História Without you. - Let me go.

Já se sentiu deslocada? Não com algum membro deslocado, mas.. Sentir que não faz parte daquele lugar, sabe.. Como um pedaço de laranja em um espaço na cabeça de alho dentro do armário, você se encaixa mas aquele não é o seu lugar, entende? Bem, eu me senti assim a minha vida toda e tudo começou quando eu completei oito anos.

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- Você caga pela boca, não tem nenhuma ideia que preste!! Eu não vou deixa-la ir estudar em uma escola lá na puta que pariu!! _ Louise, sua mãe, apesar de amar e querer o melhor para sua pequena, não suportava a ideia de vê-la longe e faria o seu melhor pra mantê-la pertinho de si o quanto pudesse.

- Você está se ouvindo?? Por acaso acha que prendê-la aqui vai fazer com que magicamente ela aprenda algo? Ela vai acabar sendo mais uma fracassada igualzinha a você!! Você está mais preocupada com o seu umbigo do que com a sua própria filha!! _ Samuel, seu pai, queria um futuro para sua filha, seu pensamento era totalmente radical e ele vizava uma vida melhor para ela, mesmo que seus métodos fossem mais duros, muitas vezes ele se esquecia que ela só tinha oito anos(recém completados).

- Ah claro, e você tem total moral pra falar de mim, não é? Depois de agarrar o primeiro rabo de saia na rua e me trair sem pensar duas vezes, por que não se preocupa com o seu bastardinho de três anos? _ Ela juntou a louça e colocou rudemente os pratos na pia, lavando de qualquer jeito.

- Se eu precisei procurar rabo de saia na rua foi porque você nunca deu conta do recado, e mais, a Vanessa pelo menos faz alguma coisa decente na cozinha!! _ Ele virou-se rapidamente e deu de cara com os lindos olhos verdes de sua pequena.

Ele tinha um complexo com aqueles olhos, mais pareciam despir sua alma.

- Oi meu anjo.. _ Louise lhe sorriu e apoiou a mão no ombro de Samuel que segurou gentilmente a mão da esposa.

Era algo bem rotineiro, eles passavam o dia jogando farpas um no outro e na frente da pequena fingiam se amar mais do que cães amam seus donos. Anastasia apertou seu ursinho remendado e subiu as escadas, entrando em seu quarto e jogando-se na cama depois de bater a porta.

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Fazer novas amizades também era uma missão quase impossível, levando em consideração seu interesse por assuntos completamente estranhos para alguém de agora 13 anos.

- Vai.. Fala alguma coisa.. _ Melissa, sua 'melhor amiga'(ou algo parecido), tentava a todo custo faze-la dizer mais do que monossílabos.

- ... _ Ela segurou os volumosos cabelos ruivos(culpava a puberdade por eles), prendendo-os em um coque alto _ Bem.. Vocês.. Sabiam que existe um parasita chamado Nematomorfo? Ele.. Transforma grilos em zumbis.. Levando-os a morte..

- ... _ Melissa bateu em sua própria testa e respirou fundo _ Nem sei porque ainda tento.

- Ah.. Okay, eu acho que.. Minha mãe me chamou _ Lucas, um dos amigos de Melissa, sorriu torto e levantou-se.

- A minha-

- Não, a minha me chamou _ Anastasia levantou-se e enfiou as mãos nos bolsos do casaco de lã feito por sua avó paterna, ela sempre tentava se redimir pela traição de seu pai _ Podem ficar a vontade.

Ela virou-se e voltou pra casa, sendo seguida pelos olhares crueis da "turma".

- ... _ Melissa alisou seu próprio braço e mordeu o lábio, entendia a dificuldade da amiga e mesmo que tentasse.. Anastasia não queria ser ajudada.

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A vida amorosa, quase inexistente, era outro motivo de sua eterna frustração, tinha o privilégio de ser virgem aos 16 anos, coisa que as garotas de sua idade não eram, não se lamentava tanto, gostava de ser 'diferente'.

- Melissa, eu não me sinto confortável aqui! _ Ana tentava chamar a atenção da 'amiga', que estava muito envolvida na música alta da balada, pela décima vez.

- QUÊ? EU NÃO CONSIGO TE OUVIR! _  A voz da morena era abafada por aquele som estridente que chamavam de música, não tinham classe?

- Deixa.. _ A ruiva virou-se e tentou passar por entre as pessoas daquela multidão, esbarrou em muitas no caminho mas finalmente chegou ao banheiro onde se sentia mais confortável _ Que lugar mais.. Desagradável.

Ela olhou-se no espelho do banheiro e ajeitou a franja que vez ou outra se rebelava. Ana encostou-se na pia e pegou o celular, enviando uma mensagem de despedida para Melissa, sairia daquele lugar o mais rápido possível.

- Ah.. _ Ela ergueu o olhar, reconhecendo aquela voz _ Isso.. Falaram a verdade hein.. Boquinha de veludo.

Anastasia se aproximou da porta de um dos banheiros e a empurrou lentamente.

- Ah! _ O rapaz de curtos cabelos castanhos a olhou, estupefato _ Ana?

Ela mordeu o lábio e desviou o olhar, rindo baixo, costumava fazer isso quando estava nervosa.

- Claro.. Não podia faltar..

- Não é o que parece! _ Ele puxou a box e a calça, fechando-a rapidamente.

- Não? _ Ana arqueou a sobrancelha.

- Tá.. É o que parece, mas eu posso explicar.

- Por favor _ Ela cruzou os braços.

- Ela.. Ela me embebedou! _ A garota de cabelos platinados franziu o cenho diante da mentira do rapaz e desferiu um tapa em sua face, ajeitando a roupa e saindo do banheiro, tentando equilibrar-se nos saltos de 15 cm.

- Entendi.. _ Anastasia estalou os lábios e pegou a bolsinha, colocando-a no ombro _ Bem, aqui.

Ela tirou do dedo anelar direito a aliança de inox e entregou a ele.

- Se correr consegue alcança-la _ Ana virou-se e saiu do banheiro, passou pelas pessoas e finalmente saiu da balada sem se importar se realmente havia enviado a mensagem para Melissa, teria de responder no dia seguinte de qualquer jeito.

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E agora aqui estou eu, rodeada de pessoas que muito provavelmente nem me conhecem, e que vieram pelos comes e bebes.

- Gente _ Melissa levantou-se e segurou o copo de guaraná com o dedo mindinho levantado, ela tentava parecer chique já que a festa não era _ Vamos erguer um brinde à viagem da Ana, ela vai conhecer pessoas novas e vai ter um recomeço maravilhoso.

Ver todas essas pessoas 'comemorando' algo que sequer sabem sabem a respeito ou simplesmente felizes por minha partida deveria doer, eu deveria me sentir incomodada.. Mas não me sinto.

- à Ana! _ Eles ergueram seus copos de refrigerante e sorriram junto de Melissa.

Era estranho, eu realmente queria estar triste, mas eu não considero nenhum deles como pessoas importantes pra mim, nem mesmo na escola.. Eu sempre tive que me virar mas.. A Melissa sempre foi popular, me sinto mal por ter estragado 9 anos da vida dela.. Ou deveria me sentir.

- Vamos sentir sua falta, Anastasia Hamish Clark _ Ela me encarou e sorriu, não senti firmeza em suas palavras, mas assenti, foi o suficiente, bem como previ.

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- Vamos sentir sua falta.. _ Minha mãe me abraçou fortemente e chorou em meu ombro.

- Vou chegar ensopada em Hagerstown _ Eu a apertei levemente, acariciando seus cabelos.

- Claro, me desculpe _ Ela se afastou e assoou no lencinho cor de rosa que sempre carregava _ Vai com cuidado.

- Eu vou _ Tentei sorrir para acalma-la mas realmente não é o meu forte.

- Ana! _ Meu pai atravessou a rua e veio correndo me abraçar _ Não achou que pudesse ir sem se despedir, achou?

- Ah.. Achei _ O ouvi rir com a minha afirmação, meu pai tem um senso de humor estranho.

- Vá com cuidado..

- Vocês têm certeza de que não estão juntos? _ Me afastei brevemente, olhando-os.

- Ah.. _ Eles entreolharam-se e negaram.

- Certo.. Vou indo _ Entrei na caminhonete e fechei a porta, dando a partida.

- tchau minha querida.. _ Minha mãe acenou e meu pai ficou ali, me esperando sumir na estrada.

...

Era uma nova vida, um novo começo e ela não negava, estava ansiosa.

- Bem.. Aqui estamos.. _ Anastasia encarou seu ursinho remendado que estava no banco do passageiro e muito bem protegido pelo cinto de segurança _ Vamos então..

Ela desceu da caminhonete e apertou o ursinho contra o peito, encarando a casa assustadoramente bonita, apesar da idade.

- Bem vinda, Anastasia.. _ Ela sussurrou para si.

- X -

- .... É, bem vinda _ A garota sorriu, fechando a cortina e voltando para o sotão.

Continua..