'- Oito, nove, dez! Lá vou eu! _ A garotinha de cabelos longos e ruivos descobriu os olhos e olhou ao redor, ouvindo risinhos _ te achei, Olga!!
- Eu já falei, Ana.. Não posso brincar agora _ A mais velha andava de um lado a outro, lendo cartas e mais cartas.
- Tati? _ Ela encarou a irmã de cabelos acobreados presos pomposamente em um penteado adornado com pérolas e ouro.
- Ana, eu já disse mil vezes que estou ocupada _ Ela abanou-se com o leque enfeitado e encarou o rapaz alto de uniforme verde.
- Vem _ Maria, sua irmã 'do meio', segurou sua mão e a levou até o quarto, a sentou em frente ao espelho e desembaraçou seus cabelos com a escova macia.
- Eu não entendo.. Elas adoravam brincar quando eram mais novas..
- Sim, Ana, mas agora são mulheres crescidas e têm afazeres, assim como nós duas.. Veja só, você vai fazer 17 e ainda age como uma garotinha _ Maria sorriu brevemente e afastou a franja da irmã, olhando-a _ Veja bem.. Você é linda e pode conseguir um bom casamento, pode orgulhar nossos pais.
- Eu não quero me casar _ Anastásia fez uma expressão de desgosto e segurou sua coroa que ficava ao lado das presilhas brilhantes _ O que nós somos?
- O que quer dizer? _ Maria trançou os longos cabelos da ruiva e misturou ramos e flores, dando a ela um charme campestre.
- Nosso pai é o Czar, nossa mãe é uma princesa.. Ou algo assim, e nós somos o que?
- Bem.. Não se preocupe com isso _ Maria ergueu brevemente o queixo da irmã e lhe sorriu _ Vem, vamos brincar.'
Anastasia abriu os olhos lentamente, sua visão estava dobrada e aos poucos voltava ao normal, ela os esfregou e levantou-se, indo até a cozinha.
- ... _ Ela abriu o armário e pegou o pote de café, encheu a leiteira com água e colocou no fogão, acendendo o fogo.
>>
Ana bebericou o café, sentindo sua caneca aquecer-lhe os dedos, e encarou a pintura, recostando-se na poltrona velha que havia encontrado ali no sotão, acabou por limpa-la com um pano úmido e cobrir com seu cobertor mais antigo.
- Eu preciso de um emprego.. Preciso muito.. _ Ela sentiu o celular tremer em seu bolso e o pegou, olhando o visor antes de atender e levar à orelha _ Alô?
- Anastasia? _ A voz era muito familiar e ela sabia exatamente quem era.
- Ta legal.. Como conseguiu o meu número?!?_ Ana franziu o cenho, perplexa.
- Ah.. Melhor eu não dizer _ Apollo apoiou o celular no ombro e reabasteceu as prateleiras da seção de doces.
- Desembucha _ Ela bebeu mais um pouco do café e voltou a olhar a pintura.
- Peguei no seu celular quando você foi na cozinha.
- Meu celular tem uma senha!
- Que eu descobri em menos de dois segundos _ Ele encostou-se na parede e segurou o aparelho com a mão.
- .... Você é doente..
- Já me chamaram de coisas piores _ Ele deu de ombros.
- Okay, eu tenho que desligar_ Ana levantou-se e desceu as escadas sem qualquer pressa, empurrando-a para o teto e pegando seu amado casaco.
- Vai sair? _ Apollo correu até a janela e a viu abrir a porta e colocar o casaco preto de lã.
- Tchau, Apollo _ Ela desligou e enfiou o celular no bolso, indo até a delegacia.
>>
- Anastasia?_ O delegado arqueou a sobrancelha e encarou a ficha _ A nova moradora da 1918?
- É, ela está esperando na sua sala, pediu sigilo absoluto.
- Sigilo? Pra quê? Ratazanas nos banheiros da casa? _ Ele sorriu zombeteiro e pegou a ficha, indo até sua sala e encontrando a ruiva sentada na cadeira de 'clientes' _ Então.. Precisa de um motivo realmente muito grande pra me tirar do serviço.
- Tenho sim _ Ela tamborilou a mesa com os dedos e mordeu o lábio, vendo-o sentar-se na cadeira sem qualquer pressa.
- Bom, vejo que é sobre a casa e.. Só?
- Eu não posso dizer nada a eles.
O delegado franziu o cenho e aproximou-se.
- É secreto?
- Não, é só maluco mesmo _ Ana deu de ombros e tirou o celular do bolso, mostrando a ele a foto da pintura.
- Uma pintura? _ Ele arqueou a sobrancelha e segurou o celular.
- O senhor sabe que eu vim de Smithsburg, não sabe?
- Sei, o que tem? _ Ele analisava a semelhança entre a pintura e Anastasia _ Quanto o pintor cobrou?
- Eu não sei, deveria perguntar para a primeira dona da casa.. Encontrei a pintura no sotão quando cheguei.
- Espera mesmo que eu acredite que há uma pintura de você no sotão da sua casa e que não foi você quem trouxe? _ Ele arqueou a sobrancelha.
- Eu disse que parece loucura, mas sim, estou.
- Okay _ O delegado deixou a ficha dela na mesa _ Vai pra casa, espero que não te ver aqui sem um motivo novamente.
- espera, quê? _ Ana franziu o cenho, levantando-se e apoiando as mãos na mesa _ Eu to falando a verdade!
- Escuta, garotinha _ Ele levantou-se e a olhou, sério _ Você não é a primeira que vem aqui falando de uma pintura idêntica a você.
- E isso não quer dizer alguma coisa? _ Ela arqueou a sobrancelha.
- Claro que sim, quer dizer que você é só mais uma garota nova na cidade que decide pregar uma peça nas pessoas daqui pra se enturmar, agora vá pra casa! _ Ele apontou para a porta.
Anastasia cerrou brevemente os punhos e girou os calcanhares, se aproximando da porta.
- Espere.
Ela virou-se e o delegado ergueu o celular da ruiva, jogando-o para ela que o pegou no ar.
- Agora pode ir _ Ele se sentou e massageou as têmporas, ouvindo-a sair e fechar a porta.
>>>
- Ele praticamente me chamou de criança _ Ana andava de um lado a outro na sala, tinha a companhia de sua amada caneca, seu ursinho e Apollo que também bebia um pouco de café, só que em uma caneca branca.
- Uhum.. _ O moreno tamborilou os dedos na caneca morna e vez ou outra desviava o olhar da ruiva para o ursinho de pelúcia _ Ele tem mesmo que ficar aqui?
- O quê?
- Não, nada _ Ele coçou a nuca, sorrindo amarelo.
- Eu sei o que eu vi, sei exatamente o que eu vi, não estou tentando me enturmar!
- Ta, e o que exatamente você viu?
- Eu prefiro não falar, ou vai me achar louca e isso com certeza vai ser irônico vindo de você _ Ela sentou-se e colocou o ursinho em suas pernas.
- Se eu sou tão louco como diz, não acha que posso te entender? _ Apollo assoprou o café antes de beber um pequeno gole, esquadrinhando a sala com os olhos _ 'que bagunça..'
- Não estou pronta pra acreditar que alguém pode me entender ainda, mas é.. Talvez tenha razão, mais cedo ou mais tarde eu vou dizer _ Ana notou a forma nervosa como o moreno batia o pé direito e ajeitava-se no sofá de couro _ Está desconfortável?
- hm? Não, não é isso _ Ele afastou a manga da jaqueta jeans e encarou o relógio _ Olha a hora, está bem tarde, melhor eu ir.
- Apollo, são 17:00 _ Ela arqueou a sobrancelha, apertando a asa da caneca entre os dedos.
- Algumas pessoas têm empregos noturnos, sabia? _ Ele deixou a caneca na mesinha _ Bom, obrigado pelo café, tchau.
O moreno abriu a porta e saiu, fechando-a atrás de si. Apollo a confundia de uma forma que ela nunca havia visto, em um momento ele se mostrava completamente interessado nela e no outro, poderia ignora-la até se estivesse na frente dele, além disso, ela sentiu-se brevemente ofendida por ainda não ter um emprego.
- Então ta.. _ Anastasia deixou o ursinho no sofá e pegou a caneca vazia que Apollo deixou na mesinha, a lavou junto da sua, também vazia, e as secou, guardando-as no armário, mas se deteve ao fecha-lo _ Hm..
Ela segurou a caneca branca e pegou uma caneta permanente na cor violeta como os olhos do moreno, escrevendo o nome dele ao longo da caneca, esperou secar e lavou, guardando-a e enfim fechando o armário. Alguma coisa dizia a ela que Apollo a visitaria frequentemente.
- Bom, vamos dormir então _ Ana pegou seu ursinho e entrou no quarto, encostando a porta e deitando-se em meio ao ninho que havia feito em sua cama, enrolou-se nas cobertas e abraçou seu amiguinho remendado, adormecendo.
>>
' - Vamos!! _ Nicolau abriu a porta dos fundos do palácio, guiando as moças e o pequeno Alexei para uma espécie de quarto do pânico.
As moças entraram apressadas e logo Alexei entrou com o Czar, trancando a porta. Ele afastou-se a puxou as moças, abraçando-as.
- Pai.. Estou com medo.. _ Maria encolheu-se, apertando Anastásia em seus braços.
- Está tudo bem.. Vamos ficar bem.. _ Nicolau beijou a testa de sua terceira filha e todos assustaram-se com os chutes na porta.
Alexandra, a mãe das moças e esposa de Nicolau, encarou a porta e sentiu o espartilho lhe esmagar as costelas, fazendo o ar faltar.
- Vamos morrer.. _ Ela abanou-se com o leque e desvencilhou-se dos braços do marido.
- Alexandra _ Ele segurou a cintura da esposa _ Acalme-se.
- Me acalmar? Esses.. Esses cães estão batendo em nossa porta e não é no bom sentido!
Olga abraçou as irmãs mais novas e Alexei sentou-se em uma das camas, tremia tanto que mal conseguia manter-se de pé. Outro chute forte os assustou e logo outros se seguiram, a porta começava a ceder.
- Eu te amo.. _ Nicolau beijou os dedos de sua esposa e roubou dela um selinho. Abraçou suas filhas e seu filho, beijando o topo da cabeça de cada um deles _ Amo todos vocês..
A porta enfim cedeu e os soldados entraram, estavam muito bem armados. Anastásia e Alexei foram escondidos atrás de Nicolau, Alexandra e as três grã-duquesas mais velhas.
- Ana.. _ O garotinho de treze anos a abraçou com força e fechou os olhos, mas a ruiva viu absolutamente tudo.
Os viu atirar contra seu pai, sua mãe e suas três irmãs. Ela mantinha os olhos arregalados e a expressão assustada não abandonava seu rosto.
- Peguem o garoto _ O soldado de chapéu maior ordenou e dois homens arrancaram Alexei dos braços de Anastásia.
- Sobrou uma _ Um dos soldados ergueu o queixo da garota com o cano da arma.
O homem de chapéu maior a olhou por um momento.
- Tragam-na conosco.
O soldado sorriu ladino e aproximou-se, estendendo a mão. Anastásia cobriu o rosto com os braços e gritou desesperadamente'
- AHH!! _ Ana sentou-se rapidamente na cama e tocou seu pescoço, a sede arranhava sua garganta e aqueles olhos crueis não saíam de sua cabeça _ Tudo bem.. Foi só.. Um pesadelo..
Continua..
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.