P.o.v Harley.
Acordei com o irritante barulho do despertador. Me revirei na cama e estava prestes a joga-lona parede quando vislumbrei a hora marcada no aparelho digital. 9:30.
-OQUE!? – Dei um pulo da cama e corri para o banheiro.
Eu tinha exatos trinta minutos para tomar banho, escolher a roupa, tomar café e ir para Arkham para atender meu primeiro paciente.
Assim que esse último pensamento se formou em minha mente,meus olhos se desviaram para minha mesinha de cabeceira e ali estava a flor que ele me deu. Um pequeno sorriso se formou em meus lábios, porém no mesmo segundo me repreendi.
Harleen, ele é seu primeiro paciente. Lembra-se do que lhe ensinaram na faculdade? Nenhuma ligação pessoal com os pacientes.
Com esse pensamento em mente, tirei minhas roupas íntimas e entrei no banho. A água estava fria, fazendo meu corpo se arrepiar, e ao mesmo tempo, todo vestígio de sono que eu ainda tinha se esvaiu junto com aquela água fria.
Após passar o sabão e sair do banho enrolada na toalha, parei mais uma vez em frente a meu armário e olhei minhas roupas, pensativa.
Optei por uma saia preta de sede, colada no corpo que ia até a metade das coxas. Depois coloquei uma blusa social branca, com os dois primeiros botões abertos. Calcei meus saltos pretos usuais e prendi meus longos cabelos loiros em um coque arrumado. Corri para a cozinha com os saltos fazendo um barulho alto e estridente no chão de madeira.
Abri a geladeira, esperando encontrar meu suco de laranja habitual, porém a única coisa que encontrei foi uma garrafa de vinho – a qual eu não me recordava de ter comprado – e um bolo pequeno de chocolate – o que eu também não me lembrava de ter comprado - .
Franzi a testa e encarei a geladeira procurando alguma outra coisa. Nada.
-Mas que merda...? – Eu me lembrava vividamente de te ido ao mercado semana passada.
Olhei a hora e já eram 9:50. Não tinha tempo de ficar na indecisão. Peguei a garrafa de vinho e o bendito bolo, colocando ambos sobre a mesa e pegando um copo, prato e talheres.
Sentei-me a mesa e cortei um pedaço do bolo. Realmente estava muito bom. Bebi uma taça de vinho e guardei os alimentos na geladeira. Estava a caminho do banheiro para escovar os dentes quando percebi que so me restavam cinco minutos para chegar em Arkham.
-Ah,merda. – Murmurei e olhei para o corredor que dava no banheiro com dúvida. Não, não dava tempo. Com certeza deveria haver um banheiro em Arkham. Peguei as chaves do meu apartamento e minha bolsa e sai do apartamento, logo depois, do prédio.
Para minha sorte, não havia transito a caminho do hospício. Estacionei meu carro e corri para dentro de meu local de trabalho. A recepcionista me olhou com reprovação, porém eu prontamente a ignorei e continuei meu caminho para o dormitório. Abri a porta afobada e peguei meu jaleco branco que estava pendurado atrás da porta. Deixei a bolsa em cima da cama e peguei meu caderno que usaria para anotar o que fosse preciso.
Saí do cômodo trancando a porta e rumando em direção a minha sala de consulta. Segundo o diretor, os psiquiatras designados a cuidar dos pacientes criminosos possuíam a própria sala de atendimento. Passei por outros psiquiatras novatos. Todos conversavam animadamente com seus novos amigos.
É Harleen, talvez esteja na hora de tentar achar alguns amigos...
Quando terminei de divagar sobre a quantidade de amigos que eu possuía – que se resumiam a nenhum – eu já estava em frente a porta da minha sala. Haviam dois guardas altamente armados. Eles abriram a porta de metal e eu entrei.
A sala era simples. Tamanho médio, com uma janela pequena na parede ao lado da mesa de metal que eu depositei meu caderno e em seguida me sentei em uma das duas cadeiras dispostas a cada lado da mesa.
Escutei a porta se abrindo novamente e soube que era ele. Olhei para minhas mãos e percebi que estavam tremendo. Um frio na barriga se espalhava.
Harleen, foco. É seu primeiro paciente, não estrague tudo.
Um dos seguranças empurrou meu paciente fortemente na cadeira de maneira brusca. Olhei em reprovação para ele e o homem de cabelos verdes o encarou com um olhar assassino.
-Caham. –Chamei a atenção do homem. Ele desviou o olhar para mim e percebi que seus olhos percorreram toda a extensão de meu corpo que ele era capaz de ver. Quando o olhar dele passou por meu decote, me arrependi internamente pelos dois botões abertos.
Por fim, seus olhos azuis gélidos pararam nos meus azuis. Ajeitei meus óculos e forcei um sorriso.
-Boa tarde... – Li seu nome em meu caderno. Sim, eu sabia que ele não gostava, porém como a nova psiquiatra, eu tenho que estar ciente de todas suas reações. – Jack.
Observei quando os olhos azuis se estreitaram e sua boca vermelha se contorceu. Ao que parece, ele forçou os braços contra a camisa de força que ele vestia. Anotei rapidamente a mudança de humor, drástica dele ao escutar seu real nome e em seguida esperei ele falar alguma coisa.
-Boa tarde, Harley.
Sobressaltei-me com o repentino apelido, mas logo depois sorri e apoiei os cotovelos na mesa e o encarei.
-Harley?
O palhaço soltou uma longa e baixa gargalhada. Involuntariamente, dei um sorriso de canto.
-Harleen Quinzel... – Murmurou ele – Se fizermos algumas alterações teremos Harley Quinn... HarleyQuinn... Um nome que põe um sorriso em meu rosto.
Revirei os olhos, incomodada.
-Sim, costumavam dizer isso. O nome do palhaço Arlequinn.
-Seus amigos te chamam de Harley? – Perguntou o palhaço com um sorriso.
Olhei para a mesa e disse quase em um sussurro.
--Não tenho amigos.
-Agora você tem um.
Assim que escutei isso, olhei para ele desconfiada e dei um sorriso verdadeiro. Eu estava me deixando levar por ele, sim eu sabia. Mas era a primeira consulta. E muitos psiquiatras ficam amigos de seus pacientes a fim de tornar a convivência mais fácil e fazê-los confiar em você.
Abri mais o sorriso para ele e percebi que ele estava desconfortável com aquela camisa de força.
Harleen, não faça isso. Não é uma boa idéia.
Quando me dei por mim, já estava perguntando:
-Posso confiar em você, Mr.J?- Frisei o apelido.
O homem abriu um sorriso ainda maior, se era possível.
-Claro minha doce Harley.
Olhei duvidosa para a porta e depois para ele.
-Nas próximas sessões você não terá essa camisa de força em você.
O homem pareceu desapontado.
-Só nas próximas? Por que não agora?
Suspirei e franzi a testa. Ele não parecia uma ameaça tão grande. Na verdade, era difícil de acreditar que ele fora capaz de todas aquelas atrocidades. Mas mesmo assim, eu poderia cura-lo. Eu iria curá-lo. E para fazer isso, eu precisava da total confiança dele.
Levantei-me da cadeira e contornei a mesa, chegando perto dele. Os olhos azuis frios do homem não desviavam de mim um segundo sequer, e seu sorriso não sumia de seu rosto branco.
Desamarrei a camisa de força e a tirei lentamente dele. Coloquei-a sobre a mesa e voltei a meu lugar. Ele estava sem a camisa do hospício. Provavelmente ele gostava de exibir suas tatuagens. Fiz uma anotação em meu caderno e voltei meu olhar para ele. Assustei-me quando e vi perto demais de mim, debruçado sobre a mesa.
-Acalme-se Harley Quinn. – Disse ele com um sorriso sádico. Em seguida,ele levantou o dedo indicador e o passou no canto dos meus lábios, só então que eu percebi que havia um vestígio do bolo de chocolate ali. Depois de limpar o canto de minha boca, ele dirigiu o dedo a boca, provando o sabor do bolo.
-Realmente... –Ele comentou com um sorriso ainda maior e mais tenebroso. – Eu fiz uma ótima escolha de bolo. E quanto ao vinho? Diga-me, o sabor era mais amargo ou doce?
Arregalei os olhos e imediatamente me levantei da cadeira. Ele se recostou na cadeira dele e continuou sorrindo para mim. Meu coração estava mais que apenas acelerado.
-C-Como você entrou na minha casa!?
O homem soltou mais uma gargalhada, que arrepiou todo meu corpo e fingiu olhar um relógio imaginário no pulso.
-Acho que nosso tempo acabou doc. Vemo-nos amanhã?
Minha respiração estava ofegante. Recolhi rapidamente minhas anotações da mesa e antes de sair, escutei-o falando com a voz séria.
-Nunca mais me chame de Jack.
Olhei para trás assustada e sai da sala afobada. Olhei para os guardas e disse rapidamente.
-Quero ele com a camisa de força em todas as próximas sessões. E por favor, reporte a diretora que o paciente escapou de sua cela ontem a noite. Obrigada.
Não esperei para ver a reação do guarda, apenas sai daquele corredor e segui para meu dormitório. Eu não me sentia segura de voltar para casa, mas seria pior dormir aqui.
Peguei minha bolsa, deixei meu jaleco no quarto e fui para casa. Depois disso, eu precisava de uma boa noite de sono, e talvez um cão de guarda.
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