História Wings - Awake

-Amor, eu vou ter que sair, mas volto para o jantar – Jin entra na cozinha, enquanto mexia no telefone.

-Pra onde você vai? – disse enfiando um morango na boca.

-Ta rolando uns problemas na casa dos meninos, então eles me chamaram para ir ajudar – me encarou.

-Quer que eu vá com você? – coloquei meus braços em torno do seu pescoço.

-Acho que eles querem apenas conversar entre homens sabe? Nem as namoradas vão – segurou minha cintura.

-Então tudo bem. Pegue um casaco, esta frio lá fora – lhe dei um breve selar e voltei a comer mais morangos.

-Ok - deu um tapa em minha bunda e saiu da cozinha rindo.

Ri colocando outro morango e apreciando aquela mistura de doce e azedo que a fruta tinha. Lambi os dedos e me decepcionei quando vi que tinha acabado.

-Jin, você pode comprar mais morangos quando estiver voltando? – fui até corredor e vi ele colocando o casaco que estava no cabideiro.

-Pode deixar – beijou meu rosto, colocando a chave no bolso – eu te amo – sorriu e abriu a porta.

-Eu também te amo – me encostei-me à porta e vi ele ir até o carro.

Deu duas buzinadas e fiquei ali até o perder de vista.

Voltei para dentro e tranquei a porta, lá fora estava mais frio que o normal. Abracei meu corpo e pensei no que eu faria naquele instante. Rodei a casa inteira e ela parecia vazia sem ele ali, era sempre assim quando eu estava sozinha. Suspirei e fui para a sala. Me sentei no sofá e comecei a passar todos os canais, a procura de um que me interessasse. Parei num filme de romance, que me lembrava muito ele. Resolvi assistir já que estava bem no comecinho.

Depois que ele acabou, começou a passar um de ação. Fui na cozinha pegar alguma coisa para comer enquanto assistia e aproveitei para ir ao banheiro. O telefone toca e eu o atendo rapidamente.

-Alo?

-Quantas caixas você quer? – sorri ao ouvir sua voz do outro lado da linha.

-Umas três caixas – disse simples – já chegou?

-Ainda não. Esta um transito enorme e não sei se vou chegar para a janta. Me desculpe – percebi pela sua voz que ele estava triste.

-Esta tudo bem. Dirija com cuidado. Eu te amo.

-Pode deixar, e eu também te amo. Tchau – se despediu e desligou.

Coloquei o telefone no gancho e suspirei, acho que hoje não poderemos ficar juntos. Mas amanhã ainda é domingo e eu vou poder ficar com ele pelo resto do dia. Mas desde hoje de manhã eu estava como uma sensação ruim. E eu odeio me sentir assim, é uma bosta, pois eu fico pensando em um monte de coisa e fico preocupada com tudo, principalmente com ele.

Fui até o banheiro, fiz tudo que eu tinha de fazer e voltei para a sala. O filme tinha duas horas e meia, perfeito. Assim eu ocuparia minha mente com outra coisa.

E assim eu passei o resto do meu dia. Assisti mais um filme, que desta vez era de terror. Olhei para o relógio que marcava 18h38. Batia as unhas na mesinha que ficava ao lado do sofá, eu estava nervosa em não receber nenhuma noticia. Peguei o telefone e disquei o numero do seu celular, mas caiu na caixa postal. Nervosa e preocupada, liguei para o celular do Namjoon.

-Alo?

-Oi Nam. Eu liguei pro Jin e ele não atendeu, pode pedir para ele me ligar?

-Como assim? Achei que ele estivesse com você – seu tom era confuso.

-Mas ele me disse que ia encontrar vocês – desespero.

-Sim, nós tínhamos combinado de nos encontrarmos. Mandei uma mensagem para ele, mas ele apenas visualizou e não me respondeu. Achei que estivesse ocupado demais para responder.

-Namjoon, ele saiu daqui à cinco horas e ainda não voltou – meu peito se apertou.

-Vamos tentar ligar para ele, se acalme ok? Deve ter acabado a bateria do celular e ele deve estar no transito por causa da neve – disse num tom suave.

-Neve? – fui até a janela, abri a cortina e apesar de estar escuro, eu podia ver que tudo estava coberto de neve.

-Pois é, ela veio do nada. Vou desligar ok? Todos aqui vamos ligar para o celular dele. Aviso se qualquer coisa acontecer. Tchau.

-Tchau – desliguei o telefone e mordi o lábio em puro nervosismo.

Tentei ligar para o celular dele uma centenas de vezes, mas sempre caia na caixa postal. Eu senti meu peito se apertar, senti um desconforto inimaginável. Eu andava por toda a casa, mas nada aliviava a minha preocupação. Eu olhava o relógio a todo o momento e minha mão já suava por estar segurando o telefone à tanto tempo.

Tinham se passado três horas inteiras e eu já estava a ponto de arrancar meus cabelos. O telefone toca e nem espero um segundo sequer.

-Alo? – minha voz era puro desespero.

-Boa noite. A senhora conhece o senhor – uma pausa – Kim Seokjin?

-Conheço, o que aconteceu? Onde ele esta? Quem é você?

-Peço que se acalme senhora – sua voz era serena.

-Olha moça, com toda a educação, eu não vou me acalmar até saber onde esta o meu namorado – tentei ser o menos rude possível.

-Sinto em lhe informar que o senhor sofreu um acidente e esta internado aqui no hospital Asan Medical.

Larguei o telefone no chão e corri para fora. Jin estava no hospital. Meu coração estava acelerado e eu só tinha um objetivo, ir até lá. Peguei a bicicleta e comecei a pedalar com o coração na mão.

Eu queria chorar, mas não o faria. Pensamentos negativos passavam pela minha mente a todo vapor. Eu não queria perder as forças bem no meio da caminho, mas o vento gelado que batia em meus rosto machucava minha pele. Eu sentia que minhas mãos iam congelar e que eu fosse morrer de frio ali mesmo. Mas eu não ia desistir, ia continuar até ver o rosto dele.

Joguei a bicicleta no asfalto e corri para dentro do grande local. Minha respiração estava descompassada e meu coração ia sair pela boca. Corri até a bancada que havia ali e me debrucei na mesma.

-O que aconteceu senhora? – a moça que estava ali estava de olhos arregalados.

-K-kim Seok-seokjin – eu respirava fundo.

-Quem é a senhora?

-N-namorada dele. Onde ele esta? – agarrei sua mão e senti ela se arrepiar, talvez por ela estar gelada.

-No andar de cima, mas senhora....

Não deixei ela terminar e corri até as escadas. A cada passo era uma batida a menos. Eu sentia que iria desmoronar. Meu desespero era tão grande. Um medo de que algo tivesse acontecido com ele era tão apavorante.

Os meninos estavam no final do corredor. Eu comecei a correr, meu corpo já não aguentava e meus olhos já queria derramar tudo que estavam guardando.

Um médico saiu de dentro de uma sala e eu parei de correr, de piscar, de respirar. Todos abaixaram o olhar e Hoseok se virou, chorando. Eles derrubaram algumas lagrimas e o médico passou as mãos pelas costas de Nam. Eu sabia o que aquilo significava, mas eu não acreditei.

Logo o médico vai embora com a cabeça baixa e os meninos entram em pura desolação. Eu pisco varias vezes e começo a me aproximar lentamente. Nam me nota e arregala os olhos.

-Onde ele esta? – minha voz esta carregada de angustia.

-Olha... – morde o lábio inferior.

-ONDE ELE ESTA NAMJOON?!?!? ONDE O JIN ESTA?!?!? – agarro sua blusa em total desespero – ME DIGA ONDE ELE ESTA!!!

-E-ele esta – ele não falava pois seu choro o interrompia.

-Namjoon, onde o Jin esta? Eu preciso ver ele e preciso dizer que três caixas são pouca coisa para duas pessoas – eu tremia.

Pelo seu ombro, pude ver o interior de uma sala. Ele estava ali, pálido, sem nenhuma roupa, de olhos fechados. Seu peito não se movia, ele não se movia. Meu mundo caiu de vez quando vi ele ser coberto por um plástico azul.

-N-não.

As lagrimas desceram, meu peito murchou, minha esperança morreu e eu desabei em seus braços.

-NÃÃAOOOO!!! -  gritei com toda minha força, na forma de aliviar algo que iria doer para sempre.

Corri para dentro da sala e fui até onde ele estava deitado. Tirei aquilo de cima dele e parei de respirar. Seu rosto continha um monte de machucados, juntamente com seu tórax e seus braços. Toquei em seu peito com minhas mãos tremulas e ele estava gelado. Minhas lagrimas caiam em seu peito e eu perdi as forças.

-Eu falei pra você usar um casaco – agarram minha cintura com força – NÃO, ME SOLTE! – a pessoa me arrastava para longe dele – ACORDE SEU IDIOTA, PARE DE BRINCAR COMIGO! – a dor aumentava, as forças se acabavam de vez.

-Você precisa se acalmar, por favor - o mesmo médico de antes apareceu.

-Faça ele acordar, pelo amor de Deus – agarrei seu jaleco e olhei com piedade.

-Eu sinto senhora. Ele sofreu um acidente grave a não suportou. Não há nada que possamos fazer – aquela frase me atingiu em cheio.

-E-ele não fez nada. Ele não merecia, isso é injusto. Peguem aquele negocio de dar choque e façam ele acordar – apesar de não adiantar, eu tentava de tudo para fugir do que estava acontecendo.

-Nós já tentamos fazer isso senhora. Mas o coração simplesmente parou de bater. Sinto muito pela perda – tocou minhas mãos, e tirou elas do seu jaleco.

Abaixei o meu olhar e fiz o que eu menos queria, desisti. Me amoleci nos braços da pessoa que me segurava e deixei a verdade me dar um soco bem dado.

Ele tinha ido embora, e eu nem ao menos me despedi direito. Minha dor se intensificava ao lembrar do sorriso que ele deu antes de me deixar e da sua voz no telefone, dizendo que me amava. Eu me sentia sozinha e desamparada, sentia que aquela dor nunca ia passar e eu não sabia no que aconteceria daqui pra frente. Eu o perdi, depois de tanto lutarmos pela nossa felicidade, ele se foi num passe de mágica. Eu queria me socar, devia ter prestado atenção no noticiário ao invés de ficar provocando ele.

Se soubéssemos daquela neve, estaríamos na cama agora falando sobre o quanto eu queria que ele fosse meu príncipe, mas ele diria que ele era a princesa ali. Riríamos juntos e eu sentiria meu peito se acender por ter ele ali comigo. Sempre fomos diferentes demais em vários aspectos. Ele gostava de gatos e eu de cães, ele tomava refri e eu preferia suco, ele gostava d romance policial e eu amava drama. Tão diferentes em tantas coisas.

Mas ali, naquele lugar gelado e sem vida, tínhamos um coisa em comum. Nossos corações haviam parado de bater ao mesmo tempo.