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História Wings - Capítulo Único: Awake


Escrita por: katsudonix

Notas do Autor


Essa fanfic é baseada na minha teoria sobre os MV's e teasers de BTS. Caso você não concorde com ela ou tenha outros pensamentos e quer expressá-los, por favor, não o expresse com palavrões ou julgamentos.
Obrigado desde já.

Capítulo 1 - Capítulo Único: Awake


"I want to languish

I want to dream more

But even so

It seems it's come,

it's time to leave"

 

       Eu estava corrompido.

     Meus pedaços, o meu ser, a minha alma, tudo estava em pedaços. E eu nada poderia fazer para mudar o meu destino que foi ardilosamente arquitetado pelas minhas ações passadas. Sim, eu me lembro bem... Tempos obscuros que eu faziam questão de esquecer, mas que continuavam a atormentar meus pensamentos.

     Definitivamente, a minha infância e adolescência foram extremamente distorcidas. Eu não era como as outras crianças. Eu não tinha uma família feliz, uma casa recheada de afeto e paz ou amigos para viver grandes momentos. Os meus antigos dias eram baseados em caminhar pela cidade sozinho e me esconder de meu pai, um alcoólatra agressivo que descontava as suas dores e pesares em seus dois únicos filhos. Minha irmã, principalmente.

     Eu tento acreditar que o motivo de ele bater tanto em minha irmã foi porque ela era semelhante a minha mãe. Seus cabelos castanhos, suas maçãs do rosto e seu olhar puro, incrivelmente idênticas. Exceto pelo fato de que minha mãe já havia nos abandonado fazia uma década. Meu pai nunca superou a morte dela e acreditava que era tudo uma fachada, que ela havia fugido com outro homem e fingido sua morte. Logo, a bebida foi o melhor calmante e a violência, o melhor remédio. Minha irmã não tinha culpa de ser igual à ela, afinal, ela era sua filha! Eu também possuía traços de minha mãe, porém uma coisa me distinguia de minha irmã: eu nunca poderia ser o bastante para saciar os desejos obscuros de meu pai e de ser o alvo de sua vingança emocional. Afinal, desde o momento em que ele a visualizou como sua antiga esposa que supostamente havia o abandonado, ela nunca mais estaria livre para viver uma boa vida. Ela estava destinada ao inferno que somente ele conseguia sentir. 

     No começo, eu não podia fazer nada. Enquanto ela possuía quinze anos, eu tinha apenas dez. Eu não era alto, nem forte, nem corajoso. Eu era obrigado à assistir tudo aquilo sem questionar, pois eu não tinha para aonde ir. Logo, decidi que qualquer lugar, mesmo perigoso ou maldoso, seria o ideal para mim. Eu queria só... fingir que nada estava acontecendo. Fingir que minha irmã não tinha o risco de morrer a cada dia que se passava e que no final, eu acabaria sendo o próximo.

     Foi nesse momento que as alucinações começaram.

     Muitos dirão que eles eram apenas amigos imaginários ou criações de minha mente insana, mas eles eram mais do que isso. Eles eram meus irmãos, as partes de mim. Cada um deles representava um lado meu, cada um com suas emoções e desejos próprios.

     Jungkook representava a pureza. O meu lado infantil e inocente que ainda via beleza no mundo ao meu redor, mesmo que mínima.

     Jimin representava a loucura. O meu lado perturbado e desequilibrado.

     J-Hope representava a saudade. Assim como Jimin, ele era igualmente anormal, porém tudo se justificava a saudade de uma pessoa importante: minha mãe.

     Suga representava a ira. O meu lado enfurecido e mal humorado, descontente com a vida que eu tinha.

     Namjoon representava a clareza. O meu lado que menos me influenciava, mas que era o mais importante. Ele me trazia as respostas que eu precisava, mas não usava. As escolhas certas que eu deveria tomar e não tomava.

     E Taehyung, bem... Ele era o lado que eu mais estava envolvido. Era ele quem dominava as minhas ações e o meu ser, quem decidia todas as cartas usadas no jogo. Ele era o meu lado negro. É engraçado pensar que a "pessoa" que eu mais amava, era o meu pior lado. Todas as coisas ruins que eu fazia, eu fazia com ele. Todos os erros que eu cometia, eu cometia com ele. E eu o fazia com prazer. Ele era tão importante para mim que, de todas as personificações de minhas partes, ele foi a mais complexa e bela. O criei com tanta paixão e dedicação que, logo que ele partiu, eu não era mais ninguém.

     Os anos se passaram e meus irmãos nunca iam embora. Eu parecia maluco por falar sozinho em público as vezes mas, quem me impediria de fazê-lo?! Ninguém ligava para um adolescente maluco que andava pela cidade sozinho. Eu não posso negar, eles passaram a ser minha família naquela época. Eu havia esquecido completamente de minha irmã e de meu pai, e agora vivia com eles, as alucinações de minha cabeça. Não posso negar, foram lindos momentos. As praias, as pichações nas paredes, as fogueiras, as confusões nos tuneis... Eram todas as lembranças boas que eu tinha. Entretanto, é claro que haviam momentos difíceis. Eu fui agredido por dois homens, ganhei pontos em minha ficha por pichações nas ruas e me envolvi com drogas. Mas acredito que os meus piores momentos foram quando tentei suicídio. O motivo?! Eu havia descoberto que minha irmã estava internada, em coma, por causa de uma surra. Em ambas as vezes que tentei me matar, algo me trazia de volta. Na banheira, quando tentei me afogar, era como se alguém me puxasse para fora dela. Quando ingeri uma série de pílulas e desmaiei na calçada, era como se alguém tivesse me ajudado a levantar.

     Quem?! Quem gostaria de me ver vivo?!

     A resposta não estava clara no começo, mas agora eu entendo. Era Taehyung. Ele entendia que se eu morresse, ele também morreria. Por isso, ele lutava em meu interior para me fazer parar. E eu parei, afinal, era a minha única opção. Decidi me internar em uma clínica de reabilitação para drogados e fiquei meses preso em uma sala branca e vazia, sendo entupido por mais e mais pílulas. Irônico, não é?! Se eu quisesse mesmo uma morte direta, eu poderia ter ido para a clínica ao invés de roubar alguns remédios na farmácia.

     Sim, eu me curei. Eu saí daquela clínica uma nova pessoa. Ou talvez, era o que eu pensava.

     Encontrei o novo endereço de meu pai e minha irmã, que ainda estava presa a ele, infelizmente. Os encontrei no meio de uma discussão e eu simplesmente explodi. Eu não aguentava mais assistir aquilo e sofrer por causa disso. Eu peguei uma garrafa, quebrei ela na parede e... e...

     Eu o matei.

     Com inúmeros golpes no abdômen, eu o matei.

     Mas não chorei por sua morte. Chorei pelo o que eu fiz. Eu matei alguém. Pode até ter sido o canalha do meu pai, mas eu matei alguém. A que ponto eu havia chegado?! Eu havia ultrapassado o meus limites e feito o que Taehyung tanto desejava. Eu aceitei o meu lado negro e o trouxe para fora. A pressão sob mim era terrível e eu só conseguia pensar em minha irmã. "Quem cuidaria dela, agora?! Ela teria um lar, uma família, uma boa vida?!" Eu havia entregue a ela a sua liberdade, mas junto dela, muitas dificuldades. "Fuja para longe, se mude para outra cidade. Arranje um emprego e um bom marido, eu sei que você conseguirá viver melhor do que eu".

     Essas foram as últimas palavras que eu disse à ela antes de me entregar para a polícia.

     Fiquei preso durante cinco anos, pois haviam considerado legítima defesa. Foram anos longos que eu usei para refletir sobre tudo. Havia chegado a hora de eu deixar de lado minhas personificações e seguir em frente. Eles me levavam por caminhos espinhosos e chegou a hora de eu mudar isso. Depois que eu saí, tratei de arranjar um emprego. Eu fazia entregas e, apesar de ser um trabalho simples, ele me rendia o suficiente para ser feliz e saudável. Bem, não totalmente feliz.

     Agora, eu visitava um museu renascentista que foi inaugurado à menos de um mês. Havia chegado a hora de eu me despedir de meus irmãos, e eu o faria da melhor forma possível. Porém, uma obra chamou minha atenção. Nela estava representava a guerra constante entre o céu e o inferno. E, ao observá-la com tanta atenção, ficou explícito para todos eles o que estava por vir. Eles aceitaram bem o fim que foi destinado à eles. Fiz o possível para ser um fim bom e feliz, e os observei correndo e sorrindo para fora do museu, como fazíamos antigamente. Entretanto, Taehyung me esperou. Eu ainda observava o quadro como se fosse a última vez que o veria. Como se o meu fim também estava próximo. Senti as mãos delicadas de Taehyung cobrirem os meus olhos e, ao deslizarem para fora de meu rosto, eu vi.

     Eu vi o que eu já sabia que veria um dia.

     O anjo de pedra, com suas belas asas negras, sorriu para mim de uma forma que só eu entenderia. Ele era convidativo, e não amedrontador. Seu olhar esculpido era tentador e me puxava para perto inconscientemente. Sem perceber, eu estava frente a frente com a estátua majestosa. Era tão bela e tão viva à seu modo que me fez tomar coragem e tocar meus lábios com os meus, de uma forma inocente. Ao me afastar, a forma da estátua se tornou humana.

     Era Taehyung, que me observava com um sorriso grande nos lábios. Ele agora havia retomado suas asas e eu entendi o que viria depois. Ele estava, finalmente, pronto para partir definitivamente. Entendi que ele só não havia encontrado a paz por minha causa. Eu ainda tinha muito o que aprender e sofrer, e ele estaria comigo em todo o processo. Ele era meu anjo da guarda que só poderia ser libertado de sua tarefa se eu encontrasse a minha real maturidade.

     E eu encontrei.

     Uma lágrima desceu pelo meu rosto e ele a secou com seu polegar. Não hesitei em abraçá-lo uma última vez e sussurrar tudo o que eu sentia por ele. Ele me respondeu com um beijo no rosto e um sorriso. E segundos depois, abriu suas asas e partiu. Eu havia libertado todas as minhas partes e lhes dado uma "morte" digna. Porém, de uma coisa eu sei:

     Eles nunca morreram para mim. Eles apenas se fundiram e se transformaram na pessoa que eu sou hoje, e eu sou eternamente grato por isso.



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