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História Winter Bird - Face a Face


Escrita por: AnTenshii

Notas do Autor


Heey, people!! \o

Vortei com cap novo ~aleluiiaaa~ e novidades!
Primeiramente, a Winter está de capa novaaaa *0* Finalmente bateu a amiga criatividade e consegui criar uma bem bacana e que traduz bem a essência da coisa toda <3
E pra acompanhar a cara nova, venho dizer que voltarei a atualizar com mais frequência. Posso ouvir um amém?! Será isso um milagre? /parei Huhsuahushuahushu

Agradeço demais por acompanharem a fic e, principalmente, por terem paciência <3

Boa leitura! <3

Capítulo 9 - Face a Face


Fanfic / Fanfiction Winter Bird - Face a Face

- Onde está a víbora traiçoeira?- o imperador exigiu saber, a raiva transcorrendo as feições e refletindo nos passos pesados e ágeis.

A notícia do retorno de Sun Li se tornou um assunto quente por toda a vila. Poucos sabiam da fuga e mascararam a ausência da moça com uma viagem ao reino vizinho, no entanto, como explicariam o desmaio e todos aqueles ferimentos?

A situação se estreitava cada vez mais. Até quando?

“Traição de ultimo grau!”. Anciões enchiam os ouvidos do imperador Park, quem sequer tentou contestar. Não havia como maquiar as atitudes irresponsáveis de Sun Li e a punição seria apenas uma.

Assim que o homem que guardava a porta dos aposentos da moça viu o imperador despontar pelo corredor com mais dois anciões a tira colo, apressou-se em fazer uma mesura e se colocar no caminho, bloqueando o acesso –ato que não passou despercebido pelos mais velhos.

- A senhorita Gong está em consulta médica.- explicou ZhouMi, erguendo os olhos enquanto a cabeça mantinha-se baixa em sinal de respeito.

O imperador apenas o olhou com desprezo e seguiu para a porta na intenção de passar, mas ZhouMi o bloqueou novamente. Conseguia sentir o ódio de WooJin queimar em seus olhos, mas era a única coisa que podia fazer para proteger Sun o mínimo que fosse.

- O que está fazendo, soldado?- cuspiu as palavras.

- Não podem entrar. Ordens do doutor, majestade.- mentiu.

A risada esboçou sarcasmo. WooJin não podia acreditar em tamanha audácia. As pessoas naquele palácio só podiam estar ficando loucas.

- A quem você obedece, soldado? Sou eu o imperador! Agora saia da minha frente!- irritado, empurrou o rapaz com brusquidão ao mesmo passo que a porta de correr se abriu. O rosto conhecido não foi o suficiente para acender um lampejo de conivência.

- O que estão fazendo?- JinYoung censurou, baixo, fechando a porta atrás de si.- Não é um lugar apropriado para discutir, meu pai.

Palavras inúteis jogadas ao vento. WooJin as dispensou, austero em frente aos anciões que já colocavam a prova a confiança que possuíam para com o imperador, afinal, fora ele quem escolhera a mulher em potencial para desposar seu filho e, consequentemente, ocupar a posição de imperatriz. Fora ele quem aceitara a menina ainda criança em seu território como moeda de troca pela paz entre os clãs Park e Gong. Uma decisão que favoreceu ambos os lados politicamente falando, mas que agora custava seu preço.

WooJin tinha controle sobre suas riquezas, suas terras e pessoas, mas não podia controlar os demônios que viviam dentro delas.

- Não fique no meu caminho, JinYoung.- ralhou, encontrando nada mais que indiferença no olhar alheio. Ao contrário de si, o filho estava calmo. Temeroso, claro, mas ainda assim sereno.

- Sun está desacordada e o médico está examinando-a. Vamos adiar essa conversa, sim?- ponderou, trocando um olhar cúmplice com ZhouMi.

- Melhor ainda. Será uma morte indolor.- animou-se o ancião que até então se manteve calado.

O baque acertou o príncipe em cheio, que olhou para o pai procurando uma negação para um absurdo daqueles. Já ouvira demais daqueles velhos sanguessugas por toda a vida. Os anciões podiam controlar seu pai, mas não ele.

- O que?! Não podem matá-la!- se opôs incrédulo.

- Ela já foi sentenciada. Inclusive deveria ter pensado nisso antes de tomar atitudes que ferissem a honra de todo o império.- o ancião respondeu com petulância, olhando-o de cima a baixo como um verme.

JinYoung olhou para o pai num pedido mudo para que revertesse a situação, mas WooJin apenas balançou a cabeça e fez um gesto para que o filho se colocasse no seu lugar.

- A lei é a lei.

E JinYoung sabia. Ondas elétricas formigavam em suas mãos, mas respirou fundo na tentativa de se controlar. Espernear como uma criança de nada adiantaria, apesar de ter vontade de enfiar um pouco de juízo aos gritos no cérebro daqueles que o encaravam com desdém.

- Vocês nem ouviram o que ela tem a dizer! Estão tomando decisões precipitadas pautadas em achismos.- debateu.

- Não dirá nada mais que mentiras.- o ancião alegou.

- Mentiroso é você, seu...

- JinYoung!- WooJin o cortou, enérgico. Não reconhecia mais o filho.

- Você falhou em ensinar seu filho a dobrar a língua, imperador WooJin.- ralhou o mais velho, descontente com a forma como JinYoung se portava como um delinquente, como um dos que estavam lá fora.

E era essa a questão.

Um guerreiro exemplar, um bom filho e um homem honrado. JinYoung era tudo isso. Os anciões acreditavam piamente que JinYoung se tornara o protótipo de homem ideal. Se enganaram. Infelizmente, JinYoung tinha um coração. Sentia, e sentia muito.

- Com todo o respeito, majestade, seu filho está certo. Como os senhores sabem, um de nossos informantes trouxe a notícia de que a senhorita Gong foi vítima de um sequestro. Sei que não me cabe falar, tampouco ter a ousadia de lhe dizer minha opinião, mas são muitos os fatores envolvidos nesta questão. Por favor, reconsidere.- o timbre calmo de ZhouMi não deixou transpassar a tempestade furiosa que inundava seu ser. Tinha que mostrar imparcialidade, como o guarda justo que era. Se demonstrasse a intenção de proteger Sun, o mínimo que fosse, sua credibilidade também estaria a prova.

WooJin encarou-o por um longo instante, estudando o que acabara de ouvir. JinYoung sentiu um resquício de alívio pelas palavras do guarda terem mexido com o pai, embora os anciões continuassem agarrados às suas regras enferrujadas e velhas.

Cada segundo que se passava equivalia ao martírio de esperar o primeiro movimento num campo de batalha. Era sufocante.

Por fim, o silêncio foi quebrado pelo som da porta se abrindo outra vez.

- Hyung, o médico quer falar com você.- SeHun se pronunciou, parecendo alheio ao que se desenrolava.

JinYoung assentiu e fez um gesto para o pai e os anciões.

- Conversamos em uma melhor hora.- curvou-se minimamente e adentrou o quarto, mas não sem antes ouvir as últimas palavras de seu pai.

- Ouvi-la não quer dizer que as coisas mudarão.

 

- - -

 

A quietude domava o local. A respiração lenta –como num transe- soava como a mais bela das melodias aos ouvidos de JinYoung. Sentia um alívio enorme em ter Sun por perto outra vez, era como tirar um peso dos ombros. Por outro lado, sua parte rancorosa e obscura guardava mágoas e precisava de respostas.

O príncipe prometeu a si mesmo não remoer aquela história até ouvir o que a noiva tinha a dizer. Devia haver algum motivo que, no fundo, tinha receio de conhecer. Por ora, focaria na recuperação de sua menina e em como driblaria as inquisições do pai e anciões mais tarde.

Ele suspirou quando SeHun tocou seu ombro para lhe oferecer apoio. Talvez fosse a única pessoa com quem pudesse contar naquele momento.

- Não é grave.- o doutor alegou, retirando-o de devaneios.- Os pulsos cardíacos estão normais e a respiração, estável. As pupilas estão dilatadas, o que pode ser devido a uso de alucinógenos.

- Eles a sequestraram. Certamente a mantiveram em cativeiro e a drogavam para mantê-la desorientada.- acompanhou o raciocínio do  médico, quem concordou.

- É possível. Ao que parece, foram substâncias leves e talvez não causem efeitos colaterais.

- Mas ela ficará bem? Por quanto tempo ainda ficará desacordada?- SeHun questionou com um interesse velado.

- Pode ser que demore um ou dois dias, no máximo, para que ela desperte.

O homem se levantou e tomou seus pertences. Sorriu para JinYoung na tentativa de acalmá-lo, afinal, a sensação de quase perder quem se ama era difícil demais para lidar.

- Fique tranquilo, alteza. A recuperação seguirá o ritmo dela, e tenho certeza que, com o senhor por perto, a senhorita Gong receberá todos os cuidados necessários.- deu tapinhas nas costas do príncipe antes de sair.

Alguns remédios foram deixados ao lado da cama de Sun. JinYoung sentou-se na beirada do colchão e afagou os cabelos desgrenhados que se espalhavam pelo travesseiro como sempre fizera nos momentos a sós em que compartilhavam conversas bobas sobre um futuro que parecia tão distante. Cuidaria de Sun como se fosse sua própria vida em jogo. E realmente era.

- É um alívio.- o caçula comentou, ocupando-se em ler as instruções de cada chá que fora deixado ali.

O outro apenas concordou, absorto em seu próprio universo.

SeHun assistiu de camarote a inquietação alheia nos últimos dias. JinYoung não parara quieto desde que ZhouMi voltara, levado pela preocupação pungente que lhe corroia as entranhas. As tarefas como futuro imperador acumulavam-se em pilhas em sua mesa enquanto a cabeça estava num só lugar. E agora lá estava ele, derretido por causa de um rabo de saia.

JinYoung era uma vergonha.

- Aquele homem ainda está no salão. Que boa ação deixar um estranho adentrar o palácio quando temos ordens para não fazer isso.- o caçula alfinetou, parecendo relaxado com o que acontecia.

- Ele não é um estranho.

JinYoung suspirou, cansado. Deu uma última olhada em Sun e depois voltou-se ao irmão. Tinham muito que fazer ainda. Ter uma conversa apropriada com JongIn era uma delas.

- Qual foi a decisão de papai sobre tudo isso?- mudou de assunto, acompanhando a trajetória do mais velho até a porta.

- Quem sabe? Ao menos nos dará algum tempo até a sentença.

SeHun assentiu. JinYoung achou estranho o interesse repentino, mas nada comentou. O irmão sempre fora desligado para aquele tipo de coisa.

- Os comandantes de suas tropas estarão aqui em breve. Você não vem?- indicou o corredor com um aceno.

SeHun negou.

- Pode ir na frente. Vou terminar de ler isso.- indicou os pergaminhos escritos pelo médico.

Ainda que um pouco averso a ideia de deixar o irmão e Sun a sós, JinYoung seguiu seu caminho. Mal sabia ele que ofertara a SeHun a partir daquele momento uma irrevogável oportunidade.

Como uma sombra, o caçula ocupou o espaço ao lado da cama da moça para admirá-la de perto. O fulgor de ódio movia seus pensamentos e ações como uma locomotiva desgovernada. Indignação crepitava em suas veias, satisfação invadiu sua pele ao tocar a dela, tão quente e pulsante sob seus dígitos. Era tentador.

- Você deveria estar morta.- segredou a ela.

Os dedos apertaram um pouco mais a carne macia do pescoço e a breve quebra do ritmo da respiração alheia instigou-o a prosseguir. Que bela cena estava prestes a presenciar. Assistiu com deleite o inconsciente tentando intervir na realidade ao passo que seus dedos aplicaram mais pressão no pescoço fino. O peito de Sun subia mais intensamente na busca por ar, a boca ligeiramente aberta, os músculos começando a sofrer espasmos.

Reação genuína de sobrevivência.

Rosa, vermelho, levemente azulado. Cores lindas se estendiam pela pele imaculada. SeHun se encantou ainda mais. Só não continuou porque passos rápidos pelo corredor anunciaram a presença de alguém.

Passos pesados. Botas de soldado. O rosto conhecido.

 

- - -

 

As areias do tempo retrocederam para a época em que as coisas eram mais simples e os sentimentos, mais verdadeiros. Ver JongIn sentado na cozinha enquanto comia uma maçã e conversava animadamente com uma antiga funcionária trouxe um ar nostálgico a JinYoung.

As brincadeiras e os momentos felizes, o príncipe não se lembrava de nenhum deles em que o melhor amigo não estivesse fazendo parte, mesmo em segundo plano. Costumavam idealizar o futuro perfeito que teriam quando adultos e, claro, os três sempre estariam juntos. Olhando agora, JinYoung percebia o quanto eram ingênuos e, depois de tudo o que aconteceu desde que JongIn partira, diria que seria impossível realizar aquele desejo infantil e cheio de esperança.

E olha só onde estavam agora. O destino se encarregara de cada detalhe ao juntar as peças outra vez.

O rapaz adentrou a cozinha e a funcionária o reverenciou. O pequeno gesto fez com que Kai olhasse para trás, encontrando o amigo que já se ocupava do assento do outro lado da bancada. JinYoung não mudara nada.

- A senhora Ahn continua com uma mão maravilhosa para cozinhar. Acho que foi o que eu mais senti falta daqui do palácio.- Kai elogiou a mulher, que lhe sorriu em agradecimento, mas já de saída. Era regra não se meter nas conversas da família real.

- Lembra quando ela fazia os manjus pro festival da primavera?

- E nós sempre enchíamos os bolsos quando ela não estava por perto.

Riram ao relembrar os bons e velhos tempos. Tempos que não mais retornariam.

Intenções indecifráveis tornaram a troca de olhares serena em algo desconfortável. Ambos tinham coisas a dizer, mas as palavras não ganhavam voz pela simples estranheza do reencontro. Tantos anos, tantas páginas escritas as quais nenhum dos dois tinham acesso. Quanto havia mudado? Até onde permaneciam os mesmos?

- Então... eu pensei que nunca mais fossemos nos encontrar.- começou o príncipe com um sorriso nervoso. Os dedos brincando por cima da mesa.

- A decepção foi tão grande assim?- tentou descontrair, ganhando um gesto alarmado do outro.

- Não! Foi só... inesperado. Nunca imaginei que justamente você traria Sun de volta.- atropelou as palavras, relaxando aos poucos ao notar o ar despreocupado de JongIn.

- Encontrá-la abandonada no meio do nada também não estava nos meus planos.

- Os ancestrais fizeram um bom trabalho tentando nos unir. Nós três.

- Faz realmente muito tempo.

JinYoung concordou, sem saber direito por onde começar aquele assunto que tanto lhe assolou. Mesmo hesitante, resolveu arriscar.

- Por que você foi embora? Naquela época ninguém quis me contar.

 Ainda não havia engolido todas as versões que lhe contaram ao longo da vida. JongIn se remexeu, desconfortável. Deu outra mordida na maçã para poder organizar suas palavras de modo que não soassem tão invasivas. Para JinYoung aquilo era um reencontro, para Kai, uma questão de negócios visando o acerto de contas. Ainda assim, apreciava a companhia do melhor amigo de infância.

- Meus pais foram demitidos, então mudamos de cidade para começar uma nova vida.

Os olhos do príncipe se arregalaram pela surpresa.

- Não foi por causa do acidente no lago, foi?

- Acredito que esse tenha sido o menor dos problemas.- deu de ombros, terminando a fruta.- E quanto a você? Fiquei sabendo que está prestes a assumir o trono.

JinYoung concordou, pesaroso.

- Muitas coisas aconteceram, mas tudo está seguindo conforme o planejado.- disse sucinto. Por mais que considerasse a antiga amizade, jamais abriria o jogo completamente para JongIn.

- O sequestro de Sun também?- arqueou uma sobrancelha, disposto a arrancar dele algo mais. Diante do olhar confuso, ele justificou.- Ouvi algumas conversas.

Por um instante o rapaz petrificou, pego de surpresa.

- O país está em guerra... Você deve saber. Qualquer forma de nos atingir é válida, e Sun foi uma delas.

- São covardes. Sun é inocente nisso tudo.- Kai fingiu-se tocado. No fundo, odiava a forma como o nome dela soava pelo timbre do outro, tão carinhoso e possessivo.

- Qualquer um de nós é um alvo em potencial. O atentado a capital é uma prova disso.- os dedos tamborilava na madeira do assento inquietamente.- O importante é que ela está a salvo, graças a você.

Kai fez um gesto com a mão que dispensava o agradecimento.

- Qualquer um teria feito o mesmo.

JinYoung assentiu. Uma ideia o atingindo em cheio como uma flecha.

- O que você tem feito?

- Soaria estranho demais dizer que o ex-futuro guarda imperial agora vive uma vida pacata nos campos?

- Difícil acreditar.- sorriu, analisando a situação. Agora que Sun estava de volta, precisava de mais alguém de confiança ao lado.- Ao menos seus instintos ainda estão afiados. Nenhum dos meus homens conseguiu encontrá-la em dias. Por que não se junta a nós outra vez?

Bingo!

Um brilho misterioso cruzou o olhar de Kai, mas logo disfarçou com uma careta pensativa que fez o outro titubear. Seus planos estavam seguindo conforme o planejado.

- Na guarda?- quis confirmar.

- Isso. Precisamos de reforços pela vila nesses tempos difíceis e sei que seus talentos farão a diferença.

- Ora, se continuar me bajulando ficarei convencido.- zombou, ganhando outro sorriso.

- Eu faço questão. É o meu agradecimento por tudo o que fez.- insistiu e Kai atuou diante daquela oportunidade única.

- Certo! Será uma honra servi-lo outra vez.- Kai se levantou e fez uma breve mesura, rindo quando o príncipe o puxou para que se sentasse, constrangido pelo tratamento formal vindo dele.

Pelo visto, JinYoung continuava o mesmo. Gentil, centrado, controlado e confiando facilmente nos outros. Esse sempre foi seu pior erro.

 

- - -

 

O mundo girava quando ela acordou e o estômago acompanhou o mesmo embalo. Antes que pudesse colocar a mente para funcionar, as reações de seu corpo ás drogas falaram mais alto. Só tivera tempo de virar o rosto para fora da cama para colocar tudo o que tinha no estômago para fora.

Mãos gentis que ela não sabia a quem pertenciam seguraram seu cabelo durante o processo nojento. Sun estava uma bagunça mental e fisicamente. Sentia como se sua cabeça fosse explodir, por isso nem forçou os pensamentos a se formarem, e sentia-se como se tivesse sido atropelada por uma manada de búfalos furiosos. Estava acabada.

Do jeito que estava largada, ficou. Tentou olhar por cima do ombro para ver quem lhe ajudava, mas o mundo girou com mais destreza, fazendo-a desistir da ideia de se mover até que a bendita vertigem e mal estar passassem. Foi pela voz que o reconheceu. Aquele sotaque charmoso invadindo seus ouvidos causava uma tranquilidade tamanha, porém também traziam outras lembranças.

- Onde estou?- perguntou ela. A voz enrouquecida e embolada pela falta de uso e a língua grudenta na boca.

- De onde você nunca deveria ter saído.- respondeu simplesmente, ocupado em limpar a sujeira feita.

Sun demorou pra pegar no tranco. Aos poucos foi se lembrando do que de fato acontecera. JongIn estava com ela no meio do nada e lhe oferecia chás, estes que a faziam ver o mundo de outra forma. Houve até uma hora em que ela conversara com uma árvore laranja de bolinhas turquesa. Lampejos um atrás do outro a acometiam. Eram como sonhos sem pé nem cabeça e depois uma eterna escuridão.

Sun forçou-se a voltar o tempo antes dos delírios. Nada veio. Só conseguia se lembrar de JongIn, de seu rosto próximo demais e a forma como as mãos grandes seguravam seus pulsos. Cansada, ela desistiu. Uma hora se lembraria. Não adiantava exigir muito de uma mente que vivera utopias por dias a fio.

- Me diz que isso é um pesadelo.- implorou, passando as mãos pelo rosto a fim de focar os olhos no ambiente. Junto da confirmação de ZhouMi, Sun reconheceu o quarto onde estavam.

Seu quarto.

- Cedo ou tarde você voltaria, seja por JongIn ou pelos homens que JinYoung colocou atrás de você. E, acredite, foi melhor assim.

- Não acredito que todos os meus esforços não valeram de nada.- choramingou afundando o rosto contra o travesseiro.

ZhouMi tratou de ignorar, como sempre fazia. Agora, mais do que nunca, deveria protegê-la. E não era de Kai que estava se referindo.

Sun, por outro lado, abraçara a frustração e a raiva como velhas companheiras de jornada. Uma jornada que morreu antes de começar. A liberdade que tanto lutou para alcançar fora descartada como lixo, e agora lá estava ela na gaiola outra vez. Era questão de tempo até arcar com as consequências de sua loucura. Como encararia seu noivo? O que diria ao imperador para justificar seus atos? E sua família?

Ao menos tinha sorte de ainda estar viva. Só não sabia por quanto tempo.

- Desde quando estou aqui?

- Pouco mais de um dia.- respondeu, sucinto. ZhouMi sempre fora um homem de poucas palavras, mas Sun sentia algo estranho nele, como uma aura negra que o perseguia desde o dia em que se encontraram na base da facção.- Direi para que tragam algo para alimentá-la. Há quanto tempo não come?

Ela deu de ombros, indicando que não fazia ideia. Com algum esforço, sentou-se na cama e jogou as pernas para fora. Ainda se sentia molenga e dolorida, a vertigem continuava ali e mesmo assim tentou se levantar. ZhouMi esteve lá para ampará-la quando a mesma perdeu o equilíbrio.

- Aonde pensa que vai?- censurou, colocando-a sentada na cama outra vez.

- Para a cozinha.- disse o óbvio, encarando-o com certa letargia.

ZhouMi fechou os olhos como se quisesse reconquistar o pouco da paciência que lhe restava. Os últimos dias estavam sendo estressantes demais.

- A menos que queira perder a cabeça, é melhor continuar neste quarto.- alertou, franzindo o cenho para impor sua autoridade.

- Como...- a frase não se completou. Por um instante lhe fugira a memória do que seus atos poderiam levar.- Ah... isso...

- Você conhece as regras. O imperador quis que as ordens fossem cumpridas enquanto você ainda dormia.- explicou ele, rígido. Só ZhouMi sabia o quanto trabalhou ao lado do príncipe para interferir na decisão ou, pelo menos, para adiá-la.- Agradeça a JinYoung por ainda estar viva.

Sun emudeceu. Não sabia o que pensar. Tinha consciência de tudo aquilo quanto tomou a decisão de fugir, então porque tinha medo? O que era aquele pequenino sentimento de arrependimento em seu coração?

Não sabia.

ZhouMi se retirou e depois de algum tempo, as batidas na porta se repetiram.

- Pode entrar.- ela disse, aturdida com a figura que apareceu a sua frente.

- Olha só quem acordou! Cheguei a pensar que você tinha morrido.- Kai a perturbou assim que colocou os pés nos aposentos de sua baobei, que o recepcionou com uma carranca de pura acusação.

- O que você está fazendo aqui? Como conseguiu acesso a essa área? Saia antes que eu arranque seu couro, Kim JongIn.- ameaçou. Ele até levaria a sério se ela não estivesse tão pálida e fraca.

- ZhouMi me enviou aqui. Quem sou eu para recusar ordens de meu mestre?- fingiu-se inocente, fechando a porta atrás de si enquanto equilibrava uma pequena bandeja numa das mãos.

- Você tentou matá-lo.

- Tsc, detalhes. Isso não vem ao caso.- deu de ombros.

- Por que você está aqui?- insistiu.

- Ora, eu trabalho aqui.- o sorriso canalha se mostrou.

Sun continuou impassível. Os olhos cravados nele como se tentasse ler aquela incógnita chamada Kai, porque o JongIn que conheceu um dia estava morto.

- Era isso o que queria?- Sun disse por fim, amarga. O enjoo retornando conforme via a imagem do rapaz se desdobrar.

- Coma primeiro.

- Era isso o que você queria?- repetiu mais firme.- Me trazer de volta pra cá, se infiltrar no palácio e mais o que?

Foi ignorada outra vez.

O rapaz deixou a bandeja ao lado da cama e ousou se aproximar. O mesmo olhar habitava seu semblante. Obscuro, perigoso.

- Você precisa se alimentar.

- Não finja que se importa!- esbravejou ela, vendo o mundo girar outra vez com o sobressalto.- Não acredito que me trouxe pra cá, JongIn. Depois de tudo... e-eu... Qual é o seu problema?- indagou incrédula.

Sun simplesmente ainda não conseguia acreditar que havia acontecido. Não queria acreditar. JongIn percebia o quanto ela estava aflita com a situação, mas era o que deveria ser feito. Seus planos vinham antes de qualquer coisa, até mesmo de seu primeiro amor.

- Nós já estamos aqui. Não adianta lutar contra isso. Nós estamos juntos nessa, baobei.- disse tranquilamente.- Você se tornou tão cúmplice nisso quanto eu. Se tentar me entregar, sua cabeça também roda. O que dirão se souberem que você fugiu para se aliar à facção? O que farão com você quando souberem que deu sua pureza a mim?

Sun quase engasgou. O coração congelou de repente ao notar que o tom de brincadeira em sua voz havia desaparecido. Era um jogo.

- Isso é um absurdo! Não vão acreditar em você.

JongIn maneou a cabeça, sentando-se ao lado dela.

- Você acredita? Passou dias desmaiada ou alucinando.- curvou-se minimamente em direção a ela.- Éramos apenas você e eu. E você certamente não se lembra do que, de fato, aconteceu.

- Você não o fez.- afirmou, querendo se apegar a ideia de que ele não era um homem tão mundano e desprezível assim.

Ele não concordou nem discordou.

- Um aspirante a futuro guarda que salvou a princesa desmaiada numa floresta ou uma fugitiva sentenciada de morte e acusada por traição. Em quem confiarão? É a minha palavra contra a sua. JinYoung, um idiota apaixonado, pode até relevar a fuga, mas jamais aceitará que você tenha pertencido a outro.

Sun riu um riso nervoso. Sentia-se esmagada pelas paredes do labirinto onde se enfiou. Kai estava apenas brincando com a sua psique.

- Seu plano é falho. JinYoung nunca perdoará que seu melhor amigo tenha tomado a noiva dele.

Kai riu com escárnio enquanto balançava a cabeça em negativa. A mão ousada deslizando pela perna dela apenas na intenção de provar que as coisas eram diferentes. Sun o chutou, mas Kai foi mais rápido. Segurou-lhe o tornozelo e a puxou, obrigando-a a ficar deitada.

Num movimento ligeiro, Kai se inclinou sobre ela. O rosto a poucos centímetros de distância sugeria algo mais e Sun se esqueceu como se respirar com o olhar sedento que ele lhe dirigia.

- Esqueceu em que tempos vivemos? Sou homem, baobei. Posso alegar que você me provocou e não resisti aos prazeres da carne. A culpa nunca recairá sobre mim.

Era injusto e revoltante, mas era a verdade. O pensamento machista inibia a lógica e a distinção do certo e errado. Não passavam de trogloditas comendo barro.

- Sou dona do meu corpo, JongIn.- enfrentou-o, embora estivesse de mãos atadas.

Kai sorriu vitorioso e inclinou a cabeça para um dos lados. Os olhos miravam os lábios entreabertos de indignação dela, mas ele apenas se limitou a beijar-lhe o queixo. Achou louvável a tentativa fracassada de manter são o orgulho que já não mais existia.

- Essa guerra que você quer começar contra mim, Sun, já está perdida.

E então ele se afastou e a deixou sozinha para que pudesse lidar com a confusão que ele plantara.

Mais uma vez Sun teve certeza de que as pessoas mudavam como folhas no outono.

 

- - -

 

Os tons quentes do pôr do sol invadiam a janela e tingiam o quarto de laranja. Um quarto que não era o seu.

Ele vislumbrou as vestes alinhadas dentro do armário, os remédios acumulados ao lado da cama exatamente onde deixou e as armas escondidas num canto que jamais levantaria suspeitas. Então ela realmente aprendera a usá-las... Por que ele nunca tomou conhecimento daquele detalhe? Talvez preferisse se deliciar com a imagem de delicada flor que ela lhe mostrava a ter de lidar com raízes escondidas debaixo da terra. E esse foi seu mal.

ZhouMi lhe dissera horas antes que Sun havia despertado, já havia se alimentado e estava se sintonizando com o meio, mas JinYoung não teve estrutura para encará-la num primeiro momento. Sabia que perderia o controle.

Os dedos magros do príncipe acompanharam distraidamente os entalhes do chakram -este com a lâmina protegida por uma capa de metal e couro-, enquanto tentava manter a mente inquieta sob suas rédeas.

Seus esforços foram por água abaixo no momento em que a viu retornar ao quarto. Havia surpresa nas feições abatidas dela, sinal de que não esperava encontrá-lo ali, muito menos com uma arma daquele porte nas mãos.

 “Ele veio me matar”, seus gestos traduziam. Movida pelos instintos e o grande sinal de alerta vermelho que piscava por detrás de seus olhos, Sun recuou um passo, segurando a lateral da porta de correr com uma das mãos. O sobreaviso foi como uma pancada em JinYoung, mas ele não demonstrou.

A conexão que mantiveram por minutos a fio foi o suficiente para que ele lesse suas entrelinhas como nunca antes. Sun nunca fora tão descuidada a ponto de vir até ele com a alma nua como estava naquele momento.

- JinYoung...- o nome soando nada mais que um sussurro.

E ele sabia que perderia o controle.


Notas Finais


Só digo uma coisa: AGORA VAI! -v-ahsuhaushuahusa

Espero que tenham gostado, amores! E até a próxima o/
Kissus kissus ;**


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