Seu sorriso era uma obra de arte. Uma das mais bonitas que eu teria o prazer de apreciar.
Pensando sobre minha vida, vejo o quão errado foi o caminho que eu trilhei para chegar nesse destino considerado tão incorreto aos olhos de outros que jamais sentiram o que eu sinto. Por muito tempo, me senti errado, me senti sujo e impuro pelo simples fato de ser egoísta o suficiente para quere-lo mais do que deveria, de ansiar por sua presença e me sentir incomodado quando outros se aproximavam. Para mim, todos eles eram lobos querendo devorar e destruir o meu garoto.
Mas eu não podia - não posso - fazer nada em relação a isso, afinal, não sou o suficiente para ele. Sou seu irmão mais velho, seu protetor, sou tudo menos alguém que lhe possa beijar quando quiser, que posso dizer que o ama intensamente e não de modo fraternal. Não posso ser seu companheiro.
Sinto falta da época que não era dessa forma que acontecia, quando meu coração não palpitava tão forte ao ver seu sorriso doce, ou minha mente não se enchia de pensamentos sujos quando brincava com ele na piscina, afinal, ele era somente uma criança e eu não sou tão terrível assim.
Esse tempo infelizmente passou. Agora eu o sinto, sinto o peso que é ter que me segurar ao vê-lo desprovido de algumas peças de roupa, mas não totalmente como eu internamente desejo. Sinto como é ter que sorrir para si e falar que aquela roupa estava boa para ir a um encontro com alguns amigos e até mesmo alguns lobos que ansiavam sua carne tanto quanto eu.
No final, eu também era um lobo. O maior e mais faminto pela sua carne.
Sei que alguma hora ou outra eu irei me entregar aos instintos, porém, isso não faz com que eu me afaste. Mais do que sua carne, quero seu bem-estar, por isso me mantenho próximo para impedir que qualquer mal lhe toque e lhe machuque. Quero ver seu sorriso mesmo que este seja direcionado para outros.
Por mais que ele tenha envelhecido, ainda tem o sorriso tão brilhante e as atitudes infantis, no entanto, em certos momentos de sua boca saem piadas maliciosas e comentários chulos demonstrando que já era adulto o suficiente para faze-las sem ser repreendido por seus pais. Minha criança havia realmente crescido e eu não sabia se isso era bom ou ruim.
Eu ainda me lembrava de seus fios negros bagunçados pela manhã, quando ele corria para me desejar um bom dia e convidar-me para tocar achocolatado consigo, ignorando o fato de que eu era somente um empregado. Ele nunca se incomodou com rótulos. Hoje o cenário é diferente, mas quase que igual. Você ainda corre em minha direção, porém, seus fios não estão mais negros e sim amarelos, quase que brancos, e bem arrumados pois agora não toma mais achocolatado comigo, você por várias manhãs vai tomar café com o seu pseudo-ficante em uma cafeteria próximo da faculdade onde termina seus estudos.
Eu acabo por tomar café sem sua presença, mas contanto que você esteja feliz, então eu tambem estarei.
Meu dia se inicia em seguida, me ocupando com meu trabalho. Não foi unicamente você quem mudou, eu cresci e evolui, meu relógio vital continuou como o seu. Não sou mais o motorista jovem-adulto que o levava para a escola na companhia de suas babás, me tornei um sócio de sua antiga babá e atual-eterno pai. Não me divirto mais pelas ruas de Seoul, raspando rodas de borracha pelo asfalto por todas as áreas, escutando buzinas e motores o dia inteiro, hoje em dia me ocupo em um escritório supervisionando pessoas que são como o meu antigo eu, mas ainda assim não larguei o meu trabalho na Mansão Chae, apenas para ter o prazer de te ver diariamente.
Eu estou viciado em ti, não posso negar.
Anseio te ver todos os dias, usando seus incontáveis casacos amarelos vibrantes, pois esta é sua cor preferida. – Amarelo é a cor mais quente. É fudidamente bom. – Você me responde com sua pronuncia engraçada, não perdendo a característica de língua presa que tinha desde criança, esta que apenas se amenizou. Ainda não me acostumei com você usando palavras de adultos, na minha mente você ainda é minha criança.
E isso me faz me sentir ainda mais sujo. Pois sou um lobo que deseja uma criança em corpo de jovem adulto.
Não tenho culpa do que sinto, somente sei lhe amar.
- Hey, Jooheon! – Você me chama animado como sempre. Eu me viro, vendo sua imagem vibrante usando aquele típico moletom amarelo que você tanto gosta, fazendo um bonito contraste com seus fios da mesma cor. – Eu ganhei um presente.
Você finalmente fica próximo de mim. Vendo o cenário atrás de ti, a faculdade tomada pelo final do inverno, seus prédios marrons grandes e cheios de cabeças cansadas por tanto estudo, as arvores em volta totalmente limpas de verde e sendo tomadas pelos flocos brancos que caiam serenos, era uma típica paisagem bonita de inverno, mas ele não era importante quando você estava na minha frente, me distraindo de tudo e qualquer coisa. Afinal, você sempre é o mais bonito, não importa onde esteja.
- Meus pais falaram que me dariam um presente de formatura no meu aniversário, você se lembra?
E como eu me esqueceria? Foi em seu aniversário que eu vi o quanto que deveria esquecer tudo que meu coração sentia, quando te vi beijar o seu pseudo-ficante, este que se tornara pseudo-namorado, na frente de todos após você soprar as velas. Foi em seu aniversário que notei o quanto que eu deveria seguir em frente, afinal, você é jovem e precisa de alguém da sua idade, e não o empregado onze anos mais velho que você considerava ser seu irmão mais velho.
Foi em seu aniversário que eu notei que eu era um lobo querendo devorar uma criança que já era velha o suficiente para escolher quem deveria devora-la.
- Como me esqueceria, Minnie? Você finalmente ira se formar, eu nunca iria me esquecer. – Respondi feliz, uma felicidade sincera e pura, porque sua felicidade significa a minha felicidade. Simplesmente. – Então, o que eles lhe darão?
Seu sorriso de alargou e eu vi seus olhos brilharem ainda mais. Seus dedos discretamente apertaram a manga do grande moletom amarelo discretamente, mas não discreto o suficiente para que não notasse sua ansiedade. Você sempre foi muito transparente para mim.
- Eu vou viajar. – Você sempre foi uma criança aventureira, sempre gostou de viagem e de conhecer novos lugares. Conversar e conhecer novas pessoas, descobrir culturas. E principalmente de guardar esses momentos para si em uma imagem eternizada. Por isso escolheu faculdade de fotografia, suponho. – Irei fazer um tour pelas ilhas menores até chegar em Jeju.
Ele já estava se formando e agora iria viajar por várias ilhas, sozinho. Quando minha criança cresceu tanto? Meu coração se apertava em pensar nele sozinho pelo mundo, não por eu querer segura-lo, mas sim porque eu queria o acompanhar em suas aventuras. Queria participar de suas alegrias, de suas descobertas, assim como queria ser seu suporte quando o mundo lhe batesse forte demais, estar ali para o ajudar a curar suas feridas.
- Você sempre me disse que queria visitar Jeju mais uma vez. – Ditei sorrindo, o vendo sorrir envergonhado pelo sonho infantil. – Sempre me falou que queria ver a mar de novo.
- E eu realmente quero. – Minhyuk falou e abaixou a cabeça encabulado. Aquilo era estranho, você não é do tipo que se envergonha, muito pelo contrário. Sempre foi um cara de pau, me arrisco em dizer. – Minha última viagem foi a muito tempo e eu queria ver as ilhas, tem muito para fotografar lá.
- Quando você vai? – Perguntei interessado. Quanto tempo eu teria para me despedir de minha criança? Eu sabia que ainda o verei, porém, aquela viagem significava que ele se tornou totalmente responsável por si mesmo e que agora não precisaria de mim ou de seus pais para lhe proteger.
Minnhyuk não era mais a minha criança.
- Nós vamos quando o inverno acabar e a primavera chegar. – Você me respondeu com um sorriso travesso. Eu notei qual era sua travessura.
- Nós?
Você finalmente levantou o olhar e o direcionou para mim. Pude notar seu nariz avermelhado pelo frio assim como suas bochechas, entretanto, essas estavam carmesim pela vergonha que lhe tomava e não exatamente pelo inverno.
- É por isso que eu pedi para você me buscar hoje, hyung. Meus pais falaram que eu podia ir viajar com alguém, e eu escolhi você.
Meu peito queimou, assumo. Foi impossível para minha mente não correr por probabilidades fantasiosas de um futuro ao lado de meu Minnie, fazendo com que meu coração batesse rápido e eu me tornasse aquele típico idiota adolescente tendo sua primeira paixão. No entanto, eu não era um adolescente e aquela não era minha primeira paixão. Eu era um homem de trinta e dois anos com pensamentos melosos demais com um garoto de vinte e um, vivendo de modo platônico a paixão mais intensa de toda a minha vida como se fosse um garoto de dezesseis.
- Mas e Hyunwoo?
Não resisti em citar seu pseudo-namorado, o qual eu tanto desgostava e senti inveja. Aquele que tomou seus lábios na minha frente sem que eu pudesse fazer nada, aquele que tinha todos os atributos perfeitos para viver feliz ao seu lado. Aquele maldito Son Hyuwoo.
E você ficou em silencio, desviou o olhar e mordeu os lábios. Eu soube que havia algo errado e desconfortante, não poderia insistir em algo que lhe faria infeliz então mudei de assunto.
- Quer mesmo que eu vá contigo? E seus outros amigos? Acho que seria mais confortável e divertido para você se fosse na companhia deles.
O desconforto se dissipou de ti e a diversão tão típica de sua personalidade voltou a florescer. – Ninguém seria mais divertido e confortável do que você hyung. Prefiro você a eles.
Minhyuk, não cansa de me induzir a ter pensamentos felizes contigo? Não cansa de me fazer imaginar na possibilidade de ter um futuro contigo? Não cansa de me fazer de idiota mesmo que sem intenção?
- Será apenas uma semana. Uma noite e um dia em cada ilha, no total cinco incluído Jeju, e o resto do tempo passaremos em Jeju. – Minhyuk explicou animado puxando seu celular do bolso e me mostrando um mapa no mesmo, tendo trilhado o caminho e as ilhas que passaríamos. Estava muito animado. – Tem alguns pontos que eu queria tirar fotos e também tem muitas comidas diferentes, eu sei o quanto que você gosta de comer coisas diferentes, hyung.
Eu ri com sua afobação assim como seu comentário final sobre meus gostos. Você me conhecia tanto o quanto eu te conhecia.
- Tudo bem, Minnie. Vamos resolver tudo isso com calma, agora vamos embora que Hyungwon e Hoseok devem estar nos esperando.
Antes que eu pudesse me virar e ir para o carro, você conseguiu ser mais rápido e me surpreender mais uma vez. Seus braços finos cobertos pelo tecido amarelo vibrante passaram em minha volta em um abraço que antes eram tão frequentes e que haviam se tornados raros a medida que você crescia. Seu rosto se escondeu em meu ombro e seus fios amarelos acariciaram o meu pescoço e meu maxilar.
Não pude fazer nada a não ser retribui seu carinho, passando os braços em sua volta e lhe apertando forte. Por alguns segundos, me permiti mostrar o carinho a mais que tinha por você, mas não o suficiente para que você notasse minhas reais intensões e paixões que nutria por ti.
Você tinha razão, Minhyuk. Mesmo no inverno, mesmo com a neve em nossa volta, com seus braços em minha volta e seu corpo colado no meu, seu moletom extravagante em contraste com meu casaco bege sem graça, eu pude confirmar sua típica frase:
Amarelo é realmente a cor mais quente.
E você é amarelo, Minnie.
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