De vez em quando, eu queria poder alertá-los de que são o canivete mais afiado num ato impassível. Eu exibiria minhas próprias cicatrizes mostrando que cada vez onde o veneno é exposto, eles rasgam meu peito. Profundamente. Sem piedade, enquanto milhões de vidas escorrem de mim. Sim, milhões, tolo é quem pensa que eles destroem apenas um de nós quando resolvem atacar. Uma vertente não sofre de modo individual.
A injustiça me acompanha nos dias e dói a velocidade na qual meus pulmões se comprimem, toda vez que uma novidade é jogada por aí. Mais sofrimento. Mais impasses pra mim, como se minha cabeça não pressionasse o bastante.
Quantos já são? Me pergunto.
E quantos serão? Questiono, de novo.
Quando a primeira gota de uma cachoeira de lágrimas explode, eu sei o que é, de fato, se perder. No final só o que me resta é o escuro e já me acostumei: não importa se um coração ainda bate dentro de mim, o que sobra é sempre o escuro.
É o fim da linha. Penso.
Mas eu errei.
Quando olho pro lado e vejo que a solidão ainda não me alcançou, nada mais me diz o contrário. Com os próprios sonhos decapitados nas mãos, minhas alegrias baleadas pelo calibre mais fino, o brilho nos meus olhos espancados –não só uma, duas, ou três vezes –, acontece algo estranho.
Veja bem: eu me ergo.
De pé, eu trago uma péssima notícia para a sua transfobia. Minha gente anda de mãos dadas mesmo entre os becos do desamparo, mesmo que a dor os consuma desde as unhas dos pés até as pontas dos pelos da cabeça. Minha corrente não se quebra com o barulho do gatilho. Se enganou outra vez se foi isso que cogitou.
Estamos aqui. Existindo, resistindo debaixo dos seus olhos cegos. Nos parar é impossível.
Minha bandeira manchada de sangue será carregada com orgulho nos meus braços fracos, não importa o quão desgastante essa caminhada se torne em alguns momentos.
A chama azul, branca e rosa continuará queimando em mim, mesmo que o mundo entorpecido não seja lugar pra pessoas como eu.
Parece radical, sei disso. Mas é verdade.
Meu povo é imaculado demais pra essa terra tomada por destruição.
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