História Wish You Were Here - Único

  ~~~~~~~~Marco's POV~~~~~~~~~

     Mario. Esse nome. Cinco letras. Para uma pessoa qualquer, pode não significar nada. Mais para mim, significa. E muito. 
     
     Mario é meu mundo. A razão pra que eu vivo. Mais agora, ele se foi... E acho que a culpa é minha. Eu não soube tratar ele corretamente. E ele foi jogar no Bayern, o que dificultou tudo, e ainda tem aquela tal de Ann.. 

     Eu admito. Nosso amor não era perfeito. Ambos tínhamos defeitos, e não eram poucos. Éramos egocêntricos, egoístas, decepcionantes, curiosos, idiotas. Mas nosso amor era verdadeiro.

     O amor não muda. Nunca deixarei de amá-lo, e ele nunca deixará de me amar. Mas ele pode deixar toda e qualquer lembrança ou imagem minha guardada bem no fundo de seu coração, naquela parte escura que temos que revirar para reencontrar qualquer coisa que vá parar lá. Ele pode me ocultar, jogar coisas em cima das lembranças, mas nunca poderá apaga-las.

     E era esse pensamento que me mantia motivado. Não motivado para esquecê-lo. Nem motivado para seguir em frente. Motivado para suportar a dor e viver. 

      Não precisa mais ouvir meu sofrimento. Vire a página. E se isso não for um livro, e sim uma anotação, pegue uma borracha e apague essa porra. Exclua de seu celular. Rasgue a folha. Faça o que quiser.

     Mas, se quiser continuar me ouvindo, vou ficar... Menos motivado a me jogar na frente do carro que pode estar passando em frente a sua casa, seu prédio, sua escola, sua faculdade, sua mente.

     Coloque os fones de ouvido. Faça como eu. Afunde as lágrimas em músicas tristes e desesperadas. Esqueça qualquer som de guitarra ou bateria, e foque no piano, no violão e no choro. 

     Ok, vou voltar a contar minha história. Vou começar bem do inicio, de quando éramos um casal.

     Namorávamos em segredo. Apenas eu e ele sabíamos, pois é como dizem: o que ninguém sabe, ninguém estraga, certo? Errado.

     O que ninguém sabe o tempo, as ações, você mesmo estraga. Eu estraguei. Estraguei tudo. Eu cuidava dele mais até do que cuidava de mim. Ele era mais importante do que qualquer parte de mim. 
     
     "Você está exagerando, Marco. Mario não é tudo isso." Pense como quiser. Já disse, se não quer ouvir, caia fora. Vou continuar narrando, para o nada, ou para alguém. 

     Nosso namoro ia bem. Até um dia. Ele começou a parecer distante. Não queria mais meus braços, meus beijos, minhas palavras carinhosas... Perguntei o que houve, claro que fiquei preocupado. Mas ele não quis responder. E isso me irritou. Acabei me irritando demais. Descontei raiva nele. Ele chorou, e me disse que estaria se mudando para Munique no dia seguinte.

     E é isso. Ele foi, e levou os pedaços do meu coração, que fora quebrado, espalhado, estilhaçado no chão, deixando em meu peito um vazio, que acompanha uma dor. A dor da solidão. A dor da realidade.

     Depois disso, nunca mais nos falamos. 

     Se eu tentei? Claro que tentei. Mensagens, recados, e-mails, SMS, carta... Tentei todas as formas de comunicação possíveis. Até que desisti. Ele seguiu em frente. Eu deveria seguir também, certo? Errado de novo.

     Resolvi falar com ele. Cara a cara. O máximo que poderia acontecer seria ele me mandar embora. Eu queria arriscar. Queria ouvir sua voz mais uma vez, nem que fosse ele me dizendo "vá se foder, Reus". 

     Fui até Munique. Fui afastado do BVB. Meus amigos me chamaram de idiota. Trouxa. Otário. Agora sou oficialmente um ninguém, perdido no mundo, que deveria ter ido assim que o céu e o inferno pediram.

     Eu fui ao CT do Bayern. O vi. Estou olhando para ele agora. Não sei o que fazer. Falo com ele? Espero? Vou embora?

     Ok, você já cansou de ouvir essa história. Vou dar um tempo. Agora vá se encher de doces e músicas felizes, pois você ainda tem pelo menos um pouco de felicidade em seu coração. Seu coração não é igual ao meu. Meu coração foi pisado, atropelado, amassado, estilhaçado, e agora está em pedaços pelo chão do quarto onde eu e Mario brigamos.  

     Eu já tentei colar meu coração. Não ficaria perfeito, mas ficaria inteiro. Mas Mario colocou algumas peças - como a da felicidade - em seu bolso e levou embora junto com ele. 

     Vá logo ser feliz. Não deixe seu coração de transformar em um espaço vazio e triste como o meu....



~~~~~~~~~Mario's POV~~~~~~~~~




     Ok. Eu sinto falta do Marco. Muita. Sempre senti, sempre sentirei. É fato. Mas precisamos aprender a seguir em frente.  Infelizmente, foi o que eu fiz.  Se eu me arrependo? Só todos os dias. Apenas todas as horas. Somente todos os minutos. 

     Nossa história não tem final feliz. Na verdade, teve um final péssimo. Terrível. Pior impossível.

     Vou contar para vocês. Se quiserem ouvir, ouçam. Se não, o que estão fazendo aqui? 

     Éramos felizes. Não. Não éramos felizes, éramos super felizes. Eu era feliz. 

     Eu errei. A culpa foi minha. Eu devia ter sido melhor, mais cuidadoso, melhor em escolher palavras... E não ocultar fatos.

     A questão era que eu fui convidado para jogar no Bayern. O time rival do time que eu e Marco jogávamos. Eu não sabia como contar a ele. Não sabia escolher as palavras certas. As palavras erradas acabariam com tudo.

     Mas naquele dia...

     Me ligaram. Queriam que eu me apresentasse em Munique no dia seguinte. Eu não queria contar a Marco. Ele se irritou. Então eu contei as pressas e fui embora. Para Munique.
Ele tentou me procurar. Me ligou. Mando mensagem. E-mail. Maravilhosas cartas.  Mas eu não queria engolir meu orgulho.  Me arrependo muito disso. Pois ele parou. Desistiu. Seguiu em frente. Com meu coração em seu bolso.

     O que tivemos foi incrível. Toques. Abraços. Beijos. Elogios. "Eu te amo". Era segredo. Mas era nosso segredo. Meu e dele, e de mais ninguém.  Mas a vida pensou que estávamos muito felizes e dificultou tudo. Se ele ainda me quisesse, me procuraria. Era o que eu pensava. 

     Mas estava errado. Ele não me procuraria, pois eu o magoei. Os pedaços estilhaçados de ambos os corações pareciam cravados em meu peito. Não ardiam. Não cortavam. Não machucavam.

     Mais doíam. Doíam muito. Mais do que qualquer corte, machucado ou fratura. A dor nunca ia embora, me atormentava dia e noite, hora e minuto. 
E essa foi a história do nosso fim. Triste, não? 

     Já estou acostumado com a tristeza. Meu último dia feliz foi quando olhei nos olhos de Marco pela última vez, quando ouvi um "eu te amo" sair de seus lábios perfeitos, quando vi seus olhos cintilarem de felicidade, quando nossas bocas se encontraram, nossas línguas dançaram em união, nossos corpos se colaram. 

     Depois disso, felicidade se transformou em uma palavra escura, dolorosa e sem significado para mim.

     Eu estou aqui agora. No CT do Bayern. Com uma bola aos pés e o pensamento em Dortmund. Até que resolvo olhar para o lado. O vejo. Ele está parado ali. Está me olhando. Seus olhos possuem um milhão de expressões.

     Ele parece cansado. Magro. Infeliz. Não sei o que fazer. Não sei se engulo meu orgulho e admito que estava errado. Não sei se saio correndo, se vou até ele. Se olho em seus olhos uma última vez. Minha felicidade pode ser encontrada. Mas apenas naqueles olhos.

     Fechei os meus. Não sei que decisão tomar. Abro-os novamente. Não o encontro. Ele se foi...?




~~~~~~~~~Marco's POV~~~~~~~~~




     Mario me vê. A dor que vejo em seu olhar é insuportável. Ele parece... Quase triste... Em me ver. Aquele olhar pesa meu coração. Os pedaços colados caem no chão, ali mesmo. As lágrimas querem cair junto. 

     Saio dali. Foi o maior erro da minha vida. Ele não se arrependia. Não me amava. Não... Me queria.

     Me sentei em um banco, próximo do CT. Olhei para o céu. Como lá em cima podia ser tão lindo? O céu não enxergava que pessoas estavam sofrendo? Continuava sempre azul. Um azul... Feliz. O sol, sempre brilhava. Eles não viam? Pessoas sofriam. Pessoas choravam. Pessoas morriam. E eles estavam ali. Parados. Felizes.

     Eu poderia ser feliz de novo? Imagino que não. É impossível. Minha felicidade não existe. O pouco que existe está nas mãos de Mario. O resto? Jogado fora. Como os pedaços de meu coração.

     Senti braços em volta de mim. Mario sussurrou em meu ouvido. Desviei de seus braços. Eu estava assustado. Ver seus olhos... Seus lindos olhos... Olhos incríveis, porém cheios de sofrimento. Se havia alguma parte de meu coração em meu peito, ele foi para o chão. 

     - Marco.
     -  Mario.

     Não sei o que dizer. Mario fica me olhando torto, o que não ajuda. Canso. Me retiro dali. Mario vai atrás.

     - me perdoe.

     Paro. Me viro. 

     - o que disse?
     - me perdoe. Eu errei. Não devia ter escondido tudo de você. Fui um idiota. Por favor, me perdoa. Eu te amo, Marco Reus.

     Em seguida, ele estende a mão. Segura a minha. Consigo sentir meu coração pulsando em seu bolso.

     - também amo você, Mario Götze. Eu errei também. Me irritei. Não devia. Perdoe-me.

     Mario me abraça. Me envolve em seus braços. Pega meu coração, e devolve ao meu peito. Me sinto feliz.
Achei que nunca mais me sentiria assim. 

     - posso voltar a Dortmund com você.
     -  não. Não tenho mais clube. Fui praticamente demitido. 
     - por que?
     - porque precisava de você. 

     Mario me abraça mais forte. Ali, debaixo do céu azul. 

     - Marco, eu te amo.



~~~~~~~~~Mario's POV~~~~~~~~~




      Ver Marco indo embora doeu meu coração. Precisei ir atrás dele. O envolvi com meus braços. Engoli meu orgulho. Pedi perdão. Me declarei. E ele me ouviu. Me olhou. Minha felicidade, escondida naqueles olhos. Naqueles lindos olhos. Cada "eu te amo" trazia minha felicidade para mais perto. Já me senti feliz novamente. Ele desistiu de tudo por mim. Agora era minha vez.
      
      Conversei com o Bayern. Não queria mais jogar. Queria apenas Marco. Voltamos para Dortmund, em nossa antiga casa. Colamos pedaços de nossos corações partidos. Criamos melhores lembranças. E eu encontrei novamente a felicidade. Uma felicidade que achei que havia pedido novamente. Mas tudo o que é bom dura pouco.

     Marco me deixou jovem. Exatamente um ano depois. Querem ouvir essa história? Ou preferem ir embora continua vivendo? Acho que já estão cansados de nós. Se quiserem ouvir, eu conto. Se não... Um sofrimento a menos para mim.



~~~~~~~~~Mario's POV~~~~~~~~~




      Eu e Marco éramos felizes. Muito felizes. Eu o amava. Mais do que já amei qualquer pessoa ou coisa. Mas tudo o que é bom dura pouco. Se eu estou contando isso, é porque vocês quiseram. 

     O que vou contar, foi a coisa mais triste que aconteceu na minha vida. Sério mesmo. Acho que ninguém merece passar por isso. Nem as piores pessoas do mundo.

     Foi no dia do nosso aniversário de um ano juntos. Bem naquele dia. Em outros 364 dias, foi aquele. 

     Marco estava voltando de algum lugar. Não me lembro qual. Não tem como lembrar, sendo que quis esquecer aquele momento. 

     Ele sorria. Falava comigo pelo telefone. Eu estava na porta de casa esperando-o. Até que ele gritou, e depois ficou em silêncio. Usei o rastreador de seu celular para encontrá-lo. 

     Assim que o vi, desabei a chorar. Marco estava jogado no chão. Sua pele estava mais branca do que o normal. Seus lábios, quase azuis. Seus olhos, arregalados de terror.

     Ele estava morto? Ainda não.

     Chamei uma ambulância. O levaram. O internaram. Ele estava em estado grave, com risco de vida. Em coma.

     Todos os dias eu o visitei no hospital. Acariciei seu rosto. Segurei sua mão. Contei para ele tudo o que havia acontecido. Disse "eu te amo". Chorei. Pedi para que ele voltasse. Todo santo dia. Era insuportável ver ele em todos aqueles aparelhos, que seguravam sua vida nas mãos. Meu coração doía. 

     Até um dia. Quando ele se foi. Eu estava lá. Segurando sua mão. Chorando. 

     Eu disse "eu te amo". Aí seu coração... Parou. E não voltou a funcionar.

     Eu chorei. Chorei muito. Todos os dias. Choro até hoje, apesar de não ter mais lágrimas para eu chorar. Eu consegui... Sobreviver... Sem ele. Por pouco tempo. Mas consegui. Eu o amava, o amo até hoje. Foi horrível o que aconteceu. 

     Depois que ele morreu, eu acabei entrando em depressão. Precisei ser internado. Acabei morrendo também. Agora olhe o céu. Se estiver a noite, você verá duas estrelas. Duas estrelas diferentes das outras.  Olhe bem para essas estrelas. Sorria para elas. Cada sorriso que elas receberem vai ser um motivo para não cair do céu.
Agora, se estiver de dia, perceba como o céu parece feliz. Procure nesse céu, dois pontos. Brilhantes. Talvez estejam entre as nuvens e você não consiga ver. Mas mesmo assim, sorria para o céu. 
Obrigado.

     Você sorriu para mim. Você sorriu para Marco.



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     "Está se sentindo diferente?  Somos nós sorrindo para você.  Somos nós olhando você.  Somos nós nos desculpando por te fazer chorar com nossa história.

     Mas obrigado por nos ouvir. Obrigado por ler até esse final. Tomara que sua vida não acabe como a nossa. Tomara que você seja feliz. Tenha toda a felicidade que tivemos e não tivemos, que possuíamos e foi arrancada de nós. 
Saiba que estamos juntos agora. No céu. Duas estrelas. Dois pontos. Unidos. Para todo sempre.

     Obrigado por gastar seu tempo ouvindo ou lendo isso. Obrigado por não apagar as palavras, excluir o texto, rasgar a folha, ignorar a história. Você nos fez um pouco mais felizes. 

     Se você encontrar um pedacinho de um coração no chão, guarde-o em seu bolso, com você. É nosso. Nossos corações ficaram estilhaçados na terra. Em todos os lugares. 

     Obrigado por tudo. Obrigado por sentir com a gente, chorar com a gente, se sentir... Feliz... Com a gente. Que sua vida tenha a felicidade que não tivemos.

      Obrigado.

     Assinado: Mario Götze e Marco Reus, eternamente."