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História Xeque-Mate - Mate


Escrita por: ShewantsCamz

Notas do Autor


Olá, meus amores.

Primeiramente, boa noite pra vocês. Eu comecei a escrever esse capitulo de XM no sábado, e terminei no domingo, porque já tem um tempinho que não atualizo. Então espero que sejam pacientes, já que eu tenho outras fanfics como Fallen Angel e Royals, que merecem atenção.

Mas enfim, esse capitulo está bem legal. Tranquilo, bem tranquilo até. Espero que gostem, assim como eu gosto dele. É um dos meus favoritos.

Ah, para ele eu vou indicar uma musica, e espero que escutem quando for solicitado.

Aqui está: https://www.youtube.com/watch?v=C2A-Jbo-EaU

Sem mais papos, vamos ao que interessa.

Evelin. :)

Capítulo 30 - Mate


Um dia comum.

Apenas um dia comum.

Christopher se levantou, beijou o topo da cabeça de sua esposa que, descansava serenamente em um sono aparentemente profundo ao seu lado. Na noite passada, voltou para casa muito tarde; o encontro com Keana rendeu boas e prazerosas horas de sexo, que o impediu de voltar mais cedo, e encontrar sua esposa para uma simples conversa. Mas não era de todo mal, Camila nunca se importava se Christopher chegava tarde ou não, era muito bem desprendida desses tipos de cuidados para com o marido. Collins ergueu seu corpo da cama por completo, e caminhou em passos preguiçosos até o banheiro daquela suíte, onde realizou toda sua higiene matinal. No final daquela ducha quente, que embaçou os vidros do box, o moreno enrolou uma toalha branca ao redor da cintura, enquanto esfregava seus cabelos ensopados com uma toalha de mão. Ele parou diante de seu closet, fitou a sequencia gradiente de ternos importados, dos mais escuros até os mais claros. Optando por um preto, riscado por linhas finas de giz em um sentido vertical. Depois de perfeitamente arrumado, se juntou a farta mesa de café da manhã, enquanto checava seus e-mails e recados na tela de seu aparelho celular. O empresário teria um dia cheio, já que sua agenda contava com uma reunião extremamente importante com um de seus maiores investidores, seria o fechamento de um novo contrato, uma espécie de renovação, e de nenhuma forma aquilo poderia dar errado.

O rolls-royce estava estacionado em frente a porta da mansão, somente a espera do empresário que agora descia as escadarias a caminho do veiculo preto, e luxuoso. Carlos, seu motorista, abriu a porta rapidamente, após um educado comprimento, que tão logo foi respondido pelo moreno antes de se acomodar no banco confortável de seu carro. Não demorou muito, o veiculo estava adentrando o estacionamento da empresa petrolífera. O transito aquela manhã parecia colaborar para que não houvesse atraso, o trafego de carros pelo caminho foi fraco, quase indiferente. Christopher deixou o automóvel, e caminhou em passos apressados para o interior do prédio monumental da Collins Enterprise.  Os funcionários estavam em seus devidos lugares, realizando suas tarefas diárias, como de costume. Alguns o fitaram, temendo seu olhar imponente, quase maligno. Ele era um homem respeitado, ou melhor, temido. Não tinha uma fama muito dócil, o que ajudava a manter certo distanciamento do resto de seus funcionários para com ele.

- Bom dia, Christopher. – John murmurou ao se aproximar, fazendo com que Collins estendesse a mão para frente, informando aos sensores do elevador para que a porta não fosse fechada.

- Bom dia.

- Está preparado para hoje? – disse ele ao coçar sua nuca.

- O quê?

- Para a reunião com os investidores. Será um tanto complicada depois do roubo, os cofres da Collins Enterprise estão em baixa. E ainda tem os ambientalistas.

O advogado deu de ombros insatisfeitos ao lembrar-se do amontoado de problemas que a empresa enfrentava. Christopher torceu os lábios, e suspirou, enquanto observa a troca constante de números no painel do elevador;

- Nós vamos nos recuperar desse problema, não se preocupe. Não acredito que vão querer quebrar contrato conosco, seria um absurdo. Perderiam uma parceria e tanto! E os ambientalistas são insignificantes, não me amedrontam em nada.

- Eu não os veria dessa forma. – John proferiu com um semblante preocupado, fazendo o empresário rolar os olhos.

- Pois eu os vejo! Não há nada que eles possam fazer contra mim, a não ser reclamar o tempo todo.

O bipe do elevador soou alto, informando que o andar solicitado havia chegado, as portas metálicas se abriram, dando espaço para que ambos os homens seguissem pelo corredor extenso até a sala presidencial.

- Estive observando o movimento pelas redes sociais, tenho receio que eles comecem algo maior. Você sabe como isso se espalha, e com apoio das massas, isso pode virar uma bola de neve.

Christopher acenou com a cabeça para sua secretaria, e adentrou sua sala rapidamente, sendo seguido pelos passos de John. Ele não queria ouvir sobre ambientalistas, estava de saco cheio daquelas pessoas que a todo custo tentavam interromper seu trabalho expansivo, com idéias corretas sobre o que ele deveria ou não fazer. Collins pouco se importava com o meio ambiente, e muito menos com aqueles os que defendiam. Seu objetivo principal, era encher seus bolsos com dinheiro, e expandir seu poder no ramo empresarial.

- Eu sou um dos empresários mais poderosos desse país, acha mesmo que alguém tem cacife para me derrubar? – exclamou confiante, enquanto desabotoava seu paletó, para ocupar seu lugar na cadeira presidencial.

John permaneceu parado a alguns metros da mesa, enquanto engolia em seco a idéia temerosa que rondava sua cabeça. Ele sabia que as coisas estavam em uma situação delicada, e que todo cuidado seria pouco para manter a Collins Enterprise em um equilíbrio saudável.

- Não, senhor. – respondeu.

- Viu? Fico feliz que concorde comigo, John. Não fique colocando todas suas energias em boatos espalhados por aí. Esses ambientalistas não passam de desocupados, sempre me ameaçaram, e veja só, ainda estou faturando sem problemas. – disse com um sorriso vitorioso.

Ele assentiu devagar, mesmo não concordando. John sabia que contrariar Christopher Collins era totalmente inútil, o empresário tomava sua verdade como absoluta, e não havia um ser que o fizesse mudar de idéia.

- Eu sou o rei disso tudo, John. – disse ele ao pressionar seu dedo indicador sobre a mesa. - Não há força superior a mim.

- Tudo bem, esqueça o que eu disse.

- Muito melhor.

Depois de planejarem alguns tópicos para a reunião daquela manhã, o advogado deixou a sala de Christopher, deixando-o completamente sozinho com seus pensamentos. Collins não demonstrou, mas ele sentia que algo muito grande estava se aproximando, e não era ao seu favor. Ele suspirou cansado, enquanto erguia o copo de vidro até seus lábios, degustando de um pequeno gole de whisky, um dos mais caros daquele país. Depois de repousar o copo sobre a mesa, passou os olhos pelos relatórios deixados por sua secretaria, aonde continha todas as pautas da reunião que aconteceria em meia hora. Entre o amontoado de papeis presente em sua mesa, havia um único envelope, sem remetente. Christopher franziu o cenho, unindo as sobrancelhas no centro de sua testa, analisando a entrega anônima, enquanto pensava a respeito dos bilhetes recebidos por sua nova amante, Keana Issartel. Seria mais uma das cartas? De inicio se sentiu receoso, no entanto, a curiosidade foi tamanha, que o empresário não se deu ao trabalho de abrir com cuidado, o papel foi rasgado, expondo o conteúdo desconhecido até então.

De fato, não havia um remetente naquela carta. Christopher suspirou, engolindo em seco antes de tentar começar a ler as linhas impressas daquele papel.

“Olá, rei. Quanto tempo, não? Vejo que está aproveitando seus últimos minutos de gloria. O jogo está chegando ao fim, você sabe, não é? Christopher...no jogo de xadrez, ganhar tempo é uma vantagem importante. E eu o fiz. Você subestima aqueles que acha, serem seus peões, e mesmo que fossem, nem de longe são  peças fracas. Estão em linha de frente, sempre, tendo uma mobilidade extraordinária.  Incrível não? Mas a questão não é essa, eu não sou seu peão, pelo contrario. Sou uma peça muito mais importante, e vale lembrar que sou do lado oposto, adversário. Não se esqueça, nunca, que tudo tem um motivo para acontecer; assim como no xadrez, não se deve realizar uma troca sem haver uma boa razão. Como no xadrez, não se pode sacrificar algo sem uma razão clara e adequada, e você o fez. Seus motivos? Será que existem motivos que não seja sua ganância desmedida pelo poder? Pouco importa. Isso já não me diz respeito. Você se expôs, rei. E essa é uma falha grave em um jogo como o nosso. Não há mais o que fazer, seus protetores foram inúteis, e agora você está sozinho diante do meu exercito.

Se prepare.”

O homem concentrou sua atenção na ultima linha daquela carta. Seu coração palpitava frenético, nervoso e enfurecido. Christopher respirou fundo, e amassou o papel com força, espremendo-o na palma de sua mão, como se o autor pudesse sentir sua ira pelo que escreveu. Ele fechou os olhos, engolindo em seco o nó que se formou em sua garganta agora seca. Seu adversário não estava ali para brincar, tampouco para blefar, ele havia especificado perfeitamente bem no decorrer do tempo. Ele não tinha um amador como inimigo, isso estava claro. O adversário do empresário se mostrava tão, ou mais, poderoso que ele.

- Isso não pode acontecer! – exclamou nervoso.

Seus pensamentos se encontravam desordenados, confusos; o impossibilitando de formular qualquer raciocínio lógico ao redor do conteúdo daquela carta. Tudo que preenchia o pensamento de Collins naquele momento se resumia a raiva e temor. Raiva por saber que alguém planejava o derrubar, e temor por saber que seja lá quem fosse, tinha munição para isso, e ele não poderia fazer nada para impedir. Christopher não tinha saída, pois não sabia quem era seu inimigo. No meio desse jogo, o rei se encontrava com uma venda sobre os olhos, impedindo-o de mirar para um inimigo concreto. Havia muitas peças do lado oposto daquele tabuleiro, peças importantes, que escondiam o verdadeiro motivo de temor. Quanto ao seu lado, ele nada mais tinha que peões mal usados.

- Merda! Eu tenho que fazer alguma coisa.

Levantou-se de sua cadeira rapidamente, enquanto tentava organizar suas idéias. Algo precisava ser feito, e urgentemente se não quisesse ser exposto, como imaginava que seria. O empresário andou de um lado para o outro, constantemente, enquanto falava consigo mesmo em uma tentativa de armar seu próximo passo.

- Você precisa ficar calmo. – disse a si mesmo.

O homem caminhou até sua mesa, capturando o copo com o conteúdo alcoólico, para virá-lo completamente em sua boca, descendo garganta a baixo o restante do whisky ali presente. Ele fechou os olhos por alguns segundos, sentindo o liquido queimar em sua garganta, seguida por seu estomago. Aquilo o acalmou, estranhamente o acalmou. Ele respirou fundo, inflando seu peito ao maximo, e virou-se para a parede de vidro de sua sala, que dava uma ampla visão do mar acinzentado de prédios em Nova Iorque. Christopher sentia que algo muito ruim iria acontecer, seu subconsciente acionava como um alarme de incêndio. Naquele instante, todas as pessoas que passaram por sua vida, e que de certa forma foram atingidas por seu manancial de poder, se tornaram alvos.

- Ninguém pode me derrubar, ninguém tem poder para isso.

Ele repetiu aquela frase três vezes, em uma tentativa frustrante de convencer seu subconsciente de que tudo terminaria bem, mesmo quando o mundo inteiro indicava o contrario. Collins ouviu o bipe suave de seu celular, e tão logo o tomou nas mãos para verificá-lo. Era uma mensagem de texto, de um numero desconhecido. Um arrepio percorreu sua coluna, como se pudesse sentir o conteúdo da mensagem, mesmo não sabendo realmente do que se tratava. Com certo receio, pressionou o ícone na tela, expandindo a janela com o recado enviado.

“Seu tempo está esgotando.”

Antes que ele pudesse sequer pensar, outra mensagem se expandiu na tela, logo abaixo da primeira.

“Está com medo?”

“É melhor ter.”

Sua respiração pesou, fazendo seu peito subir e descer com certa dificuldade. Ele olhou para todos os lados, e não havia ninguém ali, estava sozinho.

“Tic,Tac. Pense em suas ultimas palavras antes de cair.”

Seu coração voltou a esmurrar seu peito, como se a qualquer instante pudesse perfurar seu busto. Ele fechou os olhos, travando o aparelho nas mãos, que ainda vibrava insistentemente a cada mensagem. Era uma tortura psicológica, lenta que de pouco em pouco o enlouqueceria.  

“Quem é você? Fale.” – digitou rapidamente, e a enviou.

“Eu sou o seu fim.”

- Com licença, senhor Collins. – a secretaria murmurou ao entrar em sua sala.

- O que você quer? Está aí há muito tempo? – perguntou nervoso.

- Não, senhor. Acabei de chegar.

Ele respirou fundo novamente, passando o dorso da mão pela testa molhada pelo suor que, nada mais era do que uma conseqüência de seu nervosismo. Meneou com a cabeça em um sinal negativo, e guardou o aparelho celular no bolso de sua calça social.

- Só vim para avisar que sua reunião vai começar. Os investidores estão esperando.

- Diga que já estou indo. – ordenou rapidamente, para que a secretaria pudesse se retirar.

Christopher parou diante a sala de reuniões, como se estivesse prestes a entrar em uma jaula com leões. A carta, seguida pelas mensagens de texto realmente haviam o desestabilizado. Antes seguir para seu compromisso, enviou as mensagens para Brandon, e as encaminhou para Keana que tão logo prometeu ajudá-lo.  Ele precisava de reforços, e ninguém melhor do que seus cúmplices para isso.

- Não vai entrar? – indagou John ao abrir a porta.

- Vou! – exclamou surpreso.

A reunião transcorria tranquila, pelo menos para os outros. Um dos funcionários da Collins Enterprise articulava sobre a situação atual da empresa, e argumentava com base no mercado o rumo que ela tomaria, sempre indicando uma melhora, mesmo que isso fosse difícil de ser alcançada. Os investidores pareciam atentos, prestavam atenção em cada detalhe, já Christopher tentava disfarçar seu estado de desequilíbrio. As mensagens não paravam, e pelas informações obtidas por Keana, o numero de celular a cada instante se encontrava em um lugar diferente, impedindo-a de chegar a um culpado. A manipulação digital era tamanha que nem mesmo poderia ser rastreado de forma precisa.

“Oh, rei. Acreditou que ninguém poderia invadir seu palácio?”

“Deixe-me dizer: eu posso tudo.”

“Eu estou em todos os lugares, Christopher.”

Ele ergueu a cabeça, aspirando o ar com força, aquilo parecia lhe faltar. Tamborilou com os dedos sobre a mesa, e em seguida limpou a testa com um lenço, retirando os resquícios de suor. Ele estava nervoso, ou melhor, estava desesperado. Sua cabeça entrava em curto, o deixando completamente perdido. Collins encarou todos os outros presentes naquela sala, percebendo que ninguém mantinha um celular em mãos. Voltou sua atenção ao aparelho celular, que se escondia um pouco abaixo do nível da mesa, e encarou a ultima mensagem enviada.

“Não está me vendo, não é? Mas vou te mostrar que estou aqui.”

O homem pressionou o botão na lateral do celular, e o desligou. E tão logo se livrou do mesmo, o jogando em um canto qualquer daquele chão. Christopher não queria mais ver aquelas mensagens, não queria pensar sobre aquilo. Acreditava que não passava de um truque para deixá-lo completamente louco, desestabilizado diante uma reunião tão importante para o futuro de sua empresa.

Collins encarou o funcionário mais a frente, que desandava a falar sobre os projetos futuros de sua empresa, mas não absorveu sequer uma palavra emitida pelo rapaz. Tudo que conseguia pensar naquele instante, era em Charlie Cooper. Sim, ele pensava em um homem que estava morto há mais de cinco anos. Seus olhos se fecharam, e uma sequencia de lembranças invadiram seus pensamentos como ondas magnéticas que tirava de orbita. E como se não fosse o bastante, no fundo de sua cabeça ele ouvia gritos, urros de uma multidão enfurecida. Estaria ele enlouquecendo? As vozes se tornavam cada vez mais intensas, e constantes. Christopher abriu os olhos, e as luzes da sala de reunião começaram a trepidar, como se as lâmpadas a qualquer instante fossem se apagar.

- O que está acontecendo? – indagou o senhor do lado oposto da mesa, enquanto franzia o cenho em confusão.

- Estão ouvindo isso? – perguntou o outro.

Collins se deu conta que as vozes não estavam somente em sua cabeça, todos os outros também ouviam como ele. As luzes continuaram a piscar constantemente, deixando todos ali presentes com um semblante ainda mais confuso.

- Não deve ser nada demais. – John exclamou em uma tentativa de acalmá-los.

- Não, eu estou ouvindo gritos. – o senhor falou novamente. – Vocês também?

Eles assentiram rapidamente, encarando uns aos outros. Realmente havia gritos, cada vez mais altos e intensos. Collins engoliu em seco, tendo seus pensamentos tomados pelas mensagens de texto com as ameaças. A lâmpada voltou ao normal, mas os gritos ainda estavam presentes, e cada vez mais forte.

- O que está acontecendo, Collins? – perguntou o principal acionista.

- Eu não sei... – murmuro perdido. – mas não se preocupe, não deve ser nada de mais. Eu...

As luzes que até então tinham voltado ao normal, voltaram a trepidar insistentemente. Ele arfou pesado, encarando o olhar temeroso de John que balançou a cabeça em um sinal negativo. Collins deixou que seu olhar alternasse entre o vazio e os membros da reunião.

- Isso não pode estar acontecendo comigo. – sussurrou para si mesmo ao abaixar a cabeça.

(Inicie a musica)

- Christopher...

O advogado murmurou aturdido, com um olhar perdido em direção ao seu chefe. Collins tinha receio do que estava por vir, mas tinha que demonstrar tranquilidade diante os investidores, não poderia perder o controle e colocar tudo a perder.

 - É melhor ver isso.  

O empresário engoliu em seco, e caminhou até a janela de vidro na sala de reuniões. Ao parar diante do vidro grosso, avistou a multidão de pessoas em frente a Collins Enterprise. Não eram dezenas, nem centenas, eram milhares de pessoas que gritavam em alto e bom som, frases em protesto contra a exploração petrolífera exercida por sua indústria. Todos estavam de preto, com cartazes e mascaras em oposição.

- Não pode ser... – murmurou incrédulo.

- O que vamos fazer? – perguntou John em um sussurro.

- O que diabos está acontecendo? Estão furiosos. – exclamou o investidor extremamente nervoso.

- Sr. Francis, fique tranqüilo, nós vamos dar um jeito nisso. – disse ele em direção ao senhor que mantinha os olhos espantados em direção ao grupo de protestantes mais abaixo.

- Você não tem como lutar contra isso, Collins. Veja, são milhares deles.

Francis estava realmente apavorado, notava-se facilmente em seu olhar perturbado. Os outros membros e investidores se encontravam da mesma forma, todos eram trabalhadores do ramo petrolífero, e tinham tamanha culpa pelos estragos quanto Christopher. O presidente da Collins Enterprise se afastou da janela, e correu até a mesa, capturando seu celular que estava jogado no chão. Ele sabia que aquilo era obra de seu adversário, nada explicava tamanho estardalhaço, quando por anos nenhuma manifestação havia sido feita. Sua respiração descompassada indicava claramente seu estado de nervoso, que não cessaria tão cedo. Depois de alguns segundos, o aparelho celular recuperou o sinal, e tão logo vibrou indicando a chegada de novas mensagens.

“Está começando...”

“Não diga que eu não avisei.”

“O seu jogo está chegando ao fim, Christopher Collins.”

“Dê um olá para seus amigos manifestantes.”

“Aprecie sua derrocada, poderoso rei. O espetáculo é por minha conta.”

O homem o praguejou com toda sua fúria, enquanto apertava o aparelho celular nas mãos. As vozes que preenchiam o ambiente se misturavam com os gritos de protesto ao lado de fora, deixando-o completamente transtornado. E como se não fosse o bastante, o som estridente do alarme de incêndio cortou o ar, acionando a tubulação que despejou água por todos os lugares, deixando todos ainda mais sobressaltados. A sirene era mais alta do que de costume, a ponto de ser quase ensurdecedor.

- Que porra é essa? – o empresário exclamou ao fundo, enquanto estava sendo completamente molhado.

- Christopher! – exclamou Francis com as duas mãos em seus ouvidos, em uma tentativa ineficaz de abafar o barulho.

A sala foi invadida bruscamente por uma das secretarias, que carregava um olhar espantado, nervoso. Ela tinha a respiração ofegante, como quem tivesse corrido uma maratona.

- Estão evacuando todas as salas. Acho que estão prestes a invadir a Collins Enterprise. – disse nervosa.

- Vamos sair daqui! – John gritou, abrindo a porta para que todos os investidores pudessem sair.

Os senhores de mais idade deixaram aquela sala em passos apressados, sendo seguidos por todos os outros. Christopher permaneceu parado, como se seu corpo não fosse capaz de obedecer às ordens enviadas pelo seu cérebro. Estava chocado, incrivelmente surpreso com tantos acontecimentos de uma só vez.

- Chris! Vamos! – John esbravejou do corredor, enquanto toda aquela água desabava sobre suas cabeças, atraindo a atenção do homem que por fim caminhou em sua direção.

- Não é perigoso ficarmos no saguão? – perguntou o moreno ao passar pela porta das escadas de incêndio. – E se invadirem?

- Não, os seguranças estão na frente, impedindo a entrada dos manifestantes.

- John! São milhares deles, não podemos contra. – Collins murmurou exaltado, enquanto descia as escadarias.

- Eu vou ligar para a policia. Não se preocupe!

Todos os andares do prédio luxuoso agora estavam vazios. Depois de uma evacuação geral, acionada pelo alarme de incêndio, os funcionários de todos os setores se encontravam aglomerados no enorme saguão de entrada. Homens e mulheres murmuravam nervosos sobre a possível invasão dos manifestantes, que gritavam furiosamente ao lado de fora. A população estava revoltada e insatisfeita com a extração exagerada de petróleo, e como agravante, ainda havia o vazamento que poluiu uma grande área natural.

“A policia já foi acionada! Fiquem todos calmos!”

Um dos funcionários exclamou alto, para que todos os outros pudessem se tranqüilizar, mas de nada surtiu efeito. O clima entre a centena de funcionários era de puro nervosismo, que se alastrava entre os olhares assustados e gritos desesperados. Enquanto isso, a população esbravejava enfurecida ao lado de fora. Era uma perfeita demonstração do inferno, o inferno comandado pela tão poderosa rainha.

Camila Collins.

 A latina estava no ultimo andar, no topo do prédio monumental da Collins Enterprise, assistindo ao protesto de toda aquela multidão mais a baixo. Camila sentia a adrenalina percorrer em suas veias, direto em seu sangue que circulava veemente pelo seu corpo. Durante muitos anos, ela esperou por aquele momento, ansiou por aquela sensação como o ápice de sua vida, e finalmente chegara. Nada poderia deixá-la mais feliz, satisfeita, e sobretudo, vingada.

- Collins acabou de descer para o saguão. Não há mais ninguém nos andares da C.E. – Dinah murmurou tranquilamente no ponto de áudio que a latina possuía em seu ouvido.

Camila puxou a alavanca da maquina que instalou na área frontal do prédio, seria um pequeno presente para os que gritavam furiosos mais a baixo.

- Tem certeza? Não há mais nenhum funcionário?

- Nenhum. Olhei pelo sistema de câmeras, e tudo está limpo.

O sistema digital da Collins Enterprise foi totalmente invadido.  Dinah e Normani se infiltraram como um vírus letal, danificando toda e qualquer movimentação considerada normal naquela empresa, desde o sistema de som, iluminação, até as câmeras e cofres. Tudo estava sobre o domínio e ordem de Camila.

- Vamos para a segunda parte.

- Certo. Vou congelar o sistema de câmeras, tenha todo cuidado, vamos perder visão sobre você.

- Ok. Vamos continuar pelo ponto de áudio.

Camila respirou fundo, e entrou no elevador principal. Aproximou-se do painel, e digitou a numeração que a levaria até o andar da sala presidencial. Naquele momento, a mulher não sentia medo, e muito menos receio. Estava dominada pela adrenalina, que embalava seus atos tão milimetricamente calculados. Karla havia planejado aqueles passos por longos sete anos, e finalmente estava ali, diante de sua ultima jogada. O bipe do elevador soou tranqüilo, seguido pelo abrir das portas metálicas. A jovem mulher encarou o corredor totalmente encharcado, com um sorriso no canto dos lábios. Antes de dar o primeiro passo para fora da caixa metálica, a latina ergueu a mascara branca, lisa, que cobria todo seu rosto, escondendo assim sua identidade, e só então caminhou graciosamente pelo corredor principal. O alarme de incêndio agora só era barulho, a água não jorrava pela tubulação. Camila não queria estragar seu terno feminino, tão perfeitamente escolhidas para a ocasião. A única coisa que se ouvia naquele andar, fora os gritos desesperados dos manifestantes, era as batidas delicadas dos saltos negros sobre o piso.

- Ah, Collins, não sabe como esse momento me faz feliz.

Camila entrou na sala de seu marido calmamente, como se não tivesse pressa, mesmo quando deveria ter. Retirou a mascara, sentou-se sobre a cadeira presidencial, era confortável, e lhe caia muito bem, diga-se de passagem. Ficou por alguns instantes observando o lugar, imaginando como tudo poderia ser, se ele não tivesse mudado o rumo de sua vida. Quem sabe, aquele lugar agora não era seu? Quem sabe ela ainda teria a presença de Charlie ao seu lado? Camila engoliu em seco, e afastou tais lembranças de seu pensamento. Não queria recordar nada que a fizesse fraquejar, não era o momento certo.

- Está preparada? Tente ser mais rápida. A policia foi acionada, e a equipe de viaturas está saindo da delegacia.

Ela pouco se importava com a policia, não tinha medo do perigo, e nem das conseqüências que seus atos poderiam acarretar. Ela só tinha um único objetivo, e o realizaria até o fim.

 - Acabei entrar no sistema da C.E. – murmurou ela ao encarar a tela do notebook de Collins. – Estou com o login do Collins.

- Certo, estamos abrindo passagem para sua transferência. – Normani falou de forma concentrada, enquanto digitava a seqüência numérica em seu computador. Tanto ela, quanto Dinah estavam perfeitamente concentradas em duas telas de computadores. Ambas com inúmeras janelas, e sistemas.

- A conta está somente à espera.

Camila olhou para a tela do computador, deixando sua atenção sobre a numeração altíssima que ainda estava sobre o domínio das industrias de Christopher. Aquele era o ultimo roubo, não restaria absolutamente nada depois daqueles simples cliques.

- Pronto, rainha. Tire o que é seu. – Dinah falou em um tom de voz vitorioso, que abriu um largo sorriso no rosto de Camila.

Os olhos castanhos de Camila brilharam diante aquela numeração exposta na tela, era mais do que poderia imaginar. Não se tratava de milhões, eram malditos bilhões de dólares. Ela abriu a janela de transferência, e digitou a quantia que ultrapassava a marca de 170 bilhões de dólares. Naquele momento, Camila Cabello retirava toda a fortuna bilionária do maior empresário do ramo petrolífero dos Estados Unidos da America.

- Estou transferindo.

Ela sentia a garganta seca, as mãos suarem, e seu coração palpitar frenético, em pura euforia e adrenalina. Sua respiração pesada indicava seu estado alvoroçado. Mas nada se comparava a paz que inundava sua alma, ela estava caminhando para fora daquela escuridão. Finalmente, ela estava se libertando. Camila inseriu o pendrive de acesso na lateral da maquina, para que a senha fosse liberada, e o acesso a transferência fosse autorizado.

A tarja verde se preenchia vagarosamente, fazendo com que ela tamborilasse com os dedos de forma ansiosa sobre a mesa de Christopher. Era uma contagem regressiva para o fim daquela era. Tudo que ele havia conseguido por meio de ações ilegais estava sendo tomado de volta. Seu majestoso plano se concretizou ao fim daquela transferência. A mensagem reluzente se ascendeu na tela preenchendo o olhar ganancioso de uma mulher vingativa.

“Transferência concluída com sucesso.”

“Saldo atual: negativo.”

- Meu Deus... – foram as únicas palavras que deixaram sua boca. Ela ainda não acreditava que realmente havia conseguido. – Consegui...

- Sério? – Dinah perguntou ansiosa.

- Sim! Dinah, eu consegui!

- Porra, não acredito! Conseguimos!

Camila riu nervosa, ouvindo os gritos animados de Dinah e Normani do outro lado. Ambas as mulheres também estavam tão nervosas quanto Camila, mas precisavam se manter tranqüilas para que nada desse errado. A atenção criteriosa era fundamental para concluir a operação.

- Saia daí! Acabei de ouvir a freqüência do radio da policia. Lauren está chegando. – Normani ordenou.

- Merda! – exclamou a latina ao se levantar.

- Estamos milionárias, queridas. – Dinah falou vitoriosa.

- Estamos, mas se concentre. Vamos apagar toda a movimentação agora. A porta de acesso para backups está aberta, podemos retirar de lá também. Temos a senha do Collins, e  com ela podemos tudo. – Normani falou rapidamente, enquanto ditava no teclado de seu computador.

Dinah apenas assentiu, e seguiu as ordens de sua namorada. Normani tinha um conhecimento abundante sobre sistemas digitais, e nada poderia ser totalmente impossível para ela.

- Nós vamos resolver isso aqui, se concentre em sair daí em segurança, rainha.

- Deixem comigo. Apreciem o restante do meu show, meninas. Agora vem a melhor parte.

- Essa eu quero ver. – a loira riu.

- Você é louca, Camila. – Normani sorriu.

- Sou.

Camila fechou a sala de Christopher, e caminhou tranquilamente pelos corredores daquele andar, como se quisesse gravar em sua memória os mínimos instantes daquele momento. Seu coração batia violento, mas satisfeito. Ela voltou ao elevador, apertou o botão que lhe levaria até o saguão, e se voltou ao centro da caixa metálica, enquanto se deliciava daquele sensação que tomava conta de sua alma. O elevador da Collins Enterprise possuía um jogo de espelhos, onde quem estava dentro, tinha uma ampla visão de quem estava ao lado de fora, no saguão principal, mas quem estava no hall não poderia ter conhecimento de quem estava no interior do cômodo metálico.

Karla apreciou ao show pavoroso no saguão, onde centenas de funcionários se encontravam atentos a movimentação enfurecida dos manifestantes ao lado de fora. A gritaria ainda se fazia presente, inundando seus ouvidos com satisfação. Ela concentrou seu olhar em Collins, que exclamava irritado, nervoso no meio daquela multidão de funcionários. Era um verdadeiro caos, assistido de camarote pela provocadora de tudo.

Camila riu.

Ela deixou que uma risada sarcástica, e vitoriosa deixasse seus lábios, como uma forma de extravasar sua felicidade. Voltou seus olhos para o espelho dentro do elevador, enquanto soltava seus cabelos que até então estavam presos em um coque bem feito.  Ela virou seu corpo de frente para a parede espalhada, e deslizou uma das mãos suavemente sobre seu ombro direito, como se limpasse algo ali. Encarou seu conjunto de roupa de grife, que se tratava de um terninho feminino, negro, muito bem cortado e ajustado a suas medidas. Ele a deixava sexy e incrivelmente bela.

“Carros da policia dobrando a avenida. Não demore mais.”

A rainha não respondeu, permaneceu calada, enquanto deslizava o batom vermelho, cor de sangue sobre seus lábios tão perfeitamente desenhados por Deus. Estava maravilhosa, pensou ela.  

O elevador parou, abrindo as portas para o lado oposto do saguão. Camila conhecia aquela empresa como a palma de sua mão, e sabia exatamente o que precisava fazer para não ser reconhecida. Caminhou até o banheiro no final do corredor, onde havia uma mochila preta, no qual retirou um moletom escuro com capuz. O vestiu rapidamente, e acomodou óculos escuros em sua face, para então voltar ao saguão. A movimentação era tamanha, que ninguém poderia reconhecê-la no meio de toda aquela confusão. Os manifestantes estavam a todo vapor, em um embate agressivo com os seguranças da indústria, que usam da força para afasta-los. Collins estava mais a frente, ao lado dos investidores, que passavam mal com todo aquele pavor. Ela não se sentia satisfeita em espalhar o medo pelos inocentes, mas se sentia vingada por fazer Christopher se sentir daquela forma. Karla arrumou os óculos escuros sobre seu rosto, e ergueu o capuz sobre sua cabeça. A multidão no interior do saguão começou a se movimentar alvoroçada, seguindo rapidamente para a saída de emergência, que parecia ser pequena demais para tamanha aglomeração de pessoas desesperadas. Os seguranças perderam o controle, e todos começaram a se misturar. Funcionários, manifestantes, deixando Collins totalmente atordoado. A latina lançou um ultimo olhar para seu marido, que andava de um lado para o outro, totalmente transtornado, antes de se infiltrar no meio daquela multidão que abandonava o prédio caótico. 

Ao lado de fora tudo estava muito mais intenso, as pessoas gritavam, levantavam seus cartazes pedindo o fim de tamanha exploração inconseqüente. Estavam furiosos, e com razão muito bem pensada. Camila parou no meio daqueles, e encarou o prédio, antes de capturar seu celular. O jogo de mensagens ainda não havia chegado ao fim.

“É melhor correr até sua sala, salve o que te resta.”

Assim que Christopher leu a mensagem de texto, abandonou seus parceiros de trabalho, e correu desesperado até as escadas incêndio. Ele sabia do que se tratava, sabia que estava sendo roubado. E no fundo de seu subconsciente lhe restava uma fagulha de esperança em tentar salvar algo, mesmo quando sabia que não tinha poder para aquilo. Ele corria entre degraus e mais degraus. Estava cansado, apavorado, sentindo-se totalmente inútil diante tamanho golpe contra seu poder. O homem alcançou um elevador, e por fim chegou ao andar presidencial, encarando o corredor completamente molhado. Ele suspirou e correu, invadindo sua sala até então intacta.

- Meu Deus...

Seu olhar se concentrou em um único objeto, seu computador. No fundo ele sabia o que iria ver, mas tentava adiar aquele momento o maximo que poderia. Caminhou em passos lentos, melancólicos, até alcançar sua mesa. Ele se sentou sobre a cadeira, temendo o que estava por vir. E com cuidado, ergueu a tela de seu notebook, se permitindo enxergar o que tanto tinha medo. Ele ficou por minutos ali, parado, estático, com o olhar compenetrado nas pequenas letras expostas pelo monitor.

“Saldo em conta: 0,00.

Collins teve a sensação que seu coração parou, congelou por uma fração de segundos, que fez todo seu sangue esfriar. Ele não conseguia se mover, e muito menos esboçar qualquer tipo de reação. Ele não tinha nada, absolutamente nada. Seus ouvidos deixaram de identificar a multidão ao fundo, absorvendo apenas o barulho de seus batimentos cardíacos. Eram lentos, mas isso não se resumia a tranquilidade, se identificava como desespero. Christopher só se moveu, quando seu celular vibrou novamente. Ele relutou por alguns segundos, mas sua curiosidade era maior.

“Você está tendo o que merece. E tudo isso ainda é pouco, pelo tamanho ódio que sinto por você.”

“Veja como é não ter mais nada. Agora sabe como eu me senti um dia. Você me tirou tudo, absolutamente tudo. E eu não falo dos bens matérias, isso pouco me importa. Falo de algo maior, que você nunca irá entender. Vermes como você, não sentem nada.”

Ele não conseguia tirar os olhos da tela reluzente de seu celular.

“O jogo acabou, querido. Você caiu diante do meu poder. – de sua rainha, Camila Cabello.”

Ele fechou os olhos, os comprimiu com força, enquanto seu corpo inteiro tremia. Collins estava domado pelo ódio, um dos sentimentos mais obscuros que um ser humano poder ter. Ele se levantou, respirando fundo, pesado, como se o oxigênio não entrasse em seus pulmões. Sua cabeça trabalhava enlouquecida sobre tudo que havia acabado de acontecer. Em malditos minutos, tudo estava perdido.

- Merda!  Merda! – gritou com todo ar de seus pulmões, antes de arremessar seu celular com toda força contra a parede. Objeto se espatifou com o impacto furioso.

Os objetos de sua mesa foram ao chão, , enquanto o homem os arremessava de forma descontrolada, em uma tentativa de liberar a raiva que lhe preenchia a mente. Ele ouvia os gritos ao lado de fora, e pedia aos céus que tudo aquilo parasse. Mas não havia nada que pudesse ir contra as leis de causa e efeito. Era uma conseqüência. Ele sabia que tudo aquilo não se passava de uma conseqüência por tudo que fez.

- Eu vou matar você. – gritou. – Maldita! Vagabunda!

Collins deixou tudo para trás, correu para longe dali. Estava sendo guiado pelo ódio que tomava conta de seu coração. Agora ele entendia tudo, ele sabia exatamente do que se tratava. Sabia que havia dormido ao lado de seu pior inimigo por longos anos, e nunca sequer se deu conta. Mantinha ao lado um demônio disfarçado em pele de anjo. Um anjo tentador, persuasivo, calculista. Camila sempre soube de tudo, em seus mínimos detalhes. Ela estava ali, em cada casa avançada, em cada peça derrubada. Ela estava lá, aumentando seu poder na surdina da noite.

- Desgraçada. – murmurou raivoso, ao invadir o saguão movimentado mais uma vez.

Ele olhou para ambos os lados, como se quisesse encontrá-la. A população ainda estava lá, gritando, esbravejando por seus direitos, mas para ele aquilo se tornou apenas um detalhe. A sirene das viaturas foram ouvidas ao fundo, aumentando gradativamente com a proximidade.

- Senhor! Não saia! – exclamou um dos seguranças.

- Me deixe! – gritou.

- Pode ser perigoso! – o empregado murmurou novamente.

- Tire a porra da mão de mim. Eu quero sair!

O segurança o fitou assustado, e permitiu acesso ao empresário, que se meteu no meio da multidão. Era uma manhã ensolarada, que o fazia comprimir os olhos para enxergar melhor. As pessoas gritavam próximo a ele, mas se afastavam a cada passo que ele dava rumo ao meio da multidão. Christopher não se importava com todos ali, queria encontrar uma única pessoa, e tinha certeza que ela estava presente. Ele encarou os rostos, que mais pareciam um borrão diante os seus olhos perdidos. Sua respiração ofegante fazia seu peito subir e descer desesperadamente. Ele estava zonzo, enjoado.

A multidão exaltada se afastou bruscamente quando as viaturas de policia chegaram ao lugar. Lauren saiu do primeiro carro, com um semblante sério, e olhar penetrante, enquanto os outros policiais pediam calma as pessoas ali presente. Todos estavam devidamente armados, preparados para o pior. A delegada mirou o olhar sobre Collins, que ainda procurava por sua esposa no meio de tamanho aglomerado de mulheres. Ele tinha razão, ele a conhecia de certa forma. Sabia que ela estava ali, e que não perderia nunca vê-lo cair. Entre os milhares de corpos que se moviam inquietos, ele a encontrou.

Seu olhar cruzou aquela multidão, parando sobre aquela mulher que um dia o seduziu com um único propósito. Camila ergueu a cabeça, desafiadora, poderosa e petulante. Ela estava magnífica, parecia ter se arrumado para o evento mais importante do ano, o que não deixa de ser. Ele suspirou, e praguejou em pensamentos, mas não se moveu. Tudo acontecia em uma mínima fração de segundos. Karla expandiu seus lábios pintados em vermelho, entregando um dos seus melhores sorrisos.

“Você caiu.”

Ela sussurrou, antes de pressionar um único botão no controle que mantinha em suas mãos.

          Um barulho forte, quase como o de uma pequena explosão.

 Dois estouros no topo do prédio.

 E todos os olhares assustados estavam virados para o céu. A multidão gritou desesperada, alvoroçada, quando as milhares de cédulas voaram sobre suas cabeças. Estava chovendo dinheiro. Camila literalmente havia feito chover dinheiro naquele lugar. Naquele instante, uma quantia exata de um milhão de dólares banhava os corpos daqueles que protestavam contra o império de Christopher Collins.

- Filha da puta! – gritou ao ver o povo enlouquecido.

As pessoas corriam, pulavam e se moviam bruscamente para obter o maximo de dinheiro que podiam, quase como jogos vorazes, enquanto a latina se afastava graciosamente até o carro do outro lado da rua. Christopher por sua vez, tentou encontrá-la novamente, e antes que pudesse correr para capturá-la, ouviu a voz de Lauren cortar o ar até seus ouvidos.

- Não dê mais nem um passo!

Ele parou, mas por pura confusão. Collins se virou em direção a Lauren, com um olhar incrédulo, desacreditado.

- O que disse?

- Eu mandei você ficar onde está.

- Eu preciso fazer uma coisa importante, que você deveria fazer! – murmurou com desdém, antes de caminhar para o lugar onde viu Camila.

- Se não parar, eu serei obrigada a atirar em você.  

Ele arregalou os olhos, quando os outros policiais se aproximaram, tomando seus braços nas mãos.

- O que está fazendo? Solte-me agora! – gritou, enquanto se desvencilhava dos policiais. – Tem idéia com quem estão lidando?

- Com verme criminoso.

- Como ousa falar assim comigo? Me solte agora!

- Você está preso, Christopher!

- O que....você não pode.. – murmurou atordoado, enquanto recebia olhares acusativos.

- Não tente resistir! Acabou! – Lauren gritou.

- Eu acabei de ser roubado, e está me prendendo? Você está louca! – esbravejou. – Me solte, porra! – gritou para o policial.

- Não soltem ele!

- Você não pode me prender, Jauregui!

- Eu não só posso, como vou. Você precisa entender, que eu sou a autoridade agora. E sobre minha ordem, você vai pra delegacia.

- Não tem motivos para isso!

- Você está sendo preso pela morte de Charlie Cooper. Pelo desvio de dinheiro da Cooper Enterprise, pela criação da empresa fantasma chamada Industria Turner. Quer mais, ou isso é o suficiente para você?

- Não...

- O algemem. – ordenou à delegada, antes de se afastar.

- Você está do lado dela! Duas vagabundas! – gritou desesperado, enquanto tinha seus punhos algemados pelo grupo de policiais. – Você é uma policial de merda! Puta!

Lauren trincou a mandíbula, enfurecida. Ela tentava não perder o controle, mas Christopher abusava de sua boa vontade. A mulher girou sobre seus calcanhares, e caminhou até o homem, que a encarava raivoso. Ela parou a poucos centímetros dele, encarando seus olhos claros, sem medo ou receio.

- É melhor você ter muito cuidado com o que fala. Posso aumentar a sua ficha com desacato a autoridade. E você não quer aumentar seus anos naquele presídio, não é? Você está tendo o que merece, eu vou fazer absoluta questão de fazer você pagar por tudo que um dia fez.

- Eu vou matar ela. – o homem sussurrou, olhando no fundo dos olhos verdes de Lauren.

- Levem ele para a viatura. E acompanhem o resto da operação. – ela ordenou para os homens ao seu lado, sem tirar os olhos atentos do empresário a sua frente.

- Eu vou matar ela, você vai ver! – ele gritava, enquanto era arrastado pelos homens.

Christopher Collins foi levado ao interior da viatura policial sobre vaias da população que agora carregava uma parte de seu dinheiro. Os policiais cuidavam de afastar todos, para que o carro pudesse manobrar sobre a ala central da empresa. Lauren encarou o olhar furioso do homem, que agora estava acomodado no interior de sua viatura. Ela apenas sorriu de canto, e acenou com a cabeça antes de colocar seus óculos escuros no rosto.

- Você vai pagar por tudo.

 

[...]

 

Camila Cabello’s point of view.

 

Despejei duas pedras de gelo no interior do copo de vidro, seguido por uma boa quantidade de whisky. Acomodei a garrafa sobre a bandeja de prata, e capturei meu copo. Caminhei em passos lentos, enquanto ouvia a musica que emanava das caixas de som naquela sala. Eu estava em uma mansão, comprada por Dinah no ultimo mês. De acordo com a loira, ela precisava de um lugar a seu nível, e aquele lugar parecia ser de seu gosto, e conforto. Ficava do lado oeste da cidade, bem afastado da mansão Collins, onde eu menos queria estar. Dinah e Normani por sua vez aproveitavam nosso dia glorioso, sozinhas, fazendo coisas que eu bem adoraria praticar.

Meneei com a cabeça em um sinal negativo, e degustei do primeiro gole daquela bebida forte. Senti minha garganta aquecer no exato instante em que entrou em contato com o liquido, trazendo-me certa estabilidade. Minha cabeça ainda se encontrava na mesma freqüência de horas atrás. Tudo girava em torno de minha ultima jogada, e de como ela havia sido perfeita.

- Um brinde, Charlie. – sussurrei, ao erguer meu copo para o alto.

Eu estava cansada, porém exaltada demais para descansar. Era noite, e mesmo com aquele dia cheio, meu corpo ainda se encontrava em pura adrenalina, como se tivesse ingerido algum tipo de droga. Eu respirei fundo, preenchendo meus pulmões em seu limite, antes de caminhar até o centro da sala. Joguei-me sobre o sofá grande, de estofado tão macio. Dinah sabia escolher aquelas coisas, pensei. Repousei o copo sobre a mesinha de centro, enquanto pensava em tudo ao meu redor. O quão louca aquela situação poderia ser? Tudo finalmente havia chegado ao fim?

Céus!

Fechei os olhos e deslizei as mãos sobre meus cabelos, enquanto suspirava em alivio. Ao abrir os olhos, encarei o tabuleiro de xadrez, muito refinado, feito em vidro. E por alguns instantes, toda minha historia se estendeu como flashes em meu pensamento. Afastei todas as peças do lado oposto, deixando apenas um rei, e dois peões. Do meu lado, organizei com precisão, deixando no centro a rainha, ao seu lado esquerdo estava à torre e o bispo, do lado direito havia um peão. No entanto, ao analisar a situação como um todo, aquela peça ao lado direito, já não se enquadrava como um mero peão, sua força era muito maior. Dessa maneira, bati com a ponta dos dedos sobre as peças jogadas ao lado, e optei por outra. O meu peão havia atravessado o tabuleiro, chegando a ultima casa do lado oposto, onde finalmente recebia o poder de se transformar na peça que eu tanto almejava.

Outra rainha.

Uma dama.

Um sorriso nasceu em meus lábios ao colocar as duas peças juntas, uma do lado da outra.

Segurei ambas com os dedos, e quando derrubei o rei parado, desprotegido no centro do tabuleiro, senti as mãos suaves escorregarem por meus ombros, dando espaço para que alguém ocupasse o lugar ao meu lado.  A peça do rei bateu contra o tabuleiro, trincando em seu centro.

Eu encarei os olhos verdes e brilhantes de Lauren, que carregavam certo cansaço, mas um brilho vitorioso. Ela repousou sua mão sobre minha coxa, e expandiu seus lábios rosados em um sorriso cúmplice. E o retribui, recebendo sua boca com a minha.

- Xeque-mate. – sussurrou ela em vitoria.  

 


Notas Finais


AAAAAAAAA TRANQUILO NADA. AMO MINHAS MÃES, PORRA.

RECADO: Tudo será esclarecido daqui pra frente.

Beijinhos, sonhem com Camila Collins.


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