pé de cabra de minhas mãos, caindo no chão - o sangue está em suas mãos!
- Sam - eu disse e senti as forças de meu corpo sumindo.
- Tudo bem - ele disse - eu vou te proteger. Vamos! - ele gritou para o espelho original - apareça aqui!
- E você - o reflexo disse para Sam e lágrimas de sangue também surgiram nele - você viu que ia acontecer. Por que não fez nada? - Sam congelou olhando para o reflexo, surpreso, e perdeu suas forças, caindo no chão. Eu tentei rastejar até ele.
- Sam - sussurrei e percebi que o sangue que escorria pelo meu rosto ficou mais intenso.
- Você a viu morrer e deixou que isso acontecesse - eu sentia a dor ficando cada vez pior e deitei-me no chão, sentindo-me fraca demais para levantar - você viu seu corpo queimando. Você não fez nada.
Neste instante, Dean quebrou o espelho e eu usei o resto de minhas forças para tentar me sentar no chão.
- Ei, ei, ei - eu ouvi Dean dizer - vocês estão bem?
- Melhor impossível - respondi e Sam começou a se levantar.
- Vamos embora daqui - ele disse e me ergueu, passando o braço pela minha cintura e me arrastando para fora dali, assim como Sam.
Eu me sentia tonta e parecia que eu iria desmaiar a qualquer momento. Eu ouvi barulho de passos em cima dos cacos de vidro e Dean me olhou, virando. Nós vimos Mary saindo do molde do espelho, andando pelos estilhaços espalhados pelo chão.
- Dean - eu disse bem baixinho e agarrei sua jaqueta segundos antes de cairmos no chão.
- Não - Dean sussurrou e eu senti minha visão ficando embaçada, sumindo aos poucos. Lembro-me vagamente de Dean pegando um espelho e levantando em frente à Mary. Depois disso, perdi a consciência.
⚚
Abri meus olhos assim que senti a luz do sol em minha cara. Virei-me e percebi que havia alguém ao meu lado.
- Oi - ouvi e usei todas as minhas forças para empurrar esse ser humano da cama. Minha visão ficou mais nítida e eu olhei para o chão, percebendo que era Dean - ai - ele disse e eu soltei o ar de meus pulmões de uma vez, deitando-me na cama.
Levei a mão até meu rosto e percebi que não havia mais sangue saindo de meus olhos.
- O que aconteceu? - perguntei e me sentei na cama enquanto ele levantava do chão.
- Você apagou - ele disse e sentou na cama.
- Acabou? - perguntei e ele assentiu.
- É, nada de Bloody Mary.
- Cadê o Sam?
- Foi comprar café - ele respondeu - são 5h40 da manhã.
- E o que você tava fazendo aqui?
- Eu queria te dar bom dia - ele respondeu e se levantou da cama - mas você é sempre mal agradecida.
- Bom dia - respondi e me deitei novamente na cama, enrolando-me no edredom.
- Você quer falar sobre o que aconteceu? - ele perguntou e eu olhei-o.
- Sobre o que o meu reflexo maligno disse? Não.
- Tem certeza?
- Absoluta - falei e fechei meus olhos.
- Eu não gosto disso - ele disse.
- Do quê?
- De você e Sam terem segredos e não me contarem.
- Vê se eu ligo - falei e tirei as cobertas de cima de mim, percebendo que eu não conseguiria dormir mais.
- É sobre como você virou caçadora? - ele insistiu e eu me levantei, amarrando meu cabelo em um rabo de cavalo.
- Não é da sua conta - respondi e fui até banheiro, jogando uma água em meu rosto. Saí do banheiro e ele me esperava, encostado ao lado da porta.
- É sobre como você virou caçadora - ele continuou - fez o quê? Algum pacto? Prometeu algo para alguém?
Ele continuou e eu suspirei, cruzando meus braços e me encostando na parede em frente à ele.
- Sabe - ele disse - não vou te julgar se você realmente tiver feito um pacto e esteja usando o resto do seu tempo para melhorar o mundo. Mas se você me disser, eu posso te ajudar.
- Cara, apenas pare.
- Não é isso?
- Não, Dean. E eu já disse pra você não insistir. Eu não preciso ser um livro aberto com você.
- Tudo bem - ele disse, frustrado.
- Que bom - respondi sarcasticamente e ele revirou os olhos.
- Mas se você quiser… - ele começou a dizer enquanto me seguia e eu me virei, parando de frente para ele.
- Não - respondi - eu não quero.
Ele levantou as mãos na frente do corpo e fez uma careta.
- Obrigada - falei por fim, suspirando.
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