História Wrong for you - Começo

Wrong For You 

 Parte 2

Chae Minhyuk

O barulho irritante do despertador tocava me obrigando a acordar, fazendo com que todo o meu corpo reclamasse de preguiça no momento em que encostei meus pés no chão e caminhei em direção ao banheiro.

O dia estava cinzento, bem escuro. Nem ao menos o sol deu o ar de sua graça pela manhã e isso me deixava ainda mais animado – por favor, note a ironia – para o dia que acabou de começar.

Chegando ao banheiro, não quis olhar para o espelho para ver meu estado atual, aposto que estava todo inchado e bagunçado. Logo abri o armário e peguei minha escova de dente assim como a pasta, em seguida começando a minha higiene matinal. Desta vez, não consegui impedir meus olhos de captarem a minha imagem no espelho.

Meu rosto estava com marcas de sono, algumas bolsas escuras abaixo dos olhos, a boca antes ressecada, mas agora cheia de espumas provenientes da pasta de dente refrescante, além do cabelo completamente bagunçado. O avaliando novamente, creio que ele precise de um retoque pois o loiro já está começando a ficar desbotado. Ou talvez eu simplesmente mude a cor.

Amarelo não é uma cor tão feliz quanto eu pensava que era a alguns meses atrás.

Termino de escovar meus dentes e limpo a boca. Levanto meu braço e levo meu nariz ao encontro de minha blusa, sentindo um cheiro de suor e decidindo tomar banho por fim. Afinal, eu tenho tempo, só terei que trabalhar mais tarde hoje.

Retiro minhas roupas e entro no box, ligando o chuveiro em seguida. Senti a agua fria antes que ele finalmente se tornasse quente e agradável, me consentindo assim tomar um banho aprazível.

Pego a sabonete e passo pelo meu corpo com calma. Primeiro os braços, depois o pescoço, o peito, até finalmente chegar em minha barriga. Ele está um pouco maior, posso senti-lo dentro de mim.

- Você está crescendo, meu bebê.

Assim que saio do meu quarto, sou recebido na sala com rosnares manhosos de bom dia de MinNah, uma gatinha que eu encontrei na rua á poucas semanas atrás. Ela parecia estar tão solitária quanto eu, então resolvi adota-la. Simplesmente não resisti ao pequeno animalzinho de cor marrom e olhos negros, ela era tão linda. Desde então, MinNah se tornou minha companheira de finais de semanas parados e noites em frente a televisão.

Eu a acaricio rapidamente antes de seguir para a cozinha, tenho que me apressar um pouco mais, pois o banho atrasou minha rotina ainda que alguns minutos.

Preparo uma caneca chocolate quente e biscoitos, sento-me no sofá para comer e não demora muito que a gatinha venha passear entre meus pés e rosnar pedindo atenção.

- Não posso brincar com você hoje, desculpe MinNah.

Termino meu café da manhã e fico feliz que ele não tenha reclamado de fome ainda. Atualmente, sinto que tem um monstrinho louco de fome dentro de mim, e talvez eu não esteja tão errado assim.

Coloco um moletom por cima de minha blusa igualmente larga e pego minha bolsa assim como minha câmera, olhando no espelho uma última vez antes de sair de casa. Avalio se minha roupa esta larga o suficiente para esconder o quão gordinho eu ando ultimamente e fico satisfeito com o resultado da combinação em cores escuras.

Eu não pareço nem um pouco com o garoto de tempos atrás que só usava cores fortes e alegres. Acho que estou mudando.

Finalmente saio de casa, trancando a porta e me preparando mentalmente para mais um dia.

Talvez eu tenha que colocar “tirar a carteira de motorista” em primeiro lugar na minha lista de afazeres, pois é realmente um incomodo ficar pegando o transporte público lotado todos os dias. Logo, eu estarei ainda mais gordo e terei que lidar com os olhares alheios, além de ter que ficar em pé quando não estiver aguentando nem mesmo o meu próprio peso.

Lembro o quão fácil era quando eu tinha alguém para me levar e buscar em todos os lugares que eu ia. Sinto falta disso. Na verdade, sinto mais falta do motorista do que do próprio transporte fácil em si. Não quero pensar nisso, não quero pensar em Jooheon.

Encontro o celular em minha bolsa e começo a mexer nele na tentativa de afastar esses pensamentos desnecessários de minha mente. A primeira coisa que vejo é uma mensagem de meu pai perguntando se eu estou bem e se ele pode me visitar nesse final de semana, dizendo que está morrendo de saudades de mim, respondo que estou bem e que ele pode me visitar, e tambem brinco com o fato de que é impossível ter saudades de mim quando ele e meu outro pai, Hoseok, estão me visitando de dois em dois dias.

Sinto que eles estão mais animados do que eu. Provavelmente serão os avôs mais corujas que a Coreia já viu, porém, eu não reclamo disso. É bom tê-los ao meu lado quando estou tão sozinho.

Lembro-me como foi quando eu os contei que estava esperando um filhote. Lembro da expressão de surpresa que eles fizeram, em seguida de preocupação e depois de pura felicidade. Lembro-me de meu pai Hyungwon me abraçando enquanto eu chorava desesperado e lembro de Hoseok dizendo que me ajudaria com tudo que precisasse. Eles foram todo o apoio que eu tive e serei extremamente grato por isso.

É inevitável que minha mente não me leve a pensar na reação de Jooheon no dia em que ele descobriu sobre a gravidez. Pensar nele me deixa triste, não quero ter que chorar mais por causa disso, então rapidamente mudo o foco dos meus pensamentos.

Percebo que cheguei ao trabalho e deixo que minha mente se foque completamente no que eu amo fazer. Afinal, eu estou muito bem sem eles em minha vida.

-  Minnie! As fotos ficaram sensacionais, não sei como você consegue! – Escuto meu amigo falar animadamente tendo em suas mãos fotografias reveladas de um modelo, estas que foram tiradas a poucos dias atrás para uma campanha especial de inverno. – Queria ter esse talento.

- Minhas fotos só ficam tão boas porque eu tenho você como editor. – Respondo simpático ao seu elogio. Jeonghan sorri abertamente e senta-se ao meu lado.

Está quase na hora do almoço e eu não tenho muito o que fazer a não ser selecionar algumas fotos que eu tirei tempos atrás. Todo o meu trabalho já está adiantado, e como Jeonghan é meu editor, consequentemente o trabalho dele está da mesma forma.

Apesar de estar a pouco tempo na empresa, eu consegui um bom cargo e já tenho minha própria sala. Isso se justifica graças as minhas ótimas recomendações e o tempo que eu estagiei na empresa de meu pai, além de meu ardo trabalho nos meses que estou nesse novo emprego.

Nesse tempo, eu conheci algumas pessoas, e destaco especialmente Yoon Jeonghan, um beta da minha idade com fios negros na altura do queixo e sorriso bonito, além de uma aura simpática que te faz ficar confortável na presença dele em qualquer situação. Ele entrou na empresa um pouco antes de mim e se dispôs a ser meu editor, ganhando intimidade comigo em um tempo surpreendentemente curto. Ele é a única pessoa do meu trabalho que sabe que eu estou carregando um filhote de quatro meses.

Sinto que ele é um dos poucos amigos com que posso contar nesse momento.

- Mas por que está me elogiando assim? O que você quer? – Questiono desconfiado. – Eu sei o quanto você interesseiro, Hannie.

- Sua desconfiança em meus elogios me chateia. – Ele responde em um tom falsamente chateado. – Mas você está certo. Eu quero ir na sua casa, hoje, noite de pijamas, maratona de dorama e eu não quero um não como resposta. Já encomendei três caixas de pizza para hoje à noite.

- Você está louco? Maratona de series em plena terça-feira? Esqueceu que a gente tem que trabalhar amanhã? – Pergunto tentando ser sério, porém, não consigo conter minhas risadas. Jeonghan é tão animado quanto eu costumava ser.

- Por favor, eu sou seu editor e você é meu fotografo. Qualquer coisa, a gente da cobertura um para o outro e ninguém vai ficar sabendo. Estamos com o trabalho adiantado e terça-feira é o dia perfeito.

- É como se fosse uma terça-feira sem lei?

- Sim, totalmente sem lei. – Jeonghan se aproxima de mim e coloca sua boca a centímetros de meu ouvido como se estivesse contando um segredo. – Vamos entupir nossa cara em porcaria e em Lee Jongsuk.

Não seguro minha risada alta. – Tudo bem, eu topo.

Jeonghan comemora e logo começa a tagarelar sobre o que iremos comer no almoço e eu o acompanho na conversa, decidindo o que comer e saindo do serviço rapidamente para almoçar. Nesse ponto, eu já estou completamente faminto.

O dia se segue sem muitas surpresas. E logo me vejo saindo do serviço e indo para casa, sozinho, pois Jeonghan tem que ir na sua casa arrumar algumas coisas, me avisando que mais tarde aparecerá em minha porta.

Chegando em casa, sou recebido por uma MinNah manhosa e faminta. A comida que eu havia lhe deixado pela manhã não foi o suficiente e logo tenho que reabastecer sua tigelinha laranja, e ao fazer isso, a gatinha rapidamente esquece de minha presença e se concentra em saciar sua fome.

- Sua interesseira. Só veio atrás de mim pela comida. – Comento rindo. – Você e Jeonghan são igualzinhos. Manhosos e interesseiros.

Noto que não é apenas MinNah que está com fome e rapidamente vou a geladeira para arranjar o que comer, me contentando com um grande pedaço de melancia.

O sol está se pondo e falta algum tempo até que Jeonghan chegue, então não tenho nada melhor para fazer a não ser ficar deitado no sofá comendo e vendo televisão.

A campainha toca e me levanto rapidamente para atender quem eu penso ser Jeonghan, porém, noto que meu esforço foi exacerbado quando sinto uma forte tontura e sou obrigado a me apoiar no encosto do sofá até que tenha os sentidos colocados em sua devida ordem. Logo, vou atender a porta com um pouco mais de calma para o que aconteceu segundos atrás não se repita.

- Sim? – Pergunto assim que abro a porta, mas quando percebo quem está em minha frente, ofego em surpresa e sinto meu coração bater muito mais rápido do que o normal. Me torno inquieto.

- Minnie? – A voz grossa que eu não escutava a tanto tempo me chama. – Tudo bem? Eu posso conversar um pouco com você?

Não tenho coragem de responder, apenas abro espaço para que ele entre em minha casa e fecho a porta assim que ele aceita meu convite implícito.

Ele está diferente do que me recordo. Seus fios não estão negros como antes, e sim um tom de caramelo claro que combinou perfeitamente com a tonalidade de sua pele morena. Seu corpo está maior e mais musculoso. Shownu está mais radiante do que a alguns meses atrás.

- Por que está aqui? – Pergunto, tentando não parecer nervoso diante de sua presença apesar de estar claramente inquieto. Meu ex-namorado e pai de meu filhote se senta no sofá que eu estava deitado a pouco tempo atrás. Ele está sério, porém, seu cheiro não denuncia nenhum sentimento hostil, pelo contrário, está tudo tranquilo demais. – O que veio fazer em minha casa?

- Nós temos que resolver algumas coisas, Minnie.

- Você foi bem claro quando disse que não queria mais me ver, Shownu. – Digo com magoa. – Eu me lembro muito bem e estou cumprindo seu pedido.

Ele suspira. – Tudo bem. Certo. Eu fui um idiota, eu sei. Mas é que eu estava confuso e magoado, além de traído.

- Eu não te traí. Nós não estávamos juntos.

- Nós não estávamos juntos, mas ainda estávamos namorando. – Shownu passa a mão em seus fios e suspira mais uma vez. Ele parece estar exausto com uma conversa que acabou de começar. Eu me sinto da mesma forma. – A questão é que: Nesses meses, venho revendo tudo que acontece entre nós. Eu não vim pedir para que a gente volte, mas sim para que você não afaste ele de mim.

Meu ex-namorado se levanta e vem em minha direção calmamente, colocando a sua palma em minha barriga escondida por duas camadas de pano grosso da roupa de frio. Em seu olhar, não existe nenhum sinal de luxuria ou algum amor entre amantes, e sim um carinho, um afeto inocente. Shownu não era mais apaixonado por mim.

- Eu sou o pai dele e quero ter meu filhote perto de mim. Quero te ajudar a cria-lo e quero estar presente nos momentos de meu filho. – Ele fala baixo. – Eu não vou ser um babaca e deixa-lo com o mundo a ser carregado nos ombros.

- Você demorou muito tempo. – Respondi.

- Eu sei. E não quero perder mais tempo nenhum. – Shownu diz. – Eu não quero que a gente volte a namorar. Eu só quero te ajudar e ficar com ele.

Assinto e sorrio, porém, nada digo. Não é necessário. Shownu é o pai do meu filhote, ele tem o dever e o direito de ter o seu filho próximo de si. E eu preciso de ajuda, não assumo, mas sei que realmente preciso.

Um tempo se passou até que Shownu fosse embora, me deixando um selo na bochecha e seu número de telefone, este que ele disse para eu não hesitar em ligar a qualquer momento. Enquanto ele estava em minha casa, nós conversamos calmamente sobre os eventos que ocorreram durante os meses que nós não nos vimos.

Para minha surpresa, Shownu estava com alguém. Ele me contou ser uma garota, mais velha três anos, no entanto, com uma alma mais jovem do que de qualquer um. Me contou que a conhecia a bastante tempo, mas que só deu oportunidade dela se aproximar a pouco tempo e que foi justamente ela a conversar com ele e mostrar que o certo era me dar apoio e cuidar de mim, pois eu sou o pai do filhote dele.

Aparentemente, Shownu não está apaixonado, e sim amando. Ele fala dela com um carinho que eu nunca presencie por parte de sua personalidade mais séria e calada. Eu fico feliz por ele.

Perguntou como eu estava e eu lhe contei sobre meu emprego e sobre como está minha vida morando sozinho. Aproveitei para perguntar como ele achou meu endereço e ele respondeu que foi MaRi quem lhe passou as informações quando ele disse que queria fazer as pazes comigo.

E, em algum momento, Shownu perguntou como estava Jooheon. Eu não quis responder e ele entendeu muito bem, me dando o devido espaço e não comentando mais sobre o assunto. Ambos tínhamos visto a reação de Jooheon ao saber de tudo e sabíamos que era algo conturbado demais para se falar em um encontro para fazer as pazes.

Jeonghan chega minutos depois que Shownu vai embora. Penso que talvez eles até mesmo tenham se encontrado no meio do caminho ou na portaria e essa hipótese se confirma quando a primeira frase que meu amigo diz ao entrar no meu apartamento é:

- Você tinha que ver o moreno alto e sensual que eu vi no corredor. Meu Deus! Vou frequentar o seu prédio mais vezes para ver esse cara.

Acabo rindo de seu comentário e em seguida digo que aquele é meu ex-namorado. Jeonghan primeiro fica preocupado com a visita de Shownu, perguntando se aconteceu alguma coisa, no entanto, quando eu lhe falo que está tudo bem e que fizemos as pazes, ele logo me dá parabéns por ter namorado um ‘moreno sensual maravilhoso’ e diz que se a genética for favorável para o lado do alfa, o bebê vai ser o mais lindo de todos.

- Você é um safado. – Comento e isso só arranca risadas debochadas por parte de meu amigo.

- E você só descobriu isso agora? Por favor, Minnie.

O resto da noite é recheado de brincadeiras, pizza e vários episódios seguidos, além dos comentários de Jeonghan.

Eu me sinto feliz, porém, incompleto. Mas não quero pensar nisso, não quero pensar no que falta porque eu sei que é Jooheon o motivo disso.

Não posso pensar nele, não posso correr atrás dele ou ficar pensando no que poderíamos ter sido, ou até mesmo retornar nas lembranças da viagem de Jeju. Agora, eu tenho responsabilidades e uma vida que depende de mim.

Jooheon não é mais o centro do meu mundo.