1. Spirit Fanfics >
  2. Winter and Summer >
  3. New Blood.

História Winter and Summer - New Blood.


Escrita por: Kags e MadTheDu

Notas do Autor


Olá! Segue aqui mais um capítulo dessa fanfic delicinha de escrever (tô brincado, as vezes ela me dá raiva pra pensar na ordem dos acontecimentos, mas faz parte do charme). HASHSAHSHAS, idiotices a parte, eu me empolguei com a parte do jogo. Talvez isso seja o efeito de 171 capítulos do mangá de Haikyuu lidos em apenas uma semana - sim, eu só tinha visto o anime até agora - ou pode ser que tenha sido só minha vontade louca de escrever o tempo todo ''NICE RECEIVE!!!!'', ''DONT MIND DONT MIND'' ou ''NICE SERVE''? Bem, nunca saberei.

E vou adiantar agora que esse capítulo é praticamente um jogo inteiro. ''Ah, porque você narrou um jogo? As fanfics de Haikyuu sempre pulam os jogos! Deixa essa tarefa pro Furudate''. Bem, eu realmente não tenho a pretensão de tornar essa uma fanfic de ''jogos de vôlei'', então se acalmem, eu não pretendo narrar um torneio inteiro e enrolar vocês. Mas ESSE JOGO pra mim é um dos ápices da evolução da relação entre o Kageyama e o Hinata. Mas, enfim, além de jogo tem muitas tretas, então quem adora um barraco como eu vai ficar satisfeito.

O título é bem sugestivo! Eu estava realmente considerando muito colocar esses personagens só depois que a relação Kagehina estivesse estável, mas não resisti!

Ok, agora eu vou calar minha boca grande. Vejo vocês nas notas finais! Boa leitura.

Capítulo 6 - New Blood.


Fanfic / Fanfiction Winter and Summer - New Blood.

A primeira vez que o despertador do quarto de Kageyama tocou eram oito da manhã. Daria tempo o suficiente para que a dupla problemática tomasse banho, café e, por fim, se aquecessem em uma das típicas corridas competitivamente idiotas que apostavam todos os dias até Karasuno. Porém, quando faltava apenas meia hora para o jogo começar, Hinata ainda babava aconchegado no ombro de Kageyama, que por sua vez estava roncando levemente com a cabeça apoiada nos cabelos macios de Shouyou.

 Somente quando raios de sol mais fortes invadiram o quarto pelas pequenas frestas das persianas, que Shouyou conseguiu abrir os olhos.

Sua primeira reação foi um longo bocejo e o esfregar daqueles inocentes olhos castanhos. Logo em seguida a confusão fez suas sobrancelhas franzirem. Onde estava? Não se lembrava de ter ido para o depois da sessão de vídeos com Kageyama... Hã? Aquele definitivamente não era o seu quarto. Foi ao sentir o peso da cabeça de Kageyama encostada na sua que se deu conta do que havia acontecido. “Droga, droga, droga! Como isso foi acontecer? Concentre-se, Hinata, o jogo é hoje! Você não tem tempo para isso, que horas são?”. O relógio digital gritava que já passara das nove e meia.

 

— Acorda Kageyama! – gritou assustado se levantando em um pulo, fazendo com que o levantador caísse no chão e abrisse de forma brusca os sonolentos olhos de mirtilo – Estamos atrasados, Daichi-san vai nos matar!

 

Se o ruivo elencasse em uma lista seus maiores medos, com toda a certeza, o seu segundo maior pavor seria a expressão furiosa do capitão da Karasuno. Pois, se havia algo que apavorava Hinata até a alma era o humor matinal de Kageyama.

 

Durante aquela semana aprendera que o período da manhã não era o mais indicado para irritar o levantador – aliás, o período da manhã não era indicado para interagir com Kageyama, já que ele era um completo ogro nas primeiras horas da manhã.  Não conseguia esquecer o dia em que Natsu encontrou com Kageyama antes do café da manhã. O resultado? A garota não sossegou até que Shouyou a convencesse de que o “Terrível Tobio” – como ela se referia a ele pelas costas -  era um ser humano normal – ou quase - e não uma espécie maluca de vampiro que ela tinha visto na televisão. Foram três dias para convencer Natsu a dormir sozinha em sua cama.  

 

Mas agora ele havia simplesmente feito todas as coisas imagináveis que poderiam irritar Kageyama: havia dormido no quarto dele, babado no ombro dele e acordado ele da forma mais grotesca possível. “Estou morto”.

— O que você está olhando com essa cara pálida, Hinata-boke? – Kageyama disse em meio a um bocejo.

— Você... Não parece o tipo de pessoa que acorda de bom humor, Kageyama-kun – Hinata disse em uma voz embaraçada desviando o olhar.

Kageyama tinha os cabelos negros totalmente bagunçados e os olhos azuis semiabertos. Bocejava exageradamente alto e tinha uma expressão um tanto boba e sonolenta no rosto. Nada parecido com um ogro ou um vampiro. As bochechas de Shouyou foram pinceladas em um tom leve de vermelho.

— Eu tive um sonho bom, nada demais – ele disse de uma forma meio constrangida coçando a nuca e olhando para um canto qualquer no quarto – Aliás, que horas são?

Assim que Kageyama mirrou o relógio digital com os olhos, foi como se toda a reação que Hinata esperava anteriormente viesse de uma só vez. Os dois saíram gritando e culpando um ao outro pelo atraso e, por vezes, parando a briga para discutir como acalmariam Daichi-san – talvez eles rezassem pela intercessão de Sugawara, o único que poderia domar a fúria do capitão. Comeram em três garfadas as panquecas com chocolate feitas por Haruko e se despediram enquanto calçavam os tênis, prontos para correr até a Karasuno.

— Shouyou, espere um pouco! – Akiko chamou a atenção do ruivo e correu até ele com um envelope cor de rosa decorado - Esse é um amuleto da sorte para o jogo de hoje, então, Ganbatte!

Os olhos de Shouyou brilharam de um modo infantil ao receber aquele pequeno envelope. Fez menção de abrir, mas Akiko o advertiu que ele só poderia abrir quando a partida tivesse acabado. O garoto agradeceu com um sorriso largo e Kageyama – cético como sempre – revirou os olhos e saiu em disparada para a rua declarando que ele ganharia a corrida até a escola de hoje. Hinata xingou baixinho, guardou com todo o carinho o amuleto dentro da mochila e saiu correndo atrás do levantador.

— Ah, garotos! – Akiko suspirou para Haruko que sempre se divertia com as competições entre os rapazes. Desde que Kageyama e Hinata tomaram liberdade e intimidade o suficiente para implicar um com o outro diante do resto da família, a vida naquela casa havia se tornado bem mais animada.

 

XXX

— Atrasados como sempre! – Daichi falou impaciente com os braços cruzados na linha do peito enquanto recebia Kageyama e Hinata na porta do ginásio.

— Não é para tanto, Daichi – Sugawara interviu com um tom apaziguador – Foram apenas quinze minutos de atraso, afinal.

“Amém, Suga-san”, a dupla problemática pensou aliviada ao ver o rosto do capitão suavizar. Sawamura suspirou impaciente com a benevolência de seu parceiro e então continuou.

— Vocês parecem estar se entendendo, então, farei vista grossa – disse abrindo os portões do ginásio – Mas não é esse o tipo de comportamento que veteranos do segundo ano devem ter diante dos primeiranistas.

— Primeiranistas? – Kageyama perguntou com clara confusão na voz – Nós não temos primeiranistas. De novatos só temos esse idiota aqui e o Kozume.

— Bem, não tínhamos até hoje – o capitão disse com um sorriso perverso – Como o Hinata e o Kozume entraram após o período de inscrição, nada mais justo do que permitir a entrada dos primeiranistas também – disse de modo simples – a Karasuno não rejeita aqueles que estão prontos pra lutar.

Kageyama suspirou em tédio com aquela ladainha. “Contanto que não apareçam com outro levantador pretencioso”, pensou. Mas aquele tom tipicamente superior de Kageyama deu lugar a uma angústia profunda que cismava em arder em seu peito ao olhar os mais novos integrantes do clube. 

Não porque eles eram jogadores melhores. Não porque um deles era bem mais alto que o próprio Kageyama. Não porque ele tinha medo de perder sua posição como levantador oficial. Quando viu a dupla de primeiranistas diante de si, sentiu uma melancolia que não sentia desde o terceiro ano do ginasial no Kitagawa Daiichi. Afinal, estava diante de dois de seus kouhais.

— O que estão fazendo aqui? – ele perguntou sem expressão com uma voz gélida que quase não saia da garganta.

O garoto maior deveria ter por volta dos 1,88 m e Kageyama não tinha dúvidas que em breve ele chegaria aos 1,90 m. Seus cabelos eram curtos e loiros. A expressão sempre variando em um misto de deboche e superioridade. A única coisa que parecia ter mudado desde a última vez que se viram eram os óculos, agora, apropriados para o esporte de forma que não ficasse o tempo inteiro escorregando pelo seu nariz longo e fino. Fora isso tudo era o mesmo, até a constante companhia do garoto cabelos escuros e sardas continuava a mesma.  Apesar de quase sempre dar apoio ao comportamento do parceiro, o kouhai mais baixo sempre tinha um sorriso doce nos lábios e por vezes parecia tropeçar nos próprios pés de tão atrapalhado.

 — Ora, ora – o loiro sorriu de modo irônico – Não sabia que a Karasuno era a corte de Vossa Alteza. Queira nos desculpar, senpai.

— Er... Estamos perdendo alguma coisa? – Suga perguntou confuso.

Hinata não se atreveu a fazer mais do que observar, a tensão no ar era pesada o suficiente para esmaga-lo se dissesse alguma besteira. Observou os punhos de Kageyama se apartarem e percebeu o esforço que o levantador fazia para não perder completamente a calma. “Quem são eles? De onde eles conhecem o Kageyama? Por que ele está tão nervoso?”, os questionamentos pipocavam em sua cabeça enquanto ele observava os dois primeiranistas, que por algum motivo – fora serem mais novos e mais altos que Hinata – o deixavam irritado.

— Desculpem o meu amigo – o garoto de sardas disse de forma tímida indo cumprimentar Kageyama, Hinata e os capitães – Éramos kouhais do Kageyama-san durante o ginasial. Eu sou Yamaguchi Tadashi, middle blocker e pinch server. E esse é o Tsukki!

— Fique quieto Yamaguchi, eu sei me apresentar – Tadashi sorriu coçando a nuca murmurando o seu típico “Gomen Tsukki” – Sou Tsukishima Kei, middle blocker.

— Sejam bem-vindos – Daichi disse com um sorriso, mas logo acrescentou um tom severo a sua voz – Mas que esteja claro que não toleramos brigas e deixamos os assuntos mal resolvidos fora de quadra. Aliás, estamos aqui hoje por causa disso.

— Ah, e por falar nisso, Hinata, Kageyama! – Sugawara os chamou – Mudanças de plano! Como gostaríamos de assistir as habilidades dos garotos do primeiro ano, resolvemos mudar um pouco os times.  Os segundanistas continuarão com o Tanaka, já o outro time será composto por: eu, Tsukishima e Yamaguchi. O que acham?

— Oh, vamos jogar com essa criança do primário? – Tsukishima riu olhando para Hinata que não havia parado de encarar o loiro com desconfiança. Bem... Agora não apenas desconfiança, mas pura irritação. – Então foi você que brigou com o Rei da Quadra e causou toda essa confusão? Olha, se você quiser, eu não me importo de entregar o jogo para vocês do segundo ano e salvar a pele do nosso querido tirano.

— Mas que diabos... – Kenma murmurou. Estava silenciosamente observando a situação pensou em intervir em ajuda a Hinata. Sabia que o amigo era péssimo em lidar com situações do gênero e, geralmente, procurava alguém mais alto para se esconder atrás como uma barreira. Mas ele estava apenas calado. Provavelmente com receio de falar algo que aborrecesse Kageyama.

— Tanto faz – Kageyama retorquiu pela primeira vez dando de ombros– Vocês podem entregar o jogo ou vir com tudo, mas não vai mudar o fato que esse cara do meu lado vai vencer sem fazer muito esforço.

Kageyama girou os calcanhares e caminhou para o banco de reservas dando as costas para toda aquela situação. “De todas as pessoas do Kitagawa Daiichi, logo o idiota do Tsukishima?”. Kageyama refletia sobre o seu tempo como capitão do clube durante o terceiro ano do ginasial. Foi um ano péssimo, sem dúvidas. E tudo o que havia acontecido parecia ter voltado com força total assim que ele colocou os olhos em Yamaguchi e Tsukishima.

O prodígio do vôlei estava tão imerso em seus próprios pensamentos torturantes que mal percebeu o que havia dito. Mal percebeu o quão atônitos ficaram aqueles que ele deixou para trás.

O loiro estalou a língua. Tsukishima não queria crer que aquele seu ex-capitão egoísta, mandão havia colocado a mão no fogo por outro jogador – ainda mais um que mal tinha 1,60 m de altura. O loiro conhecia Kageyama bem o suficiente para duvidar de todo aquele “encorajamento” dirigido a outro jogador, afinal, foi o próprio Tsukishima que havia dado a Kageyama pela alcunha mais famosa: O Rei da Quadra. Mais do que qualquer um naquela quadra, Tsukishima conhecia o tipo de jogador que Kageyama era. Para o garoto de óculos, aquilo não passava de atuação.

Agora, para Hinata aquilo soou completamente diferente. No começo daquela semana exaustiva, Kageyama não fazia mais do que gritar, desencorajar e jogar na cara que o vôlei não era para ele. Mas aos poucos, Kageyama parou de gritar coisas que machucavam e começou a gritar palavras de incentivo. Ele elogiou os reflexos e a tenacidade de Hinata. Ele treinou a recepção de Hinata até que ambos caíssem exaustos no chão. Kageyama chegou até a assistir vídeos de vôlei com Hinata, por horas a fio, apenas para mostrar as técnicas de seus adversários nesse jogo. Claro, o que era inútil agora já que o time adversário foi quase que completamente modificado, mas mesmo assim, àquelas horas assistindo, comentando e vibrando na frente da televisão com Kageyama foram preciosas.

Por mais que Hinata não fosse penalizado caso sofresse uma derrota, ele não perderia para um idiota como Tsukishima. Ele sentia que devia isso a Kageyama.

­— Então, podemos começar? – sugeriu Takeda-sensei unindo as palmas das mãos com um sorriso amigável.

XXX

— A situação está difícil – Kenma praguejou durante o “tempo” pedido pelo trio para rearranjar as jogadas – o Tsukishima é mais inteligente do que eu imaginei.

Já haviam perdido o primeiro set e agora no segundo o placar constava 17 a 10 para o time dos primeiranistas.

 As opções de Kenma estavam um tanto limitadas. Era o terceiro ponto consecutivo feito pelo saque flutuante de Yamaguchi e a mira do garoto parecia está focada em Hinata – que apenas havia treinado a recepção dos poderosos “saques viagem” de Kageyama. Até agora, Kenma não havia conseguido explorar o poder de pulo de Hinata, entregando a bola apenas para as cortadas violentas de Tanaka, que estavam facilmente bloqueadas pela altura descomunal de Tsukishima. Sugawara também não dava o braço a torcer. Sempre que podia enganava a defesa falha do time dos segundanistas com fintas quando menos se esperavam por elas.

Nenhum jogador em quadra era de se jogar fora, mas o time dos garotos do primeiro ano estava em clara vantagem no que se referia à altura e defesa de bloqueio.

Enquanto Tanaka dava rápidas instruções a Hinata de como melhor receptar os saques de Yamaguchi, Kenma analisava friamente o adversário. Tsukishima era apenas um primeiranista, mas era deveria ser o mais estrategista depois do próprio Kozume naquela quadra. O garoto de olhos gateados imaginou que naquele ponto somente um ataque rápido com Hinata poderia quebrar o ritmo imposto pelos primeiranistas, mas para isso Hinata teria que receptar aqueles saques perversamente enganadores de Yamaguchi.

Kageyama olhava o placar de forma tensa. Seu destino como jogador estava em jogo e ele nem ao menos poderia pisar em quadra. Aquilo era ridiculamente doloroso. Sentar naquele no banco de reservas – por mais que ele ainda não fosse um reserva – doía. O levantador tinha um gosto amargo na boca.

— Aqueles últimos saques foram problemáticos, até mesmo eu teria certa dificuldade – Nishinoya falou colocando uma mão no ombro de Kageyama para confortá-lo, o levantador olhou de forma curiosa para o líbero – Olha, eu não sou seu maior fã, Kageyama. Seria ótimo se ainda aquele idiota barbudo ainda estivesse aqui e se o Suga-san conseguisse jogar mais... Mas precisamos de você. E o Shouyou... Eu tenho certeza que ele irá conseguir.

— Eu... Eu sei – Kageyama disse com a voz fraca ainda sem conseguir encarar Nishinoya – Obrigado, eu acho.

— Agora ouça o seu senpai! – Noya mudou instantaneamente do tom sério para o seu típico tom energético – Pare de fazer essa cara estranha e confie um pouco mais no Shouyou. Os reflexos dele são incríveis! Já viu o pulo daquele cara? Ah! Quero o ver cortar um passe rápido com aquele pulo!

— Pulo?

O tempo pedido pelos segundanistas se esgotou e ambos os trios retornaram para os seus postos. Yamaguchi respirou fundo antes de sacar mais uma vez. “Se eu mirar no baixinho assim como Tsukki falou, não terei problemas”, Tadashi mentalizou. Ao ouvir o apito para sacar, o pinch server não poupou força ao seu saque flutuante.

“Não desanime e ouça o seu senpai! Um saque flutuante recebe esse nome por ser um saque sem rotação, ou seja, ele geralmente cai um pouco antes de onde normalmente cairia. Flexione mais os joelhos e vá mais adiante se quiser recepta-lo. Não seja enganado!”, as palavras de Tanaka durante o tempo passaram como um furacão pela mente de Shouyou naqueles poucos segundos que a bola se direcionava até ele. Ele definitivamente manteria aquela bola em jogo.

Hinata conseguiu receptar se jogando de peito no chão, fazendo a bola voar para o outro lado da rede como um canhão.

­— Bola de graça! Cubra Yamaguchi – Sugawara gritou e o rapaz de cabelos escuros receptou aos tropeços entregando a bola ao lançamento do terceiranista – a última é sua Tsukishima!

Tsukishima cortou sem muito esforço o lançamento estável de Sugawara. Com Tanaka em sua mira, pensou que o fazendo perder essa bola acabaria com a moral do time adversário.

— Você não acha que está me subestimando, maldito? – Tanaka praguejou aos berros mandando o próximo toque para Kenma.

Um milhão de possibilidades passaram diante da mente rápida de Kenma. A recepção havia atrasado Tanaka para um ataque rápido – que aquela altura seria o único que conseguiria deter o “paredão” que era o bloqueio combinado de Tsukishima e Yamaguchi. A resposta para aquela questão nunca foi mais clara.

Tanaka se levantava correndo à esquerda e os meio de rede atravessaram a quadra da direita para poder bloqueá-lo. Não precisou fazer nenhum dos sinais que havia treinado com Hinata, pois Kenma sabia que há muito tempo Hinata já estava lá. Já estava pronto.

Olhou para a direita e viu seu melhor amigo dando tudo de si em seu melhor salto. Hinata estava há metros de altura no ar pronto para cortar a bola como se ela já estivesse lá. Não havia dúvidas. Kenma juntou toda a força que tinha para mandar um arremesso que fosse alto e rápido o suficiente para que Shouyou cortasse.

Todos na quadra estavam atônitos com o que viam e o único som audível era o da bola de vôlei que atingiu como uma bomba a área do time dos primeiranistas. Hitoka, que segurava toalhas limpas ao lado de Kiyoko, sorriu pela primeira vez naquela semana. Por mais afastada que se sentia de seu trio, a garota não conseguiu conter a felicidade e gritou junto com Kenma e Shouyou quando o ponto fora marcado.

O resto do clube estava perplexo demais para falar qualquer coisa, mas o transe fora quebrado instantaneamente assim que Tanaka, seminu, saiu correndo pela quadra aos berros girando a camisa no ar. O técnico Ukai e o Takeda sensei conversavam de olhos arregalados em voz baixa. Nishinoya e Kuroo saíram correndo para comemorar junto com Tanaka e provocar Tsukishima. Daichi, que tinha uma veia quase para estourar na testa, saiu atrás da dupla idiota com Suga a tiracolo.

Mas para Shouyou, tudo se resumia a um único olhar. Kageyama ainda estava sentado, mas os olhos de blueberry estavam arregalados e seu queixo estava caído. Hinata ofereceu ao levantador um sorriso largo e vitorioso e voltou a discutir algo com Kenma. Toda aquela confusão foi oportuna, afinal, no meio de todos aqueles gritos quem ligaria se o rosto de Kageyama estivesse um pouco vermelho? E quem repararia que seus olhos brilhassem como se ele fosse uma criança em uma manhã de natal? Bem... Yachi havia percebido.

— Você está bem, Kageyama-kun? – Yachi perguntou oferecendo uma garrafa de água que foi prontamente aceita.

— Hum, sim, não é nada, obrigado – ele disse com um sorriso desajeitado, torcendo para não ser o do tipo “assustador”, e a garota corou – Eu só... Que salto foi aquele?

— Shou-chan ainda não tinha te mostrado isso? Bem, ele é incrível mesmo!

Kageyama apenas assentiu. Seus olhos não conseguiam mais desviar da quadra, estavam ávidos para saber o que viria a seguir. Queria a vitória, mas naquele momento único, o que mais queria era ver aquele salto novamente. Quando Kozume lançou mais uma vez a bola para Hinata, Tobio fez questão de esfregar os olhos para ter certeza do que estava vendo.

Certa vez, no primário, havia lido um livro bobo com frases curtas e muitos desenhos. O título era “Ìcaro”, assim como o nome do protagonista, que havia ficado preso no labirinto do Minotauro com seu pai, Dédalo. Mas Tobio odiava protagonistas e Ìcaro era, de fato, o mais idiota de todos. Mesmo sendo advertido pelo pai para não voar com suas asas de cera perto do sol, aquele imbecil continuava a subir, subir e subir... Até suas asas derreterem e caírem. O pequeno Tobio, na época, achou tudo idiota, mas também achou incrível a ideia de pessoas terem asas. Entretanto, naquele momento presente, Tobio não sabia dizer se Hinata era o sol por brilhar demais, ou se ele era Ìcaro por sua persistência em sempre subir mais alto e ir mais longe.                 

Qualquer que fosse a resposta, Hinata fez Kageyama acreditar novamente em pessoas com asas. E, principalmente, em pessoas que querem estar no topo.

A única certeza que Tobio tinha era que seu rosto devia estar queimando tanto quanto a cera das asas de Ìcaro.

XXX

O ataque rápido não só quebrou o ritmo do time dos primeiranistas, como foi o suficiente para marcar pontos e fazer com que toda a atenção recaísse sobre Hinata. E isso foi o bastante para tornar os ataques de Tanaka ainda mais efetivos. Hinata acabara por se revelar como uma excelente isca. O placar estava 20 a 19 para os segundanistas.

Contudo, Kenma estava exausto. Não havia treinado tanto quanto Hinata durante aquela semana, mas o seu corpo pedia por descanso. O loiro tentou ignorar e se focar em ler as expressões de Sugawara para poder formar um bloqueio com Tanaka. Quando o senpai arremessou a bola para Yamaguchi finalizar o ataque, o levantador mais novo viu um momento perfeito para fazer um bloqueio “lido” juntamente com o careca.

— No três, Tanaka-san – Kozume gritou com as mãos estendidas – Um, dois e...

O garoto sentiu como se as fibras dos músculos da panturrilha esquerda rasgarem como papel. Estava pronto para pular, mas mal conseguiu sair do chão, e por fim, caiu de joelhos com a dor. Yamaguchi não teve problemas em marcar o ponto do empate, mas logo saiu em ajuda do levantador que abraçava as pernas, sentado no chão.

— Kozume-senpai! Desculpe! Desculpe! Desculpe! – Yamaguchi chorava como uma cachoeira. Kenma tentava consola-lo entre gemidos de dor.

— A culpa não é sua e, por favor, não me chame de senpai – Kenma tentou acalmá-lo, mas careta de dor não era convincente – Isso foi só uma distensão, eu acho. Faz muito tempo que eu não pulo desse jeito.

— Francamente – Kuroo apareceu balançando a cabeça em negação – Você nem deve ter se aquecido antes do jogo, hein? Anda, se apoia aqui – o meio de rede ofereceu o ombro.

— Mas o jogo... – Kenma tentou protestar.

— Cabeça de Pudim idiota! – Shouyou gritou – Vá para a enfermaria com o Kuroo-san enfaixar essa perna. Nós damos um jeito por aqui.

— Isso mesmo – Daichi advertiu – Se você se continuar irá piorar essa lesão, portanto, vá descansar – o capitão virou-se para o banco de reservas e avaliou os jogadores restantes – Kageyama se aqueça, você entra no lugar do Kozume!

— Eu?

— Quem mais? Se aqueça!

— Kageyama-san, podemos dar uma palavrinha antes? – Kenma que estava apoiado no ombro de Kuroo o chamou para que o outro time não pudesse ouvir o que ele estava prestes a falar – Não queria ter saído assim e muito menos te pedir um favor. Mas eu odiaria mais se o Tsukishima ganhasse esse jogo. Por isso me ouça: levante para o Shouyou.

— O que?!

— Tenho certeza que até você entendeu. Peça que ele dê seu melhor pulo e corra do bloqueio o máximo possível, caso contrário, aquele idiota vai continuar bloqueando ele e o Tanaka-san. Geralmente o melhor lugar para o Shouyou atacar é pelo centro, levante o mais rápido que você puder.

— Mas e se ele...

— Escute o Cabeça de Pudim, Kageyama – Kuroo disse colocando a mão no ombro do amigo, por mais incrível que pudesse parecer, Kuroo Tetsurou estava sério – Você já jogou com o Tsukishima, então deve saber do que ele é capaz. No momento, se você quiser vencer, essa é a melhor opção.

Kageyama não disse palavra alguma. Apenas assentiu e se aqueceu o mais rápido que pode enquanto os times se agrupavam para discutir as próximas jogadas.

Pela primeira vez, Kageyama estava sem palavras. E ele sempre tinha algum comando ou estratégia em mente. Mas o que era aquele salto? Será que Hinata seria mesmo capaz de aguentar um ataque rápido com o seu levantamento? Kageyama não queria arriscar, caso perdessem aquele set seria o fim.

— Tsukishima, nice serve! – Yamaguchi e Suga gritaram em uníssono.

O saque de Tsukishima era fraco. Quase como se ele não tivesse vontade de gastar energia com “reles mortais”. Mas o efeito foi o oposto assim que Kageyama colocou os pés na quadra. Tsukishima mirou em Hinata com toda sua força como tentativa de desorganizar um possível ataque rápido que o adversário viesse a fazer.

O que o loiro não contava era que a presença de Kageyama em quadra fosse provocar mais do que sua própria reação no saque.

  “Ele bateu na bola com força, mas não é nem a metade da força com que o Kageyama acertou minha cabeça nos treinos”. Hinata correu para receptar com agilidade em forma de manchete. Uma recepção perfeita.

­— Nice receive, Shouyou! – Nishinoya gritou pulando em cima do banco dos reservas.

Kageyama estava surpreso com aquele movimento ágil, mas não tinha tempo para ficar de boca aberta. Afinal, eles treinaram duro durante uma semana inteira para que Hinata conseguisse receptar e mandar a bola direto para o levantador. E lá estava ela pairando sobre a cabeça de Kageyama.

Em uma fração de segundos, os olhos azuis estudaram toda a extensão do campo adversário. Tsukishima não mais seguia Hinata com os olhos esperando um ataque rápido. Era como se naquele mínimo espaço de tempo, o loiro entendesse toda a confusão que havia entre aquela dupla estranha. Era como se ele tivesse certeza de que Kageyama se negaria a levantar para um “plebeu”.

E ele estava certo. Mas isso não queria dizer que Kageyama o deixaria bloquear Tanaka como ele bem entendesse.

­— É uma finta! – Sugawara gritou, mas Tsukishima já estava posicionado para bloquear um Tanaka que servira apenas de isca.

Kageyama havia assumido as rédeas e marcara com uma deixadinha.

— Aaaah, odeio servir de isca! – Tanaka se lamuriou, mas depois ofereceu um high-five para o levantador que estava um pouco embasbacado com os gritos de Hinata afirmando como aquela jogada havia sido legal – Boa jogada, Kageyama!

“21 a 20 para os segundanistas”, Kageyama pensou enquanto se preparava para sacar. “Mas se relaxarmos eles vão nos comer vivos”, ele sabia que Tsukishima era o tipo de jogador que tiraria proveito da menor das situações para alcançar a vitória. Qualquer deslize emocional não passaria despercebido por ele, afinal, ambos estudaram em Kitagawa Daiichi em sua época de ouro e isso significava apenas uma coisa: eles eram kouhais de Oikawa Tooru.

E o que tem demais em Oikawa Tooru? Apenas talvez o fato de ser – empatado com Kageyama – o melhor levantador de Miyagi. Ou talvez por ser um jogador extremamente... Escorregadio? Não tire conclusões precipitadas. Oikawa não jogava sujo. Nada disso. O capitão do rival prometido de Karasuno – o Aoba Johsai – apenas sabia ler muito bem o estado de espirito das pessoas e usar isso ao seu bel prazer dentro de quadra. Por isso, Kageyama se mantinha nulo perto de Tsukishima. Ou pelo menos tentava.

— Manda um saque matador, Kageyama! – Hinata entregou a bola nas mãos de Kageyama e o encorajou com um sorriso.

O apito soado por Takeda soou tirando Kageyama do transe de seus pensamentos intensos. “Ele consegue me ler?”, indagou observando um pequeno sorriso sarcástico nos lábios do loiro.

O saque foi realmente matador... Com toda certeza teria matado qualquer individuo que estivesse do lado de fora do campo dos primeiranistas. Kageyama ficou pálido com o próprio erro. Estavam empatados novamente.

Don’t mind! – Hinata e Tanaka gritaram quando o levantador se desculpou.

Tsukishima olhava intensamente para Kageyama como se conseguisse ler cada pensamento. A essa altura, esperava apenas que Hinata não fizesse nada que denunciasse a ligação entre os dois. Sem nenhuma dúvida, era essa a fraqueza que o meio de rede procurava.

“Fraqueza? Eu? Hinata? Boke, boke, boke!”, Kageyama travava uma batalha contra si mesmo em sua cabeça. Desde quando Hinata era a sua fraqueza? De jeito nenhum.

“Mas afinal, por que Tsukishima procuraria uma fraqueza minha? Por que eu não consigo não relacionar isso ao idiota do Oikawa? Droga, eles não deveriam estar em Seijoh?”. As desconfianças não paravam de vir a sua mente. Queria se concentrar no jogo, mas encarar o seu passado no Kitagawa Daiichi bem na sua frente era no mínimo azucrinante.

O saque meticulosamente calculado de Sugawara acabou meticulosamente acertando a rede e não passando para o campo adversário. 22 a 21 para os segundanistas.

O próximo saque foi de Hinata. Não é preciso dizer que foi fácil para Tsukishima recepciona-lo e entregar a bola para Yamaguchi bate-la de segunda mão. Porém, Tanaka a recepcionou um tanto atrapalhado o atrasando para cortar.

Quando a bola vinha a Tobio, era como se o mundo girasse mais devagar. As sinapses neurais que eram lentas para os estudos, trabalhavam a todo o vapor na hora de arquitetar o próximo ataque. Tanaka ainda estava no chão e corria atrasado até a rede. Kageyama pensou em fazer um corte de segunda mão assim como Yamaguchi, mas Tsukishima pareceu antever isso correndo para bloqueá-lo. Yamaguchi se concentrava em Tanaka e Sugawara esperava na defesa caso houvesse falhas no bloqueio.

Foram menos de dois segundos para que Tobio entendesse o que Kenma havia entendido desde o começo do set. Era impossível vencer sem um terceiro homem. O levantador pensou em gritar para Hinata se colocar em posição e ele estava pronto para fazer um levantamento “mais fácil” de ser cortado. Mas ao olhar na direção do ruivo ele já não estava lá.

— Manda pra mim! Eu estou aqui, Kageyama!– Hinata gritou.

E gritou. Não do chão, mas no ar. Hinata voava há mais de dois metros no ar em posição de ataque. Havia alguém ali. E esse alguém estava pulava daquele jeito insanamente alto mesmo sem ter a certeza de que ele cortaria alguma vez. Mesmo que o próprio Kageyama tivesse dito que não mandaria a bola para ele de jeito algum. Tobio sentiu que nunca havia visto a resposta certa com tanta clareza.

O levantamento foi perfeito. Era preciso. Era certeiro. Era insanamente rápido. Mas não havia problema, pois Hinata também era. Foram segundos. Preciosos três segundos. Um piscar de olhos e o ponto já havia sido feito. 23 a 21 para os segundanistas.

— O-o que foi isso, técnico?! – Takeda sensei gaguejou não entendendo nada do que havia visto.

O ginásio foi tomado por gritos e mais gritos. Os jogadores do banco gritavam o nome da dupla estranha e Tanaka carregava Noya fazendo acrobacias no ar. Daichi nem conseguiu se incomodar em conter os colegas por estar atônito demais com a última jogada. O capitão se pegou sorrindo de uma ponta da orelha a outra. Estariam eles diante da nova arma da Karasuno? Ou seria apenas um golpe de sorte?

— V-você levantou pra mim! – Hinata disse com os imensos olhos castanhos brilhando. O coração batia num ritmo desenfreado e ele não sabia bem o que fazer para controlar aquilo. Não sabia se queria controlar aquilo. O sentimento era ótimo e a única coisa que queria era acertar mais um levantamento de Kageyama. Não! Um não seria o suficiente! Queria acertar vários deles e marcar muitos pontos!

— N-não fique se achando, boke – Kageyama gaguejou.

Ele olhava para as próprias mãos que faziam o movimento de apertar. Elas estavam quentes e a sensação era boa. Era como se, por mais que só tenha tocado na bola por meros segundos, ela ainda estivesse em suas mãos. Conseguia sentir a textura, o peso, a rapidez. Honestamente, Kageyama adorava as deixadinhas. Adorava enganar os adversários com fintas e atacar de surpresa com uma bola de segunda, pois ele se sentia no controle da situação. Mas nada era melhor do que um levantamento bem sucedido e que marcasse pontos. E nada que ele já tivesse feito em quadra foi melhor do que a sensação de levantar a bola para Hinata.

Hinata não descansava. Hinata não fazia corpo mole. Hinata não dava desculpas. Hinata queria vencer. E o mais importante: Hinata estava ali.

Naquele momento recordou-se do primeiro e último jogo que ele liderara como capitão o Kitagawa Daichi nas Nacionais do Interginasial. Tsukishima, Yamaguchi, Kindaichi, Kunimi, todos os seus parceiros de time... Nenhum deles aceitava mais as ordens do “Rei da Quadra”. Depois de ter mandado inúmeros levantamentos egoístas, Kageyama fora substituído, mas antes disso tivera um levantamento completamente abandonado. Ninguém estava lá. E assim foi sua primeira grande derrota e foi assim que Tsukishima o coroou como “O Rei da Quadra”.

Mas agora, ele não se sentia um rei. Quando Tanaka e Noya pularam para cumprimentar Hinata ele não havia ficado deslocado como sempre. Por mais que os dois senpais não gostassem tanto de Kageyama, era quase como se ele sentisse um coleguismo causado por aquela jogada. Era quase como se eles o aceitassem como parceiro. Pela primeira vez, Tobio deu um sorriso sincero dentro de quadra.

— Oh! É quase um sorriso de verdade, Kageyama! – Sugawara disse entre risadas, limpado uma lágrima – Que orgulho!

— Eu disse que faria você levantar para mim! – Hinata provocou e Kageyama deu de ombros como se não fosse nada demais, uma grande mentira, diga-se de passagem. Ele puxou Hinata para perto pela gola da camisa para falar algo no seu ouvido. Hinata sorriu e assentiu.

Todos pareciam alegres com a nova descoberta... Todos menos Tsukishima que estalava a língua como se com aquilo fosse ganhar os pontos de volta. “Se isso não for um golpe de sorte, logo eles chegaram no set point e as coisas ficaram complicadas”, pensou o loiro. Desde o inicio do jogo havia se preocupado apenas em provocar Tanaka e Hinata e estudar Kageyama. Ao pensar no levantador, Tsukishima abriu novamente um sorriso sábio.

— Uma jogada esplêndida, Rei – ele bateu palmas lentas e sarcásticas – Mas quanto tempo até o pintor de rodapé cansar dos seus levantamentos insensatos? Quanto tempo para não ter ninguém para quem levantar novamente?

O coração de Tobio se apertou dentro do peito. Tsukishima Kei não tinha apenas uma personalidade “salgada”. Ele também sabia muito bem quando e como abrir feridas que ainda não tinham cicatrizado. Nada havia mudado com aquela última jogada. Nada mudou ao ser cumprimentado tão alegremente pelos companheiros de time pela primeira vez. Nada havia mudado desde o ginásio.

“Se defenda, idiota! Onde está aquela sua boca suja de sempre?”, Hinata pensou. Kageyama parecia incapaz de formular qualquer palavra, qualquer defesa. O ruivo não conseguia acreditar que ele aceitaria aquelas provocações sem revidar. Esse cara quieto, resignado, indefeso... Esse não era o Kageyama que ele finalmente havia conhecido! Não era o novo Kageyama que ele aprendeu – novamente – a gostar. 

— Tsukki, não acha que isso já é demais? – Yamaguchi tentou acalmar os ânimos.

— Oi, não chame ele assim, quatro-olhos idiota – Hinata disse em um tom perigosamente baixo, os olhos faiscando raiva – Eu não vou deixar ninguém chama-lo assim. Muito menos falar mal dos levantamentos que eu sempre quis cortar. Agora fique quieto enquanto esmagamos você.

A quadra caiu em um silêncio aterrador. Ninguém falou nada para repreender Hinata ou Tsukishima que ainda se encaravam separados apenas pela rede de vôlei. Kageyama simplesmente não conseguia formar um pensamento decente sobre tudo aquilo.

— Fale menos e jogue mais, anão.

“Entendi. Quem diria que o Rei da Quadra tem fãs...”. Tsukishima pensava como melhor usar o mais novo Calcanhar de Aquiles de Tobio. Se provoca-lo com o apelido de Rei não fizesse tanto efeito, no mínimo desestabilizaria Hinata.

Não teria sido difícil para o time dos segundanistas terminar o set naquele momento se os saques de Hinata não fossem tão ruins. Logo, não foi impossível para os novatos chegarem perigosamente perto. 24 a 23 para os segundanistas. Caso marcassem ganhariam o set e jogariam mais outro para decidir o vencedor. Caso contrário, eles deveriam conseguir mais dois pontos para vencer. E essa última opção era perigosa demais.   

— Nice Serve, Suga-san! – Yamaguchi gritou.

Apesar dos pequenos deslizes, o saque de Sugawara era bem calculado e perigoso. A bola foi mirada em Hinata, mas recebida por Tanaka, que a pedido de Kageyama, ficara encarregado da defesa para que eles pudessem explorar mais o recém-descoberto ataque rápido.

— Foi mal, cubra Kageyama! – Tanaka berrou vendo a bola flutuar para a zona de ataque de Kageyama.

Kageyama não levava suas preocupações para dentro de quadra. Ele era preciso e frio quando precisava e aquilo sempre trouxe extrema estabilidade e confiança nas suas jogadas. Não era um jogo oficial e naquela altura com todos os rallys excessivamente longos daquele set, ele mal se lembrava da penalidade imposta por Daichi. Kageyama sempre mantinha a racionalidade. Sempre mantinha a cabeça fria.

Ao observar a bola chegando a suas mãos, ele avaliou que talvez o melhor fosse uma deixadinha ou uma cravada de segunda. Tsukishima marcava Hinata ao longo da rede e isso o estava deixando o ruivo de cabeça quente.

“Se não conseguir atacar, fuja do bloqueador”, lembrou-se das palavras rápidas de Kageyama durante a comoção do primeiro ataque rápido. “Corra na sua maior velocidade. Pule o seu maior salto. Fuja do meio de rede. Eu me asseguro de entregar a bola nas suas mãos”, ele declarou.

A cabeça de Kageyama imaginava vários cenários de forma quase instantânea. Talvez o momento pedisse mesmo um ataque individual seu.

— Nem ouse, Bakageyama! – Hinata gritou atravessando as extremidades da quadra para ganhar impulso – Mande pra mim.

A visão do topo só durou alguns segundos. O outro lado da quadra era tão claro, tão abaixo de si, que Hinata pensou estar mesmo voando. A sensação de enganar Tsukishima. A sensação de cravar uma bola lá do topo. Era um momento único. Era um momento precioso. E foi Kageyama quem lhe ofereceu. Ele poderia ser o menor atacante em quadra, mas naquele momento no topo ele era maior do que todos.

Takeda-sensei soprou o apito anunciando o fim do segundo set com vitória dos segundanistas.

— Hinata, isso foi... – Kageyama disse, mas logo perdeu a voz.

Queria dizer o quanto ele foi incrível. Queria dizer isso por mais que fosse embaraçoso e por mais que ele tivesse jurado que nunca iria levantar para o ruivo. Kageyama queria... Bem, Kageyama não sabia bem o que queria. Mas também não conseguiu dizer nada. Hinata estava com um sorriso fraco no rosto e estava pálido. Se Kageyama não fosse ágil provavelmente ele teria batido a cabeça no chão, pois agora Hinata havia simplesmente caído desacordado em seus braços.

XXX

 

 O mundo era uma confusão turva.

Hinata abriu os olhos gradativamente para encarar o teto branco da enfermaria da escola. Entendia que havia desmaiado e ainda sentia um pouco de vertigem, mas não pensava que seria algo sério. “Sim, talvez ainda dê pra voltar pro último set”.

Ao se levantar tomou um susto com a figura sentada na cadeira ao lado do seu leito acortinado da enfermaria. Kageyama estava sentado de pernas cruzadas folheando uma revista sobre... Voleibol? Claro que era voleibol. Hinata sentou-se na cama atraindo a atenção do levantador.

— Kageyama, porque está aqui? Volte para o jogo e trate de chutar a bunda daquele idiota do Tsukishima! – Hinata disse tentando soar confiante, mas a voz estava fraca – Vamos logo, o último set ainda não deve ter terminado!

De todas as coisas que aprendera sobre Kageyama na breve semana em que moraram juntos, nada foi mais surpreendente do que viria a seguir. Tobio riu. Foi um som desajeitado e anasalado, o levantador teve que cobrir a boca para não rir alto demais.

Hinata já havia visto um sorriso genuíno nos lábios do levantador, mas nunca tinha o visto gargalhar. As borboletas insistiam em bater as asas na boca de seu estômago, mas ele não poderia desconsiderar que era de Kageyama que estava falando. Kageyama Tobio, o iceberg humano.

— Você está rindo de mim por que, quer brigar? Ai! – Hinata franziu o cenho e pôs os punhos em guarda, mas quando sentiu uma dor forte no abdômen se deitou novamente. Kageyama tentou, inutilmente, segurar a risada, ver Hinata tentando desafiá-lo até naquela situação era hilário.

— Acalme-se, o jogo foi suspenso – ele disse tentando se recompor com um suspiro – Você desmaiou de exaustão e eu tive que ouvir um monte do Daichi-san por “exagerar” no seu treino. Então... Me desculpe por isso também – disse desviando o rosto do olhar curioso de Hinata.

— Eu só pude receber bem hoje por sua causa, então – ele limpou a garganta – Obrigada, Kageyama. – o ruivo estava agradecido que o levantador não estivesse olhando direto para si, pois suas bochechas estavam levemente vermelhas — Mas e a briga pelo posto de levantador? – Hinata perguntou arregalando os olhos. Não permitiria que Kageyama fosse punido daquele modo por sua causa.

— Relaxe. Daichi-san e Suga-san conversaram e decidiram deixar tudo como estava. Se houver alterações será com o tempo, mas se depender de mim elas não acontecerão.

— E o Kenma?

— Ele estava aqui, mas agora já foi para casa com Kuroo. Está tudo bem, foi só uma distensão, mas ele vai ter que descansar a perna por alguns dias.

Shouyou suspirou aliviado. Pelo menos tudo acabara bem no fim, apesar de não estar plenamente satisfeito com o modo que as coisas vieram a acontecer. Eles ganharam o set, mas e se fosse uma partida oficial? E se ele desfalcasse o time por causa disso? Ele pelo menos conseguiria jogar como titular?

Tantas dúvidas pareceram estar evidentes em sua expressão, pois assim que Kageyama olhou para ele foi como se ele fosse transparente.

— Não se preocupe. Depois de hoje, eu duvido que o técnico Ukai vá dispensar você tão facilmente de um jogo. É claro que suas recepções ainda são ruins, mas... – Kageyama parou de repente e parou para pensar bem no que iria dizer a seguir.

— Mas...?

— Mas se continuarmos treinando... Quero dizer, se continuarmos treinando juntos, acho que você será capaz de receptar até aqueles saques malucos do Yamaguchi.

— Promete não cortar mais a bola na minha cabeça?

— Promete melhorar esse seu saque de merda até outubro? – Kageyama disse com um sorriso sarcástico – Porque nós definitivamente temos que usar o ataque rápido no Torneio de Primavera e para isso eu preciso de você em quadra.

— Temos um acordo – Hinata sorriu.

As coisas não aconteceram do jeito que Hinata queria. Eles empataram com os primeiranistas cada um com um set. Kenma se contundiu. Ele e Kageyama descobriram ser uma dupla insanamente rápida. E finalmente ele havia cortado um levantamento de Kageyama. Apesar de tudo, Hinata não conseguia esconder o sorriso que se estendia de orelha a orelha. 


Notas Finais


Pois é. Nos meus cálculos esse seria um capítulo grande, mas que iria abranger o jogo + a primeira parte do plot do próximo capítulo. E por isso eu - toda orgulhosa - anunciei que o beijo Kagehina estava próximo. Agora vocês sabem que eu são tão boa em matemática quanto o Kageyama e o Hinata. Enfim, com isso acabo anunciando que o beijo Kagehina é no próximo capítulo (que eu juro que vou tentar escrever o mais rápido e o melhor possível).

Enfim, o que acharam do Tsukishima e do Yamaguchi? Bem. Eu sei que vocês vão xingar o Tsukki, mas não se enganem tem muita coisa que ainda vai acontecer e que ainda vai ser explicada. Agora aos fãs de Tsukiyama (não estou falando daquele maluco de Tokyo Ghoul), eu só posso me desculpar, mas não. Não vai rolar nada.

Plus, eu quero contar muitas coisas sobre o Oikawa, Iwaizumi, Kunimi, Kindaichi e todo o Aoba Johsai! Porém só no próximo arco - sim eu faço em arcos porque quero que minha fanfic brega fique um pouco chique.

Obrigada pela paciência e por acompanharem essa fanfic lentíssima. Prometo fazer valer a pena!
Beijão!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...