Hermione dormia de bruços e suas costas nuas imploravam para serem tocadas. As mãos de Draco atenderam ao pedido e, depois seus lábios percorreram toda sua extensão até encontrar a boca de uma Hermione sonolenta e descabelada. A bruxa não continuou o que aquele beijo insinuava. Insistiu que deviam se dedicar a sua busca logo cedo, e cerca de uma hora depois estavam em frente à escola onde Kim trabalhava, observando atentamente a movimentação dos poucos funcionários.
Esperavam encontrar um rosto que se assemelhasse a foto que Oliver dera a Hermione, mas estavam sem sorte, teriam que perguntar na recepção. Felizmente essa secretária foi mais eficiente que a anterior e lhes forneceu um telefone de contato.
Hermione não acreditava que um telefone fosse o suficiente. Não podiam marcar de se encontrar em um local público, pois ela fugiria a qualquer menção à Oliver. Sem perder tempo ela pegou a varinha e lançou um Confundus na secretaria. Passou para o lado de dentro do balcão, alcançou os registros e tirou uma foto da ficha de Kim com o celular.
— Tem mais sonserina em você do que eu pensava. – Draco a provocou com um meio sorriso.
— Tinha que ser feito. Já perdemos tempo demais. – ela respondeu.
— E as câmeras de segurança?
— Eu as enfeiticei também.
— Você é um perigo para sociedade. – ele acusou.
— Já roubei um banco antes, esqueceu? – ela lhe devolveu presunçosa e Draco gargalhou.
***
Dirigiram até a casa da filha de Oliver, mas ainda estavam dentro do carro observando a bela residência de dois andares em um bairro nobre da cidade.
— O que faremos agora?
— O ideal seria conversar com ela dentro da casa, para evitar um escanda-lo. – Hermione disse. – Alguma ideia?
— Sabe o nome de uma escola que ela costumada trabalhar, anos atrás?
— Lady Margaret School. – a garota respondeu se lembrando da conversa que teve com Oliver há muito tempo, impressionando a si mesma e a Draco.
— Sabe-tudo. – ele acusou recebendo um tapa no braço em retorno, enquanto saía do carro e ia em direção a casa vizinha.
Malfoy parou diante de uma placa “vende-se” e arrancou um dos números do telefone do letreiro.
— O que está fazendo? – Hermione perguntou enquanto Draco tocava a campainha da casa de Kim.
— Entra no meu jogo. – Draco teve tempo de responder quando a porta foi aberta, por ninguém menos que Kimberley. – Boa tarde, desculpe incomodar, mas nós ficamos interessados em comprar a casa ao lado e parece que tem um numero a menos no telefone de contato.
— Oh, essas crianças... – ela respondeu examinando a placa. - Só um momento, acho que tenho o telefone aqui em algum lugar.
— Muito obrigada sra... – Draco começou.
— Humphrey. Kimberly Humphrey. – ela respondeu pegando a mão que Draco lhe oferecia.
— Professora Kimberly? – Draco perguntou como se lembrasse de súbito quem ela era. – Bem que te achei familiar! – Draco disse com uma dissimulação que fez Hermione apertar os lábios para não rir.
— Eu te conheço? – sua voz era desconfiada.
— Sou Edward Smith. Fui seu aluno na Lady Margaret School, lembra? Era minha professora favorita!
— Edward Smith... – ela claramente fazia um esforço para se lembrar. – C-como vai, querido?
— Que mundo pequeno. Essa é Hermione, minha esposa.
— Tudo bem? – Hermione esticou uma mão para cumprimenta-la.
A mulher ainda não encontrara forças para dizer a Draco que não fazia ideia de quem ele era e quanto mais ele falava, mais ela se sentia constrangida por não se lembrar do antigo aluno que a tinha em tão alta estima. Por fim foram convidados a entrar para tomar um café.
Quando as bebidas foram servidas Hermione resolveu que a farsa já tinha ido longe demais.
— Senhora Humphrey, sinto muito, mas... o tudo o que... Edward... te disse até agora, é mentira. – Kimberley ficou visivelmente abalada. Kim fez menção de se levantar quando Hermione continuou. – Por favor, não se assuste, não estamos aqui para fazer mal algum. E prometo que iremos embora logo. Mas viemos de Oxford até aqui só para vê-la. – Hermione usava o tom de voz mais doce que conseguia.
— E por que? – Kimberley perguntou e toda a gentileza que antes havia em sua voz tinha sumido. – Quem são vocês?
— Somos amigos do seu pai. Estamos aqui por Oliver. – Draco respondeu.
— Ele os mandou aqui? – Kimberley ficava cada vez mais brava.
— Não, viemos por conta própria. – Draco continuou - Oliver é nosso amigo e sente muito sua falta. Éramos voluntários no asilo que ele vive...
— Quero que saiam da minha casa. Agora. – ela disse com firmeza.
— Kimberley, por favor, Oliver... – Hermione começou.
— O senhor Gordon está morto pra mim. Morreu há 20 anos atrás. Agora saiam ou chamo a polícia. – ela ameaçou.
— Ele está com problemas no coração, Kimberley. – a voz de Draco soava urgente agora – Vai morrer de verdade em breve.
— Não me importo! – Kimberley gritou. – Saiam da minha casa!
Draco tentou insistir, mas Hermione o puxou para fora com uma enxurrada de pedidos de desculpas antes que Kim batesse a porta em suas caras.
***
— A gente devia voltar lá, petrificar ela e arrasta-la até Oliver! – Draco dizia enquanto voltavam derrotados para o hotel. Hermione lhe lançou um olhar reprovador.
Draco sabia que não estava sendo razoável, mas não ligava. Não achava que o idoso tivesse errado em ter feito o que fez. Por que ela não entendia? Draco conhecia pais ruins. Do tipo que transformam os filhos em Comensais da Morte para salvar a própria pele. E Oliver era um bom pai. Não queria falhar com ele. Não podia.
Hermione disse que tentariam novamente, mas o sonserino que não viu como. Essa mulher não os deixaria se aproximar dela novamente. Draco girava nas mãos a carta que Oliver escreveu para filha, Hermione a tinha guardado e disse que essa podia ser a desculpa para um novo encontro. O sonserino não estava muito convencido.
— Talvez a gente devesse deixar a carta de Oliver na caixa de correio dela e voltar pra casa. – Hermione sugeriu, na cama do hotel, naquela noite.
— Quer desistir? – o pescoço de Draco estalou quando se virou para ela.
— Não podemos força-la, Draco. – ela respondeu se colocando em seu colo. – A escolha é dela. Fizemos nossa parte.
Mas a doçura na voz da garota e suas caricias não foram o suficiente para tirar a questão da mente de Draco. Por mais certa que Hermione estivesse Draco não conseguia se conformar. Aquilo não era justo.
***
Caixas de China in Box estavam espalhadas pelo quarto enquanto conversavam preguiçosamente na cama, quando o celular de Hermione tocou e o mundo de Draco pareceu desaparecer sob seus pés.
Oliver havia sofrido um ataque do coração e teve que ser operado. Hermione havia lhe explicado que Angioplastia é um procedimento para abrir artérias e restabelecer o fluxo normal do sangue para o coração. A operação acontecia nesse exato momento e Margie ligaria quando terminasse.
Draco se enroscou em Hermione, como se ela fosse sua tabua de salvação, mas não dizia nada. A garota via a ponta de seus dedos ficarem brancas conforme ele apertava o celular dela nas mãos.
Eram duas da manhã quando a ligação finalmente aconteceu, mas não havia muito a ser dito. A operação chegou ao fim, e agora só podiam esperar para ver como o idoso iria reagir. Hermione conseguiu dormir um pouco depois de um tempo, mas quando acordou encontrou Draco sentado na mesma posição. O relógio marcava 7:54 da manhã.
— Você dormiu? – ela perguntou e Draco balançou negativamente a cabeça, ainda distante. — Draco... – Hermione se inclinou e lhe deu um beijo suave nos lábios.
Aquilo pareceu desperta-lo por um momento. Ele ofereceu um sorriso fraco e alcançou o celular, começando a primeira de milhares de ligações que faria para Kimberley naquele dia.
Ao final do segundo dia, poucos avanços haviam ocorrido, mas eles conseguiram localizar o novo namorado de Kimberley. Hermione insistiu em ir encontrar Erik sozinha. Conhecia o gênio de Draco e não queria deixar dois homens exaltados, defendendo causas distintas, no mesmo local. Draco não gostou da ideia, mas quando Hermione disse que levaria a varinha as objeções morreram.
O café em que se encontraram não estava muito cheio e quando um homem muito magro e de óculos se sentou à sua frente, falando com simpatia, Hermione relaxou a mão na varinha. Não esperava que ele fosse ficar do seu lado. Achou que a ameaçaria e exigiria que deixassem Kim em paz, mas ele revelou que vinha tentando fazer ela se reconciliar com o pai havia anos, mas ela sempre foi muito sensível a esse respeito. Ele cresceu sem pai e a história o tocava profundamente.
— Oliver teve um ataque do coração há dois dias. E ele ainda não acordou. – Hermione revelou. – Tentamos avisa-la, mas ela não nos atende, nem visualiza as mensagens.
— Pode deixar que eu aviso. – ele assegurou.
Erik também disse que avisaria a filha de Kimberley, Leighanne.
***
No dia seguinte tentaram ligar para Kimberley novamente, mas seus números finalmente foram bloqueados. Erik concordou em encontra-los no restaurante do hotel para trocarem notícias.
Leighanne iria para o hospital visitar o avô na sexta, mas Kim ainda se recusava a entrar em contato, mesmo sabendo da situação de saúde do pai.
— E ele? Melhorou? – Erik perguntou.
— Não. – Draco respondeu – Os médicos disseram que já era para ele ter acordado, mas ele ainda continua inconsciente. E eles não sabem qual é o problema.
— Acha que estamos fazendo progresso, Erik? Acha que Kimberly está cedendo? Não podemos ficar por muito mais tempo. Precisam da gente por lá. – Hermione disse.
— Infelizmente não. Nunca a vi tão determinada. Não sei se posso insistir muito mais. Kimberley não me dá abertura. Mas vou tentar amanhã novamente quando ela voltar da escola.
— Pensei que ela tivesse de férias. – Draco apontou.
— E está. Ela só tem que levar umas cadernetas e buscar seja lá o que for na sala dela.
Terminaram o jantar depressa e quando Erik anunciou que ia embora Draco se levantou rapidamente e segurou o casaco para que o homem o vestisse, agradecendo pela ajuda. Erik não esperava pela gentileza, mas aceitou o gesto e foi embora.
Hermione teve a impressão de ter visto Draco pegar alguma coisa de dentro do capuz do casaco, mas não viu nada na mão do bruxo conforme ele a enfiava no bolso, e os guiava de volta para o quarto. Lá a bruxa insistiu que partissem no dia seguinte. Draco concordou distraído.
Durante os últimos dias Draco ficara estranhamente calado. Mas não parecia a Hermione que ele estava em estado de choque ou algo do gênero. Não, ela conhecia aquele olhar, mais evidente essa noite do que em qualquer outra.
Era o mesmo olhar que Harry tivera no rosto quando disse que iria a Penseira de Dumbledore ver as memorias nas lágrimas de Snape. Alguns momentos depois e o amigo pareceu morto nos braços de Hagrid, ou graças a Merlim, foi o que todos pensaram na hora.
Draco estava quieto porque estava tramando alguma coisa. Hermione o confrontou, mas Draco disse que ela estava imaginando coisas. Ele mentiu, e Hermione fingiu que acreditou. Ambos concordaram em dormir cedo e Draco pediu que Hermione não se preocupasse, mas quando ela acordou de manhã, notou que quatro coisas haviam sumido.
Draco.
Sua varinha.
O carro.
E uma poção polissuco que havia em sua bolsa.
Não se preocupe, logo dou notícias.
Quero fazer uma última tentativa
antes de ir embora. Confie em mim,
Draco.
Dizia o bilhete que ele deixara.
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