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História Wolves And Vampires; - Depois da tempestade, o sol não brilhou


Escrita por: ChaeKy e BrokeenArabella

Capítulo 16 - Depois da tempestade, o sol não brilhou


Fanfic / Fanfiction Wolves And Vampires; - Depois da tempestade, o sol não brilhou

↫↫↫✽ † ✽↬↬↬

O poder percorria o sangue e a cada batida do coração, mais e mais forte, Hyungwon se sentia. 

 Ainda não acreditava que depois de anos se sentindo culpado por ser o errado de sua família e matilha, enfim seu lobo resolveu dar às caras. 

 Obviamente, a situação não havia sido a melhor de todas, mas não importava, Hyungwon era um lobo agora. 

 Pelo olhar que recebia dos presentes, sentia mais orgulho. Via o medo e estupefação com que o olhavam; sabia que deveria ser um lobo como o pai, afinal a genética dos Chaes sempre proporcionava líderes lupinos dos melhores.

 Gostaria de ver aquele olhar no rosto do mais velho, também.

 Saber que todos aqueles dias, meses e anos havia sido tratado com pouco carinho pelo patriarca por ser um simples humano e agora, estava no mesmo nível que ele. Era um lobo. Sempre havia sido.

 “Hyungwon… como?”, ouvia a voz de Kihyun, assustada e preocupada, dentro de sua mente.

 Se Hyungwon estivesse em sua forma humana, daria de ombros. Ele não tinha respostas para aquilo. Destino talvez?

 “Não faço ideia”, respondeu.

 Os vampiros estavam alheios aquela conversa mental, mas pelo olhar dos dois lobos estarem grudados, sabiam que havia comunicação ali. 

 Changkyun, era mais velho do que Minhyuk, de forma que seu susto passava pouco a pouco. Já havia convivido com lobisomens em seu passado e mesmo que contrariando ao que todas as histórias dizem, não sentia ódio pela outra espécie. Nem medo. 

 Se aproximou, chamando atenção dos dois lobos e olhou na direção do animal maior.

 — Continua bonito até em forma de cachorro. — Disse, quebrando o gelo.

 Hyungwon revirou os olhos. Mas não sentia vontade de arrancar o pescoço dos vampiros ou algo assim. Talvez o ódio não fizesse parte do instinto natural e sim, da rivalidade criada a partir das próprias espécies e as mentiras que as cercavam.

 Changkyun sorriu ironicamente, com sua sempre diversão.

Já Minhyuk continuava paralisado em seu canto. Nunca havia imaginado Hyungwon como alguém… sobrenatural. Talvez, a ideia de o ter como um simples humano fosse mais fácil de aceitar, não por Minhyuk acreditar que sua amizade com Hyungwon seria danificada por conta disso, de forma alguma. Porém… como ficaria o relacionamento com Wonho? Se é que eles ainda tivessem algo, afinal, o passado que há poucos dias havia importunado Minhyuk e Hyunwoo, também havia aparecido para Shin.

 Kihyun voltou a sua forma humana, não se importando de ficar nu na frente de todos. Aquilo já era comum para si.

 Changkyun o devorou com os olhos e seu sorriso se transformou para um de malícia, no mesmo tom, falou:

 — Se eu e Jooheon pensarmos em poligamia, talvez te chamaremos para a diversão. 

 Hyungwon fez uma espécie de careta – ou o que sua situação atual permitia – ao imaginar a cena dos três… eca.

 — Foi mal, já sou comprometido. — Kihyun falou orgulhoso.

 Hyungwon se sentiu na obrigação de sair de sua forma lupina, mesmo que nunca houvesse feito aquilo antes e nem soubesse como era, voltou a ser humano. Seu corpo estava um pouco dolorido, mas se sentia renovado.

 — Como é? — A voz estava rouca pelo tanto de tempo que não havia sido usada.

 Se sentia estranho. Passara pouco tempo na pele de um lobo e mesmo que tivesse passado dezoito anos como um mero humano, já ansiava em se transformar novamente e libertar a fera que guardava dentro de si.

 Hyungwon corou, enfim percebendo que estava nu. Tampou sua intimidade. Apesar de Kihyun já o ter visto nu, era muito diferente ter um Minhyuk e Changkyun o encarando de cima a baixo.

 — Você sempre foi assim ou melhorou ao se tornar um lobão? — Changkyun não perdia uma única oportunidade de atazanar as pessoas.

 Minhyuk que até então estava em silêncio, o olhou feio e tirando o casaco que usava, o ofereceu para Chae. Sabia como transformações poderiam ser complicadas e mesmo que não entendesse com propriedade sobre lobisomens e suas metamorfoses, não poderia virar às costas para o amigo.

 — Você está bem? — Questionou em um tom baixo, mesmo sabendo que os outros poderiam escutar com seus aguçados sentidos.

 Pela forma como Hyungwon sorriu triste e à maneira como seus olhos estavam inchados, a resposta era mais do que óbvia.

 Minhyuk sentiu vontade de o abraçar, mas se controlou; tinham plateia e a julgar pela forma como Hyungwon mantinha a postura ereta – construindo barreiras para sua dor, usando o orgulho recente da transformação –, soube que não era a melhor hora para falar sobre Charlotte e sua presença diabólica.

  — Wonnie, precisamos ir… — Kihyun começou, com uma maior seriedade. — A esta altura, todos os lobos e criaturas sobrenaturais já sentiram sua presença. Temos que avisar seu pai. 

 Hyungwon respirou fundo para acalmar suas emoções. Inevitavelmente, um pensamento veio a sua mente: Hoseok teria sentido sua presença como lobo também? 

 “Se controle, Hyungwon!”, seu subconsciente gritou.

 — Você tem razão. — Foi a única coisa que falou, se aconchegando no casaco de Minhyuk.

 Por mais que o cheiro dos vampiros fosse doce demais para seu gosto, ainda era reconfortante sentir que Lee tinha carinho por si e sentir seu aroma próximo, poderia passar à sensação de um abraço apertado.

 Passaram a seguir uma trilha até o casarão. Um silêncio se perdurou o caminho todo e Hyungwon foi deixado com seus pensamentos.

 Sentia todos os cheiros da floresta. Sua visão continuava aguçada. Sua audição continuava ótima. Contudo, nem todos os poderes ganhos o davam à capacidade de curar um coração partido e uma ilusão amorosa.

 Deploravelmente clichê, como em livros e filmes de adolescentes, porém, Hyungwon havia achado que não passaria por aquilo. O primeiro motivo para tal, foi por sempre ser tão cuidadoso com relacionamentos e em segundo… quem diria que seres sobrenaturais também poderiam iludir da mesma forma que humanos? 

 Mesmo que o casaco não o cobrisse por inteiro e que o ar estivesse frio pela chuva com um fraco vento ainda balançando as copas e fazendo as folhas voarem, o lobo não sentia sua pele e corpo mudarem pela temperatura. Mais um atributo a sua mudança.

 Kihyun e Hyungwon começaram a caminhar em direção ao carro. Mas, Minhyuk segurou o maior com suavidade pelo braço. Hyungwon o olhou com o cenho franzido.

 — O que irá fazer agora? — Minhyuk perguntou.

 Changkyun que continuava na porta da casa, se mantinha atento à espera da decisão de Chae.

 — Não tem o que eu fazer, Minnie. — Disse por fim, com a voz em uma frieza nada típica do gentil Hyungwon. — Acabou.

 Lee poderia contar sua história, explicar para o amigo o que o elo com o criador resultava na vida de um vampiro, o que aquilo significava para a espécie, mas… não estava em suas mãos lutar pelo relacionamento alheio; ele não poderia se meter dessa forma na vida das pessoas. Tinha o dever de as respeitar.

 — Se precisar de algo… me chame. Nos chame. — Disse, em uma despedida rápida e indo para o lado do outro vampiro.

 Hyungwon lançou um último olhar de agradecimento aos vampiros e entrou no lado do caroneiro. Afundou no banco confortável de seu jeep, ansiando em tomar um banho relaxante e esquecer das dores daquele dia.

 — O que houve? — Yoo inquiriu, se afastando da casa dos vampiros e seguindo na direção da rodovia, aumentando a velocidade ao pisar no acelerador. 

 Hyungwon bufou. Estava demorando para o outro lobo perguntar, Chae apostava que a língua dele já estava crescendo dentro da boca para questionar. Contudo, eram como irmãos e se havia alguém para quem devesse contar aquilo, era para Kihyun.

 — Eu e o Wonho estávamos… tendo algo. — "Algo" era a melhor maneira de resumir o que tiveram. — Peguei ele pelado na cama junto de uma outra vampira. — As palavras saíram amargas da boca e o coração murchou um pouco mais ao falar em voz alta.

 Kihyun arregalou os olhos e lhe encarou com surpresa e uma preocupação a mais. 

 — Puta que pariu! — Exclamou.

 Hyungwon riu com amargura de sua situação. Recostou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos, disposto a mudar de assunto, foi sua vez de fazer perguntas:

 — E então, qual é essa de você estar comprometido? 

 — Ah, isso… — Corou e mordeu os lábios com vergonha. Em um momento como aquele do amigo e ele iria contar suas aventuras amorosas? Não parecia certo. — Deixa pra lá.

 — Yoo Kihyun, não ouse ter pena de mim! — Hyungwon abriu os olhos e o encarou com raiva. Sempre haviam tido pena dele por ser um humano frágil no meio de lobos e agora, não queria mais ter a pena de ninguém… sabia que sua atual situação era medíocre, mas não admitiria ganhar olhares penosos dos outros. Não mesmo.

 — Desculpa… — Kihyun murmurou com ainda mais vergonha. — Antes de vir buscar seu carro, eu e ele… Yoongi foi até minha casa e nós…

 — Foderam?! — Ficou ereto no banco, olhando para o amigo com expressões de pura malícia.

 — Hyungwon! — As bochechas do pequeno lobo ardiam e ele queria esconder o rosto em algum buraco. Evitou olhar o amigo para não se constranger mais e continuou com o foco na estrada. 

 — Como ele é na cama? — Provocou. 

 — Cala boca! — Balbuciou entredentes. Ninguém merecia passar por aquilo.

 Hyungwon sorriu, verdadeiro dessa vez. Apesar de toda a merda que havia acontecido consigo, era impossível deixar de ficar feliz por seu grande amigo.

 Kihyun merecia ser feliz e Hyungwon adorava o ver sorrindo bobo ao falar de maneira apaixonado de Yoongi…

 O que entristecia Chae, era saber que Wonho não era como Yoongi. Por mais que fosse apaixonado por Shin da forma como ele era, gostaria que ele fosse como Min e se importasse consigo ao ponto de não brincar com seus sentimentos e que fosse sincero como o outro.


Assim que o jeep estacionou na garagem, Hyungwon já viu o pai se aproximar a passos largos do veículo. 

 Engoliu em seco. Que os deuses o ajudassem a enfrentar aquela situação. Sabia que viria muitas perguntas e muitas respostas teriam que ser improvisadas.

 — Sr. Chae, boa noite. — Kihyun cumprimentou com educação ao seu líder.

 Hyungwon esperava de todo o coração que o amigo adiasse aquele momento para si, mas Yoo só o lançou um olhar encorajador.

 O senhor Chae não precisava de explicações. Bastava olhar para o filho e ele entendia em qual situação se encontrava, ou pelo menos, parte da situação. A mágoa de um coração partido não parecia atingir seu radar de caçador.

 Hyungwon se surpreendeu ao sentir um braço do pai ao redor de seus ombros, o dando um meio abraço e o levando para dentro de casa.

 Olhou para trás, se despedindo rápido do amigo e ganhando um “boa sorte” sem som dos lábios dele.

 O pai o fez sentar no sofá da sala e se pôs logo ao lado.

 — Como você está? — Na pergunta não havia só a voz de um líder, havia um quê de preocupação paternal também.

 Hyungwon sentiu vontade de gritar. O pai havia passado dezoito anos o tratando com indiferença e agora, só porque havia, enfim, atingido as expectativas dele, era tratado como um filho deveria desde do príncipio? Era ridículo.

 — Bem. — Mentiu como já fizera tantas outras vezes naqueles dias. 

 Esperava que sua mentira se tornasse mais real em algum momento. Não estava bem agora, mas se continuasse mentindo que estava… talvez, logo poderia afirmar com toda certeza um: eu estou bem para caralho.

 Mas Hyungwon sabia que a vida não funcionava daquela forma. Ele estava mau. Ainda existia lágrimas para chorar.

 — Onde e como? Alguém viu? — O lado de líder se sobressaia, pouco a pouco, a preocupação de pai.

 O Chae mais novo controlou sua vontade de rir com escárnio. Pais não deveriam amar os filhos? Se preocupar de verdade com eles? Onde estava a porra do amor dele?

 — Na floresta, eu saí para caminhar e começou aquela chuva. Acho que fiquei com medo dela… — Deu de ombros, dando a desculpa mais estúpida que conseguia pensar no meio daquela onda de sentimentos que enchiam cada parte do seu ser. — Ninguém viu, só Kihyun que estava por perto… 

 O olhar analítico do mais velho era fácil de entender. Ele não acreditava na história do filho, mas se havia algo que era muito respeitado, era a primeira transformação de um lobo, por isso não fez mais perguntas. Nem mesmo para saber se o filho estava realmente bem; se havia conseguido suportar bem a dor, enquanto passava por aquele momento importante sem ninguém junto a si; se ainda sentia dores em seu recente corpo transmorfo.

 — Amanhã conversaremos sobre sua iniciação. Vá tomar um banho, relaxar e dormir. — Disse por fim, se levantando.

 Hyungwon sentiu uma nova onda de choro se aproximando. Esperava que ao se tornar aquilo que o pai sempre quis que fosse, recebesse um pouquinho mais de… atenção.

 Nada. Ele continuaria a não receber nada. Parecia um incômodo na vida do homem e por mais que não soubesse os motivos, estava cansado de tentar entender. Cansado de querer receber algum sorriso sincero; algum abraço tranquilizante nos dias melancólicos. Estava cansado de esperar por amor.

 Hyungwon, se dava conta de algo no meio de sua confusão; ele deveria parar de esperar por receber amor dos outros e, começar a se amar. Viver pensando mais em si e deixar de lado as preocupações com os pensamentos alheios.

 

 Fez aquilo que o pai havia dito.

 Tomou um longo banho gelado para diminuir o estresse. Evitou ao máximo pensar, mas sem controlar, assim como aconteceu na chuva, lágrimas se misturavam as gotas da água.

 Ficou parado em frente ao espelho, vendo a enxurrada salgada deslizar por seus olhos até suas bochechas e pingar pelo queixo. Mesmo com a visão embaçada, comandou que seus olhos se transformassem e assim aconteceu.

 Não via orbes carmins como dos últimos reflexos de quando aquilo havia acontecido. Daquela vez, olhos em uma dualidade de azul escuro e vermelho o encaravam.

 Segurou a respiração. Nunca havia visto aquilo e duvidava que fosse normal.

 “Ótimo, mais uma coisa para me preocupar”, pensou mentalmente. Mesmo que fosse lindo, era outro fator que o tiraria o sono.

 Se jogou na cama, e mesmo que a dor no peito beirasse ao agoniante, o cansaço foi maior e Hyungwon se perdeu no mundo de hipnos…





Shin se sentia patético. 

 Havia sentindo a presença de Hyungwon. Havia sentindo seu cheiro. Havia ouvido seu coração batendo. 

 Mas nada daquilo que amava, o fizeram conseguir sair daquela feitiçaria da porcaria do elo.

 Charlotte o tinha nas mãos e aproveitava e abusava daquilo. Era um demônio que possuía belo rosto para enganar com facilidade.

 Havia sido assim quando Shin era humano. Ingênuo, havia se deixado ser enganado por ela e agora, viveria a eternidade preso ao diabo.

 — Seokkie… — A voz chamou.

 Shin a encarou com o estômago embrulhando.

 — Não seja rude comigo, vamos, sorria. — Ela própria sorriu com suas palavras e assim que Hoseok a obedeceu, seu sorriso se tornou maior.

 Hoseok não conseguia controlar suas ações. Estava consciente, mas mesmo que tentasse resistir, seu corpo parecia ganhar vida própria e ele obedecia como um cachorrinho.

 A mulher grudou seus lábios no do vampiro e um beijo cheio de intensidade começou. Ela entrelaçou sua língua na do outro, o fez deitar no meio dos lençóis luxuosos e subiu em cima dele, para rebolar em seu colo e fazer o que quisesse com ele.

 Shin não sentia nada com o beijo. Mas seu corpo reagia e ficava excitado mesmo lutando contra.

Charlotte nunca seria Hyungwon. Nunca a amaria, não mais. Mesmo que ela possuísse poder sobre suas ações, ela não poderia mudar seus sentimentos… jamais.


 Quando um novo dia chegou, Hyungwon esperava que ao acordar, tudo não passasse de um sonho. Estava enganado.

 Enquanto se sentia feliz e completo pela transformação, a felicidade não o atingia em cheio. Era impossível com a dor que ainda murchava seu coração e o fazia se sentir um tolo por ter permitido aquela ilusão.

 Esmaeceu e se jogou na cama novamente. Daquela vez, não havia mais lágrimas para chorar, mas a dor constante na cabeça e no peito, que o sufocavam, o fazia querer ficar ali, se possível, para sempre.

 Uma batida na porta o fez voltar a abrir um olho. Bufou.

 — Sério? Não posso ter paz? 

 — Hyungwon, caro amigo, temos escola e creio que você saiba que a vida continua, não é por causa de um… — Olhou para os lados, temendo a aproximação de outro lobo que escutasse as próximas palavras. — Um sanguessuga que você vai ficar assim.

 Hyungwon sabia que Yoo tinha razão. Não iria o esquecer do dia pra noite, mas… pequenos passos já ajudariam para cair no esquecimento.

 — E se ele estiver lá? — Se sentou com um bico nos lábios.

 Kihyun o olhou com carinho e sorriu da mesma forma:

 — Aí você dá um soco nele. — Disse maldosamente. — É brincadeira, só o ignore.

 Chae preferia a primeira opção, a tal da brincadeirinha. A segunda parecia impossível… nunca havia conseguido ignorar Hoseok, mesmo antes de começarem a ter aquilo que tiveram. 

 Shin Hoseok não é alguém que você possa ignorar fácil.

 — Se você diz, guru de relacionamentos. — Ironizou, se levantando e se sentindo muito mais desperto do que nos outros dias. Ser lobo também eliminava sua preguiça e sonolência?

 — É impressão minha ou sua bunda ficou maior? — Kihyun tocou e fingiu pensar. 

 — Você se daria muito bem com Changkyun. — Fez careta e deu um tapa na mão atrevida do amigo.

 Foi a vez de Kihyun fazer careta.

 — Não confio neles. — Decretou sua opinião.

 Que direito teria para o rebater? O próprio Hyungwon já voltava a ter um pé atrás em relação a vampiros. Sabia que Minhyuk e Changkyun não eram traíras, sempre haviam se mostrado amigáveis, mas… Hoseok também tinha sido daquela forma e olha só o que havia acontecido.

 — Se mantenha atento a eles. Só peço isso. — Kihyun terminou.

 O olhou nos olhos, não podendo falar nada mais. Kihyun era seu irmão, o melhor amigo e por todos aqueles anos, havia lhe ajudado de mil formas diferentes. Ele levava a sério seus conselhos e iria o seguir. 

 — Tudo bem. — Murmurou baixo.

 Kihyun pareceu satisfeito.

 — Agora vai tomar banho! 

 O momento de fofura acabou e Hyungwon o mostrou o dedo (do meio). 




Hyungwon estacionou o carro e respirou fundo. Seu pai tinha dito que não haveria perigo de se transformar ali, no meio de todos e de qualquer forma, Kihyun havia assegurado que estaria de seu lado, assim como outros vários da matilha. Mas ainda havia muitas preocupações…

 Desceu do carro, sentindo olhares em si. Aparentemente, a transformação havia despertado algo que fazia todos ficarem hipnotizados.

 — Por que estão olhando? — Balbuciou, mas continuou andando com o queixo erguido.

 — A transformação… ela deixa os humanos mais tentados pelo sobrenatural, sem se darem conta. — Explicou rápido e baixo.

  Chae se controlou para não olhar na direção do clã dos vampiros, mesmo que sentisse os olhos daquele por quem nutria tantos sentimentos. Sentia o cheiro dele… e aquilo era tentador. 

 Se manteve firme. O novo poder que corria em suas veias o deixava mais forte; mais controlado a resistir as suas emoções.

 Além de sentir os olhares dos sangues frios em si, Hyungwon também sentia os dos companheiros de matilha.

 Todos sorriam para o novo lobo. Eram companheiros e agora, também morreriam por Hyungwon.

 Hyungwon não sabia até que ponto ele conseguia fazer jus a matilha. Até que ponto ele se entregaria de corpo e alma como os outros faziam…

 — Bom dia Hyungwon. Que a lua esteja junto a ti. — Yoongi cumprimentou com os dizeres sagrados para lobos, logo puxando Kihyun para se sentar em seu colo e o encher de beijinhos.

 Hyungwon só maneou a cabeça e desviou os olhos do casal, não suportando tanto… romantismo. Sem poder controlar, seu olhar se fixou em Youngjae.

 Se encararam profundamente. Choi mantinha-se impassível, mas Hyungwon sabia bem o que ele estava pensando… ele estava lembrando do beijo que presenciou de Chae e o inimigo.

 Hyungwon temia que ele espalhasse aquilo para a matilha, justo quando sua iniciação se aproximava… aquilo não poderia acontecer.

 Hyungwon soube o que fazer, impulsionado por seu lobo que se provava bem temperamental e mandão, parou à frente do outro e o puxou para um canto mais afastado.

 Sabia que os vampiros, provavelmente, ouviriam aquilo. Os lobos, não eram fofoqueiros e davam espaços para seus iguais, então não se preocupava – tanto – com eles.

 — Jae… — Começou, com a voz suave e cuidadosa de alguém que quer ter uma conversa madura.

 Youngjae se recostou contra uma parede que havia ali e de braços cruzados, encarou Hyungwon da cabeça aos pés.

 — A transformação te fez ficar mais encantador, Hyungwon. — A voz rouca, como sempre acontecia quando flertava com o sorriso cafajeste que lhe era característico, apareciam.

 Hyungwon levantou uma sobrancelha e o olhou sem acreditar em sua cara de pau. Contudo, era impossível não morder os lábios… o cheiro de Youngjae parecia mais delicioso, seu calor parecia mais tentador.

 — Eu quero conversar sério com você! — Rebateu, não deixando que aquelas emoções trespassassem em seu rosto e denunciassem seus verdadeiros pensamentos. 

 Youngjae desviou o olhar e olhou além de Hyungwon, na direção dos vampiros que pareciam mais alertas do que nunca e principalmente, na direção do rosto do tal Shin. O vampiro, se possível para os de sua espécie, parecia doente… mas, ainda tinha um olhar frio em sua direção. Sorriu maldosamente para ele.

 — É sobre o vampirinho? Wonnie, não temos que falar sobre ele… — Disse, se desencostando da parede e se aproximando do corpo que possuiu por tantas noites. — Podemos falar de coisas mais interessantes.

 Hyungwon riu sem jeito, mas com uma pontada de sarcasmo. Colocou uma mão no peito de Youngjae e o impediu de se aproximar mais. 

 — Não conte a ninguém sobre aquilo… — Falou baixinho. 

 Youngjae colocou uma mão sobre a de Hyungwon e a entrelaçou na dele.

 — Não irei fazer isso, Wonnie. — Suspirou, parecendo verdadeiramente arrependido ao dizer: — Sinto muito por ter falado para seu pai.

 Hyungwon piscou surpreso. Não esperava um pedido de desculpas, ao invés disso, esperava um Youngjae bravo e cheio de ciúmes. Talvez, não fosse só Chae que tivesse amadurecendo pouco a pouco naqueles dias.

 — É claro que eu te desculpo. — Afirmou, pois acima de ex's, os dois eram amigos desde da infância; cresceram juntos; tiveram vivências e uma história juntos. — Só não faça mais algo do tipo comigo, por favor.

 — Juro que não farei, mas Wonnie… — O lobo levou uma mão a bochecha alheia e acaricou com cuidado. — Eu sei que fui um idiota, mas quero seu bem… acima do meu ciúmes, eu quero sua felicidade. E sinceramente, não confio nele… neles.

 Hyungwon conseguia entender o lado de Youngjae, mas não poderia o defender por completo. Ele havia se metido em sua vida sem qualquer permissão; ninguém poderia ter esse tipo de controle sobre outra pessoa.

 — Eu sei cuidar de mim. — Finalizou.

 Chae estava prestes a lhe dar às costas, mas Choi o segurou. O novo lobo olhou por cima do ombro, com clara confusão.

 — O beijo significou algo para você? — A voz estava cuidadosa, sabendo que pisava em terreno perigoso.

 Hyungwon sentiu o coração palpitar e a língua coçava para contar a verdade. Sim, havia significado e muito. Entretanto, a imagem de Hoseok com a mulher nua e loira veia à tona e a necessidade da mentira se fez maior:

 — Não. — A voz firme e dura como gelo. 


Para a incrível falta de sorte de Hyungwon, biologia era a primeira aula do dia.

 Chegou depois de Hoseok e mesmo que a aparência do vampiro parecesse um tanto quanto doentia, não se permitiu o encarar por mais de dois segundos.

 Sentou-se ao lado dele, com o cheiro doce o atingindo em cheio, mas o remetendo a saudade ao lugar de qualquer repulsa. O coração bateu mais rápido como resposta e por mais que o lobo não gostasse nada daquilo, até ele se acalmava ao apreciar a fragrância que enchia-lhe o pulmão.

 — Wonnie… — A conhecida voz começou. Não era imponente como das outras vezes e muito menos, carregada de teor sexual. Hoseok parecia muito mal… — Por favor, precisamos conversar.

 O ignorou. Manteve a postura ereta e nem sequer o olhou.

 — Wonnie, por favor. — O vampiro tentou mais uma vez, falando em uma clara súplica.

 Hyungwon sentiu o coração murchar no peito em uma dor que ele jamais imaginou sentir. Havia doído ver Hoseok com outra pessoa, mas doía mais o ouvir suplicar… o ignorar. Ignorar seus sentimentos.

 — Por favor… — Disse, mas o sinal bateu e suas próximas palavras morreram.

 Hoseok sentia um sentimento que nunca mais imaginou sentir ao ver Hyungwon o ignorando, nem sequer o olhando. Dor. Ele não sentia mais aquele sentimento há muito, muito tempo e agora, era tomado por ele.

 Conforme os minutos passavam e Hoseok era sujeito aquele silêncio cortante mais afiado que uma lâmina, ele sentia as palavras se embolando em sua garganta; enrolando sua língua, mas nada saía. Não poderia falar sobre aquilo no meio de lobos, mesmo que fosse o local mais seguro para si naquele momento…

 Charlotte o dominava dentro de sua própria casa e a escola seria sua única rota escapatória. Havia dado uma bela desculpa de que era o melhor local para encontrar sangue de graça e a vampira caíra naquilo, pois ela desejava o sangue mais do que qualquer coisa.

 Mas Hoseok não queria oferecer um banco de sangue para ela, ao contrário, queria achar formas de deixar ela longe das pessoas; queria achar formas de deixar ela longe de si e principalmente… longe de Hyungwon.

 A aula acabou. A tortura para Hyungwon e Hoseok também.

 Apesar de sentir mil emoções ao ter Hoseok por perto, Hyungwon foi firme em sua decisão de ignorar. Era orgulhoso e acima de tudo, teimoso.

 

 Assim que pôs os pés novamente em casa, Hyungwon sentiu os olhos do pai o penetrarem. 

 — Precisamos falar de sua iniciação. — Foi a única explicação.

 Hyungwon estava cansado mentalmente de mil maneiras, mas estava claro que não poderia dizer não ao homem. Engolindo em seco, concordou.

 Jogou a mochila no chão, e antes que pudesse seguir até à sala, a mãe apareceu e o olhou feio.

 — A mochila, mocinho! — Esbravejou com os braços cruzados.

 Hyungwon juntou a mochila novamente, temendo o olhar fulminante da matriarca. Pelos deuses, ela era igualzinha a Hyelim quando ficava brava; ou melhor, Hyelim era igualzinha a ela.

 — Meu garoto. — Ela sorriu com carinho e deixando um leve selar na bochecha, permitiu a passagem do filho para sala.

 Como de costume, Sr. Chae se encontrava sentado em sua poltrona. Os olhos sem muita emoção na direção do filho.

 Por mais que fizesse a dor da rejeição ser maior, o homem era igual ao filho. Assim como a matriarca era igual a filha. Talvez a maior diferença entre eles era a personalidade, pois a aparência física…

 — Sente-se. — Indicou ao sofá em sua frente.

 Hyungwon obedeceu. Como sempre.

 — Você sabe o que significa a iniciação para um lobo, não é? — Cruzou as pernas e questionou.

 — É o momento onde aceitamos nosso lobo. Aceitamos quem somos verdadeiramente e juramos honrar e proteger nosso legado e principalmente, nossos irmãos, nossa matilha. — Disse, proferindo as palavras que sempre ouviu os outros dizerem. Agora era sua vez de dizê-las. 

 — Você se sente preparado? Você tem certeza que está pronto para viver por sua matilha, por seu lobo? — Indagou, a voz era mais séria do que de costume.

 — Sim. — Respondeu com convicção.

 Havia chego sua vez de ser um lobo. E ele iria honrar aquilo, até o dia que se tornaria o líder da matilha e faria por merecer o respeito de todos… dia após dia.




Hoseok sentiu a força do elo voltar com tudo assim que pisou em seu quarto. Fechou os olhos, buscando controlar suas emoções e não deixar sua mágoa por Hyungwon ficar tão à mostra.

 — Mon amour… — A voz aveludada com sotaque se fez ouvir. — Já estava com saudades. — Sorria como um demônio. — Achou alguém interessante para nos divertimos? 

 Hoseok sabia que deveria falar algum nome, era isso ou… não queria nem pensar.

 — A verdade, Char? — Hoseok enroscou seu braço na cintura fina e delineada. — Há tantas pessoas e você pode ter todas!

 A mulher sorriu, inspirando o cheiro no pescoço de Hoseok e fazendo careta logo em seguida.

 — Eca, você está com cheiro de cachorro! 

 Shin sentiu-se petrificar. Até aquele momento, não havia contado para a vampira que convivia com lobos. Ela achava que eles só ficavam na outra parte da cidade e nada mais. Achava que eram poucos. Ela devia achar que eram, pois Hoseok sabia como ela gostava de os caçar; o que fazia com suas peles; com suas presas… o ódio que tinha pela espécie deles...

 — Acabei encontrando um lobo no caminho. Na nossa divisa. — Deu de ombros e começou a puxar a moça para um beijo, para fugir do assunto.

 Ela se afastou e encarou-o nos olhos.

 — Perto de nossa divisa? Ah Seokkie, devemos ir atrás dele e…

 — O que acha de nos divertirmos de outra forma? — Sorriu com lascívia, tirando a camisa para dar ênfase em sua proposta.

 Mas ela tinha mais de dois séculos de vida e era astuta. Cerrou os olhos e antes que Shin pudesse prever, ela já o prendia contra a parede.

 — Você é ingênuo. Como pude criar alguém tão ingênuo? — Ela mostrava às presas e o olhava descrente. — Desde de que cheguei, percebi que você não me olha da mesma forma que antes… parece ter repulsa em me tocar e acredito que se não fosse o elo, você já teria me mandado embora ou os deuses sabem o que teria feito comigo. Por isso, irei te dar uma chance Seokkie e seja sincero com sua criadora… — As últimas palavras eram o suficiente para despertar a submissão de Hoseok. Novamente, seu corpo e uma parte de seu ser, estavam entregues a ela. — Você está apaixonado por outro alguém?

 Hoseok quis negar. Tentou balançar a cabeça. Mas, o aperto em seu pescoço se intensificou e ele não poderia controlar o poder que ela tinha consigo.

 — Sim… — Falou, sem poder controlar a língua.

 Charlotte o arremessou até o outro lado do cômodo e com sua velocidade, logo se colocou perto dele, novamente.

 Ainda no chão e submisso a sua criadora, Wonho não pôde fazer nada ao sentir o salto dela em sua garganta. Sentiu náuseas ao ver ela se inclinar para perto e tudo piorou ao ouvir suas palavras:

 — Ouse me trocar por esse outro alguém e você se arrependerá. Irei destruir essa pessoa; pedaço a pedaço, em sua frente e depois… — Riu. — Você não vai querer saber sobre o depois.

 Medo. Hoseok não sentia medo por ele, mas sim por Hyungwon.

 Charlotte era uma maníaca e Hyungwon…. Hoseok não aguentaria o perder. 

 



Notas Finais


Sei que demorei, maaas foi um mês cheio para mim, sem falar das outras várias fanfics que escrevi para projetos e afins. Como forma de recompensar vocês, o capítulo foi beem maior do que o esperado e claro, não deixem de conferir a fanfic que escrevi como presente para meus leitores:

https://www.spiritfanfiction.com/historia/reino-de-luz-e-trevas-20579417

Espero que tenham gostado e eu deixei um pequeno/grande spoiler nesse capítulo... Quem conseguir descobrir, ganha um abraço da titia.

Obrigada por continuarem lendo! ♥️
Nos vemos por aí...






Hello... Beta aqui :3
Bom, o capítulo está betado, porém, se deixei algum erro passar despercebido, me perdoem!


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