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História Winter and Summer - Love and War.


Escrita por: Kags e MadTheDu

Notas do Autor


Olar~
Ok, vou ser direta: não teve beijo nesse capítulo. Mas antes que vocês me matem, eu vou explicar tintin por tintin e acho que vocês vão me entender. Quando a gente planeja uma história tudo parece se encaixar perfeitamente na construção do roteiro. É sério, se vocês lerem os resumos que eu escrevo para poder escrever o capítulo de fato, veriam que a história tá muito diferente e está muito maior.
O que eu quero dizer com isso é que quando eu escrevo de fato, tudo saí maior do que eu imaginava. Perdão novamente por prometer o ''kiss kiss fall in love'' (vulgo beijo kagehina) - quem assistiu Ouran High School Host Club vai entender - e não cumprir. Só que dessa vez, REALMENTE fica pro capítulo que vem.
''Tá, MAS QUANDO VOCÊ VAI POSTAR O CAPÍTULO QUE VEM?'', ainda nessa semana. E eu vou explicar direitinho o porquê.

Eu comecei a famigerada faculdade semana passada e já recebi meus horários. Não é nada animador. Meus únicos horários livres são nos fins de semana e isso ocorre porque o curso é integral. Logo, vou deixar Winter & Summer como uma fanfic mensal. Não quero abandoná-la de jeito nenhum, por isso, eu peço a força de vocês e também a paciência. Bem, mas vamos todos concordar com uma coisa, né. É melhor ler um capítulo de qualidade sem beijo, do que um capitulo cagado cheio de bitocas. Desculpa, mas se não rolou é pelo bem da história. Sei que vão entender.

O próximo capítulo é o do beijo, e eu vou postar talvez até o próximo fim de semana. Então por favozinho, paciência. To escrevendo ele já com muito carinho.

Então aqui entramos no famigerado verão! A parte dois de quatro de Winter & Summer! Esse verão promete! Acampamentos? Treinos? Escolas rivais? Asahi? Festivais? Kageyama ciúmento? Pois é, continuem acompanhando!

Capítulo 7 - Love and War.


Fanfic / Fanfiction Winter and Summer - Love and War.

Parte 2 — Natsu.

Yachi Hitoka era uma garota incrível.

Boa filha, uma estudante dedicada e uma manager sempre prestativa. Apesar de se autoproclamar uma “Habitante B”, ninguém em Karasuno levava isso em consideração. Afinal, já estava no nome: Hitoka era a união dos ideogramas para “flor” e “benevolência”.

Um nome doce para uma garota doce e querida por todos.

Naquela manhã de sábado, porém, não se sentia nenhum pouco doce ou benevolente. Ao ver Hinata inconsciente sendo carregado por Kageyama até a enfermaria, sentiu-se extremamente culpada. Sentiu-se frustrada.

Mas como eu ia dizendo, ela era realmente uma garota doce. Hitoka fez de tudo para chacoalhar os sentimentos ruins que insistiam em deixa-la a ponto de chorar. Queria ajudar Hinata, pois ele era seu melhor amigo. Mas também queria afastá-lo de Kageyama. Queria ter a mesma força nos braços que Kageyama para poder carregar o melhor amigo e afastá-lo da pessoa que ela mais gostava.

Mas ainda doía ver a cena. Talvez doesse menos se ela tivesse obedecido a seus instintos e desviado o olhar da reação de Tobio. Ele estava não estava nervoso e desesperado como Tanaka e Nishinoya que correram até o “local do crime” lamentando a “morte” de Hinata – sim, eles conseguiam ser idiotas dramáticos até nessas horas.

As sobrancelhas de Tobio se uniram e o olhar de preocupação – quase como arrependimento – tomou conta de sua expressão.

“Você está se culpando por ter treinado ele até a exaustão, certo Kageyama-kun? Esse é o tipo de pessoa que você é afinal”, Yachi cogitou.

Kageyama Tobio. Por onde devemos começar a descrever Kageyama aos olhos de Hitoka? Não era simples.

Ao se falar de Kageyama, para Yachi, as pessoas – grande parte das vezes – estavam enganadas. Onde eles viam ambição, Hitoka via dedicação. No lugar de frieza, ela via uma gentileza tímida. Em vez do susto que as pessoas levavam quando elas presenciavam um dos sorrisos forçados do levantador, a manager enxergava alguém dando o seu melhor para agradar. E o mais importante, ao invés da tão invejada “popularidade” de Kageyama, ela via uma triste solidão.

Bem, no começo talvez ela enxergasse Kageyama Tobio como as demais pessoas: estoico, sério, perspicaz... Sexy? Pelo menos era isso que ela lia nas paredes rabiscadas dos banheiros femininos da Karasuno. Sendo sincera consigo mesma, Yachi tinha plena consciência do primeiro adjetivo que veio a sua cabeça em seu primeiro encontro com Kageyama em Karasuno. Para Hitoka ele era apenas assustadoramente alto.

Ela lembrava perfeitamente do que havia perguntado para Shimizu no mesmo dia em que viu Kageyama no ginásio da escola no primeiro ano.

-

(flashback)

— K-Kiyoko-san! – ela quase gaguejou, afinal, estava falando com a garota mais bonita da escola. “E se os fãs dela me atacarem?!”, ela gritou mentalmente sentindo o estomago revirar.

— Não se acanhe Hitoka-chan. – Kiyoko sorriu enrolando a rede de vôlei entre os braços – Pode me perguntar qualquer coisa!

— C-como você faz para lidar com os caras altos e assustadores do clube? – ela perguntou com olhos tremulando medo – Eles dão medo!

— Ah, não me diga que o Tanaka fez alguma coisa estranha! – ela bufou – Me fale se ele fizer algo, Hitoka-chan, não irei perdoá-lo!

— Não! – a loira balançou a cabeça em negação rapidamente com as bochechas em chamas – O Tanaka-senpai é muito educado comigo já que sempre que estou no clube você fala mais! Ele parece gostar muito disso, por favor, não o puna, Kiyoko-san!

Kiyoko riu e afagou os cabelos loiros de Hitoka como se ela fosse uma criancinha. Era reconfortante e a garota menor conseguiu se acalmar.

— Ok, então quem é o cara assustador de quem você tem tanto medo? Não me diga que é do Azumane? Vamos lá! Ele mal apareceu nos treinos desde que você entrou como manager. Na verdade, acho que ele teria mais medo de você do que você dele!

— Não! Para falar a verdade, nunca encontrei com o Azumane-san, já que só consegui entrar para o clube depois do Interhigh, mas o Nishinoya-san sempre diz que ele é incrível, então acho que não consigo ter medo de alguém assim – ela sorriu.

— Então quem seria?

— O Kageyama-kun – ela disse desviando o olhar dos olhos surpresos de Kiyoko -Não é que eu tenha medo, ele é só intimidador! – ela disse corando mais ainda – Ele é tão alto! E nunca sorri. Deve ser uma pessoa incrível, todas as meninas da minha sala dizem que ele é legal e inteligente! E, claro, ele é um jogador incrível!

Por um segundo, Shimizu arregalou os olhos azuis. Mas logo começou a rir. Riu tanto que se contorceu na própria risada. Com toda a certeza se Tanaka e Nishinoya tivessem presenciado a cena teriam, literalmente, derretidos como cera de vela.

— Kageyama? Legal e inteligente? Você está falando sério? – ela riu mais um pouco e percebeu que a loira falava sério quando ela timidamente assentiu com cada uma das perguntas – Não há porque ter medo do Kageyama-kun, Hitoka. Ele é bem diferente dos boatos que correm por aí. Bem, ele pode ser um pouco frio e sério, mas ele também sabe ser atencioso quando quer.

— Nossa! Como sabe tudo isso, Kiyoko-san?

— Eu fiz o ginasial no Kitagawa Daiichi – ela disse de forma orgulhosa – Assisti Kageyama-kun crescer como jogador, mas não tanto quanto pessoa. Digamos que ele não tenha amadurecido muito com o tempo. Mas ele sempre foi uma pessoa dedicada e agradável, na maior parte do tempo.

Yachi não perguntou mais nada. Afinal, não iria parecer que ela tinha algum interesse no levantador além daqueles relacionados ao vôlei? Sim! O único interesse que a manager tinha em Kageyama era o de fazê-lo uma inspiração para Hinata! Afinal, foi por isso que havia arrastado Hinata e Kenma contra suas vontades para assistir o Kitagawa Daiichi na final do Interginasial há um ano.

A garota recitava em sua cabeça tais pensamentos como se fosse um mantra enquanto pegava os seus sapatos escolares no pequeno armário de tênis ao lado do ginásio após terminar a limpeza dos equipamentos com Shimizu.

Ela era uma manager! Uma manager que se preze não poderia ter medo dos jogadores que auxiliava. Ela não podia ter medo! Mas ainda assim podia se assustar facilmente.

— Oi, hã, Yachi-san, certo? – ouviu a inconfundível voz grave do Rei da Quadra atrás de si e se manteve paralisada para conter a incrível vontade de sair correndo daquela situação – Você é a nova manager do clube, não é?

— S-sim – ela gaguejou e fez uma mesura para cumprimenta-lo como se ele fosse, de fato, um rei.

Kageyama pareceu ter se divertido com a situação, pois ele esboçou um leve sorriso com toda a formalidade da garota. “Ele não é tão assustador assim...”, pensou ao ver os lábios bem desenhados do levantador formarem um arco mínimo. Ele estava mesmo sorrindo.

— Kageyama Tobio, prazer – ele se curvou imitando a formalidade de Yachi para deixa-la mais confortável – Desculpe incomodá-la, mas você teria algum trocado pra máquina de bebidas? Eu não consegui trocar o dinheiro da minha mesada, então...

— Ah, sim! Eu tenho sim! – ela disse rapidamente tentando ser prestativa – Aqui!

— Obrigado – ele aceitou as moedas que Hitoka procurou desesperadamente pela bolsa da escola – Pago sem falta amanhã, Yachi-san.

Hitoka insistiu que não era necessário, corando quando ouviu o apelido dado pelo time sair dos lábios do levantador de forma tão natural. Kageyama escolheu sua usual caixinha de leite e bebeu em um só gole. Yachi arregalou os olhos com a ferocidade do jogador.

— Desculpa – ele escondeu o rosto com uma mão – minha mãe sempre diz que eu deveria comportar melhor perto das garotas. Isso deve ter sido nojento de se ver.

— Imagina! – ela disse com um sorriso – E-eu também, quando tomo minha caixinha suco de morango termino rapidinho! Acho que é assim com as nossas bebidas favoritas, não é? – ela riu coçando a nuca.

— Acho que sim – ele sorriu de volta – Obrigado.

Ao voltar para casa, Yachi não conseguir não “pular”. Sentia-se boba por sentir o coração acelerar daquele jeito, por se pegar saltitante no caminho de casa e não entendia como Kageyama conseguia ir do assustador ao amigável – mesmo que Kiyoko houvesse a alertado de que ele não era tão “sério” quanto os boatos diziam. Mas para Yachi, Kageyama continuava a ser a definição de legal.

No dia posterior, a loira havia se esquecido do dinheiro que Kageyama havia prometido lhe pagar, embora estivesse com os pensamentos preenchidos pelo levantador. Assim, com a cabeça em outro mundo, ela caminhou distraidamente até sua carteira na sala, onde um grupo de garotas rodeava sua mesa ainda vazia.

— Bom dia! – ela disse sorridente sem pensar muito no que acontecia ao redor de si.

— Yacchan, não me diga que arranjou um namorado! – Hana-chan, sua vizinha de carteira, pulava entusiasmada ao redor da garota – Por que não nos disse nada?

— Namorado? – Yachi pareceu ser arrastada para a realidade, arregalou os tímidos olhos castanhos – Não! Por quê?

— Ora, por quê? Olhe sua carteira!

Yachi viu uma caixinha de suco de morango, ainda gelada, com um post-it pregado nela. A caligrafia era um horror, mas os kanjis do seu nome estavam – surpreendentemente – escritos de forma correta. Além disso, havia lá alguns trocados.

Para: Yachi Hitoka.

“Obrigado por ontem, aproveite o suco e não o tome muito rápido”.

-  影

As meninas ao seu redor não pararam de dar gritinhos especulando entre si quem seria o “namorado” de Yachi, que agradecia aos céus pelo fato do levantador ter usado apenas o kanji para sombra – Kage – ao se identificar. Seria muita dor de cabeça se aquelas garotas soubessem que o famoso Kageyama Tobio havia lhe comprado uma bebida.

Usualmente, Yachi teria torrado o próprio cérebro em nervosismo pensando besteiras como: “E se as fãs dele vierem atrás de mim?”, mas não naquele momento. A garota passou as primeiras aulas imaginando como seria ver o sorriso sem jeito de Kageyama mais uma vez. Queria ter sempre trocados nos bolsos da saia para poder comprar caixinhas de leite e suco de morango para que pudessem tomar juntos. Yachi se sentia boba, mas se sentia feliz.

-

— Yacchan, você poderia levar a mochila do Hinata-kun até a enfermaria? – Shimizu perguntou estendendo uma mochila semiaberta, do jeito que Hinata sempre deixava, quebrando o fluxo de memórias que passavam como um furacão pelos seus pensamentos – preciso explicar melhor como cuidar dos equipamentos para os primeiranistas, então conto com você!

— Certo!

Uma simples caixinha de suco não queria dizer nada. Kageyama era gentil – a maior parte do tempo – então era normal que ele se preocupasse com Shouyou, mesmo eles sendo rivais, certo? Mesmo ele sabendo que Shouyou gostava dele, certo? A única coisa que confortava o coração de Yachi naquela história toda era o fato de Kageyama não desprezar ou tratar mal as pessoas que se confessavam para ele. “Talvez, um dia, até uma ‘Habitante B’ como eu serei capaz de me confessar... Shou-chan é tão corajoso!”, ela pensou se sentindo culpada.

É claro, estava mais do que chateada por saber que Hinata gostava de Kageyama por meio de boatos maldosos durante aquela cena entre Hinata, Kageyama e a maluca que havia roubado o megafone de Noya, logo após o desastre com o terremoto.

Hitoka queria que Shouyou tivesse confiado nela, mas sentia que não poderia cobrar muito dele já que ela mesma não havia confiado nele para dizer que também gostava de Kageyama. Mas Hitoka se sentia magoada.

Suspirou ao pegar a bolsa do amigo. Estava semiaberta e bagunçada como sempre, então o que custaria arrumar? Antes de sequer tirar algo de lá, Yachi sentiu algo cair sobre seus pequenos pés. Um envelope. Perguntou-se se essa não seria a famosa carta que Hinata havia escrito para Kageyama, mas negou-se a acreditar. O envelope era elegante demais, arrumado demais.

Ela não queria, mas foi tomada por uma curiosidade inebriante. Hitoka, assim que abriu o envelope rosado, descobriu de uma vez só que era melhor não ter visto nada. Não por causa de Hinata, mas por causa dos próprios sentimentos.

— Eu sou uma pessoa péssima – choramingou.

XXX

— Que calor! – Yamaguchi reclamou sonoramente para quem quisesse ouvir.

Hinata não conseguiu fazer mais do que assentir e continuar correndo. Diferentemente dos outros membros do clube, estava sem fôlego para verbalizar qualquer palavra que fosse. O seu único consolo estava em um suado e igualmente esbaforido Kageyama que caminhava com uma careta amarga um pouco atrás de si e do primeiranista.

Os dois estavam em um impasse estranhamente silencioso, uma vez que gastaram toda a energia do almoço em várias voltas de uma corrida frenética ao redor da propriedade da Karasuno durante o treino ao ar livre do clube de vôlei.

Quase um mês se passara após a partida contra os primeiranistas e Hinata já estava mais do que habituado com o clube e com Kageyama. A única coisa que lhe era incomoda naquele dia era o sol forte que batia em suas costas. O mês de junho se aproximava, e com ele vinha o calor de um verão que prometia ser nada menos que ardente.

Os dias se passavam mais rápido e com eles, o treino pesado e as discussões idiotas com Kageyama haviam se tornado uma rotina divertida para todos no clube. E quem mais parecia se divertir com isso era Tadashi, o qual havia feito uma singela amizade com Hinata – apesar de toda a implicância de Tsukishima sobre a “imbecilidade” ser contagiosa, desejando, inutilmente, que o amigo não se misturasse com um “subalterno” no Rei da Quadra.

Ainda assim, os corvos do voleibol experimentaram uma paz serena naquela tarde. Tobio e Shouyou, sem forças até para lembrar os próprios nomes, rivalizavam de forma silenciosa mantendo os ânimos do clube calmos. O ruivo parou para apreciar aquela tranquilidade inédita que recaía sobre o time naquela tarde.

Daichi e Suga lideravam o grupo correndo em dupla a frente da maioria; discutiam algo sobre o teste de literatura que tiveram pela manhã. Logo atrás, Ennoshita comandava os outros terceiranistas com punhos de ferro, puxando Tanaka e Nishinoya pelas golas da camisa para que não seguissem o mau exemplo de Kageyama e Hinata, que corriam sem freios – já que os capitães desistiram de repreender os kouhais. Kinoshita e Narita olhavam assustados para o “comandante” Ennoshita e mantiveram-se na linha conversando. Na retaguarda atrás de Yamaguchi e a dupla de esquisitos, Kuroo “corria” acompanhando o ritmo de Kenma que parecia preferir morrer a acompanhar o ritmo dos demais. Tsukishima, que compartilhava dos sentimentos de Kozume, seguia a dupla – fato que se arrependeu amargamente ao ter que aguentar os trocadilhos infernais de Kuroo.

E tudo parecia em paz... Até Yamaguchi se entediar e regar a semente da discórdia, quebrando o silêncio.

—Então, quem ganhou dessa vez, senpai? – Tadashi perguntou mesmo sabendo a resposta.

Os rosnados de Tobio estavam engraçados demais para não provoca-lo. E por essa razão, Yamaguchi era o kouhai favorito de Hinata.

— Eu, obviamente – ele disse ainda sem fôlego apontando o dedão orgulhoso para o próprio peito – Kageyama-kun não teve nem chance!

— Incrível Hinata-senpai – Yamaguchi disse batendo palmas.

— Mas eu ganhei nas duas outras voltas, boke! – Kageyama resmungou - Mais uma volta e eu duvido que você me alcance!

Hinata não tinha nenhuma dúvida que sua amizade com Yamaguchi havia nascido pelo divertido propósito de irritar Kageyama. Mas o fato mais engraçado era que ela conseguia irritar ainda mais Tanaka e Nishinoya. Eles se ressentiam pelo fato de Tadashi chamar Hinata de “senpai” e se referir aos dois apenas com o sufixo “san”. Ennoshita teria um trabalho ainda mais penoso se os idiotas ouvissem aquilo, então Daichi achou melhor finalizar o treino.

Porém, ao tentar se pronunciar, ouviu o apito do técnico Ukai chama-los para dentro do ginásio. Shouyou engoliu seco com a possibilidade de uma continuação para aquele treino espartano, mas o técnico apenas pediu para que todos sentassem no assoalho amadeirado do ginásio.

—Como sabem – o técnico começou depois de instruir Takeda e as gerentes a entregarem uma pilha de papéis a cada jogador – Nós iremos para as Nacionais, a meta é sermos os melhores do Japão!  Mas isso não vai acontecer se não formos além dos treinos “normais” – ele fez aspas com as mãos.

— E é por isso, que temos uma novidade para vocês! – Takeda arrumou os óculos com um sorriso sábio – Uma palavra: amistoso.

— Sério sensei? – Tanaka disse animado e a balburdia se instaurou. Todos estavam ansiosos para saber com que escola eles lidariam – De qualquer jeito limparemos a quadra com eles!

— Acalmem-se e, principalmente, não subestimem o adversário! – o treinador falou aumentando o tom de voz para chamar atenção para si – Na verdade, não será apenas um amistoso. Durante as férias de verão iremos acampar por uma semana em escolas amigas da nossa Prefeitura e também de Tóquio. Isso é tudo que precisam saber por enquanto. Ah, e claro, precisamos da autorização dos seus pais.

Aquilo tudo foi como melodia para os ouvidos atentos e ansiosos de Hinata. Podia sentir o sangue borbulhar nas veias ao pensar que tipos de times e jogadores diferentes eles enfrentariam. Kageyama observou com um sorriso o brilho que os olhos de Shouyou pareciam ter diante do novo desafio. O levantador decidiu que não odiava aquele brilho bobo.

— Ah! Mas devemos lembrar também que o acampamento está marcado para a semana de aulas complementares para os alunos em recuperação! Então, por favor, mantenham as notas pelo menos acima dos 50 pontos, certo?

Foi incrível como os rostos de Hinata, Kageyama, Tanaka e Nishinoya perderam a cor tão rapidamente.

— Sensei! O Kageyama-san não está respirando! – Yamaguchi gritou e sentiu um peso cair em cima de si – Não! O Hinata-senpai desmaiou!

Tsukishima e Kuroo entreolharam-se e rolaram no chão rindo descontroladamente. Tanaka e Nishinoya já estavam aos pés do benevolente “Ennoshita-sama” para ajuda-los. Kenma suspirava pesadamente.  A cena toda era muito divertida, mas Daichi não estava com paciência para isso.

— Escutem – Daichi começou e todos, ainda meio sem vida, prestaram atenção – Além dos treinos, vocês devem ser capazes de manter as notas. Eu sei que é difícil para vocês que são...

— Idiotas simplórios? – Tsukishima completou fingindo um tom de curiosidade.

— Menos providos de habilidades acadêmicas – Suga corrigiu antes que Kageyama e Hinata voassem para cima do loiro – O fato é: não durmam e prestem atenção nas aulas. Tirem suas dúvidas com os professores e colegas e tudo ficará bem – o senpai sorriu com o seu melhor sorriso maternal.

—Suga-san! – Tanaka e Nishinoya cantaram seu nome emocionados.

— Mas caso vocês não façam isso... Haverá consequências – o sorriso dele morreu e todos estremeceram como se tivessem feito alguma traquinagem. Ele era definitivamente como uma mãe.

— Vejo que já entenderam! Estão dispensados! - Ukai disse cruzando os braços.

 

Toda aquela conversa sobre testes e notas deixara Hinata pálido, mas ele logo sentiu o sangue voltar a circular pelo rosto ao perceber os dedos longos e finos de Kageyama fazerem pressão sobre seu ombro. Estavam a sós na sala do clube já com o uniforme regular da escola, mas podiam ouvir as vozes de Yamaguchi e Tsukishima do lado de fora.

— Pode ir para casa sem mim – sussurrou o levantador em seu ouvido fazendo os pelos da nuca de Shouyou eriçarem – Tenho que resolver uns assuntos, então...

— Claro – disse num tom descontraído tentando manter a compostura – Mas que outras atividades o levantador gênio da Karasuno teria além do clube de vôlei?  Bem, não deve ser nada acadêmico...

— O que você sabe sobre isso se é tão idiota quanto eu? – Kageyama disse notando as próprias palavras e corando – Quero dizer... Você também teve um ataque quando soube das aulas extras, mas não é nada que você não está acostumado não é?

— Como assim?

— Você e eu assistimos a essa mesmas aulas extras ano passado – disse coçando a nuca como se aquilo não fosse nada demais, o queixo de Hinata caiu – O que foi? Erámos só nós dois naquela sala... E com essa cor de cabelo berrante é difícil não notar.

— Então você notou, hum? – Hinata provocou assistindo as bochechas de Tobio ficarem escarlates – Pensei que tinha babado em cima da carteira durante todas as aulas! – o ruivo riu e isso deixou Kageyama inda mais envergonhado.

— Hinata-boke! É assim que você fala do cara que você gosta?

Hinata cessou riso e assistiu à discussão ser vencida por Kageyama, que sorria vitorioso com a cara de bobo do outro rapaz. Shouyou já estava até vendo como o levantador usaria essa tática para vencer futuras competições. Praguejou mentalmente ao sentir o ardor no rosto. “Maldito Kageyama”.

— Até mais tarde, boke ­– disse dando as costas, satisfeito com a expressão embasbacada que continuava no rosto do outro garoto.

Aquele foi o tiro de misericórdia. Era óbvio que Hinata estava completamente embaraçado e furioso com Kageyama por ter dito algo assim.

Hinata não negou nada. Porém, Kageyama estava errado.

Um maldito mês, com seus malditos trinta dias, havia se passado desde que Kageyama havia negado e pisoteado em qualquer mínima chance de corresponder os sentimentos de Hinata. O “não” sonoro e enfático que recebeu ainda ecoava dentro das suas lembranças. Mas olhando com outros olhos, um divertido mês; com os seus empolgantes, inusitados e competitivos trinta dias, havia se passado desde que eles começaram a morar juntos.

E, não. Hinata não é bipolar. Na vida real, nada é preto no branco. Nada é simples, fácil e distinguível. E aquele mês o qual ele conheceu o verdadeiro Kageyama Tobio, foi algo único. Tão único que sentia o coração queimar toda a vez que pensava nos dias que correram até o hoje.

E então percebeu que gostar de um Kageyama que não conhecia além do que enxergava pela janela dos fundos do ginásio era fácil. Sim, fácil, pois amar Kageyama boca suja, mal-humorado, competitivo e frio como o iceberg que acertou o Titanic era extremamente difícil.

Kageyama estava errado. Muito enganado. Completamente equivocado. Ou qualquer outra palavra do dicionário que você possa usar para a situação. Hinata não gostava dele, Hinata o amava. E isso era difícil e dolorido.

E honestamente, Hinata não sabia porque continuava nessa.

—Hinata-senpai – Yamaguchi bateu na porta clube roubando a atenção de Hinata – Você está bem?

O ruivo demorou alguns segundos para cair em si e responder.

— Estou – ele disse com um sorriso fraco – só um pouco preocupado com as provas. Ah, e o Kageyama não está aqui, então pode me chamar só de Hinata.

— Hoje ele estava especialmente irritado com isso, apesar de ter saído daqui ainda há pouco com um sorrisão no rosto – ele suspirou dando de ombros, Hinata forçou um sorriso relembrando o tópico da conversa entre eles. “Aquele idiota” – Ah, eu e o Tsukki vamos com o Suga-san comprar alguns nikumans, você vem?

— Claro! – os olhos de Hinata brilharam pensando no gosto da carne de porco derretendo em sua boca – Vamos! Eu compro pra você dessa vez, afinal é meu dever como senpai.

— Ótimo, o Tsukki ganha também?

— Claro que não!

Ambos riram e saíram da sala do clube discutindo alegremente sobre os tipos de saque que Tadashi estava treinando naquela semana. O primeiranista estava explicando a Hinata o básico de um saque flutuante quando sua atenção foi tomada por duas garotas do clube de vôlei que se dirigiam ao ginásio em uma conversa animada.

— Yui! – ele acenou para a garota de cabelos curtíssimos que sorriu ao vê-lo. Ela pediu a amiga para ir à frente e correu para encontrar o garoto.

— Tadashi-kun! Quanto tempo! Como você cresceu! – ela disse dando pulinhos – Não sabia que tinha vindo para a Karasuno, aposto que já está no vôlei também, não é?

— Claro! Ah, esse é o meu veterano do clube, Hinata Shouyou – ele apontou para Hinata que acenou timidamente para Yui - Hinata, essa é Michimiya Yui capitã do time feminino, nós erámos vizinhos!

Eles se cumprimentaram e Yamaguchi prosseguiu com um falatório que não parecia ter fim. Shouyou resmungava para si mesmo impaciente, Yamaguchi era ótimo, mas falava demais até para os padrões de Hinata. Bem, talvez ele só estivesse um tanto mal humorado por culpa de Kageyama, então resolveu esperar pacientemente.

— Foi ótimo te encontrar, Tadashi-kun, mas agora eu preciso ir! – “Graças a Deus”, pensou o ruivo.

— Ah, só mais uma coisa! – ele disse colocando a mão no ombro da garota – Você está na sala 2-5, não é? – Yui confirmou com a cabeça e Yamaguchi sorriu de forma confiante – Então você estuda com a Yachi-san, não é?

Ouvir o nome de Yachi foi como sentir uma manada de elefantes passar pelo seu cadáver. “O que Yamaguchi quer com isso? Ele mal conhece Yachi”, indagou silenciosamente. Contudo, Hinata não podia ignorar o fato de que agora ele mesmo parecia não conhecer Yachi. Uma semana após a partida contra os primeiranistas, Yachi se afastara do clube e de Hinata. Eles mal se viam e a última vez que se falaram foi rápida e sem muita afeição. Sem muita informação. A loira havia dito a Kenma que estava muito ocupada com os seus deveres no Conselho Estudantil, mas Hinata não engoliu essa facilmente.

— Sim, mas aonde você quer chegar? – ela disse com um sorriso provocante – Não me diga que você tem uma queda pela sua manager?

— Culpado – ele riu levantando as duas mãos ao alto como um criminoso que acabara ser capturado – Mas não sei se ela ainda é nossa manager, ela quase não tem aparecido nos treinos – ele deu de ombros – E é por isso que eu queria te perguntar...

— Se ela tem namorado? – ela indagou e ele assentiu – Bem, Yachi-san é uma garota bem reservada... Não somos próximas, então só sei o que os boatos contam. Mas você certamente já os ouviu, não é? – Yamaguchi confirmou de modo tristonho e Michimiya suspirou – Não se pode acreditar em tudo o que se ouve nos corredores dessa escola, Tadashi! Bem, tenho que ir! Mande lembranças a sua mãe.

Era muita informação para reter. A situação fez Hinata pensar que talvez Tsukishima estivesse certo em chama-lo de “idiota simplório”. Mas agora, tudo o que Hinata precisava era de respostas.

— Sabe, Yamaguchi, Yacchan é minha amiga de infância. Você poderia ter me perguntado.

— Desculpa! Eu não fazia ideia! – o rapaz disse unindo as mãos em perdão com a face ruborizada –... E-Eu realmente admiro a Yachi-san, mas não tenho coragem de contar a ela! Não é como se eu acreditasse em boatos, por isso perguntei a Yui, pois sabia que elas eram da mesma classe.

— Está tudo bem – Hinata disse tentando acalmá-lo e acabou rindo do jeito destrambelhado de Yamaguchi, via muito de si mesmo em seu kouhai – Eu posso te ajudar com a Yacchan, mas primeiro quero saber que boatos são esses.

— Ora, pensei que você soubesse – ele sacudiu a cabeça, confuso – Na verdade, eu fiquei com medo que você soubesse dos meus sentimentos já que é tão próximo ao Kageyama-san – ele olhou para baixo embaraçado.

— E o que o idiota do Kageyama tem a ver com essa história?

— É só um boato, mas uma garota do primeiro ano disse ter visto o Kageyama-san e a Yachi-san voltando para casa juntos de mãos dadas – ele corou ainda mais – Eu sei que ele tem ressentimentos quanto a mim e ao Tsukki pelo ginasial, então realmente não quis aborrecê-lo, ele é assustador! Hã, Hinata, você está bem?

Em outros tempos, Hinata teria ficado abalado com esse tipo de boato, mas por algum motivo achou impossível. Ele riu segurando a barriga, enquanto Yamaguchi o observava com os olhos esbugalhados.

— Kageyama e Yachi? – Hinata deu a última risada que havia sobrado dentro de si – Não se preocupe Yamaguchi-kun. É só um boato, Yacchan não tem namorado e o último cara que ela namoraria seria o idiota do Kageyama! Ah, essa foi boa!

— Você tem certeza? – Yamaguchi sorriu esperançoso – Então vai me ajudar?

— Claro! Você é um cara legal, Yamaguchi – Shouyou elogiou – Diferente do Bakageyama – revirou os olhos - Mas antes de te ajudar, tenho que perguntar algo muito importante.

— Sim, claro! Pode perguntar!

— Então... Você gosta de garotas mais velhas não é? - Hinata perguntou com um olhar provocante cutucando o mais novo com o cotovelo – Quem diria que o meu adorável kouhai leva uma vida tão libidinosa!

Antes que Yamaguchi pudesse responder com algum xingamento, Tsukishima os chamou perto portão da escola. Yamaguchi tentou esconder o rubor que se espalhava entre suas sardas e Tsukishima suspirou em tédio.

— Não me diga que pediu a ajuda do anão com a Yachi-san – ele clicou a língua, esperando uma reação de Hinata que estava prestes a enfrenta-lo.

— Não fale assim, Tsukki! Eles são amigos próximos e o Hinata prometeu me ajudar – Yamaguchi inflou as bochechas e cruzou os braços como uma criança.

— Então você vai agir contra Vossa Majestade? – Kei levantou uma sobrancelha loira – Isso é novidade.

— São só boatos – Tsukishima pareceu se arrepender ao notar a ignorância de Hinata – Mas você parece saber de alguma coisa... Desembucha Tsukishima!

— Eu... Eu odeio fofocas. Não quero começar outro envolvendo uma pessoa gentil como a Yachi-san – ele ajustou os óculos – Mas se é pelo bem do Yamaguchi eu não posso ignorar esse tipo de coisa.

— Fala logo Tsukki!

— Há pouco, eu vi Yachi-san no portão. Ela parecia impaciente e ansiosa, então resolvi perguntar se ela estava bem, mas não consegui fazer isso.

— Por quê? – Hinata indagou curioso.

— Ela esperava alguém no portão e quando eu fui me dirigir a ela, bem, você – apontou para Hinata – pode muito bem perguntar mais tarde ao Rei porque eles foram embora juntos tão alegremente. Só se certifique de não dar falsas esperanças ao Yamaguchi, ou eu acabo com você. Agora vamos, não vou dizer mais do que isso.

 

XXX

O cheiro da garoa preencheu os pulmões de Kenma.

Depois de vários dias quentes, o sol finalmente deu uma trégua às nuvens cinzentas e carregadas, deixando Kenma e Shouyou sem opção além de se refugiarem em uma pequena pâtisserie após serem liberados do treino.

Kenma gostava daquele cheiro. Era calmante. Uma torta de maçã, um videogame – que já estava em mãos – e o cheiro fresco de garoa eram tudo o que ele precisava depois de aguentar o treinamento espartano do técnico Ukai. Mas não conseguia manter-se calmo.

Não com o silêncio irritante e incomum de Hinata. Os olhos dourados não hesitavam em pular de seu jogo portátil para o rosto inexpressivo do amigo. O ruivo fitava pela vitrine a rua molhada e os guarda-chuvas coloridos dos pedestres, os pensamentos estavam perdidos em outro mundo. Quase não tocara nos pequeninos bolos de limão que havia pedido.

— Esse não é você – Kenma falou abruptamente fechando seu Nintendo 3DS – Se fosse você mesmo, já teria comido todos esses bolos e estaria falando baboseiras de boca cheia – Kenma suspirou – Sinto que vou me arrepender por isso, mas fale alguma coisa, está me preocupando.

As sobrancelhas ruivas de Hinata se juntaram. Sentia-se um lixo por estar preocupando as pessoas ao seu redor. Por estar afastando-as.

— Yacchan – ele murmurou ainda olhando para o mundo molhado fora da pâtisserie – Ela adora esses bolos. Deveríamos estar aqui juntos.

Kenma balançou a cabeça em compreensão e olhou na mesma direção que Shouyou. O asfalto ficava realmente bonito e multicolorido quando chovia. Mas o loiro sabia que o amigo não olhava para nada em especial. Seu olhar era um tanto vazio. Havia um mês que Yachi não dirigia a palavra a nenhum dos dois garotos e quase uma semana que Kageyama não voltava para casa junto com o baixinho. Tudo era muito óbvio a Kenma.

— Eu... Eu devia ter te alertado – disse olhando agora bem nos olhos castanhos de Hinata. Kenma não era bom em se relacionar, não era simpático ou carismático; contudo, fazia questão de olhar nos olhos das pessoas importantes para si – não imaginei que fosse dar em alguma coisa com o Kageyama.

— Você já sabia disso?

— Desconfiava – Ele sorriu de um jeito triste e o silêncio desconfortável voltou.

 Kenma lembrou-se do dia em que ele e Hinata haviam entrado no clube. Recordava-se em cores vivas de quando Hitoka quase ouviu que Hinata e Kageyama estavam morando juntos e de que ela tinha duas caixinhas de leite em mãos. “...Mas a Yacchan não gosta de leite”, havia pensado na época. Ele tinha certeza de que era para alguém, talvez alguma amiga. Entretanto, suas suspeitas tornaram-se ainda mais latentes quando Yachi saiu correndo da sala quando Kageyama pediu para falar a sós com Hinata.

E agora com os boatos e a história de Tsukishima contada por Hinata a Kenma, o levantador não tinha dúvidas. E isso o corroía.

— Desculpa Shouyou – os olhos de gato desviaram envergonhados do rosto do amigo.

— Isso não é sua culpa Cabeça de Pudim – disse com o olhar baixo – Eu deveria ser capaz de lutar pela nossa amizade, de conseguir ser bom amigo para a Yacchan e não sentir raiva ou ciúmes – Shouyou pausou e suas bochechas ruborizaram – e eu deveria ser capaz de lutar pelo Bakageyama. Não fui honesto com a Yacchan e agora é tarde.

— Não é tarde – Kenma disse mordendo o lábio inferior, pensando em como melhor escolher as palavras – Eles só voltaram para casa juntos uma ou outra vez desde aquela vez que o Tsukishima os viu, não quer dizer que eles estejam juntos...

 “Por que  estou falando essas coisas constrangedoras?”, o garoto pensou se sentindo um coadjuvante de uma comédia romântica americana e péssima qualidade. Era incrível como Hinata conseguia fazer com que Kenma abandonasse com facilidade sua zona de conforto.  

O levantador olhou para o céu, ainda nublado, mas pouco chuvoso. “Talvez ainda dê tempo, Shouyou”, pensou e levantou-se abruptamente.

– Agora ande! Vá para casa e converse com Kageyama-san, eu vou atrás da Yacchan na casa dela e assim todos podemos resolver isso.

— E o que você quer que eu diga para aquele imbecil?!

— Que tal – ele colocou a mão no queixo, olhando para cima – “Gosto de você, por favor, não fique com a Yacchan”?

— Isso é ridículo! – Hinata bateu o punho na mesa – E, além disso, está chovendo, idiota!

— O idiota é você, se deixar coisas bestas como essa chuva ou boatos te impedirem de fazer o que quer – Kenma falou em seu melhor tom debochado enquanto revirava sua mochila até achar o que queria – Tome! – jogou o guarda-chuva para Hinata – Não volte a falar comigo até que tenha confessado de novo para o Rei da Quadra!

 Os ingênuos olhos castanhos observavam, arregalados, o rapaz a sua frente. Kenma era antissocial, irritantemente cabeça dura e, por muitas vezes, insensível aos sentimentos alheios.  Ou era isso que ele queria que os outros achassem.

Shouyou sentiu a força voltar às pernas e as mãos se apertarem em torno ao guarda-chuva de Kenma. “Não acredito que vou ter que fazer isso de novo”.

— V-você tem razão – gaguejou e saiu em disparada até que parou repentinamente na porta da pâtisserie assustando os demais clientes e voltou para a mesa onde Kenma ainda estava sentado – Obrigado, Kenma.

E ali estava novamente. O sorriso de Hinata iluminou o local como nenhuma outra luz poderia. Os dentes brancos, os lábios cor de rosa e aquele jeito infantil e bobo que só Shouyou possuía. “Esse é você, Shouyou”, Kenma sorriu, sentindo os braços do melhor amigo o entrelaçar em um abraço rápido, mas quente.

A última vez que Kenma viu Hinata naquela tarde, ele era apenas uma mancha laranja correndo no meio da chuva – sim, o idiota esqueceu que tinha uma sombrinha em mãos – e com um sorriso genuíno nos lábios.

“Se não fosse idiota, não seria você”.

 

XXX

— E essa é a regra da mão direita – Yachi gesticulou os pequenos dedos para Kageyama que a olhava como se ela fosse uma espécie de divindade – Ela é muito útil para resolver questões básicas de Eletromagnetismo. Que tal resolver a questão 3 sozinho dessa vez, Kageyama-kun?

— Certo – sua voz era quase um gaguejo de insegurança – O dedão representa o campo magnético e o indicador a força, não é? – ele colocou os dedos da mão direita em formato de arma de maneira desajeitada. Yachi queria poder rir daquele jeito inocente do levantador – o dedo médio deve ser a velocidade... Droga, é tão difícil!

— Não, não! Você está quase lá! O dedo médio representa a velocidade, mas você confundiu os dois primeiro. Vamos primeiro fixar isso, ok? – ela sorriu o encorajando.

Uma semana se passara desde que aquela rotina agitada havia voltado. Desde o primeiro ano, a missão era sempre a mesma: ajudar Kageyama a todo o custo a não reprovar.  Kiyoko havia indicado Hitoka como tutora de Kageyama à Akiko, após o técnico Ukai repassar à gerente a dispendiosa tarefa de conversar com os pais dos jogadores sobre notas ainda no primeiro ano da loira em Karasuno.

E esse fato, os aproximou ainda mais. Tanto, que quando os testes se aproximavam Hitoka sempre visitava a sala de Kageyama com duas caixinhas de leite. Todas as duas pra ele, claro. Afinal, só assim para convencer Kageyama a estudar entre os intervalos de aula.

Porém, após o técnico ter declarado que os alunos em recuperação seriam excluídos do acampamento de verão, a primeira reação de Kageyama foi pedir a ajuda de Yachi. Então como ela negaria? Mesmo machucada com toda a situação entre ela e Hinata, mesmo afastada do clube de vôlei para evitar Hinata? Ela não negaria, por mais que tenha pensado em fazer isso. Temia encontrar com o ruivo na casa de Kageyama durante as sessões de estudos.

No entanto, estava ali sentada no chão do quarto de Kageyama rodeada por livros e apostilas de física enquanto o observava fazer expressões confusas para os exercícios que resolvia. Era uma graça. Embora não conseguisse ficar à vontade pensando que Hinata poderia chegar. “Está chovendo e Kageyama não parece estar preocupado. Está tudo bem”, colocou a mão no peito sentindo o coração bombear de forma intensa.

Desde que passaram a se reunir na casa de Kageyama, o levantador não fez qualquer menção a Hinata. Era como se fosse um grande segredo para Tobio e Yachi não pretendia desiludi-lo fazendo-o saber que ela sabia de tudo.

Mas o coração de Yachi não parecia ter tempo para sentir algo além de nervosismo. Estavam sozinhos naquela casa imensa e sozinhos no quarto de Kageyama. Ela mal sabia como conseguia ter forças para lembrar daquelas fórmulas e técnicas idiotas que não serviam para nada.

— Assim? – ele gesticulou errado a técnica, fazendo Yachi rir – Ei, não fique se achando só por que é inteligente! – ele brincou.

— Eu? – ela sorriu – Você também é muito inteligente, Kageyama-kun – ela pegou na mão dele para arrumar a técnica e por um minuto perdeu o ar.

Os olhos azuis a encaravam confusos. “Espero que eu não esteja tão vermelha”, a loira pensou chorosa, porém não conseguia soltar a mão direita de Tobio. Ela era grande e os seus dedos eram finos e longos. E o principal: a mão era quente como o fogo. Tato no tato, derme com derme. Era a única sensação que importava. Bem, até ouvir um pigarreio vindo da porta.

— Nossa, desculpa! – Shouyou disse de forma estridente e atrapalhada. Nos lábios, o seu sorriso era largo e aparentemente feliz, ou até mesmo, embaraçado. Mas Yachi nunca esqueceria aquele olhar sem brilho algum que encarava aquele par de mãos atadas – Acho que estou interrompendo, não é? Ah, Bakageyama, Aki-chan vai chegar logo, então... Er, não demore de fazer o que está fazendo!

Yachi sentiu a mão de Kageyama soltar a sua como se fosse nada. A última coisa que conseguiu absorver foi Hinata correr para fora do quarto e o bater de uma porta próxima. Ela estava pronta para se desculpar com Kageyama, pronta para sair correndo atrás de Hinata em busca de perdão, mas o olhar perdido do levantador pareceu congela-la ali mesmo.

Yachi não tinha dúvidas dos seus sentimentos por Kageyama e ela tinha toda a certeza de que conhecia toda e qualquer expressão que ele pudesse fazer. Mas então percebera que estava errada.

Nunca havia visto a expressão solitária de Kageyama Tobio. 


Notas Finais


INTRIGAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Por favor, não falem mal da Yachi pq ela é meu bb s2
Vocês acham que o Kageyama vai atrás do Hinata?
Yamaguchi e Yachi serão ENDGAME aqui?
Tsukishima tem uma queda pelo Yams?
SOCORRO
Continuem acompanhando por favor, e não esqueçam aquele comentário fofo.


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