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História Winter Bird - Entremeios


Escrita por: AnTenshii

Notas do Autor


Heey, people!! \o

Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? -QQ /apanha
Esse cap está cheio dos babados e mistérios revelados, então nem vou me prolongar aqui.

Boa leitura! <3

Capítulo 7 - Entremeios


Fanfic / Fanfiction Winter Bird - Entremeios

Rostos reconhecidos por toda parte. Os vira vez ou outra transitarem por sua cela ou por seu quarto, inclusive durante o palco armado de HyunJoo. Todos estavam lá a mirando, alguns sérios, outros ostentando o típico sorriso maldoso e satisfeito, esperando pela execução. Ao menos não era Sun a única no centro das atenções.

Um homem estava ajoelhado no chão, os cabelos cobrindo o rosto. Sun não identificou, mas os ferimentos grotescos nos braços foram o suficiente para criar as piores expectativas. Ouvira uma explosão na noite passada, mas o pensamento morreu por aí quando ouviu a voz de seu algoz.

- É um luxo que deixemos uma prisioneira receber visitas. Deveria me agradecer por isso.- Kai alfinetou, caminhando pelo semicírculo de pessoas no amplo salão.

- O que você fez? O que quer?- devolveu no mesmo tom.

- Relações de afeto são realmente interessantes. Achei que iria gostar de rever um velho amigo.- enfim parou ao lado do homem e obrigou-o a levantar o rosto.

Sun sentiu um súbito frio na barriga ao finalmente reconhecê-lo e o coração pareceu parar de bater.

- ZhouMi!- o nome deixou seus lábios num sussurro horrorizado ao vê-lo naquele estado.

O guarda sempre forte e inabalável agora não passava de um conjunto de feridas pelos estilhaços do teto que explodira. Obras de SiWon que se encarregara em armar a bomba enquanto Kai distraía o alvo.

- O que fez com ele?- esbravejou, escapando das mãos do homem que a detinha pelo braço e partindo para cima de Kai como um animal selvagem.

SiWon deteve a investida inesperada, embora mais tarde do que deveria. As unhas dela causavam vergões em seus braços, se debatia e gritava a fim de se soltar. A raiva alcançando níveis exorbitantes, assim como a apreensão pelo que viria a partir dali. Num rápido movimento, ele a rendeu, deixando-a de joelhos no chão e com as mãos presas atrás das costas. Kai sabia o quão doloroso era estar naquela posição. A dor do ferimento no ombro e a vergonha se mesclavam.

Todos da facção observavam a cena com atenção. Olhos demais dirigidos ao espetáculo. No entanto, apenas um transbordava o mesmo sentimento que ela sentia. Shuu se esforçava para não intervir e TaeMin, ao seu lado, segurava sua mão com força para que não se deixasse levar pelos próprios sentimentos traiçoeiros.

Uma frágil conexão se manteve entre as duas mulheres e foi o bastante para Sun ter certeza de que a conversa de mais cedo era puramente real. Shuu apenas afirmara que o conhecia e bateu em retirada quando Sun a questionou.

 Era muito mais do que isso.

- Ontem encontramos este homem rondando nosso território. Um guarda imperial. Não apenas isso.- a voz de Kai a retirou dos devaneios. Um discurso dirigido a todos, mas o olhar fugaz continuava cravado nela.- Um guarda pessoal da família Park. Por que estaria aqui?

A questão arrancou burburinho de alguns. E o restante do discurso Kai deixou incutido num silêncio que apenas quem sabia a verdade por trás das máscaras compreendia.

- Você pode poupar a vida de seu amigo se fizer a escolha certa, baobei.- Kai afastou-se de ZhouMi e seguiu rumo a Sun. Bastou um gesto para um dos homens posicionar a espada rente ao pescoço já ferido do outro.

Em contrapartida, o guarda imperial não se comoveu. Sempre calmo e sob controle de suas emoções, apenas levantou o olhar para mirar sua pequena garota e maneou a cabeça para os lados. Era apenas um jogo que estavam sendo obrigados a fazer parte. Sun não podia se deixar levar, mas como? Ela se importava, não podia deixá-lo morrer. Não quando outra pessoa dependia dele. Não quando compartilharam tanto juntos.

- Deveria se envergonhar de jogar tão baixo para...

- Você sabe qual é a resposta.- a cortou, a voz suave como um encantador de cobras. Não hesitou em abaixar-se na altura dela e segurar-lhe o queixo com uma mescla de firmeza e delicadeza. A tempestade se formava nos belos olhos.- Eu conheço seus mais íntimos medos e nós dois sabemos que a perda... Ah, a perda é amarga demais. Você não tem escolha, baobei, a não ser dar o que eu quero.

A fúria brilhou no semblante dela. Quem era Kai para dizer que a conhecia? E pior, o que ela podia fazer para reverter a situação? Seria inútil. Shuu estava em pânico, o pedido mudo de ajuda gritava mais alto do que a voz de ZhouMi lhe dizendo para não fazer besteiras.

Uma faca de dois gumes. Nenhuma chance de reconsiderar.

- Eu aceito.

O sorriso de raposa logo se mostrou, a imponência fazendo Kai estufar o peito e encarar os demais da facção como se houvesse conquistado um grande troféu. E teve o prazer de anunciar tal feito.

- Vocês ouviram, meus companheiros! Essa mulher conhece o palácio imperial como a palma da própria mão e concordou em se juntar a nós, a defender a nossa causa! Ela concordou em trair seu próprio berço, nos ajudará a tomar o poder e dará a sua vida pela nação próspera que se aproxima com a queda do imperador!

O burburinho intensificou-se em euforia pelo salão. Ali estava a carta na manga. O futuro se aproximava e era banhado de sangue e ouro.

- Você foi longe demais, JongIn!- ZhouMi acusou, raivoso.- Não a envolva nisso!

- O que seria de nós sem as relações de afeto para nos enfraquecer, mestre?- disse baixo para que apenas ZhouMi o ouvisse no meio da algazarra.- Não funciona pra quem serve ao imperador. Não funciona pra você, assim como também não funcionou para mim.

- Vingança não o levará a lugar algum.

- É por justiça.- corrigiu.- Obrigado pela visita. Foi bom revê-lo, mestre, embora não tenha sido a sua intenção me encontrar.- o líder voltou-se aos guardas e fez outro gesto.- Levem-no para a cela. A reunião está terminada.

Aos poucos as pessoas começaram a deixar o salão. Kai observou ZhouMi ser levado na direção oposta de Sun. E lá estava ele no meio de tudo.

O destino muda as pessoas. E o perigo nunca foi tão transformador.

 

- - -

 

As respirações ofegantes, os corpos cobertos por suor se chocando e os gemidos abafados se misturavam com perfeição para dar vida a mais linda das melodias. Pura luxúria, deliciosa volúpia, maldita mulher que o tirava dos eixos.

As mãos agarravam-se nos lençóis como se pudesse ainda segurar o fragmento de sanidade que insistia em lhe abandonar, o rosto corado, banhado de prazer, o fitava por através do espelho, por onde assistiam a promiscuidade de um amor vagabundo.

O rapaz atrás dela não perdia o ritmo das investidas, acertando-lhe palmadas no traseiro quando a sensação de fodê-la como bem entendia se intensificava a níveis extremos. E ela adorava. As mãos desciam para as costas numa carícia sôfrega vez ou outra, mas o destino era sempre o mesmo: os dedos enroscados nos fios longos a obrigando a encarar o próprio reflexo.

Embebedavam-se do torpor, apreciavam aquele sexo sujo e agressivo que satisfez a ambos num ápice lascivo, intenso, delicioso.

O corpo de HyunJoo desabou, exausto e completamente pleno. Ainda um pouco fora do ar, contemplou a imagem do companheiro deitando-se ao seu lado e lhe dirigindo aquele sorriso canalha, já que eram raras às vezes em que acontecia. Ele não demonstrava pressa em ir embora como das outras vezes, ainda que também não pretendesse pernoitar.

- Se eu soubesse que ficaria por mais tempo, teria pedido garrafas extras de soju.

- Não vim para um drinque.

- Então o que?- questionou ela, puxando os lençóis para cobrir o corpo.- Vai me dizer que estava com saudades?

- É o que gostaria de ouvir?- os lábios curvando-se num sorriso traiçoeiro. Ele passou as mãos pelo rosto e se sentou.

Haviam se conhecido anos atrás num hotel. Ela era uma concubina, exótica, a criatura mais venenosa que já tinha visto; e ele, um homem à procura de aventuras. Foram para a cama depois de poucas palavras trocadas e alguma bebida, o que bastou para enfeitiçá-lo a tal ponto a torná-la sua boneca de luxo, apenas sua e de mais ninguém.

A relação se manteve mesmo após HyunJoo ter deixado a casa de entretenimento onde servia. Ela sempre lhe exigia pagamentos e, secretamente, o rapaz encontrava prazer na presença excitante da moça. Contudo, os serviços não estavam relacionados apenas com sexo.

Não mais.

- Conseguiu o combinado?- ele perguntou.

HyunJoo bufou, examinando as próprias vestes jogadas no chão.

- Temos pedras no caminho. Preciso de um adiantamento.

Ele sorriu abertamente.

- Então existem coisas impossíveis até mesmo para você.- deduziu ele, contornando o assunto.

- Quero setenta por cento do valor.- continuou.

- Teríamos dado certo se você tivesse sido exigente assim quando estávamos juntos.- divertiu-se ele, tentado a provocá-la ao limite.

HyunJoo era agressiva, de pavio curto e manipuladora, mas, ainda assim, divertida. Ele adorava discutir com ela, a distorcer as palavras para poder levar vantagem em suas brincadeiras.

Ela era um reflexo de si mesmo.

- Apenas me dê o dinheiro e poderei tentar outra vez.- os dedos deslizaram pela coxa nua, traçando um caminho perigoso. Não foi muito além.

O rapaz segurou a mão experiente e aproveitou para inclinar-se em direção a garota. A posição perfeita para contemplá-la de perto, pendendo entre a insinuação de algo mais e a imaginação à flor da pele. A curiosidade brilhava nos olhos dela e coube a ele alimentá-la. Não se importou em levar em consideração o hotel pouco movimentado em que estavam e quem poderia tê-lo visto desde que o acordo fosse cumprido.

- SeHun?- chamou-lhe a atenção com um pigarro sutil, um lembrete de que ela ainda esperava por uma resposta.

As areias do tempo estavam correndo. HyunJoo era uma exímia espiã e dar a ela a missão de encontrar Sun Li foi a coisa certa a fazer. A certeza do sentimento que a mulher nutria por ele lhe dava confiança para seguir com seus planos e manter suas próprias pedras fora do caminho.

Sun Li precisava ser encontrada. Sun Li precisava ser morta.

- Vai me deixar falando sozinha?- a impaciência a consumiu.

SeHun levantou uma das sobrancelhas, ou talvez ambas, distraído com as ideias que o acometiam.

- Tudo bem. Terá seu dinheiro.

- O que?

SeHun reprimiu um sorriso com a indignação alheia. Um breve selar precedeu o afastamento. Ele levantou-se e ocupou-se em vestir as próprias roupas amarrotadas.

- Terá seu dinheiro... Uma vez que me fizer outro favor.- o olhar demorou-se no dela por cima do ombro.

- Como?- estreitou os olhos, examinando-o. SeHun era imprevisível.

- Shuu.- disse lentamente, terminando de prender a faixa de suas vestes.

HyunJoo fez-se pensativa, cruzando os braços em frente ao corpo. A inclinação a aceitar o pedido era claro como água aos olhos de SeHun. Aquele tal de amor deixava as pessoas completamente vulneráveis.

- Quem é?- indagou indiferente.

- Amante de um inimigo.

Ela o olhou com um novo interesse.

- Você realmente joga sujo. Tenho pena dela.

- O guarda pessoal da garota planeja resgatá-la. Uma vida por outra. Fique atenta caso acontecer.

HyunJoo bufou em diversão e se levantou, desfilando elegantemente até ele com o lençol enrolado ao corpo. A clara e tentadora visão do pecado. Ela afagou-lhe a bochecha com o polegar, lendo as frustrações incutidas na inexpressão do rosto masculino. Tão belo e tão traiçoeiro.

- Ela estará morta antes disso.

 

- - -

 

A que ponto havia chegado! ZhouMi não conseguia acreditar. O destino realmente brincava com as pessoas. Num dia treinava um garotinho, no outro, era aprisionado por ele. E ainda Sun estava envolvida na parcela de um passado do qual não se dera conta. Quanta ironia!

Seu suspiro cansado rebateu pela cela oca e sumiu pelos corredores. A frustração devido ao curso inesperado das coisas inibia um pensamento coerente e todas as tentativas fracassaram miseravelmente. Era similar a chama fraca que tremulava na tocha em frente sua cela, reproduzindo a sombra de uma silhueta que se aproximava.

O rosto conhecido apareceu por entre as grades transbordando apreensão, mas apenas o fato de vê-la o fazia esquecer o inferno em que fora colocado. E até mesmo o inferno parecia insignificante na presença dela. Exceto naquele momento.

- O que está fazendo aqui?- soltou num misto de rispidez e preocupação. Ele a vira durante o teatro de JongIn mais cedo e ansiou pela oportunidade de conversarem.

Com um movimento dolorido, ZhouMi se levantou e caminhou para perto das grades com cuidado para que as correntes presas aos pés não tilintassem contra o chão.

- Você não deveria estar aqui, Shuu. Ficou louca?

- Devo dizer o mesmo a você?- ela devolveu, indignada com a recepção mordaz.- São terras inimigas, ZhouMi. Explodiram o telhado aos seus pés e você poderia ter morrido! E se não fosse a bomba a causadora, seria a espada de qualquer um desse lugar.

ZhouMi suspirou e controlou-se para baixar o tom da voz. Odiava perder o controle de si próprio e apenas a mulher que o encarava com olhos fumegantes tinha poder para tal. Era instantâneo.

- Você prometeu que não iria mais se envolver com a facção. Nós tínhamos um acordo.- ralhou, aproximando ainda mais o rosto da grade conforme também a agarrava. A luz da tocha criava um brilho místico em ambos.- Eu estou do outro lado e sei o que está acontecendo. É questão de tempo até encontrarem o vilarejo, descobrirem quem vocês são e destruírem tudo.

- Tenho uma dívida com Kai. Ele salvou minha vida e você sabe disso.- defendeu.- As tropas do seu senhor são fortes, mas o nosso desejo por justiça é muito maior.

- Desejo não tem chance contra armas. Olhe só para nós.- a frase morreu aos poucos nos lábios masculinos, amansando o temperamento de Shuu.

Ele tinha razão.

- Volte para a vila das montanhas.- disse por fim, quase numa súplica, e Shuu se permitiu soltar um riso resignado.

- Não nos vemos há tanto tempo e as coisas ainda são assim.- os passos a guiaram para mais perto dele. Com os ânimos mais calmos, a saudade que sentira por tanto tempo ganhava a luta contra o temperamento orgulhoso de ambos.

Preocupação, zelo, o querer bem. Sentimentos tão puros por detrás de discussões sempre pelos mesmos motivos.

Sem a necessidade de usarem palavras, um beijo se sucedeu –meio desajeitado por entre as grades, porém apaixonado, urgente. Shuu sentia as lágrimas vindo aos olhos de repente, só não sabia se por alívio ou medo do que poderia acontecer. Os dedos afagaram cuidadosamente o rosto masculino, analisando os ferimentos quando se afastaram. A inquietação no olhar surtiu efeito no guarda.

- Você está bem?- ela perguntou primeiro.

Em contraste, ZhouMi voltou à calmaria de espírito e um sorriso se insinuou a fim de tranquilizá-la. Shuu não podia passar por fortes emoções, mas ela parecia ter se esquecido disso. E ele também.

- Estou bem.- pousou a mão sob a dela.- Eu senti sua falta. Não consigo ficar em paz quando está distante.

Shuu quase derreteu. Eram raras as vezes em que ZhouMi saía da concha e ela se sentia especial toda vez que acontecia. Um homem que cresceu aprendendo a aprisionar os próprios sentimentos entregou o coração a ela. O que mais poderia querer?

- Eu também senti a sua, meu amor. E você não é o único. Com a guerra acontecendo... Não é fácil. A incerteza de não saber se está vivo ou não, ou se está bem me corrói.- confessou e percebeu certa resistência do marido.- A propósito, o que veio fazer aqui? Por que se deixou ser capturado?

ZhouMi titubeou.

- Uma missão.- disse simplesmente. Uma vez que estavam em lados opostos naquela guerra, precisava ser cuidadoso.

- Que tipo de missão?- pensativa, estalou os dedos quando uma lembrança a atingiu em cheio.- A garota que está com Kai me perguntou se eu o conhecia. É sobre isso?

ZhouMi apenas concordou com a cabeça.

- Eu disse para que ela a procurasse se precisasse de alguma coisa. É uma longa história.

- História essa que você não pode me contar.- deduziu, e outro aceno positivo se seguiu. Dessa vez, pesaroso.

ZhouMi trabalhara a vida toda como guarda e Shuu nunca o vira daquela forma, como se estivesse carregando o mundo nas costas, como estava agora.

- Muito está em jogo. E eu não sei se tentarão te usar para me afetar, por isso insisto para que volte para a vila.

Percebendo a agitação da esposa e o ímpeto de bater de frente, o rapaz roubou-lhe um selinho enquanto forçava o braço por entre as grades para alcançar o ventre dela. Os dedos longos e feridos afagaram gentilmente o volume tímido que se formava por debaixo das vestes largas demais que Shuu usava para ocultar a gravidez. Estava maior do que se lembrava. Haviam se passado o que? Dois meses desde que voltara para casa? Então Shuu estava perto de entrar no quinto mês de gestação.

Um sorriso inconsciente iluminou o rosto dele ao ver a mão feminina pousada sobre a sua.

- Vou lutar por um futuro melhor para nós.- referiu-se a missão. A alegria da paternidade dividiu espaço com a nuvem negra que era a ameaça de SeHun. E não era só isso.

Se não fossem mortos por SeHun, outro alguém que descobrisse o relacionamento proibido o faria. Tomaram tanto cuidado nos últimos anos para manterem sigilo desde que o destino armara para que se encontrassem no olho de uma revolução... Eram a prova de que o amor poderia florescer no campo de batalha. E também poderia perecer nele.

 

- - -

 

A janela sem grades era um convite chamativo e irresistível para ser ultrapassado. Talvez por estar no segundo andar –muito mais alto que o das outras casas-, pensaram que seria nula a possibilidade de fuga.

Estavam enganados.

Os batentes curtos formavam uma abertura quadrada e pequena –cerca de 50 centímetros de altura e largura-, e Sun analisara a estrutura cuidadosamente, buscando na mente alguma ideia mirabolante. A segurança ali parecia tão pesada quanto a do palácio. Se ela conseguira escapar do pior, não seria uma casa cheia de rebeldes com sangue nos olhos que a deteria.

A vista dali revelava os arredores. Algumas casas pontilhavam o vilarejo, campos se abriam ao leste e uma densa floresta ao sul. A segunda opção a cativou. Tinha ciência de que seria mais difícil fugir e se locomover pela floresta sem Mochi, contudo, as chances de ser encontrada se reduziriam consideravelmente.

Se já pensava em fugir anteriormente, agora era uma questão visceral! ZhouMi seria solto na manhã seguinte, logo, nada mais a prenderia àquela promessa forçada. Precisava se apegar ao fiapo de esperança de que poderia dar certo. Era ficar e morrer ou fugir e morrer do mesmo jeito.

A proposta de Kai ainda reverberava em sua cabeça num claro aviso que mais fantasmas e monstros se escondiam. A mão estendida na promessa de um futuro melhor para Sanshiro era a mesma que poderia matar a ela, ZhouMi e muitos mais.

E pensar que ela fugira do palácio exatamente para viver livre e sem um protocolo a seguir... Que ironia! A vida só podia estar testando-a para ver se realmente Sun seria merecedora de tal troféu.

Liberdade custava caro. Algo que nem a honra conseguiria pagar. Mas Sun não se importou. Já não possuía mais nada de honra ou dignidade mesmo.

Colocou a cabeça para fora a fim de procurar o punhado de pontinhos que formavam a tal da Ursa Maior que ZhouMi lhe dissera para seguir. Ao contrário disso, encontrou um olhar desconfiado e um sorriso provocativo como de quem sabia o que ela pretendia.

O susto causou uma reação imediata. Antes que pudesse se conter, as mãos responderam por si só, acertando um soco no rosto alheio. O arrependimento veio quase instantaneamente quando a dor pungente lhe acometeu na mesma intensidade pelo movimento brusco e o curativo se umedeceu de sangue.

- Qual é o seu problema?- ela gritou, exasperada enquanto segurava o próprio ombro e se curvava para frente como se aquilo fosse aliviar a dor.

Kai, por outro lado, movia o maxilar com cuidado, quase com medo de que este fosse cair. Não sabia se ria da consternação alheia ou se xingava pelo golpe. Agora ele sabia pelo que SiWon passara. A garota não era tão fraca quanto pensou.

- Você realmente sabe como bater em alguém.

- O que está fazendo aqui?- ralhou, desconfiada.

- Eu só estava passando por aqui e resolvi ver como você estava.- defendeu ele.

- Estamos no segundo andar.

- Gosto de andar pelo telhado.

- Á essa hora da noite?- arqueou uma sobrancelha, desafiando-o a inventar uma mentira mais convincente.

Kai virou-se e examinou a posição da lua no céu. Constatou ser cerca de três horas da madrugada.

- A diversão não precisa de uma hora exata. A propósito, o que fazia acordada?- esticou o pescoço para observar o interior do quarto. Mais do que de pressa, Sun prensou o corpo no batente na tentativa de tapar-lhe a visão. Seria impossível explicar o porquê de ter amarrado os cobertores nas extremidades até formar uma longa corda. Kai não era fácil de enganar e esse era o problema.

- Estava pensando em você.- forçou o melhor de seus sorrisos.- E como é um salafrário do pior nível!

Encararam-se por longos segundos, mas Kai não se ofendeu. Um sorriso preguiçoso se estendeu pelos lábios dele à medida que decodificava os objetivos óbvios da garota, mas preferiu se fazer de desentendido e não comentar.

- A sua ajuda é indispensável para nós nessa guerra. É melhor usá-la do que ter de matá-la.

- Quanta gentileza a sua!- ironizou.- Você parecia bem disposto a fazê-lo quando quase arrancou meu braço.

Kai maneou a cabeça para os lados. Ela realmente não entendia suas verdadeiras razões para tomar as atitudes que tomou.

- Ninguém confia em um líder que defende o inimigo, tampouco que não o pune por tentar atacar um membro de seu próprio grupo. Mesmo que estivéssemos só nós dois naquele quarto, as paredes tem ouvidos e olhos.- ele fez uma pausa para olhar por cima do ombro. Nenhum de seus homens estava por perto, então continuou.- Não havia forma de te proteger e ainda manter a confiança que a facção deposita em meus ombros.

Sun soltou uma risada desacreditada. Mesmo depois de tudo ele ainda pretendia manipulá-la?

- Me proteger? Conte outra.

- Quanto a forçá-la a se juntar a nós... Sei que o único lugar seguro para você estar é ao meu lado.- a desconfiança da outra o instigou a prosseguir.- Não eram explicações que queria ouvir?

- Segurança é tudo o que você não transmite.- alfinetou, arisca. Aprendera o jogo de Kai e não se deixaria levar pelas palavras doces.

- Você vai precisar de mim se pretende continuar fugindo de JinYoung.

Um golpe em cheio que desarmou Sun por completo. Como ele sabia? Talvez tivesse obrigado ZhouMi a falar, mas sabia que o rapaz jamais soltaria qualquer informação que a comprometesse.

Kai, em contrapartida, adquiriu o ar de sabe-tudo. E realmente sabia. Sabia muito mais do que Sun Li imaginava.

- Vamos conversar a sós?- indicou para fora e estendeu-lhe a mão por através da janela.- Daqui a alguns segundos os guardas alcançarão esse andar para a vigília.

O olhar de Sun migrou entre a mão dele e a estrutura da janela. Estava tão chocada que cogitou a ideia de ouvir mais antes que pudesse, de fato, ter alguma reação. Se fosse precipitada demais poderia cair numa armadilha.

- Você não espera que eu passe por aqui, certo?

- Não é nada que você não tenha cogitado minutos atrás.- provocou, ainda com a mão suspensa na espera da dela.

Tomando cuidado, Sun acabou aceitando a mão do outro e apoiou a mão livre no parapeito da janela. Passou as duas pernas para fora, buscando com os pés uma superfície para se apoiar. As telhas estalaram ao toque de seus dedos e, assim que conseguiu firmá-los, deslizou os quadris e as costas aos poucos, sentindo a mão masculina segurar-lhe pela cintura para que ela não despencasse daquela altura perigosa.

Kai já estava acostumado, mas estar tão longe do chão fez Sun estremecer por completo. Viver perigosamente definitivamente não era pra ela. A adrenalina lhe corroia os ossos ao mesmo passo em que milhares de ideias de como escapar lhe rondavam a mente.

Sun se divertiu com a ideia excêntrica. Até parece que conseguiria um feito daquele com Kai ao seu encalço.

O vento lambeu sua pele e a sensação de liberdade foi indescritível até encontrar o olhar admirado do homem ao seu lado, ainda a mantendo no enlaço de seu braço. Kai gostava de vê-la desarmada, de ler as linhas da poesia que a garota inspirava.

As lembranças iam e vinham, todas revelando o mesmo olhar, o mesmo sorriso e o mesmo tique de franzir o nariz quando indecisa.

- Consegue subir?- ele perguntou, indicando o topo da construção.

Percebendo a hesitação alheia, Kai a juntou para perto de seu corpo e pendurou-se nas hastes do telhado para impulsionar seu peso e escalar. Sem qualquer dificuldade, colocou Sun sentada na última fileira de telhas, e seguiu com ela até o meio do telhado, onde habitava uma viga de madeira, eixo de toda a estrutura da casa. Acomodaram-se ali e se colocaram a observar a bela vista que o local lhes proporcionava.

- Acho que agora entendo sua paixão por telhados.- comentou.

A escuridão da madrugada revelava uma negritude ébria, cheia de formas sinuosas e mistério em cada canto. De alguma maneira, a paisagem a seduzia, assim como o rapaz que agora a fitava, ostentando aquele ar enigmático de quem tudo sabia e, ao mesmo tempo, sabia sobre nada.

- É como voar com os pés no chão.- deu de ombros, esperando por algo do qual ela ainda não conseguira formular.- É a única sensação que nos alivia de toda a opressão. E, certamente, você deve saber ao que me refiro.

Kai afastou o devaneio e assumiu uma postura relaxada, o que acabou por aliviar minimamente a apreensão de Sun.

- Quanto você sabe, afinal?- ela cortou o assunto supérfluo, visivelmente incomodada.

- Imaginei que um dia fosse acontecer.

Um silêncio desconfortável se seguiu. Apenas o tempo necessário para que Kai retirasse algo do bolso e entregasse a ela, que perdeu a fala ao vislumbrar o cordão desgastado abrigando um pingente de madeira esculpido desleixadamente. O formato da folha atrofiada que não parecia nem um pouco com uma balançou no ar e logo repousou nas mãos afoitas dela.

- Onde encontrou isso?

O brilho no olhar como o de uma criança que acabara de ganhar um presente tocou o coração de Kai. Aquela garota realmente sentia.

- Encontraram com seu cavalo.

A confusão se intensificou ainda mais. Sun transbordava uma mistura de sentimentos que nem mesmo ela compreendia. Era alívio, desconfiança, e emoções inominadas que se alastraram como uma enchente. As memórias há tempos escondidas alastravam as garras quentes pelo seu interior, fluía pelas veias como um doce veneno cultivado para ser utilizado no momento certo. Doses frequentes de saudade matavam aos poucos.

Por onde estava pisando? Nem mesmo ela sabia.

- Aonde quer chegar com isso? É mais algum tipo de chantagem para que eu dê a vida pela sua causa?

Kai ignorou. Ela não havia entendido.

- Essa é a resposta porque a protejo.

Vendo que não chegariam a lugar algum, Sun fez menção de se levantar, mas Kai a deteve com palavras.

- Como o ciclo das folhas, eu me tornaria no que fosse preciso para ser alguém melhor e, com você, eu enfrentaria todos, mesmo sem saber onde acabaríamos. Daria um jeito de colidir nossos mundos e enfrentar o destino... Só queria que você pudesse voar comigo.- Kai recitou com nostalgia sem quebrar a frágil ligação que estabelecera com os olhos confusos que o miravam de volta.- É isso o que ele queria dizer quando o entregou a você.

A boca de Sun se abriu na intenção de dizer algo, mas a fechou quando as palavras lhe faltaram. Não estava entendendo e toda a desordem transparecia em seu semblante, fazendo o coração palpitar como nunca antes. O que estava acontecendo ali?

Já Kai manteve a postura segura, estudando a reação de Sun –ou melhor, a falta dela. Percebendo que os neurônios alheios estavam prestes a explodir, Kai recolheu a própria mão e a levou até a cabeça da menina, onde afagou de modo descontraído, querendo quebrar o clima.

- Ele demorou dias pra decorar a declaração perfeita, mas nunca teve a oportunidade de dizer.- era como se visse as cenas do passado.

- V-você...

- Não me olhe como um Ch’ou Doufu.- ele reclamou, controlando-se ao ter certeza de que suas suspeitas estavam corretas. Sacara tudo quando ZhouMi apareceu.

- V-você...- a voz falhou novamente, a torrente de sentimentos levando embora sua capacidade de raciocinar corretamente.

Agora que o observava com atenção, ela identificou traços semelhantes ao do amigo de infância. O mesmo olhar expressivo, o mesmo queixo anguloso, a curvinha charmosa ao final do nariz e a cicatriz fina na parte lateral do pulso que ganhou quando caíra no lago congelado tentando salvar JinYoung anos atrás... Não podia ser.

- JongIn?! Kim JongIn?

O sorriso do rapaz se alargou. Finalmente ela compreendeu.

- É bom te ver de novo, Sun.


Notas Finais


Ahá! Por essas vocês não esperavam! u.u Ou esperavam? Não sei Huhsuhauhsuahuhsuahu
Mas espero que tenham gostado e agradeço imensamente por terem paciência pra esperar pelos caps. Aos poucos as coisas estão se ajeitando por aqui, então vai que né... ;3

Eeeeentão, até a próxima!! \o
Kissus kissus ;** <3


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